quinta-feira, 24 de setembro de 2009

AVIÕES


Os aviões parecem sólidos, pétreos, firmes, mas na verdade são máquinas frágeis e elegantes. Não é à toa que os aviadores preferem chamá-los de aeronaves, nome feminino mais de acordo com sua natureza débil, seu perfil nobre e suas curvas suaves e, por que não dizer, sensuais. Mesmo aviões imponentes com turbinas enormes e de grande potência como o gigante de transporte militar Galaxy; ou o Airbus 380 com capacidade para mais de quinhentos passageiros, são máquinas meigas e femininas com aparências voluptuosas.
Aeronaves, desde as mais prosaicas e quase artesanais dos primórdios da aviação quando eram confeccionadas de madeira, tela e fios de aço, até as moderníssimas em cujas estruturas entram ligas de carbono e materiais como titânio, têm seu encanto nos contornos sinuosos que não agridem o olhar do mais exigente esteta. Mesmo incorporando tecnologia de ponta, sendo utilizadas para fins de agressões e combates, possuindo potência e capacidade de carga elevadíssimas, elas, as aeronaves, são como esculturas sexis, obras de arte que acariciam olhares e deleitam gostos refinados.
Ao alçarem voo não parecem e nem desejam parecer pássaros altaneiros, pois estes lhes são êmulos de performances inalcansáveis; não voluteiam e nem batem asas; não trafegam por curvas erráticas e nem fazem mudanças bruscas de altitude; pelo contrário, seu itinerário é resoluto, sem inflexões levianas desprovidas de sentido; desenham curvas langorosas e equilibradas, parábolas perfeitas; parecem saber o que querem e aonde vão, não são dispersivas; traçam itinerários observando nuvens e respeitando ventos.
O aviador dentro da aeronave, se funde com ela, passa a ser componente intangível e dissociável da própria máquina. Juntos, avião e piloto parecem um centauro, com uma cabeça minúscula e um corpo enorme que obedece às mínimas vontades da mente que manda. O que resta do corpo do piloto, integrado ao corpo da máquina, move-se em consonância sincrônica com tudo que a máquina faz obedecendo aos comandos que a fazem voar. O piloto sabe que a vida dele depende, justamente, da capacidade da aeronave de aderir a ele como um mecanismo obediente de peças variadas, perfeitamente justapostas e funcionando sem defeitos. Há uma associação de idéias que leva a pensar que o corpo humano se desintegra totalmente, deixando de existir por moto próprio. Mas a mente humana, simbolizada pela cabeça do piloto, continua controlando o corpo mecânico do avião, muito mais poderoso. Então, quando se alcança essa completa unicidade homem/máquina o voo se torna muito mais que um simples deslocamento, perde-se a dimensão clara da velocidade e das distâncias, atinge-se a metafísica.
É lícito supor que alcança-se um nível mágico de interação adimensional, transcendental até. Nesta hora, a máquina fêmea e o piloto viril unem-se em conjunção cósmica que os leva ao êxtase astral além do plano terreno. O avião passa a ter vida exclusiva a qual não se define e nem se explica, apenas se percebe. Neste estágio, a vida da aeronave possui uma alma que, embora efêmera, lhe acrescenta luz própria enquanto existe, enquanto o voo se realiza, enquanto ela flutua no éter invisível que a sustenta.
No ar, as formas do avião são as que menos agridem o céu que não o deseja perturbando suas nuvens e revolvendo sua atmosfera. No solo, ao pousar, a aeronave descansa orgulhosa exibindo suas formas lascivas, sua pele suave, sua geometria limpa, esperançosa que se faça aos ares tão logo seja preparada. Ela não se encontra neste mundo para sofrer os efeitos da gravidade opressora; sentir-se pesadona e apegada ao duro chão que a suporta; ela é uma entidade destinada a ser abraçada pelo vento, envolvida pelas nuvens que a acolhem, e iluminada pelo pela luz crua do sol da alta troposfera. JAIR, Floripa, 23/09/09.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

SINAL DOS TEMPOS



Na Austrália, grandes porções de seu imenso território são desérticas, o chamado Outback. Localizado na Austrália Central é caracterizado por extensas planícies, inclui o Grande Deserto de Gibson, o Grande Deserto de Areia, Grande Deserto de Vitória, Pequeno Deserto de Areia, Deserto Nullarbor Plain Painted, Deserto Pedirka, Deserto Simpsom, Deserto Strzelecki, Deserto Sturt's Stony, Deserto Tanami e Deserto Tirari, é deserto para nenhum tuaregue ou a habitante do Shael africano botar defeito. A maioria dos desertos se encontra no centro e noroeste do país. O tamanho dos desertos combinados chega a 1371000 quilômetros quadrados e ocupam quase 2/3 do continente. Em grande parte dessa região, especialmente na seca porção ocidental, os únicos humanos habitantes da área são aborígines Australianos, muitos dos quais têm tido muito pouco contato com o mundo exterior. Nas regiões mais áridas prevalece uma flora espinhosa conhecida como "scrub". Porém, na região do oeste existem mais de 6.000 variedades de flores, que desabrocham entre os meses de setembro e novembro. A fauna se caracteriza pela existência de dingos, cães selvagens australianos que sobrevivem da caça; dromedários que foram trazidos do Afganistão quando da colonização e se adaptaram à região tornando-se praticamente nativos; algumas espécies de cangurus não muito exigentes quanto à alimentação e água; uma variedade enorme de lagartos e cobras; e, o mais curioso, uma espécie de sapo vive numa zona onde chove apenas uma vez em cada sete anos e tem a capacidade de absorver muita água que mantém em reserva, através de produção de queratina, substância que existe nas unhas e cabelos. A produção de queratina produz uma espécie de embalagem natural, que permite ao sapo conservar a reserva de água durante muitos anos até que chova de novo. Próximo a Alice Springs, bem no meio do continente, - e do Outback por consequência - localiza-se a famosa formação rochosa conhecida como Ayers Rock, ou Uluru, que tem 346 metros de altura e atrai turistas do mundo inteiro. O Uluru é um monólito de arenito vermelho que lhe dá aquela cor característica, aliás, cor predominante em todos os desertos devido à areia vermelha que forma os solos antigos.



Também curiosa é a cidade subterrânea Coober Pedy que é hoje uma das mais diferentes cidades da Austrália. Sua população de 3.500 habitantes é formada por mais de 45 nacionalidades diversas. O estilo de vida calmo e simpático da cidade a tornou um local de tolerância e diversidade cultural. Coober Pedy é mais conhecida por suas habitações. Há várias acomodações subterrâneas que protegem do duro clima de fora (mas há também casas acima do solo, para quem preferir). O visitante pode conhecer as autênticas casas subterrâneas, assim como os museus, lojas de opala, capelas e igrejas e claro, as minas de opala! Pois é, tirante essa imensa região desértica onde predominam espécies curiosas de flora e fauna, e onde a Inglaterra explodiu três bombas atômicas na década de cinquenta, a Austrália é um país desenvolvido, com um povo multi-étnico trabalhador, com ótima distribuição de renda, sem desemprego, com alguns problemas raciais mal resolvidos com os aborígines, mas muito ativo, atrativo e bonito. A maior parte (95%) de sua população de 24 milhões de habitantes concentra-se nas bordas do continente, no litoral, onde a agricultura produz não só para consumo interno, como também para exportação. Indústrias de máquinas pesadas, naval e exploração de minas de carvão, ferro, ouro e diamantes também se situam no litoral. Acontece que o litoral australiano, seja no leste no lado do Pacífico, ou no oeste no oceano Índico, no norte ou no sul, é um mundo diferente do Outback, os habitantes do litoral têm água em abundância, têm florestas tropicais, clima temperado, frio e até neve nos picos mais altos e vidas urbanas sem qualquer aparência bizarra ou conduta exótica. Esta semana, esse mundo “normal” tornou-se uma estranha mistura de clima marciano e ambiente de ficção científica. Ventos de mais de cem quilômetros por hora oriundos do Outback, carregando milhões de toneladas de poeira vermelha dos desertos, invadiram as cidade de Sydney e outras no litoral de Nova Gales do Sul deixando-as com aparência, no mínimo, inusitada, para não dizer esquisita. E para quem consegue ver poesia em crepúsculos e arrebóis, o céu mais maravilhoso depois das auroras boreais e austrais. O ar que envolve as cidades tornou-se vermelho e opaco, as luzes das ruas tiveram que ser acesas de dia e os aeroportos foram fechados, ninguém ficou alheio ou imune à poeira. Há que lembrar que tal fenômeno NUNCA havia acontecido antes, sendo que há setenta anos houve um caso parecido mas de proporções sensivelmente menores. Quando se dá pouca importância aos alertas de aquecimento global e suas consequências; quando os países como China e Estados Unidos, maiores poluidores do Planeta, não se preocupam em diminuir suas emissões de carbono; quando a humanidade continua consumindo níveis elevadíssimos de energia em nome de um tal desenvolvimento que atinge apenas os países já desenvolvidos, parece que a natureza dá o aviso: “vejam o que sou capaz de fazer se vocês, humanos gananciosos e insensíveis, não se conscientizarem dos problemas que estão criando”. Enchentes brutais, secas duradouras, frios intensos, calor em excesso, chuva ácida, neve em época e local errados e ventos secos carregados de poeira deletéria, estão aí para provar que o clima do Planeta está reagindo à incúria do bicho homem que não cuida da casa onde vive; que não se preocupa com a conservação de seu próprio lar; que não olha com responsabilidade de ser pensante e racional para o futuro da sua espécie e dos demais seres que aqui vivem. A resposta da natureza à negligência humana é o Sinal dos Tempos, é o aviso urgente que seremos vítimas de nossa própria incapacidade de gerir os recursos que ela põe à nossa disposição. JAIR, Floripa, 23/09/09.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

VOAR


Por pouco mais de quarenta anos voei como profissão. Por todo esse tempo voei sem muito pensar sobre o assunto, e sem teorizar sobre as razões que levam o homem a desafiar a gravidade, a elevar-se no ar e sentir-se algo como um pássaro desajeitado e barulhento, invadindo o espaço franqueado a nuvens e aves. Aliás, pouquíssimos têm sido os aviadores que se aventuraram pelo caminho de registrar na literatura suas experiências e sensações lá onde a liberdade parece uma coisa palpável e real, e as nuvens são vistas de cima. A aviação, ainda que considerada uma atividade charmosa e com certo mistério, parece, não costuma suscitar o surgimento de profissionais sensíveis dispostos a transformar em livros seus pensamentos e percepções quando observam a paisagem do alto para baixo. Os autores consagrados: Saint Exupery e Richard Back, talvez os aviadores-escritores que mais êxito tiveram nas suas carreiras literárias, são as exceções que confirmam a regra. Não nos esqueçamos que voar é, além de técnica, arte; Além da habilidade necessária para controlar uma máquina complexa, é a sensibilidade e delicadeza de transformar um mero deslocamento rápido em algo prazeroso e estético. Voar como arte é mais do que dominar as manobras e conhecimentos necessários para decolar, deslocar-se em cruzeiro e pousar com segurança. Voar como arte é “vestir” a aeronave como uma roupa sensível que reage às manobras de quem a comanda, e às forças externas que atuam sobre a fuselagem, superfícies das asas e empenagem; é perder o peso e a consistência, tornar-se insubstancial e transparente como aquele elemento que envolve e apóia a aeronave; é sentir-se como uma nuvem, mais até, é diluir-se e se transformar num ente etéreo, confundindo-se com o próprio ar. Desde que o ser humano iniciou seus deslocamentos pelo ar, já voou bilhões de quilômetros, cruzou todos os pontos possíveis do globo sobre florestas, cidades, desertos, mares e pólos. E, mesmo assim, para sua eterna frustração, apesar das bilhões de horas passadas lá em cima, jamais deixou o menor rastro no céu. Quando por lá passamos, deixamos uma pequena turbulência no ar atrás do avião. Mas logo o céu volta a ser liso e macio como se nada o tivesse perturbado, apagando todo e qualquer sinal de nossa passagem, tornando-se mais uma vez deserto e silencioso. O céu ignora o homem e sua vã pretensão de imitar os pássaros. O céu parece dar um recado para o homem: seja humilde, seu lugar é no chão, aqui em cima você é um intruso e como tal será tratado, não poderá deixar rastros por onde passou, não poderá marcar território onde nunca foi convidado, onde é apenas tolerado. Mesmo que tenhamos, por algum tempo, tentado fazer parte daquele elemento, o ar, não nos é dado a faculdade de deixar marcas que atestem nossa passagem por lá, somos perfeitamente desconhecidos pelos céus. Se nos resta algum consolo, é saber que os pássaros e todos os que se atrevem a voar também não deixam rastros. O céu é soberano, os pretensiosos seres que se alçam aos ares nunca terão a felicidade tornar seus os elementos que envolvem e fluem em torno dos corpos. JAIR, Floripa, 21/09/09.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

REVOLUÇÕES


A sociedade, como a conhecemos, pode absorver apenas certa quantidade de mudanças num dado período, e, quando se avança no sentido de reformas radicais ou mudanças estruturais que representem corte profundo no status quo, é necessário que se faça uma avaliação prévia que meça o quantum satis (quanto basta) dessa revolução para não romper o tecido social por excesso de tensão. Os valores pétreos que formam o alicerce da sociedade como: família, trabalho e oportunidades de ascensão social não devem ser esquecidos sob o risco de a população não suportar as mudanças. A maior parte da população, - aquela que forma a chamada “maioria silenciosa” - está ocupada criando filhos, trabalhando e pagando suas contas; não está preocupada com política e suas consequências; nem sabe e não se preocupa com direita, esquerda ou qualquer nuance ideológica. Não faz sentido para a maioria: política partidária, governos, maiorias, minorias, liberais, conservadores, radicais e moderados, ela quer trabalho que lhe garanta comida à mesa e acesso à saúde; segurança para ir e vir e para seus filhos frequentarem a escola; e ensino de qualidade. As pessoas “normais” que compõem a sociedade têm muito senso comum e querem compreender as forças mais amplas que moldam sua vida, mas não se pode esperar delas o abandono dos valores e dos arranjos sociais que pelo menos lhes possibilitem sobreviver com dignidade, paz e esperança no futuro. Toda revolução traz em seu bojo um rompimento de maior ou menor grau daquilo que se convencionou definir como estabilidade, seja política, econômica ou social, em geral as três. O equilíbrio ótimo de forças, se este existir, entre o que a sociedade espera e aquele que favorece as reformas acaba determinando, deve orientar e se tornar limitante de qualquer revolução que se queira vitoriosa e permanente, e porque não dizer, popular. Há boas e más revoluções. Assim, uma boa revolução não se perde em utopias e sonhos incabíveis; não revoga os valores mais importantes da sociedade, como a Revolução francesa bem o mostrou. Em 1789 teve início, na França, uma revolução política, símbolo da destruição do absolutismo e da consolidação da hegemonia da burguesia no mundo ocidental. A Revolução Francesa tornou-se tão significativa, que os historiadores a colocam como marco divisor da história, na passagem da Idade Moderna para a Idade Contemporânea. Sob o Lema: Liberdade, Igualdade e Fraternidade os revolucionários defenestraram a monarquia do poder, mas deixaram as instituições estruturais, como as famílias, íntegras, motivo pelo qual a Revolução tornou-se popular e permanente, de forma que sua influência se faz presente até os dias de hoje. Já o que ocorreu na Rússia em 1917, foi uma má revolução, sonhou o impossível e não respeitou aqueles valores que a população tem apreço acima de ideologias; não se comprometeu com os seres humanos, colocou o Estado acima das pessoas e, por isso, deu no que deu. Outro exemplo de revolução perversa foi a revolução cultural chinesa. A Revolução Cultural foi um período de transformações políticas e sociais radicais que agitaram a China entre 1966 e 1976. Quem a desencadeou foi Mao Tsé-tung, que liderava o país desde 1949, quando os comunistas chegaram ao poder. Insatisfeito com os rumos do sistema que ele mesmo havia implantado, e para alcançar seus objetivos, Mao recrutou estudantes, os Guardas Vermelhos, que eram unidades paramilitares, organizadas pelo PCC, que ajudaram Mao Tsé-tung a derrotar seus rivais na luta pelo comando do país. O grupo, que chegou a ter 11 milhões de integrantes, iniciou uma onda de vandalismo contra monumentos históricos - que lembravam a antiga cultura chinesa -, perseguiu membros rivais do PCC, professores, médicos, literatos, religiosos, artistas, estudantes, pessoas acusadas de serem conservadoras e, pasmem, comunistas de extrema esquerda. Não respeitavam as mais atávicas células sociais, as famílias, de forma que desestruturaram a sociedade sem ofertar nada em troca, foi um fiasco que custou milhões de vidas, desagregou famílias, aldeias e cidades, e nada de aproveitável acrescentou à história. Logo, os Guardas Vermelhos, num gesto de autofagia, racharam em várias facções, cada uma julgando ser a verdadeira representante de Mao. Com isso, o grupo foi perdendo sua força aos poucos até desaparecer. Porém, deixou um legado de “terra arrasada” o qual só poderá, talvez, ser apagado da história, dentro de duas ou três gerações. A própria índole da sociedade humana, tende, de tempos em tempos, desagregar-se e moldar-se de forma diferente em seguida, de forma que sua nova feição, - mesmo propondo os velhos valores, onde “a busca da felicidade” está sempre em primeiro plano - se torna uma cópia mal feita da anterior. Parece que estamos fadados a nos comportarmos sempre assim, sem jamais compreendermos inteiramente o processo e sem ficarmos satisfeitos a cada nova mudança. Assim, mutatis mutandis, o homem muda para permanecer sempre o mesmo. JAIR, Floripa, 05/09/09.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O PLANETA


O planeta Terra é um organismo vivo. Suas crostas, suas entranhas, seus oceanos, bem como sua atmosfera estão sempre em movimento, se renovando e se comportando com todas as características de um ente pulsante de vida. As rochas terrestres não constituem massas estáticas. Elas fazem parte de um planeta cheio de dinâmica (variações de temperatura e pressão, abalos sísmicos e movimentos tectônicos). Da mesma forma, as atividades de processos biológicos e atmosféricos causam constantes alterações sobre as massas continentais. Montanhas e rochas crescem e depois desaparecem; mares, lagos e rios surgem para secarem ao longo das eras; desertos, vales, planícies aparecem e somem da paisagem; florestas, ilhas e geleiras surgem para morrerem quase sem deixar rastros. E a existência do ser humano, calculada em menos de um século, não consegue abarcar esses fenômenos telúricos na sua totalidade porque o tempo que os impele e faculta é extremamente longo comparado ao nosso ciclo vital. Ainda que cheguemos a ver rios desaparecendo, lagos secando ou desertos surgindo, o desaparecimento natural de uma montanha, por exemplo, é algo inusitado que não nos é dado observar na nossa curta existência. Conquanto não seja um fenômeno observável, as montanhas surgem e desaparecem no Planeta, porém, o tempo deve ser contado em eras geológicas, e não em anos como estamos acostumados no dia-a-dia. Há indícios que os Andes ainda estão em crescimento, por estranho que possa parecer. Então, os Andes com suas imensas montanhas não passam de um adolescente em fase de desenvolvimento, apesar de seus cinco milhões de anos. A crosta terrestre é a camada externa sólida do planeta, sendo dividida em crosta continental e crosta oceânica, ambas sujeitas ao movimento da placas tectônicas que moldam, modificam, desfazem e constroem seus perfis e formas ao longo de milhões de anos. Na verdade, existem apenas três espécies de rochas na Terra: Rochas Ígneas - São aquelas resultantes da solidificação do magma (material ígneo que está no interior do globo terrestre, e que é expelido pelos vulcões). Quando a consolidação do magma ocorre abaixo da superfície formam-se rochas ígneas. O granito é um exemplo de rocha ígnea; Rochas Sedimentares - Resultam da deposição de detritos de outras rochas (magmáticas ou metamórficas), ou do acúmulo de detritos orgânicos ou ainda, da precipitação química, geralmente em planos baixos, rios, lagos ou vales. Arenito, calcário e ardósia constituem exemplos clássicos dessas rochas; Rochas Metamórficas - Resultam da transformação de outras rochas preexistentes, agora, sob novas condições de temperatura e pressão. Tal transformação acontece pelo aumento da temperatura e ainda ocasiona a elevação da pressão e o aumento de deslocamentos, o que resulta na fragmentação da rocha original. Exemplos: mármore e gnaisse. A superfície da Terra é formada tanto por processos geológicos que formam as rochas, como por processos naturais da degradação e também de erosão. Uma vez que a rocha é quebrada por causa da degradação, os pequenos pedaços podem ser movidos pela água, gelo, vento, ou gravidade. Tudo o que acontece para fazer com que as rochas sejam transportadas chama-se erosão. A superfície do solo, não castigado, é naturalmente coberta por uma camada de terra rica em nutrientes inorgânicos e materiais orgânicos, resultantes da morte de organismos vegetais e animais, que permitem o crescimento da vegetação, daí surgem as florestas; se essa camada é retirada, esses materiais desaparecem e o solo perde a propriedade de fazer crescer vegetação e pode-se dizer que, no caso, o terreno ficou árido, o que pode levar a uma desertificação. As águas da chuva quando arrastam o solo, quer ele seja rico em nutrientes e materiais orgânicos, quer ele seja árido, provocam o enchimento dos leitos dos rios e lagos com esses materiais e esse fenômeno de enchimento chama-se assoreamento. O arrastamento do solo causa no terreno a erosão, também chamada voçoroca. O TEMPO, há quatro bilhões de anos, atua no planeta modificando-o de todas as formas, renovando suas terras e águas, mexendo na atmosfera, formando camadas de gelo depois derretendo, transformando a Terra de jovem quente e estéril em matrona viçosa, agitada e cheia de vida. Lembrando que o Planeta é um organismo delicado que não admite grandes choques e traumas violentos, nas ocasiões que foi abalado por variações climáticas acentuadas ou atingido por asteróides, resultou na quase total extinção da vida então existente. Toda essa movimentação para cima, para baixo, para os lados, constitui a pulsação de vida da Terra. É a manifestação imanente de que ela é um organismo ativo sob todos os aspectos, e que, se não atentarmos para os cuidados que devemos a ela, poderá, um dia, sofrer colapso estrutural ecológico de forma a não mais suportar vida de qualquer natureza. E, se isto acontecer, seremos os primeiros a sentir na carne os efeitos desse falecimento, sem apelação, pereceremos todos, faremos parte daqueles organismos que um dia vicejaram na superfície do Planeta e foram extintos para sempre. JAIR, Floripa, 13/09/09.

domingo, 13 de setembro de 2009

MORTE


Ao longo da existência, digamos no processo de adquirir maturidade, nos tornamos conscientes da morte, do fato que as pessoas que conhecemos e amamos morrem; e do fato que algum dia nós também morreremos. Contudo, nossa cultura judaico-cristã não nos facilita essa tomada de consciência, para todos os efeitos somos imortais, a morte é evento fortuito que atinge apenas os outros. Enquanto isso, de modo que entendemos apenas escassamente, se é que entendemos alguma coisa, abraçamos identidades e a ilusão de auto-suficiência. Chamamos de busca da felicidade os caminhos que adotamos e os rumos que seguimos e que preenchem nossos sonhos, metas e anseios. Buscamos atividades, tanto construtivas como negativas, com as quais esperamos nos elevar acima dos fatos da vida comum e que talvez permaneçam depois que nos tivermos extinguido. Fazemos isso num esforço desesperado contra a certeza de que a morte é nosso destino final. Muitos buscam o poder e a riqueza, outros, o amor romântico, a fama, o prazer, o sexo, ou as conquistas esportivas: sou o mais forte, o mais rápido, o mais sábio, o melhor. Para quase todos, suas obras e feitos durante a vida lhes garantem reconhecimento e boas lembranças depois de mortos. Quer sejamos bem-sucedidos ou fracassemos, de qualquer modo vamos morrer, todos teremos o mesmo fim. O único consolo, certamente, é acreditar que, já que somos criaturas, deve haver um criador que gosta de nós e o qual nos receberá quando morrermos. As religiões, de um modo geral, tentam explicar que morte não é contrário de vida, é um rito de passagem, uma espécie de portal daqui para lá, e que o fim da matéria significa o início da vida eterna a qual realmente interessa; do início de um ciclo eterno de bem aventurança, de prazer elevadíssimo e sem limites. Desse modo, a inevitabilidade da morte é amenizada já que depois dela nos espera algo melhor, assim, o viver, ainda que extremamente doloroso para alguns, torna-se apenas a passagem, a via de acesso para a verdadeira glória que é vida após a morte. Eufemismo que suaviza a irrevogabilidade da morte eterna, esta sim inquestionável e definitiva. JAIR, Floripa, 07/09/09.

sábado, 12 de setembro de 2009

FIO CONDUTOR



Seja na imensidão do cosmos onde todos os astros são regulados e mantém o equilíbrio de suas órbitas rigorosas, como um relógio formidável, a despeito das imperiosas forças, - como ventos estelares, campos magnéticos e a espantosa gravidade - que, em constante interação umas com as outras e, como para provar a teoria, os puxam e empurram na direção do caos; ou seja no íntimo da matéria, no interior das partículas que a compõe, onde as regras são seguidas em perfeita consonância com o como e o porquê daquela física ou química que determina a forma, a cor, o peso e a densidade do objeto, está presente um fenômeno de ação constante que determina e permite essas manifestações. O ajuste perfeito integrado à matéria em todos os níveis; as leis invisíveis que regem os movimentos e o equilíbrio estático de todos os objetos; a luz que emana das fontes naturais; e a percepção que tudo está no universo cumprindo perfeitamente algum fim, - embora este nos escape à compreensão o mais das vezes, - são prova cabal e insofismável que existe algo presente, que permeia o íntimo de todas as criações, e até mesmo o “vazio” das regiões cósmicas não ocupadas por galáxias. A ciência, na sua erudita ignorância, concorda que existe uma ligação entre todos os eventos da natureza, façam eles parte do macro ou do micro cosmos. Algo assim como um “fio de Ariadne” transcendental que une os eventos não só na sua singularidade, mas também na sua gênese: o que mantém a máquina cósmica funcionando e o âmago das partículas de matéria coeso seria o FIO CONDUTOR universal que nós conhecemos por TEMPO. Insofismável e misterioso TEMPO, este imparcial juiz de sentenças irrecorríveis. JAIR, Floripa, 27/08/09.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

NÓS E O TEMPO


Nós estamos apenas de passagem, nosso papel de seres pensantes é viver da melhor maneira possível e pelo maior período de tempo que formos capazes, além de ajudar os outros a fazerem o mesmo. O Que acontece depois disso, e como somos julgados pelos demais, escapa ao nosso controle, a posteridade é resultado do que fizermos hoje, assim como o presente é o somatório de nosso passado. O tempo é como um rio que a tudo arrasta impiedosamente, sem que nós tenhamos ascendência sobre ele, ou que possamos influir na sua marcha obtusa e implacável. Tudo que existe é apenas o presente, e é a ele que nos devemos ater independente do que fizemos ou fomos no passado e de como desejamos ser ou fazer no futuro. O homem, às vezes, tem a veleidade de atribuir ao tempo boas ou más influências em sua vida, em sua mesquinhez ou em suas virtudes, mas, ao que parece, esta é apenas atitude de quem desconhece a verdadeira natureza da entidade TEMPO. Tenhamos consciência que o TEMPO não espera, não apressa, não pára e não contempla dúvidas e vacilações, ele desconhece nossas incertezas, desejos e aspirações, ele não nos adula mas, também não nos pune, nós é que somos instrumentos e alvos de nossas falhas e sucessos, o tempo apenas observa indiferente as ações de suas imperfeitas e presunçosas criaturas, que somos nós. JAIR, Floripa, 09/09/09.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

VERTEDOURO


Etéreo e ubíquo verte, num jorro copioso, a totalidade das criaturas sem nada ter ingerido, sem prévia deglutição do mais ínfimo átomo que seja. Cria do amálgama de pó virtual, a matéria, a luz e o pensamento. Este, o único que tenta dimensioná-lo, convertê-lo à razão, contudo, sem jamais compreendê-lo na sua plenitude, sem jamais equacioná-lo em forma de teorema ao alcance de mentes matemáticas. Pródigo na virtude de criar esbanja crueldade que, com indiferença, aplica às coisas que criou de forma a retorná-las ao pó de onde vieram; coisas que nasceram e acabam como começaram. Sabe, sem esforço de pensar, tudo, do infinitesimal ao imensurável; transcende a finitude do perceptível e se perde na amplidão onde apenas a imaginação alcança; desdenha sentimentos, idéias e a própria vida; perene, não possui início e não terá fim, existiu antes e existirá depois. É a gênese do universo e só poderá ser vislumbrado no exato microponto onde o infinito cruza com o eterno. É o TEMPO. JAIR, Floripa, 24/08/09.

sábado, 5 de setembro de 2009

TENTANDO ENTENDER


O ser humano, criatura do TEMPO, angustiado, tenta entender tudo a sua volta, e o faz movido pela busca incessante do saber que, na sua santa ignorância, admite como único caminho para obter respostas para as perguntas: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Para chegar ao entendimento, o homem empreende busca insana e desesperada no âmago das partículas atômicas; se perde nas profundezas abissais do oceano; flutua indagativo no espaço etéreo e não dimensionável; contempla curioso o interior de seu próprio organismo; explora expectante o funcionamento das leis da natureza. Incansável, usa a melhor ferramenta a seu alcance, o cérebro, para observar tudo que o cerca, coletar dados, analisá-los e tirar conclusões. Buscando, obtém certo grau de sucesso com coisas físicas, perceptíveis e manipuláveis, mas com o tempo não, este o desafia como ente acima da sua medíocre compreensão. O homo sapiens filosofa, medita, reflete e culpa o tempo, mas não tem controle sobre ele; atribui a ele todos os males que o afligem e agradece todas as curas que o salvam, mas não o entende; sofre as conseqüências da sua eterna marcha, mas não o manipula; vive sob o império de seu jugo implacável, mas não o conquista. O impalpável e ubíquo tempo escapa a qualquer tipo de conceituação rigorosa e, se resta consolo ao buscador de respostas, o homem apenas consegue quantificá-lo, colocar rótulos, criando a ilusão que pode ter alguma influência sobre ele: segundos, minutos, dias, anos, séculos, milênios, eras etc. Enquanto isso, desprezando todos os esforços do homem e até ignorando-o, o tempo caminha reto, decidido, para frente, traçando a linha condutora de todas as coisas vivas e inanimadas ao fim inelutável. JAIR, Floripa, 02/09/09.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A QUARTA DIMENSÃO


Ao contrário do que possa parecer, antes de ser considerado recurso literário vazio, ou expressão de efeito para ilustrar conversa pseudo científica, a quarta dimensão é uma realidade, é um fato incontestável. Imaginemos um objeto qualquer definido dentro das três dimensões clássicas, altura, largura e profundidade, mas sem duração, sem o intervalo de tempo que determine seu início e término; o mesmo se aplica a um evento também, é impossível imaginar a vida sem nascimento e sem morte no final, por exemplo. Ao se considerar um ser que não passou pela vida tempo algum, não se pode afirmar que viveu, portanto, nunca existiu. Se não começa e não termina, não existe. Tão óbvia é esta afirmação que é difícil até concebê-la. Sejam eventos ou coisas, não há possibilidade de existirem sem duração, portanto, o tempo é uma dimensão fundamental na existência de coisas ou eventos, ainda que, admissível, em tese, coisas com apenas duas dimensões como um desenho no papel, onde a profundidade não tem importância, só sendo consideradas largura e altura. Esse mesmo desenho para existir tem que ter intervalo entre o momento de sua criação até o dia em que for apagado ou destruído de outra maneira, daí podermos afirmar que a quarta dimensão, o TEMPO, é até mais importante que as outras. O TEMPO é, sem qualquer possibilidade de contestação, a quarta dimensão da totalidade das coisas, já que sem duração, sem o intervalo entre o “Big bang” e o fim dos tempos, o universo, na prática, passa a ser uma impossibilidade. JAIR, Floripa, 03/09/09.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

INEXORABILIDADE


O definhar da vida e o degradar das coisas inanimadas é a marca cabal da passagem do TEMPO que, como um mago, conduz com precisão absoluta o movimento uniforme de tudo que existe rumo ao fim insondável. Esse mesmo tempo que foi a gênese de todos os entes que povoam o universo, e que, inexorável, destrói suas criações de cuja matéria formará novas vidas e novas coisas, de átomos a estrelas. Implacável, o tempo soma as partes, diminui espaços, divide a matéria e multiplica seres. O tempo criou a matemática, a geografia e a história; o tempo é maestro invisível da graciosa dança passiva dos astros no espaço imensurável; assim como, condutor imparcial da vida terrena, desde a bactéria microscópica até a imensa baleia azul; passando pelas espécies da ordem dos primatas na qual se enquadra o pretensioso bípede humano. Permanente, cruel e radical, contempla o infinito com a intimidade e segurança de quem o criou e dele ri, como um pai satisfeito ri do filho que mal despontou na vida. Nada o intimida ou incomoda dentro da realidade a qual gerou com naturalidade de quem criou, num notável Big Bang, milhões de bilhões de coisas num piscar de estrela, ou num átimo de trilhonésimo de segundo. A emoção, a paixão, a vida e a morte não passam por ele, não pertencem ao acervo de seus adventos, nada significam, na medida em que são apenas sentimentos e eventos de entes que não tem a marca da inexorabilidade, a qual só ao tempo pertence. JAIR, Floripa, 25/08/09.