quarta-feira, 29 de junho de 2011

L37R45 3 4L64R15M05



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sábado, 25 de junho de 2011

O gato



Quando eu era garoto, na minha casa havia vários gatos, minha mãe adorava os bichanos, de forma que eles sempre encontravam abrigo principalmente na cozinha onde um fogão a lenha fornecia o calor que os atraía no inverno. Desde que lembro, nunca mais que quatro, desses vira latas sem quaisquer resquícios de raças, viviam em completa liberdade no quintal e na cozinha da nossa moradia, pequena e aconchegante casa de madeira num bairro pobre de Palmeira. Não eram mimados como gatos de madame, nem eram dependentes de qualquer coisa necessária à sobrevivência. Acho que naquele tempo nem existam essas rações de hoje, quando alimentados comiam restos de nossa própria comida. Viviam na nossa casa, mas não dependiam de nós moradores, tinham muita autonomia e eram safos o suficiente para se alimentarem, namorar e buscar companhia fora de casa. Eram afeiçoados ao lugar, mansos, conviviam em paz com nosso sempre presente cachorro, eram muito higiênicos, - enterravam com cuidado seus dejetos - gostavam de cafuné e atendiam minha mãe que os chamava por nomes como gato, gatinho, gatucho e outros, todos relacionados com a palavra gato.
Durante os invernos rigorosos como soem ser naquele planalto sulino, costumavam dormir ao pé do fogão a lenha, onde, uma vez, um bichano amarelo de nome gato foi atingido por uma brasa que lhe queimou a pelagem e a pele e ficou com uma cicatriz vitalícia. Esse mesmo bichano gostava de caçar roedores e outros animais de pequeno porte nos campos lindeiros donde morávamos. Não raro ele aparecia em nossa sala com um camundongo ou lagartixa viva na boca e, parecia, vinha mostrar como era exímio caçador. Brincava com a presa até cansar e depois a comia sem pejo, era um gato muito esperto. Certa vez apareceu com uma cobra viva na boca, um pequeno ofídio de cor esverdeada que foi objeto de brincadeiras e depois deglutido com aparente prazer.
Como os gatos apareciam lá em casa? Não sei, mas desconfio que minha mãe tinha algum jeito especial de atraí-los, talvez ela os visse perdidos pelas proximidades e os chamasse para nosso quintal, onde uns encontravam outros, faziam amizade e iam ficando. Só sei que os gatos não incomodavam os vizinhos, não miavam à noite, não ficavam doentes, nunca tomavam banho, mas aparentavam sempre estar limpos, e, não sei por que, eram todos machos, jamais alguma fêmea transpôs a soleira de nossa porta.
Como escrevi no início, eles eram representantes legítimos de animais SRD (Sem Raça Definida) e, como tal, apresentavam variadas cores. Lembro especialmente de um amarelo, um branco, um mourisco, ou seja, variegado com listras pretas e cinzas, e, o mais estranho de todos: um gato azul, isso mesmo azul! Imaginem, se hoje parece esquisito pensar num gato azul, naquele tempo, 1957, então, nem se fala! Um dia de verão, cheguei da escola ao meio dia e lá estava aquele gato bem novo, bem saudável e bem normal, a não ser pela cor. Perguntei a minha mãe a que devia aquela cor e como ele veio parar lá em casa. Como os gatos iam morar lá em casa era um segredo que minha mãe jamais contara, então não seria agora que ela ia abrir o jogo. Mas, azul? Peguei o bichinho no colo e pude verificar que o pêlo não fora tingido ou pintado, era azulão mesmo! Como era possível? Minha mãe não se abalou, disse que pelo fato de jamais termos visto gatos azuis não significava que eles não existissem. Era um bichano azul e pronto! Realmente, diante desse argumento não houve como discordar, o gato azul se incorporou a gataria doméstica e, depois de algum tempo, não dava nem para reparar que ele era diferente dos demais. O bichano gostava de comer mariposas, essas borboletas noturnas que são atraídas por lâmpadas à noite. Para alcançá-las o bicho costumava subir num armário, ficava em pé e as pegava com as patas dianteiras quando pousavam no teto da cozinha. Ele viveu muitos anos na nossa companhia e tornou-se um dos meus prediletos, era um felino dócil e inteligente. O curioso dessa história é que ninguém, absolutamente ninguém, sejam meus irmãos, vizinhos, parentes ou visitas, jamais se referiu a cor estranha do animal, parecia que só minha mãe e eu conseguíamos enxergar aquela pelagem de coloração anil. Também nós, na presença de outras pessoas, deixávamos de falar na cor do bicho, estávamos cientes que os outros não a notavam.
Como os demais, ao ficar velho e alquebrado, o gato azul passou a ser caseiro e dependente alimentar durante um período, depois, um belo dia, partiu em direção aos campos gerais onde se perdeu e nunca mais foi visto. Todos procediam assim, eram por demais orgulhosos para definhar a vista de nós humanos.
Claro que, considerando o que minha mãe havia dito e o conhecimento parco sobre animais e o total desconhecimento sobre genética que eu tinha, nunca contestei a cor do felino e, tampouco me passou pela cabeça procurar saber o porquê daquela excentricidade. Agora, muitos anos depois, ao ler o livro “O urso azul”, veio-me à lembrança aquele gato e uma certeza de como explicar sua exótica coloração. O livro conta a aventura e a trajetória de vida do americano Lynn Schooler que mora no Alasca onde é guia de expedições científicas e fotográficas da fauna daquele estado. Conta ele que havia avistado de longe um urso azul, animal meio lendário que povoa há muitos anos o imaginário de povos nativos e visitantes daquela inóspita região. Pois bem, em todas as oportunidades, Lynn procede a busca do animal exótico até que o encontra e fotografa de perto (as fotos estão no livro). A explicação para a cor azulada se deve a uma mutação do urso cinzento o qual deu origem a esse raro animal.
Então, minha gente, hoje estou feliz porque finalmente posso entender a origem da cor do meu gato. Provavelmente ele era uma mutação desses gatos cinzas, chamados egípcios se não me engano, e saiu com aquela belíssima pelagem que o tornou o bichano mais bonito da gataria de minha casa. Um gato azul com origem agora plenamente desvendada! JAIR, Floripa, 22/06/11.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Acacallis cynea











Fui informado por meu amigo blogueiro Attico Chassot que hoje é o dia do Orquidófilo, de modo que, por ser orquidófilo, fiquei na obrigação de prestar homenagem a estas que em texto anterior chamei de “As mais belas flores do Planeta”, as maravilhosas orquídeas.
Então, como escrever algo a respeito dessas plantas que seja uma homenagem sincera e faça jus a sua beleza? Acho que posso ressaltar algo de exótico como a cor azul. Embora exista muita orquídea por aí apresentando várias tonalidades de azul, todas são “orquídeas de laboratório”, flores desenvolvidas a partir de cruzamentos entre espécies e até entre gêneros diferentes. Na natureza essa cor é rara, tão rara que os livros que tratam dessas flores costumam relatar a existência de apenas cinco espécies azuis. Entre essas espécies a que mais chama atenção por sua beleza é a Acacallis cynea, encontrável na floresta amazônica. No hotel que eu ficava hospedado em Manaus, hotel Tropical, existe um orquidário bem montado e bem cuidado com centenas de exemplares de orquídeas da região, o qual eu costumava frequentar para apreciar as lindezas que iam florindo em diversas ocasiões ao longo do ano. Dentre as tantas plantas existia uma, e apenas uma, Acacallis cynea, e ela florescia em novembro. O cuidador do orquidário sempre chamava minha atenção para quando ela estivesse prestes a desabrochar para que eu não perdesse o evento. Por dois ou três anos tive a satisfação de ver a Acacallis florida. Confesso que me emocionei cada vez.
Reproduzi aqui algumas fotos da bela Acacallis encontradas na internet porque as minhas fotos tiradas antes das máquinas digitais encontram-se em alguma gaveta por aí e não sei como achá-las. Fica aqui minha prova de veneração às mais belas flores do Planeta. JAIR, Floripa, 22/06/11.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Briga de galos



A história registra que o bicho homem é belicoso, que desde os primeiros grupos a se reunirem em clãs e aldeias, as disputas, rixas, desavenças e brigas estavam presentes. Continuaram os seres humanos a construir a civilização, tornando cada vez mais complexas suas interações sociais, traduzindo em feitos, monumentos, objetos e métodos, suas ideias, mas nunca abandonaram a disposição à violência com seus semelhantes, seja no nível individual com brigas e lutas, seja no nível comunitário com revoltas e guerras. Mas não só isso, pelo que se sabe, todas as civilizações, em tempos de paz, canalizaram suas agressividades para jogos, justas, combates simulados e o que pode ser chamado de luta por procuração: adestraram ou aproveitaram a disposição natural de animais domésticos e selvagens para fazê-los brigar.
Assim, no oriente, brigas de grilos e de peixes betta são comuns e movem milhares de dinheiros entre aficcionados; no Cazaquistão tribos nômades costumam promover brigas de ursos; em outras partes do mundo, inclusive no Brasil, acontecem brigas de cães, de canários e de galos.
Existem vários lugares no mundo onde essas brigas são legais, inclusive em alguns países da America latina e no estado de Luisiana nos EUA. No Brasil as brigas de galos são consideradas crime pela legislação federal desde 12 de fevereiro de 1998 (Lei 9.605, artigo 32, de Crimes Ambientais), devido a maus tratos a animais. Antes a legislação considerava apenas contravenção essa atividade.
Consta que há evidências de que briga de galos era um passatempo na civilização do vale do Indo. O esporte era popular nos tempos antigos, na Índia, China, Pérsia e outros países do Leste e foi introduzido na Grécia na época de Temístocles (524-460 aC). Durante muito tempo os Romanos afetados desprezaram este "desvio de grego", mas acabaram por adotá-lo com tanto entusiasmo que o escritor Agrícolas Columella reclamava que seus devotos muitas vezes gastavam todo seu patrimônio em apostar ao lado do poço. Lembrando que poço é o rinque onde os galos se engalfinham e rinha é o local onde se encontra o poço (ou tambor) e os aficionados se reúnem para fazer suas apostas. Mal comparando, a rinha seria o Maracanã e o poço seria o gramado.
Pois é, sendo ilegal ou não, fui criado numa região na qual era comum as pessoas criarem galos especialmente para a violência, e promoverem as brigas sem pudor e sem escrúpulos. Confesso que assisti algumas dessas disputas em minha infância. O dono da rinha chamava-se Laerte e as brigas se davam aos domingos a tarde com afluência maciça de criadores e apostadores.
Os galos brigam por instinto sexual, como são territoriais, ao avistarem um “rival” em seu pedaço, partem para a disputa na qual o mais forte expulsará ou anulará o adversário. Os homens se valem dessa tendência natural, treinam sua ave, estimulam sua agressividade e a colocam de modo a ser desafiada por outra supostamente em iguais condições e de peso idêntico. Ao se enxergarem as aves partem amoque para a agressão e se engalfinham com esporas, bicos e asas, para gáudio dos espectadores. O espetáculo é dantesco, na falta de um qualificativo mais adequado. É um dos espetáculos mais estúpidos e absurdos que a mente insana do Homo dito sapiens pode conceber. O resultado são penas, sangue, pedaços e pele e tecidos e, por fim, a morte ou submissão de um dos animais e a “vitória” do outro que nem sempre sai em boas condições do poço. No mais das vezes o vencedor também apresenta lesões apreciáveis e é comum ser sacrificado porque não pode ser recuperado.
Na verdade, em condições normais os galos jamais matam um ao outro, eles se limitam a mostrar sua superioridade durante a briga e expulsam o suposto invasor. Os homens, sabedores dessa atitude, criam galos mais agressivos através do cruzamento seletivo, aumentam a tonicidade de seus músculos através de exercícios, hormônios e alimentos especiais, ampliam o potencial de letalidade colocando próteses de aço em suas esporas e bicos e estimulam sua tendência à violência, conseguindo, dessa forma, que os animais se comportem fora de seus padrões naturais. O galo de briga é uma máquina de matar criada pelo homem.
Essa delegação de violência é a prova máxima que o Homo sapiens é mais estúpido do que pode parecer, é uma excrescência antinatural, uma besta do apocalipse, uma criatura horrenda que a natureza está arrependida de ter colocado neste Planeta, um refugo da evolução, um troféu do demônio, um ser asqueroso e inútil que não se enquadra em qualquer reino natural, um energúmeno juramentado e de carteirinha, uma ínfima partícula do dejeto da mosca que posou no cocô do cavalo do bandido. Se o homem deixar de existir a natureza agradece. Num mundo isonômico, para cada briga entre galos deveria corresponder uma luta entre dois aficionados nas mesmas condições, ou seja, deveriam lutar até que um morresse ou não mais pudesse reagir, algo assim como uma luta de vale tudo com desfecho fatal compulsório. JAIR, Floripa, 17/06/11.

domingo, 19 de junho de 2011

O dia perdido




Depois de, somados meus anos de Força Aérea, 15 anos de labuta na aviação civil mais os anos que, ainda adolescente, trabalhei na indústria madeireira e no armazém de secos e molhados de meu pai no Paraná, pude computar quase 50 anos de trabalho e, assim, nada mais justo que agora goze de ócio permanente na forma de aposentadoria. Aposentei-me oficialmente há menos de dois anos e, de lá para cá, considero que todos meus dias são domingos, dia útil, naquela acepção do trabalhador atrelado à rotina desgastante de produzir e pensar no dinheiro do fim do mês, é algo que deixou de existir no meu calendário.
Coerente com meu novo status – aposentado de carteirinha – e, embora seja colecionador de relógios, deixei de lado horários rígidos e compromissos inadiáveis, não presto muita atenção às horas e, tampouco, me preocupo em demasia com o passar dos dias. Contudo, não parei com atividades prazerosas como ler e escrever. Já lancei dois livros e penso publicar outro ainda este ano, e minha cadência de leitura está em torno de setenta livros por ano, algo bem substancioso, considerando que as pessoas que mais leem no Planeta são os finlandeses com média anual de quinze livros. Escrevo no meu blogue e tenho uma coluna no jornal “Folha de Palmeira” da minha cidade natal no Paraná.
Como aqui em casa somos apenas minha mulher e eu, resolvemos que não vale a pena almoçar indoor. Todo o trabalho de preparar refeições e lavar a louça, além de sempre ter à mão os víveres frescos necessários para a confecção de almoço para apenas duas pessoas; e as inevitáveis sobras, nos parece desnecessário e nada prático, considerando que existem dezenas de restaurantes ao redor que oferecem os mais variados cardápios a preços acessíveis, nós almoçamos fora há mais de dez anos. Além disso, evita-se a rotina almoçando cada vez em lugar diferente. Costumamos frequentar mais de uma dúzia de restaurantes aos quais vamos a pé em caminhadas que beneficiam nossa saúde.
Também incorporei à minha vida, as viagens. Com dois filhos morando no exterior não falta pretexto para, pelo menos duas vezes por ano, deslocar-me com minha mulher para a Austrália e EUA, além de viagens pelo Patropi. Agora com uma nora oriunda do Canadá é bem possível que aquela geladeira ligada entre no roteiro dos deslocamentos internacionais.
No decorrer dos dias “comuns” passo muitas horas no interior do universo paralelo chamado internet, não dá para ser diferente, o portal (tela do PC) que se abre para aquele mundo é um convite irresistível que domina a mente do ser inquisitivo e curioso que sou.
Como disse no início, não me preocupo em demasia com o passar dos dias, entretanto, condicionado por quase cinquenta anos de escravidão a horários e calendários, minha mente está fortemente ligada a uma espécie de “timer” que computa dias e horas automaticamente. Ouso deduzir que esse mecanismo é uma variedade especial de vírus neuro-eletrônico o qual impõe ao cérebro um relógio que, mesmo contra a vontade expressa do portador, mostra o passar das horas e dos dias; assim, independente de consultar marcadores, “sinto” o decorrer do tempo e sempre sei com algum grau de precisão que dia é hoje e qual hora decorre.
Em nenhum momento incomoda-me essa ligação permanente com o tempo, entendo que sentir o passar dos dias, mesmo sem compromissos inadiáveis, é saudável e dá uma sensação de pertencimento, sensação de adequação, sem as quais o meu universo poderia tornar-se volátil, sem âncoras que o firmassem à vida real.
Agora, vejamos o que aconteceu esta semana. O mecanismo de registro temporal parecia perfeito no domingo, e, no decorrer de segunda ou terça, pareceu meio vacilante, não informava com precisão à minha mente a marcha dos dias, a informação do decorrer das horas não sofreu qualquer alteração. Lá pela quarta ou quinta (não sei com certeza porque a informação do timer já não mais estava confiável), causou-me certa confusão ter lido no blogue de um amigo, referência ao dia como sendo quinta quando “parecia” ser quarta. De qualquer forma, continuei o andamento de minhas coisas sem me ater muito aos dias e horas, como sempre faço. Só que no “meu” calendário hoje era para acordar sexta feira e amanheceu sábado! O que é isso? Perdeu-se um dia? Minha contagem automática do tempo falhou e me deixou no vácuo? Não sei, mas, com certeza, perdi um dia de minha vida e não sei para onde foi, mas desconfio que ele caiu num buraco negro temporal. E pior, não sei qual dia perdi, minha semana teve apenas seis dias e o dia perdido foi tão completamente apagado que nem o nome dele consigo saber! Esse dia tornou-se o 30 de fevereiro de minha vida! É meio insano, mas pura verdade. JAIR, Floripa, 18/06/11.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

As folhas caem



Outono, período de transição entre o verão que se foi e o inverno que chega, é, em geral, quando as folhas das árvores de folhagem não perene caem. Em climas frios e temperados essa é a regra, nos trópicos ou em regiões semitropicais isso quase não acontece, em geral as árvores mantém suas vestimentas verdes o ano todo. A botânica nos informa que essa perda de folhas permite que a árvore “durma” durante o inverno despendendo menos energia preservando sua seiva e seu vigor para que, nos dias mais quentes da primavera, ela possa renovar-se, florir e preparar-se para produzir frutos e sementes que garantirão sua descendência. Fica evidente que essa estratégia de reprodução foi desenvolvida pela vegetação que vive em climas menos favoráveis, as árvores de florestas tropicais em geral não perdem as folhas porque a abundância de sol e água não oneram seu desenvolvimento e elas podem se dar ao luxo de serem verdejantes o ano todo.
Embora seja costumeira uma analogia dessa particularidade da vida dos vegetais com a sequência seguida por nós humanos dizendo que homens e mulheres da terceira idade estão no “outono” da vida, isso não é a expressão da verdade. Animais que somos, não vivemos em ciclos repetitivos como as plantas. A não ser o ciclo circadiano, que se repete mais ou menos a cada vinte e quatro horas, não temos algo que se assemelhe a “estações” do ano que se sucedem como nas plantas. Não conseguimos nos renovar a cada ano de modo a recuperar “folhas” perdidas durante o outono. Quando chegamos nesse período da vida já deixamos para trás grande parte do vigor e da saúde; agora, queiramos ou não, entramos no ramo descendente que nos levará ao término irrefragável, não há renovação como nas plantas.
As folhas caem. Nossos cabelos, seios, dentes, tonicidade muscular e pele sofrem a ação da gravidade e despencam, sinal da decadência da matéria da qual somos constituídos. Qualquer artificialidade que vise interromper ou atenuar essa sucessão de eventos é mera cosmetologia, a idade e o fatal declínio do corpo físico são irreversíveis. As nossas folhas caem sem retorno e sem renovação, nós somos seres de existência vetorial, nossas vidas têm grandeza, sentido e direção. À vista dessa inexorabilidade, a qual aponta sempre do começo para o fim inescapável, o homem, como angustiado ser pensante, inventou uma tal de vida após a morte que serve para consolá-lo na sua ansiedade existencial. Deus, alma, inferno, limbo, céu e vida após a morte estão de acordo com a recusa inconsciente do homem em pensar sobre o fim; e o consequente retorno da matéria que o compõe ao estado primitivo de substâncias inanimadas simples e elementos da tabela periódica.
A mente é pródiga em construir castelos no ar no qual os seres humanos possam se abrigar das intempéries inevitáveis que o decorrer obtuso do tempo impõe. A mente é o instrumento perfeito para criar a ilusão que mantém a esperança. Parece que a mesma mente que nos diferencia de outros seres nos dando autoconsciência, serve como contraponto amenizando o terrível sofrimento que nos aflige ao nos sentirmos mortais. O cair de nossas “folhas”, ao contrário do mesmo fenômeno no reino vegetal, prenuncia o fim que evitamos pensar, mas desencadeia todo um mecanismo de bloqueio e repulsão da realidade terrível, não somos racionais quando se trata da morte.
As religiões nos dão “certeza” que, se seguirmos seus ditames, teremos um nobre assento num lugar chamado céu onde nossa alma gozará de delícias mil eternamente. Não importa que nossas velhas folhas caiam, nossa alma terá vida eterna. Esse é o mecanismo que o homem inventou para compensar a inevitável queda de suas folhas. JAIR, Floripa, 16/06/11.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O Ginásio

Ginásio Estadualo Dom Alberto Gonçalves.

O nome oficial do estabelecimento de ensino era Ginásio Estadual Dom Alberto Gonçalves, conhecido simplesmente por Ginásio, como não havia outro na cidade era impossível confundi-lo, daí a simplificação: Ginásio. No sistema de ensino daquele tempo Curso Ginasial era complemento do Curso Primário que correspondia aos primeiros quatro anos de ensino obrigatório, aquele capitulado na Constituição como, “obrigatório e gratuito, obrigação do Estado”, mas que raramente atende a plenitude da definição. O Ginasial, também chamado secundário, compreendia quatro anos de ensino para capacitar o aluno ao ensino médio, mais três anos que, teoricamente preparavam o candidato ao ensino superior. Só que em Palmeira, depois do Ginásio, os alunos poderiam optar apenas pela Escola Normal, ensino médio que formava professoras para o curso primário, ou a Escola Técnica de Comércio a qual não sei que ensino ministrava.
Pois bem, o nome do Ginásio, Alberto Gonçalves fazia homenagem àquele que foi o mais ilustre filho da terra. Alberto Gonçalves nasceu em Palmeira em 1859 onde estudou as primeiras letras, em 1874, aos 15 anos, matriculou-se no Seminário de São Paulo, terminando seus estudos eclesiásticos em 1879, aos 20 anos de idade. Tornou-se diácono em 1887 e passou a lecionar por dez nos no mesmo estabelecimento que havia estudado. É autor de várias obras didáticas, entre elas: “Compêndio de Geometria” e uma “Gramática Latina”, excelentes livros adotados em todo o Paraná por muitos anos. Por isso, a homenagem a ele era compreensível e perfeitamente justa.
Então, depois que me “formei” no primário em 1957, ingressei no Ginásio depois de ser aprovado no exame de admissão ao ginasial, prova que compreendia conhecimentos de Aritmética, Geografia, História e Português. Era condição sine qua nom passar nessa prova, caso contrário teria que adiar seu ingresso para o próximo ano ou até ser aprovado algum dia. Como o exame era difícil – era uma espécie de vestibular de hoje - havia necessidade de preparar-se para ele e isso se fazia estudando durante as férias com professor particular, normalmente seu Diógenes, funcionário da prefeitura que cuidava da entrada do Cine Teatro Municipal, era o professor que procurávamos por ser o melhor e mais barato, isso eu garanto. Conseguindo ultrapassar o obstáculo da admissão, entrava-se no seleto clube do ginasianos e adotava-se o uniforme cáqui, constituído de jaqueta de brim com bolsos superiores e botões pretos, calça de mesmo material e cor, camisa também cáqui de tecido leve e gravata e sapatos pretos, era um desbunde. Sinceramente, aquele uniforme conferia uma distinção primorosa ao usuário, achávamo-nos os bambambãs do pedaço.
As aulas eram ministradas para classes no turno da manhã, para outros alunos a tarde e, finalmente, a noite para alunos maiores de quatorze anos, neste caso não havia necessidade de usar o glamoroso uniforme. Como eu era dimenor de quatorze anos entrei no turno da manhã.
O prédio do Ginásio estava localizado em uma esquina no término da segunda rua mais importante da cidade, rua XV de novembro. Tratava-se de um terreno grande que, além de abrigar o edifício, possuía duas quadras de jogos nos fundos e uma porção mais baixa onde existia uma plantação de milho. Não me perguntem o porquê dessa plantação, não sabia naquele tempo e não o sei hoje, quero apenas contar um caso.
Quando completei quatorze anos, porque tinha que trabalhar, fui matriculado no curso ginasial noturno. Mesmo ginásio, mesmos mestres, mesmos colegas, a única coisa que mudou foi o horário
das aulas e a escuridão. Não havia muitas lâmpadas nas ruas de Palmeira naqueles anos. No Ginásio então, era uma escuridão profunda no meio do milharal. Como as quadras de esportes ficavam juntas à plantação de milho, era comum bolas extraviadas caírem na plantação e alguém tinha que buscá-las naquele breu. Como eu era o que menos jogava, porque jogava muito mal, cabia a mim muitas vezes buscar a bola perdida no meio dos pés de milho. Numa dessas, com certo receio, entrei na plantação bem mais longe que vezes anteriores porque a bola de vôlei havia caído mais adiante. Ao chegar ao ponto que supus ser onde a bola se encontrava levei o maior susto: havia um homem sem uma perna segurando a bola numa mão, com um cachimbo na outra e olhando para mim. Antes que perguntem, não usava barrete vermelho, não era o Saci-Pererê, era mais como um pirata de historinhas, apenas lhe faltava o papagaio no ombro. Estranhamente, ao perceber a expressão tranquila do perneta, não mais senti qualquer medo ou susto, apenas olhei a bola e disse que viera buscá-la. Ela a entregou-me com um sorriso e nada disse.
Passados uns dias aquela figura não me saía da cabeça, me intrigava o motivo que levara aquele homem ao meio da plantação. Num dia em que não houvera uma aula porque o professor faltara, me afastei dos colegas com cuidado e entrei no milharal procurando o sujeito. Lá no mesmo lugar de antes estava o homem sem uma perna sentado num toco, fumando seu cachimbo tranquilamente. Perguntei se podíamos conversar e ele aquiesceu. Batemos um longo papo e fiquei sabendo de algumas coisas interessantes. O Sujeito chamava-se Deolindo e trabalhara na construção do Ginásio, havia perdido a perna num acidente de trabalho, recebera uma indenização por ter se tornado inválido e vivia no meio dos milhos por opção, era-lhe familiar dormir numa cabaninha de lona impermeável entre os pés da gramínea, fora agricultor grande parte da vida. A cabaninha encobria a entrada de uma escavação que lhe fazia as vezes de casa, constituída de sala quarto e cozinha. Pouco confortável com certeza, mas funcional e apropriada a quem não estava interessado em consumismo. Curioso, indaguei como sobrevivia, já que ninguém sabia de sua existência ali. Ele me encarou e disse que depois que a última aula acabava e o Ginásio fechava o prédio era só dele, banheiros, instalações sanitárias, a cantina, salas de aulas e dos professores o enorme porão, tudo, já que tinha a chaves desde o tempo da construção. Sentia-se o dono do prédio e lhe dei razão, ninguém mais tinha tanto espaço por tanto tempo com o ele. Costumava preparar alguma comida na cantina, tomar banho, ler na biblioteca e ouvir rádio na sala dos professores, estava muito a vontade. Com o tempo continuamos encontrando e acabei gostando de prosear com o perneta, ele era inteligente, tinha um vocabulário rico e era bem articulado, me ensinou muita coisa de ciências que era matéria que gostava de pesquisar na biblioteca.
O que posso dizer mais desse indivíduo “diferente” que optou pelo minimalismo de viver numa plantação de milhos e reduzir suas ações e necessidades a um mínimo quase nada? Deolindo, pelo que sei, jamais deixou o milharal e também nunca foi encontrado por mais ninguém, tornou-se, para mim, um gnomo do bem que ensinou-me lições inestimáveis de bem viver com pouco e ser feliz ainda assim. O perneta era um minimalista na pura acepção da palavra. O Ginásio continua lembrança viva em minha mente, não só pelos anos felizes em que lá aprendi matérias necessárias à vida acadêmica, mas, sobretudo, pelo ermitão do milharal que, sob quaisquer aspectos que se olhasse, era um espécime sui generis, digno de ser estudado por antropólogos sociais, desses que vivem à cata de excentricidades. JAIR, Floripa,14/01/11.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O futuro do homem



Há cerca de três milhões de anos numa savana cortada por rios semi perenes, no nordeste da África, onde hoje se situa o Quênia, Etiópia e Somália, um primata humanóide bípede pegou um seixo de basalto, e com alguns golpes habilidosos com outra pedra, transformou-o num implemento afiado capaz de cortar com certa facilidade madeira, couro e carne de animais mortos. O que fora apenas uma entre milhões de pedras indefiníveis umas das outras, era agora uma ferramenta capaz de transformar objetos e “coisas” em favor do ser inteligente que a criou. Estava inaugurada a tecnologia. Abandonado pelo seu criador, esse objeto de pedra ainda existe, junto com milhares de outros, no Museu Nacional do Quênia em Nairobi. É um elo inquestionável entre nossos ancestrais Homo habilis e nós, Homo sapiens. É instigante imaginar que as mãos que podem segurar hoje essa peça e a mente que pode admirá-la, partilhem da mesma herança genética das mãos que a confeccionaram e da mente que a concebeu.
A busca pela origem do homem excita paleontólogos e arqueologistas, mas afeta a todos nós, profissionais ou não, porque parece existir uma curiosidade atávica que nos impele a conhecer quem somos e de onde viemos. Sem essa curiosidade, certamente as ciências da paleontologia, arqueologia e antropologia não teriam razão para existir. A pergunta pertinente que inquieta a mente do homem moderno é saber como um ser pensante, sensível e cultural como nós, emergiu de um tronco primitivo, humanóide, quase macaco. Quais foram os ambientes e as circunstâncias que impulsionaram esse antigo antropóide na direção do homem alto, inteligente, articulado e pretensioso, que através da tecnologia e criatividade veio ocupar todos os cantos habitáveis do Planeta? Não é uma pergunta inconseqüente, uma indagação vazia de conteúdo, porque a chave para o futuro da humanidade reside no entendimento real do animal que somos. Porque, apesar de nossa pretensão, somos apenas isso: animais.
É razoável supor que desde que os primeiros lampejos de autoconsciência piscaram nas mentes dos nossos ancestrais distantes, o homem tem refletido sobre sua relação com o mundo que o cerca; com o Planeta no qual vive; e até sua relação com o Universo. Assim, podemos inferir que os primeiros Homo, há um milhão de anos atrás, tenham tido consciência de si mesmos como parte integrante da natureza, como pertencentes a algo maior que não só suas tribos e clãs; o fato de serem caçadores coletores que sobreviveriam somente se respeitassem o mundo no qual estavam inseridos. Mesmo assim, eles já poderiam ter iniciado a antiqüíssima prática da lei de Gérson que procura levar vantagem em detrimento dos demais seres vegetais e animais que lhes estavam ao alcance. Com o passar do tempo surgiu o homem moderno – Homo sapiens – criatura que, sendo observada por um extraterrestre deve parecer extremamente perversa, destruidora. À diferença dos outros animais, guerreamos entre nós mesmos. Apesar de inteligentes e com discernimento elevado, exploramos os recursos não renováveis do Planeta e nos comportamos como se essa destruição sistemática possa se estender para sempre sem consequências funestas. Ó inocência eivada de egocentrismo! Praticamente em qualquer sentido que se queira, são os humanos que baralham e dão as cartas nesse jogo com a natureza, contudo, parecemos cegos para os desmandos e atrocidades que cometemos no simples ato de sobreviver. Será isso necessário? Um observador alienígena perceberia nosso domínio sobre a natureza, mas poderia perguntar: Serão insanos?
Se não somos loucos – e, naturalmente, achamos que não somos – porque então essa corrida amoque para a autodestruição? Talvez a raça humana seja apenas um terrível erro evolutivo, uma espécie de beco sem saída que não terá futuro; uma espécie que não deu certo e desaparecerá em pouco tempo da face deste planetinha azul. Há provas incontestáveis que na história da Terra já houve quatro ou cinco ocasiões em que os seres vivos foram exterminados na sua quase totalidade, forças desconhecidas por nós atuaram de forma que em poucos milhares de anos, a flora e fauna sofreram revezes brutais e quase desapareceram. Nenhuma dessas extinções aconteceu depois que o homem surgiu no Planeta, a última foi há 65 milhões de anos e acabou com os dinossauros que haviam dominado a Terra por mais de 150 milhões de anos. Os bichos não tinham jogo de cintura, não conseguiram se adaptar às condições modificadas por um asteróide que se chocou com a região onde hoje se encontra o golfo do México.
Na sequência, não se pode descartar a possibilidade de outra extinção em algum ponto do futuro, mas como se dará ela? Não sabemos e talvez jamais venhamos a saber, mas como a estultice não uma das nossas mais sólidas vocações, temos a obrigação de perceber que estamos contribuindo tenazmente para a próxima aniquilação. Aquela que destruirá o que chamamos de civilização e fará os poucos sobreviventes voltarem ao paleolítico onde, provavelmente, terão que adquirir novamente a habilidade de fazer artefatos de pedra como aqueles dos nossos ancestrais.
Então, considerando a inteligência e o discernimento humanos, torna-se obrigatória a conscientização de nossos atos e a aceitação das consequências, ou seja, cabe a nós, e apenas a nós mesmos, aceitar que somos os responsáveis pelo futuro da humanidade e tornar ele possível através de nossas atitudes. O resto é fogo fátuo. JAIR, Floripa, 21/04/11.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Sobre turismo espacial

A espaçonave de turismo espacial da empresa britânica Virgin Galactic completou seu primeiro vôo de teste em 23/03/2010. Acoplada à nave-mãe, a VSS Enterprise voou sobre o deserto de Mojave, no Estado americano da Califórnia, durante quase 3 horas. A espaçonave atingiu mais de 13 mil metros de altitude. Os testes da VSS Enterprise continuarão em 2011, e os primeiros vôos comerciais estão previstos para 2012. A passagem para um vôo espacial custará US$ 200 mil.


Quando eu era criança, antes mesmo que os EUA e a URSS dessem seus primeiros passos no que se convencionou chamar de corrida espacial, éramos bombardeados com aventuras no espaço sideral através da leitura de ficção em forma de quadrinhos, como Flash Gordon e similares que viajavam até galáxias distantes. Olhando a História da humanidade parece saltar aos olhos que o ser humano sempre olhou para o alto e imaginou uma fronteira ser conquistada. Vieram as primeiras viagens suborbitais, seguidas de ousadas órbitas múltiplas em torno do Planeta, a chegada à Lua, sondas espaciais para além do sistema solar, estação espacial permanente e, finalmente, viagens pagas por milionários nos equipamentos existentes. Delineou-se o que chamamos de turismo espacial.
Há quem diga que o crescimento das atividades para o desenvolvimento de serviços de passageiros em viagem espacial é muito promissor, contudo, há uma idéia difundida, mas equivocada, de que o turismo espacial continuará a ser uma atividade de pequena escala dos muito ricos. A verdade é que, tendo sido adiado por muito tempo por falha de as agências governamentais em divulgarem seu conhecimento adquirido ao longo de seus programas, há uma demanda reprimida (eu gostaria de viajar pelo espaço) por essas excursões, o que poderá estimular o crescimento dos serviços de viagens espaciais e transformá-los em uma grande e rendosa indústria nova. Ou seja, a técnica e o conhecimento do negócio existem para permitir que o turismo no espaço possa crescer para um volume de negócios que permita seu barateamento até ser possível atender a demanda de pessoas comuns com alguma grana no bolso e um grande desejo de fazer algo diferente. Talvez nenhuma atividade, portanto, ofereça maiores benefícios econômicos que o rápido desenvolvimento de serviços de baixo custo para esse tipo de turismo. Se as grandes economias (EUA e Europa) quiserem, políticas do governo devem ser revistas para refletir essa vontade.
Ao longo da chamada corrida espacial, talvez até por preocupações de segurança e de não “entregar o ouro”, as políticas têm conseguido muito menos valor econômico do que teria sido possível se a maior prioridade fosse dada à economia em vez de apenas objetivos políticos e ideológicos. Medido em termos convencionais, o retorno sobre o investimento público nas atividades espaciais tem sido negativo até hoje, gastou-se muito em pesquisas e desenvolvimento de novas tecnologias e obteve-se resultados pífios em relação a ganhos no mercado. Se, desde o início, a cada conquista se atrelasse um investimento visando o mercado consumidor, certamente hoje o quadro seria outro. Por exemplo, só depois da queda do regime comunista a Rússia, claro que pressionada pela crise econômica que adveio, abriu seus centros espaciais para viagens espaciais pagas e lançamentos comerciais de satélites civis.
Um evento que ajudou a esclarecer esse fracasso político foi o vôo orbital de sete dias do milionário americano Dennis Tito, em 2001. Ele escolheu a Soyuz com foguetes de fabricação russa, uma vez que esta era a maneira mais barata e mais segura para atingir a órbita terrestre. A astronave (?) Soyuz é estritamente baseada no "R7" míssil inter-continental, que em 1957 se tornou o primeiro foguete a lançar um satélite, o"Sputnik I". Assim, o voo de Tito revelou um fato importante e marcante: o custo real, medido em termos de hardware real e propelentes utilizados, não mudou em nada desde 1957. Considerando que a tecnologia (software) e o conhecimento tendem a baratear custos do que quer que seja, os vôos orbitais atuais serão significativamente mais baratos que os já realizados.
Claro que existem aqueles céticos que dirão que tal “extravagância” não estará jamais ao alcance do público, mas a eles vale lembrar que há dois séculos era impensável admitir passageiros nas travessias transatlânticas. Também, há um século, as então geringonças voadoras não davam sinal que se tornariam o meio de transporte mais importante do mundo como agora o são. Seja como for, ainda quero viver em um mundo no qual seja possível reservar lugar num voo de oito dias ao redor do Planeta. JAIR, San Diego, 26/05/11.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Sobre diversão



Ora, para quem está em Vegas só duas palavras parecem ser importantes: diversão e lazer. Como eu disse em postagem anterior, fiquei hospedado no MGM Hotel que consta como o segundo maior do mundo, só perdendo para hotel existente na Tailândia. Pois é, um hotel grande tem que ter grandes atrações também, porque sem isso ele não sobreviveria. Dois grandes espetáculos estavam em cartaz quando lá nos hospedamos: Cirque du Soleil e o mágico David de Copperfield. Confesso que sempre fui e sou fissurado pela arte do ilusionismo, mas, desta vez, preferi assistir a Nathan Burton, um ótimo mágico bem tradicional e mais pé no chão que Copperfield, ele executa os truques tradicionais com humor e sem muitos aparatos e aquelas super produções dos mágicos da moda. Nos divertimos muito, ri como não ria há tempos, valeu.
Programa compulsório foi assistir o Cirque du Soleil, cujo espetáculo em cartaz se chama KÀ e é uma história bem contada sobre uma comunidade japonesa pobre mas feliz que vive num litoral bem aprazível. A aldeia é invadida por arqueiros perversos que tentam matá-los, mas eles fogem num barco precário, conseguem se distanciar dos inimigos, mas entram numa tempestade fatal que os afunda. Um deles consegue mergulhar e trazer os demais a tona e os leva para uma praia onde os perseguidores os alcançam. A luta entre os dois grupos prossegue ao longo da história. Se o interesse do espectador é ver arte circense em ação, o espetáculo KÀ é uma dose maciça, muito mais intensa e envolvente que apenas assistir alguns artistas pendurados em trapézios ou saltando sobre obstáculos, é tudo isso multiplicado por cem ou mais.
O interesse que desperta na assistência essa história tão banal é porque, como se fosse ópera, o enredo é contado com malabaristas, trapezistas, contorcionistas e equilibristas em coreografias inacreditáveis num palco totalmente móvel. O tablado do palco pode tomar qualquer posição, menos ficar de cabeça para baixo. Dá para imaginar uma tecnologia de ponta aplicada a mecanismos complexos que fazem o palco rodopiar, elevar-se, afundar abaixo de nossas vistas, ficar na vertical, inclinar-se em ângulos inverossímeis, distanciar-se e se aproximar com uma desenvoltura impressionante. Tudo acontece sob nossos olhos com os atores e atrizes as vezes literalmente pendurados no tablado, vale a pena ver.
Para comemorar o aniversário de 60 anos de minha mulher, fomos jantar na Torre Eiffel do restaurante Paris. Restaurante localizado no primeiro terço da torre com vistas para “The strip” onde ocorre a dança das águas, espetáculo para os olhos e menu ao melhor gosto francês. Estilo e sabor conspirando para o prazer, supimpa.
Chegamos em San Diego ontem, hoje fomos ao zoológico. O Zoológico de San Diego é mais que um jardim contendo bichos: é uma espécie de santuário para milhares de animais, uma paisagem de plantas raras de todas as partes do Planeta e uma verdadeira sala de aula viva. Conheço muitos Zoológicos, mas nenhum que se pareça com esse. Paga-se 40 dólares para entrar, mas, pelo jeito, não é muito caro, pois em plena segunda feira com baixa temperatura e uma chuvinha gelada bem chata, o jardim estava repleto de turistas, mães levando os filhos e gente de todo o mundo. Mesmo sendo o zoológico de mais de 4 milhões m² conhecido por sua incrível variedade de animais, são realmente as plantas a coleção a mais valiosa do parque. As reproduções imitam o habitat natural dos animais, incluindo as plantas. Os ambientes realistas promovem o comportamento natural dos animais, os visitantes podem ter uma boa idéia de como os animais vivem em estado selvagem, sejam ursos polares na tundra ártica, ocapis na floresta de Burundi ou os bonobos nas selvas do Congo. Até nossa conhecida onça pintada parece sentir-se bem à vontade no nicho de floresta tropical construído particularmente para ela.
Existem áreas especialmente concebidas para visualização dos animais pelas crianças, esses locais garantem que mesmo os menores pequerruchos possam ver os bichos em ação. Por exemplo, o lago em que os hipopótamos nadam tem uma “parede” de vidro donde as crianças podem ver os bichões bem de perto por baixo. O San Diego Zoo é considerado um dos mais bem construídos do Planeta com respeito a adequação dos ambientes aos animais. Não é a toa que a animação "Madagascar" contempla esse zoo com elogios.
O Zoológico oferece uma visita com guia bilíngüe de ônibus e uma visita aérea através de um bondinho elétrico que “sobrevoa” toda a extensão do parque, passeio interessante já incluído no preço da entrada. Além dessa parte lúdica, por assim dizer, o zoo tem uma variedade de restaurantes do refinado ao informal, bem como um monte de lojas. Almoçamos num local que nos serviram feijão com arroz e carne, coisa bem parecida com comida brasileira. Depois de uma semana comendo as calóricas comidas gringas, valeu dar uma triscada no velho feijão-com-arroz.
Mesmo que 40 dólares pareça caro, soubemos que o dinheiro arrecadado reverte em benefício do próprio zoo, então é dinheiro bem empregado, na minha opinião. Férias é isso, cultura, lazer e distração, embora seja cansativo. JAIR, San Diego, 22/05/11.

sábado, 4 de junho de 2011

Involução



Uma das forças evolutivas observada por Darwin, e que foi comprovada por cientistas posteriormente, é a seleção sexual. Significa que, geralmente a fêmea, escolhe seu parceiro por características físicas que lhe informam sobre a boa saúde do futuro pai de seus rebentos. A seleção sexual é um "caso especial" da seleção natural. Essa força seletiva faz muitos organismos irem a extremos para obter sexo: os pavões mantêm caudas elaboradas, e caras sob o ponto de vista energético, além de ineficientes como camuflagem e extremamente difíceis de conduzir durante uma fuga de predadores. Mas, deve valer a pena, pois os bichos estão por aí há milhões de anos e devem continuar assim se os bípedes pensantes não acharem um jeito de exterminá-los. Outro caso extremo do tremendo impulso dessa força, observa-se na aranha de bunda vermelha, pois o macho dessa espécie, literalmente, se lança dentro das mandíbulas da fêmea voraz, só para ter a chance de acasalar-se com sucesso e perpetuar sua mensagem genética. Segundo Richard Dawkins, o gene egoísta que ele traz dentro de si lhe compulsa a agir assim, portanto, essa não é uma ação “voluntária”, qualquer que seja a definição de voluntária que usemos.
Pois é, durante 3,6 bilhões de anos, desde que surgiu vida no Planeta, os seres vivos foram aperfeiçoando as leis da evolução e conseguiram, literalmente, povoar a Terra da mais recôndita profundeza dos mares até alguns quilômetros acima da superfície. Passando por todos os climas, ambientes e temperaturas os seres vivos tornaram esse mundo colonizado pelos milhões de espécies existentes. Dentro desse espectro de vida que apresenta desde seres unicelulares até a baleia azul, desde a gigantesca sequóia até o inseto que a poliniza, encontra-se um primata bípede pensante que sobressaiu-se dos demais porque criou uma coisa chamada civilização.
Civilização é um termo controverso que, por vezes, tem sido usado de várias formas relacionadas. Primeiramente, o termo tem sido usado para se referir a culturas que são complexas em termos de tecnologia, ciência, e divisão do trabalho. Tais civilizações são geralmente urbanizadas. Em contextos clássicos povos civilizados foram assim chamados em contraste aos povos "bárbaros", ao passo que em contextos modernos povos civilizados foram contrastados com povos "primitivos". Mas, o que realmente define a existência de uma civilização é complexidade de inter-relações pessoais. Ao aglomerar-se o homem passou a evoluir com regras próprias e a evolução natural continuou influenciando certos comportamentos. Assim, na guerra sexual civilizada, continuamos valorizando a cauda do pavão (aparência física), mas adicionamos outra atratividade puramente cultural (conta bancária) e, aí embolou o meio campo.
Na verdade, nossa cultura criou “valores” que determinam o comportamento reprodutivo dos Homo sapiens. Para serem escolhidos pelas mulheres os homens têm que ser fortes, bonitos e ter conta bancária relevante. Os atributos físicos que elas veem nos seus companheiros está claramente de acordo com a seleção sexual observada por Darwin, já, a grana, é um pouco mais sutil sua relação com essa força que forma casais que darão origem a uma prole saudável: Quando a fêmea humana escolhe o sujeito endinheirado, implicitamente está deduzindo que ele é bem sucedido por que tem atributos intelectuais que o tornam melhor que os outros, ou seja, é um bom provedor. Nada diferente do impulso que determina a escolha do espécime mais bonito como melhor dotado para ser pai de sua prole.
Bem, os homens mais másculos, mais ricos, mais bonitos e mais fortes são escolhidos. E quem os escolhe? Aí está uma questão que a civilização só fez embaralhar o que a natureza levou milhões de anos para ordenar. As mulheres “bonitas”, sexis, “top de mídia”, que supostamente são as mais desejadas e serão as primeiras a escolher, não são as mais fortes, grandes ou atléticas. Estão mais para esqueléticas, anoréxicas que comem meia folha de alface por refeição e pesam 47 quilos. É só visitarmos as páginas de revistas femininas para vermos que essa é uma verdade irrefragável. Vi um programa de tevê em que havia uma disputa para eleger o “strongest man” do mundo, realizado na África do Sul em 2010. No final do páreo encontravam-se montanhas de músculos oriundos da Lituânia, Polônia, Estônia, Ucrânia e outras nações da ex URSS. Dava para notar que esses espécimes eram fruto da seleção sexual que uniu duros mujiques durantes séculos, em condições climáticas e de asperezas onde só os literalmente fortes sobreviveram. Esses atletas só tiveram o trabalho de aperfeiçoar a musculatura que a natureza lhes deu. Sintomaticamente as “marias academia”, como mariposas etéreas, esvoaçavam em torno desses brutamontes. A rede da involução estava lançada.
Então ficamos assim: homens bem sucedidos, belos e atléticos casando-se com mulheres débeis e quase transparentes, tipo Paris Hilton. A seleção sexual funcionou para melhor? Parece que não, agora não há como prever que a raça humana vai continuar predominando porque é a mais apta, os descendentes desses casais díspares têm pouca chance de serem os mais aptos, pois, além da genética agora desfavorável, adotam uma vida “civilizada”. Se houver um desequilíbrio na biosfera causado por eventos naturais como queda de um asteróide (que meu amigo Leonel sabe que virá) ou terremotos seguidos de tsunamis que destruam a civilização, o homem agora involuído, que antes fora o “mais apto” estará em desvantagem, suas chances de sobreviver a algo catastrófico são bem pequenas, agora que força e resistência são mais importantes que um cérebro apto a ganhar dinheiro na bolsa.
Então será o fim? Não necessariamente. Os Homo “não civilizados” da selva amazônica, dos confins dos Alaska, do deserto do Kalahari, das estepes russas, do out back australiano, felizmente, não sofreram influência de nossas escolhas e permaneceram cruzando-se da maneira que a natureza determinou ser a melhor para a sobrevivência da espécie. Depois da catástrofe a terra será repovoada por Homo resistentes e adaptados ao novo Planeta. A involução só atrapalhará nós, comedores de hambúrgueres e tomadores de coca cola. JAIR, San Diego, 01/06/11.
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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Memorial Day



Nossos vizinhos aqui do norte têm algumas datas federais notáveis, (feriados não religiosos, já que a União é constitucionalmente laica) as quais eles se dão ao luxo de não trabalhar: New Year, Independence Day, Martin Luther King e Memorial Day, são algumas delas. Hoje, trinta de maio, última segunda feira do mês, comemora-se o Memorial Day.
Memorial Day é um feriado nacional nos EUA. Anteriormente conhecido como Decoration Day, ele foi comemorado pela primeira vez pelos escravos libertos do sul, em Charleston, Carolina do Sul em 1865, e em Washington para lembrar os soldados da União mortos na Guerra Civil. Hoje, o que agora é conhecido como o Memorial Day, homenageia todos os militares dos EUA que morreram em serviço. Numa economia de calendário o Memorial Day geralmente marca o início do verão, a estação de férias, e prepara para o Dia do Trabalho.
Começou como um ritual de recordação e reconciliação depois da Guerra Civil, mas, no início do século 20, o Memorial Day passou a ser uma ocasião para expressões mais generalizadas da memória dos mortos, em que pessoas comuns visitam os túmulos de seus parentes falecidos, se eles haviam servido nas forças armadas. Ele também se tornou um fim de semana prolongado cada vez mais dedicado às compras, encontros familiares, fogos de artifício, passeios à praia e eventos que movem a mídia nacional, como a 500 milhas de Indianápolis, corrida de automóveis realizada desde 1911, no domingo, véspera do Memorial Day.
Uma espécie de sentinela do Pacífico norte, San Diego é uma cidade bastante militarizada, possui uma super base da Marinha, uma base aqui ao lado, na ilha Coronado, de Fuzileiros Navais e outras tantas espalhadas por aí. Acho que a base de Coronado deve ser importante, possui três super porta aviões movidos a energia nuclear. Então, considerando esse perfil militarizado da cidade, não é estranho que o Memorial Day seja significativo para a população que lota os abundantes cemitérios militares daqui. Tive oportunidade de visitar um desses cemitérios em Point Loma da outra vez que estive em San Diego. Cemitério muito grande, muito organizado e muito solene, passa a impressão que os militares sabem o que fazem ao enterrar seus mortos. De qualquer forma, o feriado de hoje nos dá oportunidade de ver as festividades e solenidades comemorativas desse que é um dos importantes dias para os militares, afinal são milhões de soldados mortos em todas as guerras, desde a guerra pela independência, a guerra da secessão, a guerra com a Espanha, outra com o México, a primeira e a segunda guerras mundiais, guerra da Coréia e do Vietnam, além de muitas refregas e intervenções como no Panamá, Granada, Somália, Iraque e Afeganistão. Os militares lembram seus mortos sabendo que um dia poderão estar enterrados naquele lugar, quando algum presidente republicano declarar uma guerra de favas contadas para promover os industriais de armamentos que financiaram suas campanhas; e os civis agradecem seus parentes que deram a vida por uma tal de “liberdade”. É esse sentimento de aprovação que permite que os belicosos republicanos mantenham a máquina de guerra sempre lubrificada e pronta para o ataque em qualquer lugar do Planeta.
A impressão que se tem, é que militares são venerados guardiões voluntários da pátria, são aquela parte da população que se sacrifica pela nação para que os civis tenham a liberdade que se supõe que têm, e o nível de vida que desfrutam. Quando estávamos voando de Dallas para cá, em pleno voo cruzeiro, um comissário perguntou se havia algum militar entre os passageiros. Alguém se apresentou e foi aplaudido em pé. É possível imaginar uma cena dessas no Patropi? JAIR, San Diego, 30/05/11.