terça-feira, 18 de dezembro de 2012

É nosso?


Monteiro Lobato, o famoso escritor de sobrancelhas hirsutas, bigode chapliniano e ideias racistas, criador do Sítio do Pica-pau amarelo, foi um nacionalista ferrenho e defendeu desde a década de trinta do século passado um política petrolífera para o país onde todas as etapas de produção, desde a prospecção, passando pelo refino e transporte até a distribuição, fossem dominados e aproveitados por empresas nacionais. Chegou até lançar em 1931, sua Companhia Petróleos do Brasil, que em apenas quatro dias teve metade de suas ações subscritas. A companhia de Lobato foi pioneira em extração de petróleo em solo brasileiro. Em 1936, a 250 metros de profundidade vê irromper o primeiro jato de gás de petróleo do poço São João, em Riacho Doce, em Alagoas. Infelizmente, o governo Vargas e os interesses das grandes companhias multinacionais não se coadunavam com o nacionalismo lobatiano, de modo que, apesar de grande futuro que apresentava, sua companhia viu-se boicotada e teve que fechar as portas. Em 1950, inspirados no exemplo de Monteiro Lobato, os partidos políticos de esquerda e os movimentos sociais lançaram a campanha de rua em defesa do petróleo. A campanha "O Petróleo é nosso", empolgou o país e serviu de pretexto para que o Congresso Nacional aprovasse a legislação sobre o Petróleo que, na última hora, recebeu uma emenda que criou o monopólio da Petrobrás. Pois bem, “O petróleo é nosso” foi uma campanha de conscientização que fez o Brasil lembrar que tudo que existe no subsolo pertence à NAÇÃO. Veja bem, pela Constituição, quem compra um pedaço de terra de qualquer tamanho, não se adona do que existir abaixo do solo – solo é aquela fina camada agriculturável que você pode até cavar para fazer um poço, mas se encontrar uma mina de diamantes, por exemplo, estes não são seus, são da NAÇÃO, está na Constituição. Então, ficou patente desde então que o que existe no subsolo do Paraná, do Pará, da Paraíba, do Acre, ou da fazenda do senhor Sérgio Cabral no interior do Rio de Janeiro, é da NAÇÃO e não de pretensos donos. Não há razão para brigas, disputas, bate bocas ou baixarias pelo que se tem embaixo da terra, ponto. Essa gritaria babaca de políticos babacas por causa de royalties de petróleo encontrado na plataforma continental do País não tem qualquer sentido, está na Constituição também que somos uma República Federativa, isto é, uma Nação que se divide em estados administrativos subordinados à Federação, estados que sequer têm autonomia legislativa plena e que dependem do poder federal em vários níveis. Ou seja, sem o poder federal os estados federados não existem. Então, cambada de energúmenos, vão fazer alguma coisa útil como cortar a grama, lavar o carro ou tirar cera do ouvido e deixem de falar bobagem! JAIR, Floripa, 18/12/12. 

domingo, 2 de dezembro de 2012

Yraima


A jovem cientista Yraima Moura Lopes Cordeiro é membro da Academia Brasileira de Ciências. Doutora em ciências biológicas, hoje é professora adjunta do Departamento de Fármacos da Faculdade de Farmácia da UFRJ, universidade pela qual se graduou em ciências biológicas / modalidade médica e obteve os títulos de mestre e doutora, Summa cum laude, em química biológica.
Lembrando que a ABC é uma entidade que congrega os melhores e mais expressivos cientistas do país. Em paralelo, poderíamos dizer que a ABC representa para a ciência pátria o que a ABL representa para a literatura brasileira, mas com uma importante ressalva. Enquanto a ABL reúne em sua irmandade esdrúxulas indicações políticas como José Sarney e Marco Maciel, por exemplo, e outras inexplicáveis como Arnaldo Niskier e Ivo Pitanguy, a ABC utiliza critérios estritamente técnicos, de modo que seus membros são todos laureados com, no mínimo, doutorado. Além disso, grande maioria dos velhinhos membros da ABL, se limita a tomar chá nas reuniões modorrentas das quintas feiras e se auto louvar pelas obras que produziu. Enquanto a ABC é conhecida pela atuação firme e produtiva de seus membros nas suas respectivas áreas de trabalho.
Yraima foi uma garotinha perfeitamente normal para época e lugar onde nasceu e cresceu. Nasceu no Rio de Janeiro na década de 70, exatamente dois minutos após sua irmã Naiana, a qual também é doutora, mas em outra área.
O que faz uma garota em tudo normal se tornar sumidade em alguma área? A meu ver, seus pais e o ambiente saudável que a envolveu. Heloisa e Ruy, além de pais convencionais na educação de seus rebentos, sempre foram leitores vorazes e seletivos, na casa deles nunca estiveram ausentes bons livros de todas as áreas, bem como horas regulares de leituras diárias. As gêmeas, e mais o garoto Aimberê que veio depois, tiveram como referência e “habitat” um ambiente em que livros faziam parte do mobiliário e eram lidos e manuseados com familiaridade todos os dias. Assim, quando Yraima ingressou na escola, nunca se sentiu “obrigada” a estudar, nunca achou que livros e estudos eram chaturas pelas quais tinha que passar como um sacrifício de vestal, pelo contrário, a cultura livresca fazia parte de seu DNA familiar e ela nunca teve necessidade se esforçar muito para adquirir conhecimento. Vale lembrar também que sua infância foi povoada de aventuras e seres fantásticos, como gnomos, que habitavam o sítio de seu avô nas noites de verão iluminadas de pirilampos e sonorizadas por grilos e outros terríveis bichos talvez alienígenas que comiam cérebros de crianças. Como se vê, uma infância perfeitamente saudável, que ela, a irmã e o irmão aproveitavam nadando numa piscina natural do sítio, mesmo quando a temperatura invernal desaconselhava essa prática. Aliás, Yraima é exímia nadadora desde praticamente o berço, aprendeu a nadar antes de deixar as fraldas.
As férias quase sempre incluíam dias vividos intensamente em Visconde de Mauá onde rios, cachoeiras e mata atlântica de transição se conjugam na forma de um quase santuário de natureza preservada povoada com gente que sabe respeitá-la.
Pois é, instrumentada com uma infância prenhe de fantasias, espaços e brincadeiras saudáveis; tendo pais disciplinados que davam valor ao hábito da leitura e aos estudos; boa aluna que estudou numa escola montessoriana; tendo facilidade para aprender idiomas – é fluente em várias línguas, inclusive alemão; e tendo gosto pela ciência desde muito cedo, é plausível e compreensível que hoje esteja ente os luminares que compõem o plantel da ABC.
Então, Yraima, ao contrário dos advogados deste Patropi, que ao passar nas provas da OAB passam a se auto intitular “doutores”, como se tivessem defendido alguma tese, é doutora De facto e De Jure, pois defendeu tese frente uma banca, tendo feito pesquisas para seu trabalho até em alemão na própria Alemanha.
Parabéns para essa guria que engrandece a ciência do país e que, por acaso, é minha sobrinha. JAIR, Floripa, 02/12/12. 

sábado, 10 de novembro de 2012

Dinheiro



Acabo de ler “Família, afeto e finanças”, livro escrito por meu amigo Olegário e sua mulher Angélica. Trata-se de escorreita cartilha persuasiva e didática que nos esclarece sobre como nós e nossas famílias podemos nos relacionar com o dinheiro e seu poder.
Angélica, psicóloga renomada e esclarecida, nos conduz com maestria pelos tortuosos caminhos que a psique humana costuma trilhar para acolher ou rejeitar os benefícios, desafios ou bonificações que esse bem essencial, dinheiro, nos pode trazer.
Olegário, de formação técnica excelente como aviador, além de ser consultor financeiro, explicita através de gráficos e argumentos sólidos, pormenorizadamente, todos os meios que podemos utilizar para otimizar o dinheiro e as finanças para o futuro de nossa família.
A feliz combinação de psicologia aplicada e fundamentos econômicos é um caminho seguro para entendermos que dinheiro e seu uso podem trazer felicidade sim, ao contrário do que diz o adágio. Não importa quanto temos ou quanto podemos ter, a busca de um futuro feliz e com disponibilidade de caixa para realizar sonhos é possível e desejável.
Do livro depreende-se que dinheiro tem um aspecto dualista: é ferramenta e produto. Como ferramenta ou instrumento, pode semelhar-se a um martelo, por exemplo, podemos usá-lo para pregar coisas úteis, para construir, ou podemos dar uma martelada no dedo, o que não é agradável. Como produto ele tem preço, mercado, liquidez e lucro ou prejuízo. Podemos “vendê-lo” bem fazendo aplicações que dão lucro (juros), ou podemos “comprá-lo” a preços mais baixos.
Uma coisa que fica evidente é que famílias disfuncionais, tendo muito ou pouco dinheiro, sempre têm uma má relação com ele, e isso se reflete em todo “modus vivendi” que essas famílias assumem. Para haver harmonia entre membros da família e um possível futuro confortável é preciso que se desmistifique os preconceitos que rondam o dinheiro em toda sua história. Ele não é intrinsecamente bom ou ruim, o uso que dele fazemos é que trará resultados bons ou ruins, e pronto.
Recomendo a leitura de “Família, afeto e finanças” como o melhor livro sobre o tema disponível por aí. Boa leitura! JAIR, Floripa, 10/11/12. 

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O Cenote

Turistas nadando no Cenote Ik-Kil
Próximo à cidade em que vim ao mundo, Palmeira, existe um enorme formação rochosa de arenito que, onde aflorou, deu origem a Vila Velha, monumentos rochosos naturais esculpidos por água e ventos; e, onde não é visível, permite a existência de rios subterrâneos que, eventualmente, formam cavernas, uma das quais descobri juntamente com meu primo Joel e já a descrevi neste blogue. Pois bem, os rios subterrâneos tendem a corroer o arenito formando a ditas cavernas e, em alguns casos, o teto desmorona dando forma a buracos redondos que lá chamamos de furnas. Bem próximo a Vila Velha existem três furnas, sendo a mais impressionante um poço circular de oitenta metros de diâmetro com mais de cem metros de profundidade e cinquenta metros de água.
Na península de Yucatán acontece algo semelhante, mas em escala centenas de vezes maior e mais espetacular. A península de Yucatán é uma planície calcária e não possui córregos ou rios de superfície. Contudo, por ser calcária – e o calcário é rocha menos resistente que o arenito – há uma profusão de rios subterrâneos. Mais do que no Paraná os rios da península formam cavernas em maior número e estas, também em maior número, tendem a desmoronar formando poços arredondados e profundos, lá chamados cenotes. Esses cenotes – mais de oitocentos - estão espalhados por toda a península, mas o mais importante chama-se cenote sagrado de Chichén Itzá e está localizado junto ao sítio arqueológico maya Chichén Itzá que numa tradução livre quer dizer "boca do poço do Itza".
Os mayas consideravam que o cenote sagrado era uma das três entradas para o paraíso dos mortos. Eles acreditavam que podiam se comunicar com os deuses e ancestrais, oferecendo sacrifícios no cenote. Os Mayas costumavam rezar por colheitas abundantes, chuvas boas e fortuna. Depois do “descobrimento” até padres coletavam água do cenote que eles julgavam ser sagrado, para eles a água era benta. Os sacerdotes mayas lançavam oferendas em forma de cerâmica, peças de ouro e prata e, eventualmente, prisioneiros sacrificados ao cenote.
Porque a água dos cenotes é altamente alcalina costuma preservar até objetos perecíveis. Objetos de madeira, por exemplo, que em outro meio teriam desaparecido, foram encontrados em boas condições naquela água. A possível existência de valiosos tesouros no fundo do cenote sagrado aguçou a ganância de exploradores desde que se descobriu Chichén Itzá. Assim, em 1904, Edward Herbert Thompson, vice-cônsul dos EUA no México, comprou a área de Chichén Itzá com o único intuito de prospectar o fundo do cenote sagrado em busca de tesouros mayas. Para isso usou um sistema de roldanas acionado por motor a vapor que incluía uma série de grande baldes numa corrente, os quais, como uma draga, iam retirando a lama do fundo e vertendo-a numa depressão próxima. Em seguida pesquisava-se a lama que acabou oferecendo uma grande variedade de objetos de madeira, incluindo armas, cetros, ídolos, ferramentas e jóias. Jade foi a maior categoria de objetos encontrados seguido de têxteis. A presença de jade, ouro, cobre no cenote oferece uma prova da importância das Chichén Itzá como um centro cultural. Nenhuma dessas matérias-primas é nativa do Yucatán, supondo que pessoas (outros mayas) viajaram para Chichén Itzá de outros lugares da América Central, a fim de adorar os deuses. Pedra, cerâmica, ossos humanos e conchas também foram encontrados no cenote. Arqueólogos descobriram que muitos objetos mostram evidências de serem intencionalmente danificados antes de serem jogados no cenote, denotando uma ritualidade não muito clara do porquê dessa atitude.
A maioria das principais descobertas do cenote feitas sob a supervisão de Edward Herbert Thompson ele vendeu. Oitenta por cento do resultado dessa busca de Thompson pode ser encontrado no Museu Peabody da Universidade de Harvard, os restantes vinte por cento foram vendidos para o governo mexicano e se encontram no Museu Maya na Cidade do México.
Em 1909, Thompson decidiu mergulhar no cenote para explorar o fundo. Apesar da pouca visibilidade ele encontrou uma camada de cinco metros de lama que continha vários objetos de ouro. Em 1961, William Folan, um diretor de campo para o Instituto Nacional de Antropologia e Historia (INAH), ajudou a lançar outra expedição ao cenote.
Algumas das suas descobertas notáveis incluíram um osso com inscrições e uma faca de obsidiana com cabo de ouro, revestida numa bainha de madeira com mosaico de jade e turquesa. Em 1967, Román Piña Chán fez outra expedição. Ele tentou dois novos métodos que muitas pessoas tinham sugerido por um longo tempo: o esvaziamento da água do cenote e clarificação da água. Ambos os métodos foram apenas parcialmente bem sucedidos. Apenas cerca de quatro metros de água puderam ser removidos, o cenote é alimentado por rio subterrâneo que impede seu esvaziamento total. Também a água foi clarificada por apenas um curto período de tempo.
Depois dessas incursões não muito produtivas, o governo mexicano proibiu quaisquer prospecções no local e o definiu como patrimônio histórico nacional. Tive oportunidade de visitar o Cenote Ik-kil que está liberado para natação para os turistas. Para isso, foi construída uma “rampa” em forma de túnel em espiral que dá acesso ao espelho d’áqua a quase trinta metros de profundidade. Atualmente, mergulhadores especializados em cavernas costumam explorar outros cenotes do Yucatán onde têm encontrado ossos de animais pré históricos e algumas ossadas humanas eventualmente, mas nunca tesouros. JAIR, Floripa, 07/10/12.

domingo, 7 de outubro de 2012

Os Mayas



Agora em 2012 os Mayas, mais uma vez, viraram notícia por causa de seu calendário que, supostamente, marca o fim dos tempos para o dia 21 de dezembro. Objeto de milhares de conjeturas fantásticas, grande produção de oliúde e saites aos borbotões, o calendário realmente existe e o original se encontra num museu em Londres, cópia dele está no Museu Maya na cidade do México.
Estive passeando no México, na península de Yucatán, e tive oportunidade de ir até Chichén Itzá, local onde se situa a chamada “cidade Maya” que tem a famosa pirâmide e vários outros monumentos construídos com fins rituais religiosos nos anos mil de nossa era.
Os Mayas eram um povo que construiu uma civilização na região de florestas tropicais onde hoje é a Guatemala, Honduras e Península de Yucatán no México. Este povo desenvolveu sua fantástica cultura, aparentemente autóctone, a partir de 900 anos antes de Cristo que durou até em torno do ano 1200 de nossa era quando as camadas mais pobres do povo revoltaram-se destituindo e matando a nobreza numa espécie de “revolução francesa” que deu feição de anarquismo à organização que restou. Em seguida, outros povos invadiram a região e destruíram sua estrutura social. Só restando a partir daí aldeias isoladas sem qualquer vínculo com a antiga civilização a não ser a língua e as habilidades artesanais.
O fato é que, apesar de historiadores e outros estudiosos referirem a um “império Maya”, há indícios que eles nunca chegaram a formar um império unificado, uma nação com um comando central e estrutura administrativa que permitisse a existência de um exército coeso que pudesse defender com eficácia “suas fronteiras”. Parece que essa falha favoreceu a invasão das terras pelos Toltecas que eram guerreiros mais organizados. Como é fácil de perceber pelas ruínas dos monumentos que restaram, as cidades não eram necessariamente locais de residência do povo, elas abrigavam o núcleo do poder religioso e das decisões políticas da civilização. O povão morava fora dos muros das cidades e a eles cabia obedecer e pagar impostos. O poder imperial – uma junta de sacerdotes e gente de sangue azul - era considerado um representante dos deuses no Planeta Terra. A zona urbana – local onde se localiza a pirâmide - era habitada apenas pelos nobres (família real), sacerdotes (responsáveis pelos cultos e saberes), chefes militares e administradores do império (cobradores de impostos). Vê-se que o Plano Piloto de Brasília teve uma fonte antiga onde beber. Os camponeses, artesãos e trabalhadores urbanos que formavam a base da sociedade, não tinham privilégios só lhes cabia apoiar os nobres. Qualquer semelhança com os decadentes impérios europeus do século dezenove, talvez seja mera coincidência, mas os efeitos maléficos que essa estratificação social causou à organização não o é.
A agricultura era a base da economia, principalmente o cultivo de milho, feijão e batatas. E eles desenvolveram técnicas de irrigação que eram muito avançadas para a época. Praticavam o comércio de mercadorias com povos vizinhos e no interior do império e para isso construíram “estradas” que são perfeitamente detectáveis ainda. Tive oportunidade de ver uma delas.
Ergueram pirâmides, templos e palácios, demonstrando um grande avanço arquitetônico. O artesanato também se destacou: fiação de tecidos, uso de tintas em tecidos e roupas.
Desenvolveram escrita pictorial na qual os símbolos, a exemplo de nosso alfabeto, representavam os sons como as letras os representam para nós. Tanto articulado era o idioma escrito, que hoje é possível representar nosso alfabeto com os hieróglifos mayas. Isto é, pode-se “escrever” nossas palavras com os símbolos deles sem qualquer prejuízo para a compreensão. Como a língua maya está viva, não é difícil comparar suas representações fonéticas com os sons que usamos, há símbolos para todas as nossas letras.
Transposição dos hieróglifos mayas para nosso alfabeto.
Na matemática usavam sistema trinário – três dígitos: zero, um e cinco. Antes que alguém ache três dígitos uma aberração, é só lembrar que os computadores só usam dois: zero e um. Curiosamente, já conheciam o zero antes do mundo ocidental. Com esses três dígitos construíram um calendário funcional quase perpétuo que hoje é objeto de vasta especulação. Seus descendentes que vivem na região do Yucatán conseguem transpor qualquer data atual do nosso gregoriano calendário, para calendário deles. Essa habilidade, que não é difícil de entender depois que nos explicam como funciona o sistema trinário, falcuta-lhes amealhar alguns pesos dos turistas pela confecção de amuletos pingentes de prata com quaisquer datas que interesse ao turista.
Na arquitetura, não precisa dizer, suas pirâmides, embora semelhantes às egípcias em escala menor, são de esmerado acabamento e pejadas de inscrições e formas geométricas que lhes conferem um valor artístico invejável. Como os mayas não dispunham de metal duro para lavrar as pedras calcárias que usaram na confecção de seus monumentos, pirâmides e templos, fizeram uso de obsidiana, uma rocha vulcânica extremamente dura. O problema é que não existe obsidiana no Yucatán, então, deduz-se, eles a importavam de regiões longínquas como América Central. Lamentavelmente alguns monumentos foram explodidos pelos exploradores em busca de ouro, o qual inexistia.
Hoje o sítio Chichén Itzá é uma das sete maravilhas do mundo, tombado como patrimônio histórico da humanidade, assim como o é o Cristo Redentor do Rio de Janeiro. JAIR, Floripa, 07/10/12. 

domingo, 2 de setembro de 2012

O ET


Se esses ufólogos alienados quiserem um exemplo sólido que somos visitados por extraterrestres de vez em quando, ou que eles estão entre nós, vale dar uma olhadela na vida de Nikola Tesla, nascido na atual Croácia, mas que ao tempo de seu nascimento ainda era Sérvia. Até o detalhe de sua vinda ao mundo (10/07/1856) quando ele chegou à Terra exatamente à meia noite durante uma violenta tempestade elétrica, e de sua morte solitária e estranha, sua vida foi repleta de genialidade e comportamentos heterodoxos. 
Adulto, Tesla era olhado mais ou menos como um mago, misterioso e avesso à proximidade com outras pessoas, mas, estranhamente, gostava de anunciar suas descobertas e invenções como num circo, com espalhafato e cobertura da imprensa. A maioria de suas invenções foi e ainda é futurista, tanto no design quanto ao fim que se destina, inclui desde tele transportes, raios mortais e naves de guerra antigravidade até a corrente alternada de amplo uso até hoje. Mas na sua trajetória fulminante, Tesla criou um inimigo poderoso e vingativo quando provou que sua corrente alternada era melhor e mais barata e segura para ser transportada a longas distâncias, em comparação com a corrente contínua de Thomas Alva Edison. Tesla ganhou a parada por que tinha apoio de George Westinghouse. Mas seu comportamento exótico ia mais longe, ele falava de coisas tão estranhas que os investidores as rejeitavam incontinenti – especialmente por que a desordem obsessivo-compulsiva da qual sofria o levava a sempre dar três voltas no quarteirão, dobrar as roupas três vezes e fazer tudo multiplicado por três. Sem possuir carisma, num tempo que inexistia marketing pessoal, ele perdeu as patentes de muitas de suas criações, entre elas a do rádio – patente perdida para o italiano Guglielmo Marconi. Num ato de justiça histórica, contudo, a patente do rádio, em 1943, acabou sendo reconhecida como de Tesla novamente.
Numa atitude muito parecida com o ET do Spielberg, Tesla passou os últimos anos de sua vida vivendo recluso em um hotel de Nova Iorque e tentando usar suas ondas de rádio para lançar sinais para o sistema solar, convencido de que transmissões estavam sendo enviadas para a Terra a partir do espaço. Morreu (07/01/1943) em seu quarto de hotel aos 86 anos, sozinho, falido e seu corpo parecia um saco de ossos. Supõe-se que havia deixado de se alimentar a semanas.
Há quem (ufólogos naturalmente, pois estes já existiam naquele tempo) suspeite que sua preocupação em ouvir os sons vindos do espaço, ou aquilo que muitos viam como desperdício de seu gênio, fosse uma tentativa de retornar ao tempo (ou planeta) do qual viera. Em todo caso, o FBI confiscou a maioria de suas anotações e as mantém até hoje classificadas como material ultra secreto, um prato cheio para os ufólogos de plantão. JAIR, Floripa, 27/08/12. 

domingo, 26 de agosto de 2012

O ícone


Segundo o Huaiss, ícone pode ser: pessoa ou coisa emblemática, isto é, essa coisa ou pessoa ao ser mencionada não precisa de explicação, ela é a explicação. Assim, temos ícones na história, nas artes, nos negócios e em todas as atividades humanas. Mas eu quero falar de um ícone do cinema que representa a mulher sexy por excelência: Marilyn Monroe.
Marilyn Monroe recebeu o nome de Norma Jeane Mortenson, ao nascer em Los Angeles em 01 de junho de 1926. A mãe dela, Gladys Pearl Monroe trabalhava na edição de filmes dos estúdios RKO e o pai pode ter sido um dos três homens que ela se relacionava naquela época. Marilyn viveu em orfanatos e lares adotivos até se casar aos dezesseis anos. Em 1945, um fotógrafo do exército que fazia umas tomadas de mulheres que participavam da campanha da guerra viu-a trabalhando numa fábrica de pára-quedas e percebeu seu potencial como modelo. Ele teve um caso com ela e a encaminhou a uma agência de modelos. Seu êxito na profissão levou-a naturalmente a um teste para atriz e à assinatura de contrato com a Twentieth Century Fox, em 1946, pelo salário semanal de 125 dólares. Marilyn fez uma série de pontas em filmes até 1953, quando recebeu um papel de certa relevância. No mesmo ano, Hugh Hefner comprou uma foto de Marilyn nua, feita quando ela era modelo principiante, e a publicou na então sua nova revista Playboy. Marilyn virou celebridade e tornou-se ícone da mulher sexy, rótulo que parecia ter sido criado para ela. Casou-se com o grande jogador de beisebol Joe DiMaggio o qual, mesmo depois que ela morreu disse que jamais deixou de amá-la e até o fim de seus dias levava todo mês uma flor ao seu túmulo. Marilyn também casou-se com o dramaturgo e escritor Arthur Miller e frequentava com grande sucesso roda de intelectuais amigos de seu marido. Ao contrário do que alguns maledicentes insinuam, Miller, do alto de sua inteligência e fama, afirmava categoricamente que Marilyn era extremamente inteligente, o que lhe faltava era escolaridade, havia freqüentado apenas quatro anos de bancos escolares em decorrência das errâncias de sua sofrida infância.
Sempre a procura de um afeto inatingível que não tivera na infância, ela buscou consolo em comprimidos, no álcool e relacionamentos eventuais, passando a ser inconstante no trabalho e incapaz de manter relacionamentos sérios com os poucos homens que se esforçavam tremendamente para amá-la e serem amados. Apesar disso tudo, seu sucesso como atriz havia decolado e ela tornara-se famosa, rica e imitada por outras atrizes e por mulheres do mundo todo.
Em 1962, quando tinha 36 anos e continuava mais linda que nunca, Marilyn foi encontrada em seu apartamento, morta por uma overdose de Nembutal e hidrato de cloral, ambos barbitúricos vendidos sob receita médica. No seu obituário a morte consta como suicídio. Mas devido a supostas ligações dela com John F. Kennedy e Robert Kennedy; a inconsistências dos indícios encontrados no local da morte; e o desaparecimento das gravações de seus telefonemas, foram aventadas várias hipóteses de assassinato. O imaginário popular mundial ficou excitado com a possibilidade do relacionamento do presidente Kennedy com ela a partir do “Happy Birth Day” que ela cantou de modo extremamente provocante para ele na Casa Branca. No mais, perdeu-se um ícone e nasceu um mito. JAIR, Floripa, 26/08/12. 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Justiça


Ao organizar-se em sociedades o Homo sapiens foi compelido a criar regras mínimas que permitissem uma convivência sem muito atrito entre seus membros. Claro, essas regras incluem punir aqueles que violarem as próprias regras. Ou seja, leis são instrumentos que sociedade usa para manter os homens ancorados no patamar que se convencionou ser “bom para todos”, quem viola as leis paga o preço, ou deve pagar o preço.
Pois bem, há leis lenientes oriundas de sociedades ditas civilizadas e outras nem tão frouxas aplicadas em sociedades mais “primitivas”. Na China, casos de corrupção normalmente são punidas com a morte do culpado e a bala usada na execução deve ser paga pela família. Em outras sociedades como a do Brasil, por exemplo, pune-se apenas gente pobre, aos ricos falcuta-lhes não sentar no banco dos réus, e quando sentam por algum descuido, suas sentenças são anormalmente brandas e cumpridas em liberdade, nada a estranhar numa sociedade onde “todos são iguais perante a lei”, mas alguns são mais iguais que outros. Ainda mais, quando o culpado for apenado com mais de trinta anos não deve se preocupar, pois pelo Código de Execuções Penais, não se pode permanecer mais de trinta anos atrás das grades. Assim, cabo Bruno, ex policial condenado a 117 anos pela acusação de assassinato de mais de cinquenta pessoas, saiu da cadeia por “bom comportamento” depois de cumprir apenas 27 anos.
Bem, não há muito o que falar de um país em andam soltos pelas ruas: Paulo Maluf, Jader Barbalho, Luiz Estevão, Jorgina de Freitas e outros cidadãos exemplares por aí. Mas o que falar de um país europeu, Noruega, supostamente com arcabouço jurídico, leis e costumes de primeiro mundo? Supostamente, por se tratar de uma democracia, uma sociedade que valoriza a vida? Pois é, Anders Behring Breivik, assassino confesso de 77 inocentes foi condenado a 21 anos de prisão. Vinte e um anos!!! Isso dá menos de cem dias por vida tirada! É incrível, mas no ano de 2033 Anders poderá estar livre com toda sua empáfia e convencimento, pronto para por em prática aquilo que chamou de justiçamento e mortes perfeitamente justificáveis. Parabéns ao aparelho judiciário da Noruega, pelo visto a justiça de lá não deixa nada a desejar a esta do Patropi. JAIR, Floripa, 24/08/12. 

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Especiarias



Lembro do tempo da escola fundamental quando, nas aulas de história do Brasil, as professoras se referiam ao “comércio com as Índias” que teria impulsionado as grandes navegações portuguesas que resultaram nos grandes descobrimentos. Vasco da Gama teria chegado às Índias contornando o Cabo da Boa esperança e navegado pelo oceano Índico até a “terra das especiarias”.
Bem, tudo facilmente assimilado até certo ponto, mas, quando surgia a palavra especiarias a coisa empacava, meio que os textos se tornavam herméticos, as professoras mal sabiam o que eram as tais especiarias e se limitavam a dizer que eram cravo, canela e pimenta do reino. Ora, esses conhecidos temperos eram usados em doses parcimoniosas na culinária daquela época; eram obtidos no comércio local, embora nem sempre muito baratos, mas não havia como entender que tais complementos pudessem ser objeto de caríssimas, longas e complicadas viagens através do mundo para obtê-los. A mim parecia que ninguém tinha conhecimento ou capacidade para explicar essa engenharia comercial que resultou nas mudanças que formaram o mundo no qual vivíamos.
Especiarias? Temperos culinários movendo o mundo? O que é isso? Vivi com essas indagações incrustadas no cérebro por anos a fio. A coisa ainda ficava mais interessante quando a gente percebia que a palavra especiaria só era usada nos livros de história, não havia registro em outros lugares a não ser em dicionários. Ninguém dizia: “Vai ali na venda do seu Zé comprar duzentas gramas de especiaria para o almoço”; Não havia referências como: “Aqui se vendem especiarias”, ou “Grande liquidação de especiarias”. Guardadas as diferenças especiaria era como “de onde vêm os bebês”. Todo mundo sabia, mas ninguém dizia. Limitavam-se a cegonhas e outros que tais.
Pois, passados muitos anos, quando já nem mais me lembrava do termo, lendo um livro sobre a história do sal, encontro lá as melhores explicações sobre as tais especiarias. Pimenta do reino, canela, cravo, noz moscada e macis (óleo que se extrai da noz moscada) eram os substitutos do sal na conservação da carne. O sal era artigo de luxo, caro e raro, portanto, numa época que inexistia geladeira, as especiarias serviam como conservantes naturais das carnes a serem consumidas dias após o abate. Contudo, o grande óbice para seu consumo é que eram cultivadas “nas Índias”, na verdade Indonésia, Singapura e adjacências, não exatamente na Índia atual. Daí, foram empreendidas as grandes navegações depois que os turcos conquistaram Constantinopla e passaram a controlar o comércio por terra. Os portugueses foram os primeiros a aportar em Calicute, mas em seguida holandeses, franceses e ingleses formaram frotas próprias para a busca incansável e milionária dos temperos que permitiram europeus comerem carne conservada ao invés de pútrida como vinham fazendo a séculos.
Os condimentos referidos não eram usados porque adicionavam sabor especial à carne e seus derivados, e sim porque possuem óleos essenciais que tem efeito biocida impedindo a proliferação de bactérias que deterioram o alimento. Por exemplo, o óleo de cravo, produzido por um processo de extração, é constituído basicamente, por eugenol (70 a 80%). O eugenol é um composto aromático com efeito anestésico e anticéptico comprovado cientificamente.
Então aí está, temperos, condimentos ou especiarias tiveram influência crucial na história da humanidade, não dá para subestimar o poder de coisas aparentemente tão banais. JAIR, Floripa, 17/08/12. 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A árvore da vida


O filme “A árvore da vida” é dirigido por Terrence Malick, o mesmo diretor de “Além da linha vermelha” e, por coincidência ou não, Sean Penn que fazia o papel do sargento Edward neste filme sobre a segunda guerra, também trabalha na árvore da vida. Além de Penn, Brad Pitt é protagonista ao lado de Jessica Chastain.
O filme é instigante, eu diria que não é para amadores, vale a pena ser assistido mais de uma vez por aqueles que não captarem a essência da historia que é meio fragmentada e não obedece uma linha rígida de tempo.
A história começa nos anos cinquenta na cidade Waco no Texas e foca uma família comum conservadora americana. Deve-se lembrar que o Texas é um estado conservador tanto político como religioso, do chamado “Bible belt south”, de onde saíram os Bushs que governaram os EUA e fizeram guerra durante seus mandatos e onde o eleitorado é republicano de raiz. Vale lembrar também que o conservacionismo texano prega o criacionismo como se ciência fosse nas suas escolas primárias, então não é nenhuma surpresa que o filme tenha justamente uma família conservadora típica como protagonista da história.
Bem, a família conservadora de Brad e Jessica (Sr. e Sra. O’Brien) é composta pelos pais e três filhos meninos. O senhor O’Brien, embora amoroso, cria os filhos com extrema rigidez, cobra deles comportamento e postura quase de seminaristas religiosos. Seus gestos e maneiras de se dirigir a ele e outras pessoas têm que ser observados com rigor absoluto, qualquer deslize é passível de punição. Os filhos se submetem, mas o mais velho, Jack, costuma se rebelar em horas que não está sendo observado. Em alguns momentos dá a impressão que filho odeia o pai. A mãe é passiva, abnegada, amorosa e suporta com estoicismo e sofrimento a tensão em servir de amortecedor das exigências do marido em relação aos filhos.
O drama que vive a família gira em torno da morte do filho mais novo em condições que não aparecem no filme, mas que afetam profundamente o pai, os irmãos e principalmente a mãe que jamais se recupera da perda. Jack, protagonizado por Sean Penn quando mais velho, fala muito pouco, aliás, há pouquíssimos diálogos no filme, o diretor embasa a estória em imagens quase fantásticas com ênfase na água, seja em cachoeiras, em forma de gelo, cenas submarinas, rios e chuva, muita chuva. Para contar a estória o diretor mostra a formação do universo desde o big bang até o aparecimento da civilização moderna, passando por cenas com dinossauros. Há quase vinte minutos só de cenas da criação do mundo sem nenhum diálogo, mas com música de fundo magistral. Vale a pena curtir essa parte fundamental do filme sem pensar em nada só ver, só observar. Como eu disse no início, é instigante. JAIR, Floripa, 14/08/12.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Mente vazia



Sempre li sobre o “branco” que eventualmente acomete a mente criativa do escritor de modo que ele nada consegue escrever em certas ocasiões. Alguns costumam chamar essa síndrome de “pavor do papel em branco” ou crise de ideias originais. Não sou escritor, não tenho pretensão de me igualar a essas mentes privilegiadas, mas também estou passando por um período de seca, não consigo extrair nada de novo de meu cérebro e colocar em palavras. Normalmente consigo escrever num ritmo de tal sorte que costumo ter “em estoque” cerca de dez ou doze textos prontos para serem publicados. Esse modus operandi visa garantir que em períodos moderados de seca eu possa publicar alguma coisa até que me venham as ideias novamente.  Pois é, alguns dias se passaram desde que esgotei meu estoque de textos e nada que se aproveite surgiu ainda. Parece que estou com a mente oca, passo os dias assistindo as Olimpíadas e nada me ocorre. Devo dizer que meus melhores textos sempre vêm de um estímulo qualquer através da leitura, normalmente de livros. Até isso está me faltando, nada leio há dias, os livros estão se acumulando e não encontro vontade de abri-los, assim, acabo olhando para as paredes com a mente vazia. Meu cérebro está totalmente em branco e não vejo saída, quem souber de alguma fórmula que consiga ativar mentes congeladas, por favor, me socorra, me tire deste constrangedor limbo literário, não vejo luz alguma no fim do túnel. JAIR, Floripa, 09/08/12. 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Um país tropical


A relação de características brasileiras abaixo não é de minha autoria, é algo que anda rolando pela internet, mas a publico aqui, - mesmo contrariando meu costume de não publicar texto alheio – porque concordo em gênero e grau com seu conteúdo. Quem não concordar que expresse sua opinião nos comentários.

O Brasileiro comum é assim:

1 - Saqueia cargas de veículos acidentados nas estradas; 
2 - Estaciona nas calçadas, muitas vezes debaixo de placas proibitivas; 
3 - Suborna ou tenta subornar quando é pego cometendo infração; 
4 - Troca voto por qualquer coisa: areia, cimento, tijolo, e até dentadura;
5 - Fala no celular enquanto dirige; 
6 - Usa o telefone da empresa onde trabalha para ligar para o celular dos amigos (me dá um toque que eu retorno...) - assim o amigo não gasta nada; 
7 - Trafega pela direita nos acostamentos num congestionamento; 
8 - Pára em filas duplas, triplas, em frente às escolas; 
9 - Viola a lei do silêncio e fica bravo se alguém reclama; 
10 - Dirige após consumir bebida alcoólica; 
11 - Fura filas nos bancos, utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas;

12 - Espalha churrasqueira, mesas, nas calçadas; 
13 - Pega atestado médico sem estar doente, só para faltar ao trabalho;
14. - Faz 
"gato " de luz, de água e de tv a cabo; 
15 - Registra imóveis no cartório num valor abaixo do comprado; muitas vezes irrisórios, só para pagar menos impostos; 
16 - Compra recibo para abater na declaração de renda para pagar menos imposto; 
17 - Muda a cor da pele para ingressar na universidade através do sistema de cotas; 
18 - Quando viaja a serviço pela empresa, se o almoço custou dez, pede nota fiscal de vinte; 
19 - Comercializa objetos doados nessas campanhas de catástrofes; 
20 - Estaciona em vagas exclusivas para idosos e até para deficientes;
21 - Adultera o velocímetro do carro para vendê-lo como se 
fosse pouco rodado; 
22 - Compra produtos piratas com a plena consciência de que são piratas; 
23 - Substitui o catalisador do carro por um que só tem a casca; 
24 - Diminui a idade do filho para que este passe por baixo da roleta do ônibus, sem pagar passagem;
25 - Emplaca o carro fora do seu domicílio para pagar menos IPVA; 
26 - Frequenta os caça-níqueis e faz uma fezinha no jogo de bicho; 
27 - Leva das empresas onde trabalha, pequenos objetos, como clipes, envelopes, canetas, lápis... como se isso não fosse roubo;
28 - Comercializa os vales-transporte e vales-refeição que recebe das empresas onde trabalha; 
29 - Falsifica tudo, tudo mesmo... só não falsifica aquilo que ainda não foi inventado; 
30 - Quando volta do exterior, nunca diz a verdade quando o fiscal aduaneiro pergunta o que traz na bagagem; 
31 - Quando encontra algum objeto perdido, na maioria das vezes não devolve;
 
32 - Pede ao amigo que está em algum trabalho público, principalmente político, um lugarzinho para seus filhos em vez de estimulá-los a estudar e conseguir seus próprios empregos;
33 - Não se importa (muitas vezes até ajuda) se seu filho faz parte daquele grupo que fraudou o  concurso público e passou, em detrimento de outros candidatos que honestamente tentaram passar.... (olha aí: concurso na área jurídica)....
34 - Vai até a escola e paga a maior  bronca na professora ou professor que chamou a atenção de seu filhinho;
35 - Faz vista grossa quando seu filhinho ainda pequeno chega da escola com pequenos objetos que não lhe pertencem ao invés de fazê-lo devolver no dia seguinte;
36 - Não respeita e não cumpre as leis;
37 - Adultera documentos para entrar em  locais proibidos para menores, com a conivência dos pais;
38 - Coloca nome em trabalho que não fez;
39 - Coloca nome de colega que faltou em lista de presença;
40 - Suborna para alguém fazer seus trabalhos; 
41 – Se recebe troco a mais cala-se esperando que ninguém perceba;
42 – Joga lixo na rua, mesmo existindo lixeira por perto;
43 – Sempre que lhe seja favorável faz uso da Lei de Gérson sem qualquer pudor;
44 - Sempre acha uma maneira de aplicar o jeitinho brasileiro, mesmo que isso implique prejudicar outros ou contrariar as leis; 
45 – E, finalmente, reclama dos “políticos”, como se estes fossem seres alienígenas que vieram de um planeta longínquo e não são da mesma laia do brasileiro comum; Como existisse uma “classe” especial de políticos que nada tem a ver com nossa sociedade.

Pois é, enquanto continuarmos agindo como agimos e reclamando daqueles que elegemos, esse Brasil varonil jamais chegará a ser um país minimamente sério. Dessa maneira somos obrigados a concordar com De Gaulle. JAIR, Floripa, 03/08/12. 

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O General


Um General é, antes de tudo, um solitário. Contrário ao soldado que na trincheira, na vacância ou no acampamento sempre tem um seu igual para compartilhar seus medos, angústias e sentimentos, o General come e dorme sozinho, trabalha sozinho e toma suas decisões na mais terrível e absoluta solidão. Não que o General não possa ter amigos e companheiros de caserna com os quais, em algum momento, possa fazer confidências ou cometer indiscrições, mas nas funções profissionais ninguém está ao seu lado na hora das decisões. Ninguém, no seu círculo íntimo, divide com ele a responsabilidade das boas e más escolhas, ninguém assume suas insônias, inseguranças e dúvidas.
Mais que a solidão do cargo, ao General cabe decidir sobre a vida e a morte, de seus soldados e dos soldados inimigos. Se emana ordens corretas e judiciosas, os militares inimigos morrerão e, se suas ordens não forem as melhores, quem morre são seus comandados. Às vezes ele se sente uma perversa paródia de Deus, ou semi deus se considerarmos que é mortal como os que morrem na batalha. Mas ele sabe que se tornou General, não por determinação aleatória de carreira militar bem sucedida ou injunção cega do destino, e sim porque orientou toda sua vida para esse fim. Não se chega ao generalato por acaso, apenas suas lidas beiram o acaso quando para aquilo que se preparou, lhe cai no colo por decisão política, a guerra. E o generalato, antes de ser um alto posto militar, é um misto de sacerdócio e resultado de ilibada vida pessoal somada à luta e trabalho diários, muito estudo e disposição para o sacrifício ao longo de muitos anos. O General é um primata da espécie Homo estoicus.
Um General sensato sabe que guerra é insensatez, mas sabe também que quando ela vier terá que exarar ordens claras e lúcidas cujos resultados beiram a insanidade. Quanto mais eficientes forem as decisões do General, mais os resultados podem conflitar com sua formação humana. Um General traz no âmago de sua formação profissional o germe do conflito entre os fatores morais que lhe foram incutidos pelo núcleo familiar e as imposições pretorianas subordinadas às nuances políticas de seu país. O General deve ser patriota na mais cruel e perfeita acepção do termo. A pátria lhe impõe encargos que pesam nos ombros como um Atlas suportando o globo terrestre.
Por isso tudo, um bom General que tenha lutado por seu país, aquele que exerceu sua função com honestidade e eficácia, é um ser humano triste, suas memórias incluem mortes de pessoas desconhecidas as quais nunca lhe fizeram qualquer mal e que apenas estavam defendendo ideias ou orientações diferentes das suas. Suas convicções religiosas também devem ser elásticas quando são postas à prova: não matarás é um mandamento que deve ser temporariamente relegado se ele quiser ser um profissional seguro nas ações do ofício. Cada soldado que cai no campo de batalha tem um General responsável por sua morte, General sem mortes no currículo é General inerte, omisso. O pódio de General é árduo e às vezes lhe traz glórias e reconhecimento, e aquele que lá chega se torna para sempre um ser Primus inter pares, mas suas funções nem sempre são cobiçadas pelos mortais comuns. JAIR, Floripa, 01/08/12. 

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O escritor


Nada mais próprio do que, neste 25 de julho, lembrar daqueles que são, antes de quaisquer outros, os esteios da civilização, os escritores. Se pararmos para pensar um mero segundo, é fácil perceber que sem escritores esse mundo como o conhecemos não existiria.  Desde a adoção da escrita pelos que nos antecederam foi possível, não só registrar o fato, o evento, o pensamento, mas principalmente transmitir o conhecimento para os pósteros. Existem algumas culturas bastante antigas até, como os aborígenes australianos, que nunca adotaram qualquer simbologia convencional que transpusesse a barreira do tempo e do espaço levando suas descobertas e costumes a outros, seja de sua etnia ou estrangeiros. Talvez isso explique em parte por que existem centenas de idiomas e dialetos em um povo que não está separado por barreiras naturais. Quando os europeus chegaram à América se depararam com alguns milhões de indígenas que também não tinham escrita formal e suas etnias e línguas eram (ainda o são em certa medida) pulverizadas em milhares de variações, algumas nem pareciam vir do mesmo tronco linguístico de tão diferentes.
Por esses exemplos e comparando com as civilizações que hoje “dominam” o Planeta é possível aquilatar a importância que sempre teve a escrita. Desde aqueles amanuenses mesopotâmicos que, através de plaquinhas de argila, registravam transações comercias e certa contabilidade rudimentar, até cientistas dos séculos das luzes que, graças à invenção da imprensa de tipos móveis, puderam apresentar suas ideias e descobertas, todos os escritores formavam a base sólida da civilização.
Hoje as novas tecnologias que permitem publicações como e-boock, parece, tornaram o livro em papel dispensável, mas isso não é verdade. Até já escrevi sobre o assunto: “Um país sem livros é um deserto de idéias”, essa frase é minha e traduz o que penso sobre a importância da palavra impressa. Palavra impressa, diante das novas formas de levar as idéias até ao leitor, é apenas uma expressão, porque na verdade o que chamamos de livro sofreu inúmeras adaptações aos novos meios de informação e tornou-se algo muito diferente do que foi no passado, contudo, a essência do livro continua a mesma. O livro é ponte sagrada sobre a qual a humanidade passa para encontrar os rumos que conduzem à civilização. O suporte para o livro não importa, ao longo da história os homens firmaram aquilo que seria importante para suas gerações em pedra, pergaminho, papiro, madeira, metal, papel e, agora, em elétrons na forma de e-book. Lembrando que e-book é uma abreviação para “electronic book”, ou livro eletrônico: trata-se de publicação com conteúdo idêntico ao de uma possível versão impressa, com a característica de ser, claro, uma mídia digital.
Assim, caros escritores e escritoras, hoje é um dia muito especial para todos, porque se reconhece a importância para a humanidade a arte de escrever. Parabéns a todos! JAIR, Floripa, 25/07/12. 

terça-feira, 24 de julho de 2012

A guerra fria acabou?


Logo depois da segunda grande guerra o mundo civilizado se viu frente a duas ideologias opostas que, de diferentes formas, queriam impor suas vontades políticas, econômicas e colonialistas ao resto do mundo. Na pratica, o lado “ocidental” representado pelos EUA opunha-se ferozmente a tudo que viesse da então União Soviética que apregoava uma visão de sociedade que se contrapunha à “nossa” visão. No campo militar as duas superpotências empreenderam várias guerras “por procuração” onde os embates se faziam em outros países com armamentos, suprimentos e acessoria das potências antagônicas. As guerras no oriente médio envolvendo árabes e israelenses eram (ainda são em certa medida) emblemáticas desses atritos entre EUA e URSS. Assim foi na Coréia onde tropas mistas de coreanos e chineses recebiam armamentos dos soviéticos e lutavam contra os EUA e seus aliados. Vietnã representou outro local em que as potências se enfrentavam por procuração. Em Angola, embora não houvesse atividade direta de tropas do ocidente, havia apoio com armas de um lado e de outro. Kosovo na ex Iugoslávia marcou a presença de bombardeios da ONU capitaneados pelos EUA, e tropas assistidas e armadas pela URSS do outro lado. No Afeganistão as tropas soviéticas se atolaram contra guerrilheiros armados com mísseis Sting fornecidos pelos americanos. Destaque-se que, em 1962, em Cuba, foi a única vez que as duas potências estiveram cara-a-cara e arreganharam os dentes diretamente uma para a outra. Houve, durante o período, inúmeras frentes de baixo impacto como em Granada, no Panamá, na Bolívia, na Líbia e alguns países africanos que bem ilustram essa rivalidade.
Com o fim da chamada Cortina de Ferro, depois que o regime socialista da URSS se desfez, parecia, finalmente, que o motor que impulsionava a história havia perdido sua força motriz e parara. As ideologias conflitantes deixariam de existir depois que a Rússia seguida de seus ex-satélites adotou a democracia como forma de governo e o capitalismo como opção econômica. Foi aí que ficou famosa a tese de Francis Fukuyama, filósofo nipo americano que publicou um trabalho que o tornou famoso que apregoava o “fim da história” já que não havia mais antagonismos ideológicos que a impulsionasse. Também eu, como a maioria das pessoas, não li o trabalho de Fukuyama, mas a enorme massa de referências a ele faz com que sinta certa “intimidade” com a tese.
Todo mundo admitiu e levou em conta que a Guerra Fria (A História, segundo Fukuyama) acabou. Será verdade mesmo? Vejamos. A Síria, com mais de 22,5 milhões de habitantes, é palco da mais violenta repressão contra opositores ao regime entre os países da chamada "Primavera Árabe", que começou no final de 2010 quando um jovem tunisiano ateou fogo ao próprio corpo como forma de protesto às condições de vida naquele país do norte da África.  Desde então, quatro ditadores de países da região - Ben Ali, da Tunísia, Hosni Mubarak, do Egito, Muamar Kadafi, da Líbia, e Ali Abdullah Saleh, do Iêmen - foram depostos ou mortos. Bashar al-Assad, ditador vitalício da Síria, contudo, segue firme no poder, enquanto a população acusa o regime de uma brutal repressão. Foram registrados mais de treze mil mortos entre civis desde que começou a rebelião.
Como pode uma rebelião mostrar tanto vigor e fôlego e com quais fontes de armamentos pode contar? Como uma ditadura altamente impopular se opõe a resoluções da ONU e mantêm-se firme no combate à rebelião? Pois é, a guerra fria não acabou, e, segundo Samuel P. Huntington, o que temos agora é um "choque de civilizações". Armamentos e suprimentos são fornecidos aos rebeldes pelo ocidente (leia-se EUA) e China e Rússia não só apóiam Assad com todo armamento mais moderno (Kalashnikovs, leia também “A harpa do demônio” (06/02/11) neste blogue), como se opõem que o Conselho de Segurança da ONU reprove ou intervenha nas ações do ditador. Quem achava que a guerra fria tinha acabado pode reformular sua opinião, enquanto houver ditadores de quaisquer cores ideológicas dispostos a oprimir seus concidadãos, haverá uma “potência” estrangeira disposta a apadrinhá-los por motivos nem sempre muito claros já que a dicotomia leste-oeste representado os bons de um lado (qualquer lado, dependendo se estamos no ocidente ou no oriente) e os maus do outro, deixou de existir. A guerra fria está mais quente que nunca. JAIR, Floripa, 23/07.12.  

sábado, 21 de julho de 2012

Dingo


A civilização aborígene australiana na verdade é oriunda da Polinésia de onde teria migrado para o continente australiano há quarenta mil anos. Pelas evidências arqueológicas sabe-se hoje que após as primeiras migrações sucederam-se outras há menos de trinta mil anos. Outras evidências fósseis demonstram que, junto aos polinésios que migraram um pouco mais tarde, vieram cães domésticos que serviam de companhia, guarda e até fonte de proteínas nos piores momentos.
Pois é, esses cães domesticados, aparentemente, ao chegarem ao continente australiano ficaram seduzidos pelas grandes extensões de terras selvagens desprovidas de predadores e supostamente repletas de presas fáceis. Então, fugindo do controle de seus parceiros humanos, tornaram-se selvagens, apesar do deserto inóspito que tiveram que encarar. Há que se notar que, por um capricho evolutivo, todos os mamíferos nativos da Austrália são marsupiais, ou seja, possuem um marsúpio (bolsa externa) onde o bebê se desenvolve depois de sair de dentro da mãe. E o dingo era o único mamífero placentário encontrado naquelas paragens quando os europeus colonizadores lá desembarcaram. Então o cão selvagem dingo se destacava na paisagem.
O dingo, ao contrário da maioria dos canídeos, não é animal de matilha, ele se comporta como um caçador solitário e só forma família por ocasião do acasalamento. Seus ancestrais devem ter chegado quando os cães ainda eram relativamente selvagens e mais perto de seus ancestrais asiáticos, lobos cinzentos, os Canis lupus. Desde então, vivendo em grande parte distante de pessoas e outros cães, juntamente com as exigências da austera ecologia australiana,  o dingo desenvolveu características e instintos que os distinguem de todos os outros caninos. O habitat natural do dingo pode variar de desertos, pradarias até beira de florestas, que no caso da Austrália são florestas de eucaliptos, pois lá existem mais de duzentas espécies dessa árvore. Normalmente esse bicho elegante e esquivo não pode viver muito longe da água, então costuma usar como abrigo tocas abandonadas ou troncos ocos nas margens dos rios e lagos.
Apesar de serem “estrangeiros” adaptados ao meio australiano, dingos desempenham um papel importante nos ecossistemas da Austrália, pois são predadores, na verdade os maiores predadores do continente, visto que a maioria dos marsupiais se contenta e comer folhas e frutos. Os dingos não são exatamente mansinhos, sua vida de livres caçadores os dotou de instintos apurados, força, agilidade e resistência de modo a serem sobreviventes num ambiente desértico como o Outback onde vivem em sua maioria. Por causa de sua suposta ferocidade e ataques a animais domésticos, esses cães selvagens são vistos como pragas pelos criadores de ovelhas que tendem a dizimá-los nas áreas de fazendas de ovinos. Os métodos de controle de suas populações normalmente são contrários aos esforços de conservação que os órgãos do governo tentam implantar. Tão burra é a caça a esses animais que os pecuaristas não percebem que podem se beneficiar da predação que os dingos exercem em coelhos, cangurus e ratos, bichos que disputam alimentos com os carneiros. Para minorar o possível ataque de dingos às criações de ovinos construiu-se, entre 1980 e 1985, uma cerca de 5600 quilômetros que isola o sudeste de Queensland onde se encontram os maiores rebanhos. Essa é maior cerca do Planeta que se tem notícia. 
Como disse acima, os dingos são selvagens e se viram para sobreviver, assim, é perfeitamente viável que, em algum momento um ou outro famélico cão desses tenha se aproveitado de algum ser humano indefeso para se alimentar. Agora, depois de 32 anos, está comprovado que um dingo abocanhou uma criança em uma barraca de acampamento e comeu-a. Resolução de um caso de 1980 que dividiu a nação, e levou a uma condenação por homicídio equivocada, um juiz australiano declarou que um dingo levou um bebê de um acampamento no Outback, assim como sua mãe disse que desde o início. Muitos australianos, inicialmente, não acreditaram que um dingo era forte o suficiente para agarrar o bebê Azaria com a boca e arrastá-lo. Nenhum ataque de dingo semelhante já havia sido documentado na época, mas nos últimos anos os cães selvagens foram responsabilizados por três ataques fatais a crianças. Ainda assim, algo infinitamente distante das centenas de ataques com ferimentos e mortes causados por pitbulls, por exemplo. sem contar que ataques de pitbulls são gratuitos por assim dizer, enquanto dingos atacam a presa para se alimentar. 
"A partir de agora a Austrália não será capaz de dizer que dingos não são perigosos e apenas atacam se provocados," a Sra. Chamberlain-Creighton, disse antes de deixar o tribunal para onde fora com seu ex-marido e seus três filhos sobreviventes para pegar o certificado de óbito de Azaria. "Vivemos em um país bonito, mas é perigoso e gostaríamos de pedir todos os australianos para tomar cuidado com isso e tomar as devidas precauções," disse a mãe de Azaria.
Contudo, esse é o único caso registrado em que se provou a morte de um ser humano por um dingo sem este ter sido provocado.  Na verdade quem está sendo ameaçado de extinção pelo homem é o dingo. Hoje estima-se que a maioria dos modernos "dingos” são descendentes dos mais recentemente introduzidos cães domésticos. Esses híbridos continuam sendo chamados de dingos e têm aumentado significativamente nas últimas décadas, e o dingo original passou a ser classificado como em perigo de extinção.
Já fiz referências em outros textos sobre cães ao mais diversos, mas especialmente sobre o nobre vira latas, nosso tão conhecido cachorro de rua, animal que pelas características é o grande representante da espécie dos canídeos. Pois agora quero deixar aqui registrado: o magnífico dingo é um vira latas com upgrade, um vira latas dois ponto zero, com todas as melhores características do cão de rua, somadas a sua longevidade como raça, sua resistência em sobreviver em ambiente hostil e sua enorme adaptabilidade. Se houver chance de voltar em uma encarnação posterior, gostaria de voltar como um dingo, e entendo que com isso eu estaria sendo bonificado com uma bênção que nenhum ser humano merece. JAIR, Floripa, 20/07/12. 

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Mais sandices!


Colorau! Vociferavam templários alhures. Mais que simples ebúrnea, previa-se que tal manifestação gestasse distúrbios gástricos no já malvo aparelho vesicular do Estado de espírito. Não era tão simples a política de toalhas molhadas a que se propunha o itinerante governo de ninguém representando nada, que se fazia sentir como o último recurso versátil para salvar o replublismo. Alguns apoiavam a terra arrasada que se avizinhava diante de tanta populeta disforme; de tanto calemburismo autocentrato visível nas medidas sobejantes já tão amplamente reconhecidas. Haja velino! Embrocações, profilaxia e justimentos era o mínimo que se podia esperar de tal situação, vestíbulos alumbrados já iam e vinham por conta do caotismo criado a partir das pressões méssicas aderentes.
No amplo campo das conjeturas apriorísticas ninguém arriscaria um níquel furado no futuro do pentimento, mesmo porque acreditava-se que se futuro houvesse estaria contaminado de soluções pretéritas semióticas, nada típico, portanto. Marx e Teresa de Calcutá, referências compulsórias para o ressurgimento de idéias sistemológicas, nada representavam se fôssemos adjudicar preâmbulo bestialógico ao que já se encontrava Non sequitur por antecipação. Ça va sans dire, é a forma mais elegante de demarcar o fosso existente entre leste e oeste, para não falar entre norte e sul dos hemisférios latentes de uma mesma ideologia presbítera.
De acordo com antropomorfismo residual, como antecipar um resultado de alocações espúrias já pressentidas? Nada a declarar! Não há precedente que justifique qualquer inferência locativa permanente. Melhor tergiversar, nos anódinos ditames da blogosfera é melhor adiar para sempre do que antecipar uma possível solução zerada de conteúdo. De acordo com Bruñuel: “Todos serão poucos se não forem acrescentados ao total”, não que ele pretenda encerrar o assunto e assumir que o Planeta gira em torno da Lua como é amplamente sabido por quase a totalidade dos habitantes da Somália equatorial. Mas, melhor que não saber, é saber que não se sabe, o que quer que não se saiba, se me fiz entender. Pósteros de T.G, Dalcin vaticinaram a vertente legítima de saibros e anteras primordiais, não há o que discutir, portanto.  
Vamos devagar para entender como a defesa dos entreveros e supérstites se fará a partir dos dados coletados in loco, após a débâcle anunciada. Se todos se ativerem a meros espectadores das dores alheias, já seria meio caminho percorrido para avultar a semiótica astrolábia do ecumenismo diletante. Porquerias, poderiam os adeptos do formalismo buromédico afirmarem. Porém, longe de assumir a dessemelhança audível entre estes e aqueles, é mais patente correr em prol da libertação dos epicuristas brânquios da Lapônia. Há quem afirme de pés juntos que os que assim procederam, tiveram assistência femoral quadrangular efetiva, e os que ignoraram o aviso de não flautear, perderam seus dedos antes dos anéis. Abominações se fizeram sentir nos primeiros albores da prosaica meta abominável, nada diferente do esperado diante de tal procedimento.
Vetustos bacharéis se arvoraram em defesa das gaivotas e tetréis albinos do longínquo Cazaquistão, mas nada indica que esse proceder vá interferir no andamento dos ligúrios classistas representativos de suas comunidades. Nada indica que uma política platônica rica em nuances fremológicas possa alterar o status quo alcançado após as últimas abluções vespertinas dos maçônicos. Haverá um impasse, portanto. Em defesa da verdade provecta e rubicunda há que se esclarecer todas a implicações arbóreas dos vícios anódinos, que se fizeram em consequência do problema dos dendrobatas que não perceberam a fragilidade dos fundos de pensão. Carpe diem!, é a maneira jocosa que eles encontraram para livrar-se da incômoda pecha de nada constarem nos autos. Nada consta! Não existe nada tão desprável desde que o mundo é mundo. É lamentável.
Escolásticos não tiveram a inteligência de formular com um mínimo de incoerência os roteiros helvéticos necessários ao bom desempenho das máricas do oceano austral. Assim, ficam completamente ultrapassados os conceitos anelados pelo Gorkismo fácil, o qual em tudo vê ideário anarquista, quando sabemos que a retribuição leminguista (com todo respeito a Pulo Leminski de saudosa memória) só se fará presente quando ligarmos os pontos cardeais aleatórios já ao alcance da vista de visionários de plantão. Haja pormenores!
E como ficam as firulas menstruais da minoria fermiciana?  Nada a declarar também? Duvidamos. O claro da história sempre está relacionado a hóstias degradadas encontráveis em esconsos vértices de escadas epistemológicas que levam a lugar nenhum, sempre. Remake de ideias para usar um eruditismo démodé como quase todas as citações amesquinhadas do vernáculo vis-à-vis da nossa malquerida e vergastada Pátria. Ah bom! Então é isso! O que quer que isso seja.
James Joyce, na sua caramélica obra “Dr. Ulisses” previu a defasagem conflituosa entre os menestréis e menestroas do abissal sistema gráfico orgástico das letras. Já que assim se ministrou saberes sobre astrolábios e fazedores de tempestades, nada custou extrapolar as aramaicas crostas de saponáceos esponjosos dentro das firulentas prebócides. Então que assim seja. Todos seremos mundialmente desconhecidos em algum momento de nossa existência, e isso não prêmio. Considerando que Joyce escreveu torto por linhas retas, não custa imaginar o que seria se nas avenças lhe tivesse ocorrido perpetuar batráquios e equinócios numa só paráfrase. Sonhar é de graça.
Parênquimas foram detectadas em plena florescência dramática nas entrelinhas efusivas do tomo um das memórias ulissianas, então, de nada adiantou continua persistindo no acabrunhamento das vestais. Pobres coitadas! O tríduo permitido pelas autoproclamadas autoridades permitiram, mais uma vez, tapar o sol com a pereira florida, parece até lugar comum, mas não é. Se fez necessário um prepúcio introdutório às fácies do monstro entrevisto nas sombras. A ninguém é permitido chorar o leito desarrumado, só vivemos uma vez, então rabotemos à vistoria demagógica! Não há uma segunda chance. Ainda bem, dizem alguns.
Festejar o quê? Festejar pelo simples fato de saber o sabível, ou comemorar fogos fátuos? Não haverá resposta fácil até que cheguemos ao fim do arco-íris que, neste caso, é a remoção pura e simples de tudo que se antepara ao bem servir a Pátria, seja esta reconhecida ou não, não nos cabe julgar. Ódio jamais, lateralidade não é opção, até porque Demócrito sempre teve razão. Floripa, 25/01/12. 

domingo, 15 de julho de 2012

Formigas verdes


Na região leste australiana, no estado de Queensland, existe uma espécie endêmica de formiga chamada de formiga verde porque possui o abdômen dessa cor. Talvez por existir apenas naquela região não é muito conhecida pelos entomólogos e não figura em destaque em quase nenhuma produção literária, aliás, nem mesmo os australianos de Queensland sabem muita coisa sobre ela.
Talvez nunca se viesse a conhecer qualquer coisa a respeito dessas formigas se não fosse o cineasta alemão Werner Herzog que fez um filme nem um pouco conhecido que tem como atração a fantasia mística que esses insetos exercem sobre o imaginário de tribos aborígenes que vivem no out back e têm as formigas como portadoras de bons augúrios. “Onde sonham as formigas verdes” é o nome da obra do diretor alemão. No coração selvagem da Austrália, um grupo de aborígenes de uma tribo em extinção defende um local sagrado contra o avanço dos tratores de uma companhia de mineração. É o local onde sonham as formigas verdes. Perturbar o seu sonho irá destruir a humanidade, eles acreditam. Os nativos entram em conflito com as leis da Austrália moderna, e a disputa é feita em um tribunal.
Não é caso de falar sobre as mensagens do filme onde há um confronto dos valores cultuados pelos nativos com o capitalismo selvagem que só vê lucro a tirar daquele pedaço de deserto. Mas, vale falar sobre como os australianos nativos incorporam as verdes formigas à sua cultura.
Em meados dos anos setenta, geólogos da Queensland Mines Ltd. se depararam com um pequeno sítio de terra numa região remota da Austrália, região norte de Nabarlek que acabou sendo o mais rico depósito de urânio do Planeta. O minério enterrado abaixo da paisagem encontra-se em formações altamente concentradas de fácil acesso, a menos de 18 metros de profundidade. Assumindo que os direitos de mineração poderiam ser facilmente obtidos a partir dos proprietários indígenas, a empresa australiana rapidamente assinou contratos para vender US $ 60 milhões de minério para empresas japonesas. O que os executivos de mineração não levaram em conta foi a relutância dos indígenas em perturbar as formigas verdes que vivem perto do local.
A formiga verde é um incômodo para os moradores de regiões urbanas e suburbanas da Austrália. As formigas geralmente constroem seus ninhos no subsolo sob a maioria dos tipos de gramíneas, ninhos que muitas vezes passam despercebidos até que alguém, ou às vezes algum animal, é mordido. A mordida da formiga em si é muitas vezes invisível, no entanto, o veneno que ela injeta através de uma picada, em seu abdômen, inicia uma forte sensação de queimadura segundos após a picada e permanecendo por um tempo de cinco minutos até duas horas ou às vezes mais. O veneno é geralmente inofensivo, mas se um grande número de mordidas for recebido de uma só vez, a enorme quantidade de veneno injetado no corpo às vezes pode tornar uma criança pequena doente por algumas horas ou mais, geralmente nada para se preocupar, exceto um choro perseverante que incomoda os adultos.
Contudo, para os australianos nativos que são místicos e cultuam a natureza com uma mãe benfazeja que tudo lhes dá sem nada pedir em troca, a existência das formigas verdes naquele pedaço de chão é um sinal de fartura e futuro tranquilo. Qualquer mudança no clima ou nas condições do terreno que prejudique ou impeça o sonho das formigas é um mau sinal que angustia suas mentes e traz desconforto social para todo o povo porque o mundo pode acabar. Elas fazem tudo para preservar o ambiente das formigas, equivale dizer, eles preservam a natureza e pouco modificam as condições em que elas vivem. 
Então, como entender que homens brancos, movidos por alguma coisa tão execrável como dinheiro, quisessem cavar o solo e desalojar as formigas que ali viviam por milhares de anos sem serem incomodadas e sem incomodar ninguém? Como entender que homens ditos civilizados pudessem matar as formigas para se apossar de um produto enterrado no solo que os nativos nem sabiam para que servia, e que, mesmo aqueles escavadores incréus não sabiam explicar exatamente qual era seu uso?
O conflito resultante da visão mística e até certo ponto ingênua dos aborígenes, e da fome de lucro dos capitalistas em explorar as jazidas de urânio, deu azo ao filme de Herzog. O que vemos na obra é o choque de cultura, o abismo enorme criado entre a visão natural dos nativos e a prepotência do homem branco. É um filme sobre as coisas pequenas e simples que vão além de qualquer ganância ou providência que o dinheiro pode tomar. Os nativos, mesmo seduzidos com a promessa de milhões de dólares a ser doados à sua comunidade em troca da exploração das minas, não aceitaram perturbar o sonho de suas amadas formigas, deitaram-se no solo e impediram que as máquinas iniciassem os trabalhos de escavação. A “disputa” entre esses liliputianos ecologistas, contra os gigantes operadores de máquinas famintas e poderosas, se estendeu por vários meses até que o capital irracional perdeu a luta e resolveu procurar urânio em paragens onde não moram nativos e tampouco existem formigas verdes.
Há que se notar que, a não ser pelo filme de Herzog, a imprensa mundial jamais publicou uma linha sequer sobre esse incidente em que uma comunidade, “selvagem” por definição, travou uma luta contra todo-poderosos empresários e saiu ganhando. Que o sonho das formigas verdes não seja perturbado jamais em nome daqueles que se preocupam com a sobrevivência da humanidade. JAIR, Canoas, 12/07/12.