Houve uma época em que o ato de fumar traduzia sucesso e glamour, até o Brasão da República Brasileira contém folhas de fumo ao lado de ramos de café. Mas nos últimos cinquenta anos a ciência se esmerou em provar que o hábito do tabagismo acarreta danos terríveis ao fumante. Mostrou cabalmente que o tabaco contém centenas de agentes nocivos à saúde, muitos deles causadores de câncer. Pulmões, garganta, lábios, língua, estômago, rins e bexiga são alguns dos órgãos que estão sujeitos à maior incidência de vários tipos da doença, com graus variados de morbidade e, muito pior, graus terríveis de sofrimento atrelado a despesas elevadas e degradação da qualidade de vida do doente e dos familiares, resultando quase sempre numa morte prematura e dolorosa.
Em consequência dos elevados custos sociais e materiais, muitos governos do ocidente, o do Brasil inclusive, resolveram atacar o hábito do fumo proibindo propaganda de qualquer espécie e banindo dos meios de comunicação qualquer referência que estimule o ato de fumar. Não há estatísticas que demonstrem a assertiva dessas medidas. A indústria fumageira se ressente dessas campanhas? Houve uma redução de fumantes a partir da extinção das propagandas? Não há divulgação dos resultados. O que se sabe com certeza, é que os órgãos responsáveis pelas campanhas antifumo atacaram apenas a ponta do consumo, isto é, o alvo dos ataques sempre foram os fumantes, a eles se dirigiu o grosso da artilharia que visa melhorar a saúde da população e, por tabela, diminuir os gastos dos sistemas de saúde com tratamentos de doenças provenientes dos males do fumo. Mas e a outra ponta, aquela que produz o fumo desde a semente até o produto final: cigarro? Há alguma preocupação governamental em esclarecer os males que plantar tabaco (Nicotiana tabacum) causa aos agricultores? Parece que não, milhares de famílias do campo estão morrendo por causa do fumo e nada se fala sobre isso.
Os fatos a seguir foram publicados por Sandreli Gross Costa no blogue http://pinheiraldebaixo.blogspot.com baseados no trabalho de Fabianne Heemann, publicado no saite http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/22063 e nos dão uma ideia da dimensão do problema:
“Para produzir fumo de qualidade, o agricultor necessita aplicar múltiplas sessões de agrotóxicos, fica exposto às intempéries climáticas para fazer a colheita na maturação certa das folhas, tem o sono interrompido várias vezes a noite para cuidar dos fornos durante a secagem, passa horas em posições desconfortáveis para colher, transportar e classificar as folhas. Resumindo, trabalha feito “um burro de carga”. Esse excesso de trabalho, afeta o organismo dos agricultores acarretando problemas físicos e mentais (depressão)”.
Em outro trecho ela lembra: “A colheita e secagem acontecem simultaneamente. Essa é a etapa do processo produtivo mais cansativa, esgotante, penosa e desconfortável. Inicialmente o agricultor colhe o baixeiro (folhas rentes ao chão) e à medida que as folhas maduram colhe o restante. É preciso repassar de 5 a 6 vezes o mesmo pé de fumo. Esta etapa do trabalho acontece nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. O fumicultor passa horas curvado, carregando maços pesados de folhas, sob o sol e calor insuportável, isso quando não é pego de surpresa pelas repentinas chuvas de verão. A nicotina presente nas folhas do fumo entra em contato com a pele dos agricultores e causa a “Doença do Tabaco Verde” provocando vômitos, dores estomacais, dores de cabeça, tontura, fraqueza, dificuldades para dormir, entre outros”.
E continua: “Após secas, as folhas são depositadas no paiol, onde mais tarde passarão por um processo de classificação por cor, tamanho e espessura. Em seguida são feitas as manocas ou bonecas (várias folhas da mesma classificação são amarradas umas nas outras pelo talo) e finalmente o fumo é enfardado. Essa etapa é rotineira e desconfortável, pois os fumicultores passam os dias sentados no chão, manuseando as folhas, aspirando pó e sentindo um cheiro ruim que só o fumo sabe ter. Depois de pronto, os fardos são enviados as empresas fumageiras que normalmente pagam um preço muito abaixo do esperado pelo agricultor”.
A certa altura a autora denuncia: “Em relação à saúde dos fumeiros como a gente diz por aqui, chega janeiro estão todos magros, amarelos e "soiudos" na linguagem popular, com o decorrer dos anos adquirem sérios problemas de coluna, artrite, câncer de pele, depressão. Este é um trabalho muito desvalorizado, mas infelizmente é o que garante a sobrevivência das famílias. Eles não têm opção melhor. Quem acende um cigarro não imagina quanto sofrimento ele provocou até chegar naquela caixinha”.
Então por que os agricultores continuam a se expor a uma atividade tão nociva nessa ponta como o é na outra, e ainda mais sendo mal pagos? Parece uma pergunta irrespondível, mas não é. A própria Sandreli aponta a resposta: “O trabalho com o fumo é quase todo manual e pode ser cultivado em pequenas e descontínuas áreas, terrenos, maquinários, insumos agrícolas possuem preços exorbitantes, muito além do que meus conterrâneos podem pagar. Além disso, embora as fumageiras paguem um preço ridículo pelo quilo de fumo, essa cultura é mais rentável em relação a de milho, feijão e outras, se estas forem plantadas em pequenas áreas”. Veja bem, mais rentável, é a expressão chave que deve ser considerada. Se plantar fumo rende mais que plantar alimentos essenciais, deve haver uma relação perversa entre o estímulo que as indústrias de cigarros oferecem e as facilidades que o poder público deveria oferecer para tornar a agricultura alimentar rentável, não é mesmo? Além disso, as autoridades fazem vistas grossas quando se trata de esclarecer e ajudar os agricultores. Será isso mais uma prova que as indústrias fumageiras continuam dando as cartas nas ações de combate ao fumo porque pagam pesados impostos ao governo? Será que essa prática de desestimular o consumo numa ponta e na outra ignorar as terríveis consequências do cultivo, é uma maneira de “compensar” as indústrias que fabricam cigarros? Uma espécie de atitude de “morde e assopra” tão ao gosto das demagogias ocidentais? Se assim for, é a política mais maquiavélica e covarde que se tem notícia neste país desde o descobrimento, e o Brasão da República é apenas mais uma comprovação de que no Brasil vidas sempre foram menos importantes que impostos. Com a palavra as autoridades. JAIR, Floripa, 28/11/11.
Em consequência dos elevados custos sociais e materiais, muitos governos do ocidente, o do Brasil inclusive, resolveram atacar o hábito do fumo proibindo propaganda de qualquer espécie e banindo dos meios de comunicação qualquer referência que estimule o ato de fumar. Não há estatísticas que demonstrem a assertiva dessas medidas. A indústria fumageira se ressente dessas campanhas? Houve uma redução de fumantes a partir da extinção das propagandas? Não há divulgação dos resultados. O que se sabe com certeza, é que os órgãos responsáveis pelas campanhas antifumo atacaram apenas a ponta do consumo, isto é, o alvo dos ataques sempre foram os fumantes, a eles se dirigiu o grosso da artilharia que visa melhorar a saúde da população e, por tabela, diminuir os gastos dos sistemas de saúde com tratamentos de doenças provenientes dos males do fumo. Mas e a outra ponta, aquela que produz o fumo desde a semente até o produto final: cigarro? Há alguma preocupação governamental em esclarecer os males que plantar tabaco (Nicotiana tabacum) causa aos agricultores? Parece que não, milhares de famílias do campo estão morrendo por causa do fumo e nada se fala sobre isso.
Os fatos a seguir foram publicados por Sandreli Gross Costa no blogue http://pinheiraldebaixo.blogspot.com baseados no trabalho de Fabianne Heemann, publicado no saite http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/22063 e nos dão uma ideia da dimensão do problema:
“Para produzir fumo de qualidade, o agricultor necessita aplicar múltiplas sessões de agrotóxicos, fica exposto às intempéries climáticas para fazer a colheita na maturação certa das folhas, tem o sono interrompido várias vezes a noite para cuidar dos fornos durante a secagem, passa horas em posições desconfortáveis para colher, transportar e classificar as folhas. Resumindo, trabalha feito “um burro de carga”. Esse excesso de trabalho, afeta o organismo dos agricultores acarretando problemas físicos e mentais (depressão)”.
Em outro trecho ela lembra: “A colheita e secagem acontecem simultaneamente. Essa é a etapa do processo produtivo mais cansativa, esgotante, penosa e desconfortável. Inicialmente o agricultor colhe o baixeiro (folhas rentes ao chão) e à medida que as folhas maduram colhe o restante. É preciso repassar de 5 a 6 vezes o mesmo pé de fumo. Esta etapa do trabalho acontece nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. O fumicultor passa horas curvado, carregando maços pesados de folhas, sob o sol e calor insuportável, isso quando não é pego de surpresa pelas repentinas chuvas de verão. A nicotina presente nas folhas do fumo entra em contato com a pele dos agricultores e causa a “Doença do Tabaco Verde” provocando vômitos, dores estomacais, dores de cabeça, tontura, fraqueza, dificuldades para dormir, entre outros”.
E continua: “Após secas, as folhas são depositadas no paiol, onde mais tarde passarão por um processo de classificação por cor, tamanho e espessura. Em seguida são feitas as manocas ou bonecas (várias folhas da mesma classificação são amarradas umas nas outras pelo talo) e finalmente o fumo é enfardado. Essa etapa é rotineira e desconfortável, pois os fumicultores passam os dias sentados no chão, manuseando as folhas, aspirando pó e sentindo um cheiro ruim que só o fumo sabe ter. Depois de pronto, os fardos são enviados as empresas fumageiras que normalmente pagam um preço muito abaixo do esperado pelo agricultor”.
A certa altura a autora denuncia: “Em relação à saúde dos fumeiros como a gente diz por aqui, chega janeiro estão todos magros, amarelos e "soiudos" na linguagem popular, com o decorrer dos anos adquirem sérios problemas de coluna, artrite, câncer de pele, depressão. Este é um trabalho muito desvalorizado, mas infelizmente é o que garante a sobrevivência das famílias. Eles não têm opção melhor. Quem acende um cigarro não imagina quanto sofrimento ele provocou até chegar naquela caixinha”.
Então por que os agricultores continuam a se expor a uma atividade tão nociva nessa ponta como o é na outra, e ainda mais sendo mal pagos? Parece uma pergunta irrespondível, mas não é. A própria Sandreli aponta a resposta: “O trabalho com o fumo é quase todo manual e pode ser cultivado em pequenas e descontínuas áreas, terrenos, maquinários, insumos agrícolas possuem preços exorbitantes, muito além do que meus conterrâneos podem pagar. Além disso, embora as fumageiras paguem um preço ridículo pelo quilo de fumo, essa cultura é mais rentável em relação a de milho, feijão e outras, se estas forem plantadas em pequenas áreas”. Veja bem, mais rentável, é a expressão chave que deve ser considerada. Se plantar fumo rende mais que plantar alimentos essenciais, deve haver uma relação perversa entre o estímulo que as indústrias de cigarros oferecem e as facilidades que o poder público deveria oferecer para tornar a agricultura alimentar rentável, não é mesmo? Além disso, as autoridades fazem vistas grossas quando se trata de esclarecer e ajudar os agricultores. Será isso mais uma prova que as indústrias fumageiras continuam dando as cartas nas ações de combate ao fumo porque pagam pesados impostos ao governo? Será que essa prática de desestimular o consumo numa ponta e na outra ignorar as terríveis consequências do cultivo, é uma maneira de “compensar” as indústrias que fabricam cigarros? Uma espécie de atitude de “morde e assopra” tão ao gosto das demagogias ocidentais? Se assim for, é a política mais maquiavélica e covarde que se tem notícia neste país desde o descobrimento, e o Brasão da República é apenas mais uma comprovação de que no Brasil vidas sempre foram menos importantes que impostos. Com a palavra as autoridades. JAIR, Floripa, 28/11/11.
13 comentários:
Eu já fui "um não-fumante convicto"!
Daqueles de arrumar encrenca com quem acendesse cigarro ao lado ou em lugar fechado. Promovi um abaixo assinado para proibir fumar dentro das salas de aula da faculdade...
Mas hoje, diante dos clientes e chefes que fumam, passei a me redefinir como sendo "um fumante-passivo convencido" (e convencido não no sentido de esnobe, mas de derrotado, consciente).
Ainda bem que em São Paulo, pelo menos, vingou a lei que restringe o fumo dentro de lugares fechados. Ufa! Agora posso almoçar sem ter que engolir uma baforada de fumaça fedida entre uma garfada e outra!
Para aqueles que pensam em parar de fumar
http://mesdre.blogspot.com/2010/07/para-aqueles-que-pensam-e-parar-de.html
Gostei de ler seu texto entre um trago e outro!
Brincadeira,eu não fumo!
Muita paz!!
Muitas perguntas, poucas respostas. Mas, ex-fumante que sou, creio que o crescimento da expectativa de vida, nas últimas décadas, tem algo a ver com a conscientização da sociedade sobre os malefícios do tabagismo.
Abraços.
Bom dia Jair
Mais uma vez seu texto “OS males do fumo” ficou de primeira. Acho que vc está certo qdo diz que impostos valem mais do que vidas. Apesar de serem crédulos e muitas vezes ingênuos, os próprios agricultores dizem que a fatia maior do bolo fica para o governo, alguns chegam a defender as fumageiras que tanto os exploram. O pensamento da maior parte dos agricultores é “ dando pra comer e pagar as contas tá bom”. Pense que vida.
Jair, escrevi o texto do blog baseado no que eu sei e também na tese de mestrado que referenciei no fim da postagem. Contudo, não sei se fiz da forma correta. Gostaria que vc lesse o trabalho disponível em: http://hdl.handle.net/10183/22063 e se julgar necessário faça referência a ele. Eu não sou a maior entendida do assunto e não quero tirar vantagem do trabalho dos outros. Quando vc pediu para usar o texto pensei que vc fosse reescrever o que eu escrevi. Como o seu blog é muito acessado fiquei preocupada. Se acaso fiz alguma coisa errada, peço que por favor me corrija.
Em breve pretendo excluir esse blog, prazo de um mês a dois meses, pois ele é o trabalho de um curso que estou fazendo e logo concluirei. Como o seu blog e o seu texto certamente ficarão na net por longos anos, acho melhor vc tomar como referência um trabalho mais sólido e que tenha mais credibilidade.
Abraço
Sandrel
"...Dessa época em diante..., nunca mais desejei fumar. Esse costume pareceu-me um uso bárbaro, sujo e nocivo."
Gandhi, in Memórias.
Vejo que você tocou um ponto que ninguém se preocupa, os produtores do "cilindro da morte". Pois parece que o fumo planta é tão nocivo quanto ele industrializado e dentro de um cilindro de papel. Com um agravante, os fumantes podem parar e ter mais saúde, mas o produtores correm o risco de morrer de fome se pararem de plantar. É um dilema angustiante. Abraços.
Olá amigo Jair
Evidentemente que este tema é apaixonante, assim como para quem consome, pouco se importando com os maleficios a juzante ou a montante... Deste lado do atlantico desde que em boa hora se promulgou uma lei anti-tabagica, vivemos no paraiso, quem gosta de fumar tem que o fazer em espaços próprios para o efeito ou então ao ar livre (Invero ou Verão) desde que deixamos de ter que respirar o ar que alguns nos obrigavam a respirar, vivemos todos muito melhor. Quanto aos pobres dos lavradores que vivem disso, têm que arranjar outra cultura olhe por exemplo girassol ou cana do açucar...
Grande abraço e parabens
Jair, acho que você colocou o dedo na ferida: realmente, as medidas contra o tabagismo sempre se limitam à extremidade inferior do ciclo: os consumidores!
Nada se fala dos produtores, e certamente isto está ligado ao volume de impostos que esta indústria gera para os cofres públicos, não cosiderando os gastos com a saúde pública no tratamento dos que adoecem por causa do hábito de fumar.
Até quando?
Nobre Coega eu fumei durente 5 anos e num determinado dia reolvi parar por conta e vontade própria... não tenho nada contra fumantes mas recomendo que todos sigam meu exemplo e parem tbm, pois sem dúvida nenhuma foi uma das melhores coisas que fiz na vida!
Ótima postagem!
Parabéns (Como sempre!)
Abraços...
Muito estimado Jair,
colega de blogares,
desde Araguaína, no Tocantins alio-me a tua luta contra os males do tabaco.
Um bom dezembro de quem nunca fumou
attico chassot
Jair:
Excelente seu texto. Os malefícios do cigarro são conhecidos, não vê quem não quer, quem já caiu no vício, infelizmente. Mas há muito tempo é divulgado. Porém, depois do vício instalado, a coisa fica difícil. E como existe dinheiro grosso por trás de tudo isso... 'deixa como tá pra ver como é que fica'.
E pensar que tudo começou como um grande glamour! As propagandas eram feitas em cima de belos cavalos empinando, dentro de velozes carros ou qualquer coisa que tivesse de mostrar coragem... Tipo 'me engana que que gosto'. E vendendo saúde!! E deu nisso: gente doente e sofrendo por todo o planeta.
Seu texto mostra algo que pouco se fala, os que trabalham direto com o produto, desde seu cultivo até à embalagem, que coisa triste. E tudo fica por isso mesmo.
Parabéns por esta postagem.
Abraços
Tais Luso
Tenho um cunhado com um cancer na garganta que já nem pode comer (alimenta-se através de sonda ligada ao estômago) mas continua fumando...
Já fez radioterapia e se prepara para fazer quimioterapia, e como ele há milhões de viciados (toxicodependentes) que deviam ser tratados antes que aconteça o mesmo.
Infelizmente o vício de fumar foi trazido para a Europa por Critóvão Colombo na época dos Descobrimentos e se disseminou até aos nossos tempos, causando cerca de 5 milhões de vítimas anuais em todo o mundo. O Tabagismo é o maior flagelo do século XXI que aliado ao Alcoolismo mata mais gente do que todas as guerras juntas da Humanidade.
Cegos e surdos, os homens continuam fazendo aquilo que é contrário à sua própria integridade.
Rui Palmela
bem informativo o seu texto. Fiquei curiosa,em relação a alguns municípios, como Arapiraca, em Alagoas, considerada a capital do fumo, se não estou enganada...Como estarão os produtores de lá? Será que há estudos a respeito da saúde deles?
Parabéns, pela indução de seus leitores a novas leituras para aprofundar o tema.Abraços.Luci.
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