sábado, 19 de novembro de 2011

Abelhas






Desde que os antigos humanos trocaram o modo de vida de caçadores-coletores para pastores-agricultores, as primeiras colônias se viram compelidas a domesticar animais e plantas para facilitar a sobrevivência, principalmente porque a nova configuração social acarretou maior densidade populacional. Assim, muitas plantas, muares, ovinos, bovinos, galináceos e insetos, foram compulsoriamente atrelados ao modus vivendi humano nas aldeias e tribos. Obviamente isso não aconteceu a um só tempo, nem num mesmo lugar.
Com facilidade, costumamos associar os mamíferos e aves à nossa civilização por se tratar de animais “visíveis” que não deixam dúvidas que estão ali. Contudo, dois pequenos insetos da maior importância convivem conosco a quase tanto tempo quando os outros animais domesticados: bichos-da-seda e abelhas.
Os bichos-da-seda para se reproduzirem constroem casulos onde colocam seus ovos. Os humanos usam essas ootecas para tecer a seda. Os historiadores acreditam que a produção de seda teve início na China, por volta de 3.000 a.C., revelando que as pessoas já deviam ter começado a domesticar o bicho-da-seda por volta dessa época. Em 2009, uma equipe de cientistas liderada por investigadores chineses comparou o genoma de bichos-da-seda selvagens e de produção industrial tendo concluído que a domesticação deste animal, há cinco mil anos, resultou de um evento único embora se desconheça se os animais fundadores foram recolhidos num único lugar. Desde o início esses insetos têm contribuído em progressão geométrica para a indústria de vestuários e confecção em geral.
Já, com relação às abelhas, há que se notar que antes do século dezenove as populações dependiam do mel para adoçar suas beberagens e comidas, e ainda não existia açúcar industrial. As pessoas conseguiam mel em colméias e não é preciso dizer que se arriscavam a levar doloridas ferroadas para consegui-lo. As abelhas, segundo registros mais antigos, foram domesticadas no oriente por volta de três mil anos atrás.
No século dezenove, o reverendo americano Lorenzo Lorraine Langstroth melhorou significativamente a estrutura das colméias para permitir métodos mais eficientes para a produção do mel. De então para cá, a indústria melífera aperfeiçoou-se cada vez mais e se tornou indispensável para os modos de vida escolhidos pelos homens tanto do oriente como do ocidente. O mel entra na composição de centenas de alimentos, além de ser grandemente utilizado na indústria farmacêutica. Cera, própolis e geléia real são subprodutos também muito explorados pela apicultura.
Com o desenvolvimento da agricultura em larga escala, verificou-se que a apicultura tinha mais uma utilidade ainda. A polinização. As grandes plantações se valem das abelhas e outros insetos para aumentar a produtividade, plantas fecundadas são mais prolíferas e, assim, abelhas criadas junto às culturas, contribuem significativamente para plantas mais produtivas. É consórcio que traz benéficos incalculáveis à agricultura.
Então, por milênios, as abelhas conviveram em relativa paz com homens e a eles deram o produto de seu trabalho sem maiores dissabores, e os humanos esperavam contar com esse serviço por mais alguns milênios talvez. Só que, parece, essa relação está entrando em declínio, vai deixar de existir dentro de muito pouco tempo se nada for feito.
Desordem de Colapso de Colônia (CCD em inglês) é um fenômeno em que abelhas operárias de uma colméia de abelhas melíferas européias e africanizadas, de repente desaparecem. Enquanto tais desaparecimentos ocasionalmente ocorriam ao longo da história da apicultura, o termo CCD foi aplicado pela primeira vez a um aumento drástico no número de desaparecimentos de colônias de abelhas europeias nos EUA no final de 2006. Esse colapso de colônias é alarmante porque, como dissemos, muitas produções agrícolas em todo o mundo são polinizadas por abelhas.
Alertados para o fato, apicultores europeus observaram fenômenos semelhantes na Bélgica, França, Holanda, Grécia, Itália, Portugal e Espanha, e relatórios iniciais também vieram da Suíça e da Alemanha, embora em menor grau. Enquanto na Irlanda do Norte relatórios dão conta de um declínio superior a 50%. Outros casos possíveis de CCD também têm sido relatados em Taiwan desde abril de 2007. No Brasil, interior de São Paulo, também se fala em grandes perdas nos apiários, embora não haja relatórios conhecidos a respeito.
A causa ou causas dessa síndrome ainda não são compreendidas. Em 2007, algumas autoridades atribuíram o problema a fatores biológicos como ácaros e doenças de insetos (isto é, patógenos, incluindo Nosema apis e vírus de paralisia aguda de Israel). Outras causas propostas incluem mudanças ambientais por pesticidas que podem levar a desnutrição dos insetos. Mais possibilidades especulativas têm incluído modificação celular por radiação.
Também foi sugerido que pode ser devido a uma combinação de muitos fatores e que nenhum fator é a causa principal ou central. O relatório mais recente (USDA - 2010) afirma que: "com base em uma primeira análise de amostras coletadas em abelhas mortas, tem-se notado o elevado número de vírus e outros patógenos, pesticidas e parasitas presentes em colônias que sofreram CCD. Este trabalho sugere que uma combinação de fatores ambientais pode desencadear uma cascata de eventos e contribuir para debilitação dos insetos de forma que estes ficam vulneráveis a outras doenças”. Contudo, não há qualquer convergência de resultados nos estudos efetuados até o presente e, principalmente, não se sabe o porquê dos eventos. O que se sabe com certeza, é que as abelhas continuam desaparecendo e essa síndrome está se espalhando pelo Planeta e não há nenhuma solução a vista a médio e curto prazo. Cientistas preocupados projetam que dentro de uns vinte anos não mais haverá abelhas produzindo mel industrialmente. Quem viver provavelmente terá muito menos doçura em sua vida então. JAIR, Floripa, 19/11/11.

11 comentários:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jair,
neste quase fim de sábado, esta notícia, para um consumidor diário de mel, preocupa.
Um muito bom domingo

attico chassot

Karine disse...

Olá Jair...
Esta constatação é realmente uma verdade... Meu marido, que nas horas vagas cuida de algumas caixas de abelha as quais temos na chácara de meu pai, realmente percebeu que muitas famílias desapareceram. Algumas famílias voltaram de uns tempos para cá, porém já não é a mesma coisa de anos atrás... O que será de nosso Planeta daqui para frente?

Leonel disse...

Jair, fizeram tanta coisa ruim para o meio ambiente que agora nem sequer sabem exatamente o que está causando isto!
Recentemente, eu assisti um documentário do canal de TV Nat-Geo sobre esses problemas que estão ocorrendo com as colméias, em diversos locais do planeta.
Parece que o homo-stupidus está conseguindo mais uma façanha!
Lamentável!

Domartello disse...

Olá Jair parabéns pela postagem...
Sou apicultor ,segunda geração,estou acompanhando este fato em viva realidade.As abelhas aqui em Minas Gerais não são mais como em outros tempos.Já cheguei a produzir 30 toneladas de mel por ano e hoje não estou produzindo nem 5 toneladas.De 19 apiários hoje só me restam 4 apiários.
A produtividade ano por colméia era de 80 kilos ano e hoje não chega e 20 kilos ano por colméia.Tudo isto acredito que devido a uma soma de fatores,plantas transformadas genéticamente,monoculturas,agrotóxicos ,camada de ozônio,telefonia celular (ondas magnéticas desorientam as abelhas e elas não conseguem achar o caminho de volta para a colméia),variação das estações climáticas ...
Dizem que após o fim das abelhas a criatura humana só vai durar mais 4 anos ...
Um abraço.
Carlos.

Evanir disse...

Agradeço de coração sua visita
perdoe o atraso em retribuir seu carinho
que tanto bem me faz.
Logo terei boas novas se Deus quiser
creio que você ficara feliz como
estou .
Quero avisar quando tudo estiver tudo pronto
espero muito breve poder deixar postado minha alegria no blog.
Na vida não temos somente tristeza derrepente esquecemos
tudo Deus nos faz sorrir novamente.
Um abraço bjs no coração.
Um feliz e abençoado Domingo.
Evanir

Luci disse...

Bom dia Jair! Não sei se foi coincidência,mas ontem pela manhã,muita abelhas voavam debaixo para cima,sob nossas janelas... Para minha surpresa,seu blog hoje é sobre elas.Sempre passo em Ortigueira/Pr. e, compro mel direto do produtor;será que este fenômeno tem acontecido lá, nesta proporção?Fiquei curiosa,vou investigar...É uma lástima se o mel faltar na alimentação.A natureza pede socorro!!!Luci

Professor AlexandrE disse...

Muito interessante... Eu que não sabia muita coisa sobre abelhas pude aprender bastante com teu post. Também fiquei preocupado, pois consumo constantemente a Geléia Real...
Parabéns pela postagem meu Nobre Colega!

Abraços e bm domingo!

R. R. Barcellos disse...

Já em 1962 Rachel Carlson denunciava, em "Primavera Silenciosa", os males decorrentes do abuso de pesticidas como o DDT. Poucos a ouviram. E agora a natureza declara-se em greve de protesto. As abelhas já aderiram. Quais serão os próximos?
Abraços.

Volúzia disse...

Caro blogueiro,
Já tinha visto essa denúncia na televisão, mas assim no "papel" fica muito mais contundente. Também ouvi de um produtor de mel que suas abelhas estão desaparecendo no norte do Paraná. Parabéns pela postagem.

Maria Rodrigues disse...

Aqui meu amigo estou sempre a aprender. Tenho um primo que é apicultor e muitas das suas abelhas estão morrendo. Excelente post como sempre. Amigo deixei no meu cantinho um obrigado aos Amigos. É um miminho bem simples para agradecer a todos os Amigos que me acompanham pela estrada da vida e para lhes dizer como aprecio e admiro os seus blogs que são tão Especiais.
Bom domingo
Beijinhos
Maria

Tais Luso de Carvalho disse...

Acho que não levará muito tempo para o ser humano ver o estrago que causa ao ambiente. Aliás é o único ser vivo capaz disso: levar tudo pro brejo, acabar com a vida humana no planeta. A humana... ainda bem! Merecemos.
Vi o documentário que o Leonel viu - penso ser o mesmo. Impressionante. Chegará o dia, não duvido. E tudo voltará ao que era no ínício... Sem o homem!

Beijos
Tais luso