quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O Gigantinho

Giant Truck 1942, "Gigantinho" para os íntimos.

Quando eu era criança, na minha casa existia um “canto de despejos” na despensa, o qual tinha uma série de inutilidades. Entre os trastes, lembro, havia um quepe de couro no melhor estilo militar ou dos aeronautas atuais. Objeto totalmente “fora de contexto” entre as bugigangas, minha mãe explicou que se tratava da cobertura que meu pai usara quando exercia a profissão de caminhoneiro no tempo que essa ainda era uma atividade prestigiada. Na década de quarenta caminhoneiros usavam blusão de couro e ostentavam aquele quepe quase militar, como uma espécie de uniforme que os diferia dos trabalhadores de outras profissões. Pois é, seu Ananias como era conhecido, “pilotava” um poderoso Giant Truck 1942, fabricado pela Chevrolet e importado pela madeireira dos Malucelli para transportar toras de araucárias e de outras árvores que abundavam nas florestas ombrófilas da região centro sul do Paraná.

Os caminhões Chevrolet 1942 eram essencialmente o modelo 1941, inalterado por causa da guerra. Porque a América entrou na Segunda Guerra Mundial em dezembro de 1941 o governo suspendeu toda a produção de caminhões civis no início de 1942. Chevrolet cessou a construção de modelos civis em 30 janeiro de 1942. Contudo, durante a guerra, a montadora lançou uma versão militar do “Giant”, mais potente, de forma que o modelo civil passou a ser conhecido como Gigantinho, já que o novo modelo militar era maior.

Então, seu Ananias, com quepe e blusão de couro, na boléia do Gigantinho na melhor forma de sua robustez e versatilidade, adentrava as florestas de araucárias por estradas de terra todas esburacadas; poeirentas em tempo seco e lamaçais escorregadios a menor chuva. Naquele tempo, motoristas de caminhão, além de trazerem um auxiliar conhecido como ajudante de caminhão, tinham que ser exímios mecânicos, suas atividades em regiões que sequer tinham habitantes, muito menos algum tipo de auxílio mecânico, exigiam que os motoristas fizessem a manutenção dos próprios caminhões. Daí existir lá em casa uma velha caixa bem fornida com todo tipo de ferramentas denotando muito uso e, no meio delas um curioso emblema, tipo escudo, com a palavra “Chauffeur”.

Por volta de 1945, meu pai dirigindo por numa terrível estrada, na verdade apenas um caminho carroçável, o qual já havia cobrado alto preço do Gigantinho em feixes de molas, pneus e rodas, quando ouviu um barulho esquisito debaixo do capô do caminhão. Ele deixou o motor ligado, puxou o freio de mão e foi até o capô, abriu-o, e este foi seu erro quase fatal. A ventoinha de arrefecimento do motor estava danificada, talvez por uma pedra, e soltou uma das pás que atingiu meu pai no queixo esfacelando-o. Sem recursos, com o caminhão avariado e o ajudante em pânico, meu pai teve que caminhar durante horas, sangrando em abundância, até encontrar uma casa de caboclo, onde o cidadão foi a cavalo até uma madeireira a qual tinha um caminhão que veio em socorro de meu pai. Havia se passado mais de seis horas desde o acidente. Seis meses de hospital e uma reconstrução mal feita do maxilar que lhe custou os dentes inferiores, meu pai ostentou uma cicatriz por toda vida e deixou de ser motorista, tornou-se encarregado de uma importante seção das Indústrias Malucelli.

O Gigantinho passou a fazer parte da história de vida do meu pai e foi uma espécie de ícone das indústrias de madeiras da região que o utilizaram por muitos anos. Eu o conheci. JAIR, Floripa, 19/01/11.

8 comentários:

Leonel disse...

Jair, que singelas recordações que me fazem viajar no tempo, pois meu pai era também um motorista, que dirigiu desde caminhões até ambulâncias, nos seus longos anos na Prefeitura de Porto Alegre e mais tarde como autônomo.
Gracias pelos recuerdos!

R. R. Barcellos disse...

- Jair, você sabe que já li seu blog desde a primeira postagem; e fazendo um retrospecto mental, eu diria que você tem material suficiente para pelo menos esboçar um terceiro livro, desta vez autobiográfico. Fica aqui, com meu abraço, a sugestão.

JAIRCLOPES disse...

Barcellos,
Você percebeu minha intenção, estou pensando em publicar um livro em dezembro com as histórias quase autobiográficas que estou tirando do baú de ossos. Tenho escrito quase diariamente nessa linha. No momento há umas dez crônicas esperando na fila para serem publicadas, todas farão parte do futuro livro. Abraços e obrigado pela força.

Adri disse...

Adoro as historias!!

已于 disse...

江苏反腐竟要靠举报人以死相拼:罪行累累铁证如山的贪官李荣启连中纪委也督查不动


惊天反腐壮举贪官李荣启毫发未损,再次生死决斗力破反腐僵局

——惊动中纪委、中央和省委领导,仍查不动罪行累累、铁证如山的贪官李荣启

说明:该举报材料已于

Anônimo disse...

Dear Teman

Selamat atas teks anda. Sangat cerita menarik.

Saya akan mengikuti dan ingin membeli buku anda.

Hugs

JAIRCLOPES disse...

Não confirmo a autenticidade do comentário anterior, contudo, usando tradutor do Google descobri que se trata de texto em indonésio cujo teor é o seguinte:

"Caro Amigo
Parabéns pelo seu texto. História muito interessante.
Eu vou seguir e quero comprar seu livro.
Abraços"

●๋•♥ღ Janaღ•♥♥●•٠·˙ disse...

Lembro da cicatriz que tio ANANIAS tinha, mas nunca soube antes a causa.






GRC (Gilberto R. Cordeiro)