quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Nostradamus

O nome do cidadão era Michel de Nostre-Dame, sendo Nostradamus uma latinização como costumavam fazer os cientistas daquele tempo. Nasceu em Saint-Rémy, França, em 14 de dezembro de 1503. Passou para a história como médico dedicado que, durante a peste que assolou a Europa, empenhou-se de corpo e alma na mitigação das dores dos enfermos, já que não se conhecia a cura para o mal. Costumava associar seus conhecimentos médicos-científicos com astrologia e ocultismo que havia aprendido com seu avô. Foi autor de apenas uma obra com duas partes, As Centúrias e Os Presságios, ambas, até hoje, objetos de interpretações estapafúrdias, parciais, sectárias, contraditórias, adaptadas aos mais diversos fatos a posteriori, o que permite sejam tão eficientes e corretas quanto queiramos.

Seus textos, escritos em francês arcaico, são verdadeiros enigmas, escritos em linguagem hermética, muitas vezes em sentido inverso, onde o médico usa metáforas, referências complexas, indiretas e indeterminadas, citações de nomes geográficos inexistentes, como também termos inventados e muita imaginação.

Assim sendo, muita gente dá sentido esotérico às “previsões” de Nostradamus, quando, ao que parece, ele só era um escritor criativo que produzia ensaios em forma de poemas, nos quais gostava de brincar com o idioma e fazer especulações inconsequentes a título de literatura fantástica. Era uma espécie de Gabriel Garcia Márquez do século dezesseis. Parece que escrevia como terapia desestressante depois do trabalho que lhe era muito exaustivo, nada mais.

Já que muitos supostos intérpretes fazem previsões – ainda que depois do fato acontecido – por meio de suas Centúrias, dentro do espírito bola de cristal retardatária também faço a minha. No alto, dois números, um romano outro arábico. O primeiro refere-se ao número do livro da centúria; o algarismo arábico aponta a centúria. Na sequência, o texto original em francês antigo em letras normais, a tradução feita por Ettore Cheynet em itálico e, por último, minha “interpretação” em negrito.


II-35

Dans deux logis de nuict feu prenda,

Pluiseurs ostouffez et rostis:

Prés de deux freuves por seul il adviendra,

Sol l’Arc et Caper, tous seront amortis.


Em dois prédios haverá fogo e se fará noite,

Muitos serão sufocados e assados:

O fato será visto em dois mundos,

O Sol no Arco e no Capro, todos mortos.


Interpretação: a explosão e o incêndio causado no WTC, em Nova Iorque, pelo choque de dois aviões. Haverá fogo e noite se fará pela poeira do desmoronamento dos prédios. O fato será visto pelo Ocidente cristão e pelo Oriente muçulmano (dois mundos). Será de dia (Sol no Arco). E Capro (bode) se refere ao novo milênio que, segundo crença medieval esotérica, o segundo milênio seria da vaca e o terceiro do bode.

Assim, após fait accompli, também acertei em cheio minha previsão. Nostradamus é, realmente, genial! JAIR, Floripa, 12/01/11.

7 comentários:

Leonel disse...

Quero ver a sua cara quando o mundo acabar no ano que vem, como previram Nostradamus e os Maias!
Tá tudo lá nas Centúrias, só vão ver como estava "na cara" depois que não tiver mais jeito!
Ele só teve uma falha, não previu que Homer Simpson seria eleito presidente de uma republiqueta latino americana!
Abraços, amigo!
Ótimo trabalho, desmitificando nossos mitos!
Mesmo os prediletos!

R. R. Barcellos disse...

- Concordo com 99% do que o Jair falou... mas estou preocupado com o 1% que ele não falou.
- Abraços.

R. R. Barcellos disse...

- Jair, eu sou tão ou mais acomodado do que você, e foi só por insistência do Tatto - que fez todo o trabalho artístico - que eu troquei a cortina velha da janela. Acho que ficou mais agradável.
- PS: A Lu Cavichioli me convidou a colaborar com o "Quiosque do Pastel". Se quiser visitá-lo vá em Quiosque. Estou com um post (Inocência) novinho em folha lá.
Abraços.

J. Muraro disse...

Jair, você pega um assunto mais do que esmiuçado pelos outros e consegue colocar um tempero novo nele. É por isso que digo para meus amigos que esse é o melhor espaço da blogsfera. Parabéns.

J. A. disse...

Excelente, podemos colocar um subtítulo: "O vidente desmascarado".

Mistérios, Magias ou Milagres. disse...

Quem dera que hoje o nosso Sr: Nostradamus pudesse reicarnar nesta Nova Era, assim teriamos novas fontes inspiradora para prever um futuro belo com mais justiça e entendimento. Seus textos são maravilhosos. abraços Heudes.

Andre Martin disse...

A genialidade de Nostradamus, muito mais médico do que profeta, muito mais poeta do que medieval, está nessa habiliadade de brincar com as palavras, dizer um monte de coisa que podem ser outro tanto de interpretações, impossíveis de se prever, a não ser por colagem de fatos passados.
É como se, de início, tecer uma rede de fios e pistas que, ao final, encaixa-se satisfatoriamente no enredo concluído.
Decididamente é um exemplo dos fins justificando os meios, tenham estes sidos escritos muito antes do início.
É brilhante. Se verdadeiro, não sei.
Como diz Steve Jobs (em seu discurso aos alunos formados da Universidade de Stanford), é apenas olhando para trás que entendemos o presente, e se aquele evento passado foi bom ou ruim, afinal.
No momento em que o vivemos, nunca o saberemos.