sexta-feira, 18 de junho de 2010

Réquiem para um artista das palavras



As artes e a ciência têm seus pontos altos quando surge no cenário alguma mente que brilha. Assim foi quando surgiu Da Vinci, Newton, Einstein, Picasso, Camões, Dante e outros luminares. O Século vinte e um contava até o dia de hoje com o maior escritor da língua portuguesa depois de Camões, José Saramago (1922 – 2010). Morreu um escritor de imaginação poderosa que criava estórias fantásticas e as colocava em palavras com uma elegância que não se via nas letras desde Cervantes. Quem lê Saramago se transporta para um mundo imaginário com pinceladas de realidade que dão uma verossimilhança às estórias que nada deixam a desejar frente a Garcia Marques, por exemplo.

José Saramago dominava o idioma e o fazia moldar-se a seu jeito, sem conspurcar-lo sem agredi-lo, era capaz de escrever sem pontos finais um capítulo inteiro sem, contudo, entediar o leitor ou tornar o texto menos compreensível. A vírgula, ela a usava com uma propriedade nunca vista antes, era um mestre, dava-se ao direito de criar sua própria versão da última flor do Lácio.

O mundo, e especialmente a literatura da língua portuguesa, perdeu hoje não só um prêmio Nobel, mas uma mente que, ao brilhar, iluminava nossas prosaicas vidas de leitores.

Saramago, você que não acreditava numa vida após a morte, deve estar se diluindo no espaço-tempo, doando sua matéria para alguém ou alguma coisa que vier depois e que a usará para um propósito nobre, esperemos. Adeus, Picasso das letras. JAIR, Floripa 18/06/10.

PS - Para quem ainda não leu, recomendo: "As intermitências da Morte"

11 comentários:

Augusto disse...

Morte súbita? Mais um que não foi pro céu.

Andréia Pisone disse...

Gostei do texto e quando você se refere a ele como sendo o Picasso das letras.

Leonel disse...

Eu só pude entrever a criação de Saramago através de um filme, "Ensaio Sobre a Cegueira", baseado em uma obra de sua autoria e de mesmo nome. Aliás, só fiquei sabendo disto após comenta-lo com você.
O bastante para perceber a sua genialidade.
Uma pena que uma espécie de cegueira pareça ter vitimado este gênio, como também a outros ícones do século XX, no que se refere à idéias políticas.

Anônimo disse...

Dos 5 ou 6 que li: O "Evangelho Segundo Jesus Cristo" eh fora de serie. Assim como o "Ensaio Sobre a Cegueira". Mas, por alguma razao, talvez por consequencia da minha fobia de shopping centers, gosto bastante da "Caverna".

Gus

Zilda Santiago disse...

Passando para agradecer sua visita e comentário!Justa e merecida homenagem!!!!!!!!!!!!!

R. R. Barcellos disse...

- A Jangada de Pedra ilustra bem o iberismo de Saramago: ele isola Portugal e Espanha do resto do mundo, separando-os da Europa pelos Pirineus, e fazendo a península navegar pelos oceanos como um navio desarvorado, tripulado pelos dois povos que ele mais amava. Perdeu Portugal, perdeu Espanha e perdeu sobretudo o mundo. Não mais parágrafos intermináveis ou frases interligadas... ficou a saudade.

Anônimo disse...

Decorrem neste momento as cerimónias fúnebres só foi pena o seu proprio País não lhe dar o devido valor em vida.

Cesar Maluche disse...

UM GÊNIO

Mesmo que a rota da minha vida me
conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo.

José Saramago

Unknown disse...

Justa homenagem a um dos maiores escritores da nossa lingua!

Amélia Ribeiro disse...

Meu Amigo Jair!

Eu, um dos defeitos que não me podem atribuir é o da hipocrisia...
E, de facto, incomoda-me um bocadinho tanta coisa à volta de uma pessoa que, de português, ostentava o nome...
Eu explico..., chegou até a defender a anexação de Portugal à Espanha...!
Um museu que criou..., criou-o em Espanha...
É facto que deixa uma grande obra, mas eu não consigo ler um livro seu..., se calhar o defeito será meu...
Que era um bom escritor..., tantos o dizem..., deve ser..., mas um patriota nunca foi...!!!

Tenho pena que o meu comentário destoe, mas eu costumo ser coerente..., não é porque morreu que virou santo!

Um beijo e que tenhas uma excelente semana!

Jeferson Cardoso disse...

Gostei muito de sua homenagem, Jair. Modéstia à parte, creio que falamos a mesma coisa, creio que a impressão que o autor nos causa é comum entre nós. Usamos palavras diferentes, mas dissemos com a mesma impressão. A elegância é mesmo o ponto forte da apresentação do pensamento evoluído de Saramago. Abraço e obrigado por sua atenção ao meu blog, Jair. Foi um prazer estar novamente aqui.

Abraço do Jefhcardoso