sábado, 2 de janeiro de 2010

O HOMO SAPIENS E OS DESAFIOS



Quando o homem, lá nos primórdios, iniciou a longa jornada de ocupação do Planeta teve que enfrentar obstáculos que esse perigoso percurso apresentava. Tem fundamento supor que, no início, as dificuldades para conseguir alimentos, abrigo contra intempéries, defesa contra animais hostis, bem como tranquilidade para procriar, eram diárias e consumiam muita energia daqueles primitivos. Tudo estava por ser feito, inventado, descoberto, nada lhe auxiliava a existência, provavelmente, quando não estava dormindo, o homem estava empenhado full time na luta infindável de sobreviver numa natureza que não lhe facilitava a vida. Não é estultice deduzir que se o homem dormia oito horas, as outras dezesseis as usava procurando sobreviver. Sem dúvida, “A necessidade é a mãe da inventividade”, fez com que o homem se visse obrigado a desenvolver meios que facilitassem suas lidas diárias e, por consequência, ter mais tempo para usar seu privilegiado cérebro. Foi no fabrico de instrumentos que o ser humano se distinguiu definitivamente dos outros animais, porque, do mais simples ao mais complexo, o fabrico de utensílios implicava a previsão de uma necessidade de que só o homem era capaz. Esta capacidade estava, naturalmente, ligada com as suas primeiras atividades que eram a coleta de frutas e raízes, a caça, a pesca e também certas manifestações decorativas e artísticas. Os primeiros instrumentos eram pequenos seixos de pedra quebrados de forma a ficarem com uma face com arestas cortantes. Contudo, quanto mais objetos utilizava na consecução de seus afazeres, mais tempo lhe sobrava, o que era bom. Agora com instrumentos rudimentares, mas muito úteis, o homem passou a fabricar armas como, maças, porretes, lanças, objetos de cerâmica, flechas e facas que lhe serviam para caça, pesca e defesa contra tribos rivais e predadores. Além disso, há quinhentos mil anos o homem aprendeu a utilização do fogo, daí podendo assar, cozinhar, moquear e defumar alimentos não mais dependia da caça ou coleta diária, podia armazenar para períodos de menos abundância e lhe sobrava tempo para outras atividades. A marcha inexorável rumo à civilização forçou a criatividade humana a desenvolver meios e objetos cada vez melhores e mais hábeis no sentido de lhe facilitar a vida e convidá-lo a obter maior tempo ocioso. Com o advento da roda, vieram os meios de transportes terrestres, as primeiras engenhocas, moinhos, mecanismos simples, máquinas de arar, plantar e colher. As máquinas a vapor e a eletricidade trouxeram a revolução industrial, que permitiu à maioria das pessoas gozar de benefícios que antes eram desconhecidos a qualquer homem, e de aproveitar o conforto, conveniência e mesmo de luxos antes privilégio de reis, das cortes e de senhores feudais. A mecanização da agricultura, os transportes marítimos e ferroviários, os eletrodomésticos e o ócio aumentaram na mesma medida que as ocupações lhe exigiam menos esforço físico e mais uso do intelecto. Agora havia um excedente de produtos e tempo graças aos inventos humanos, mas o ímpeto de conquistar coisas, de lutar pelo que se deseja, de superar obstáculos, de gastar energia muscular, continuava existindo e inquietava os humanos. O homem que havia conquistado tanto se sentia meio desolado, lhe faltava o desafio que injeta adrenalina no sangue. Que fazer? Foi aí que começaram as aventuras, cujas finalidades eram canalizar energia acumulada conquistando objetivos difíceis, perigosos ou trabalhosos. Navegar grandes distâncias, nadar, correr, transpor desertos, adentrar florestas, descobrir ilhas, subir montanhas, nada mais são que exercícios para substituir os antigos desafios que a sobrevivência exigia, por atividades lúdicas e esportivas que, de algum modo, despendem a energia acumulada.


Hoje, nos países pós industriais, a ociosidade por conta do grau de otimização das atividades é tanta, que se não houver uma válvula de escape para os humanos direcionarem suas energias, é possível que se sintam inúteis, entediados, depressivos e cheguem até ao suicídio, há indícios que indicam essa tendência. Então, em nome dos desafios, das conquistas, para preencher o tempo ocioso e para benefício da saúde mental, faz todo sentido do mundo, nas horas de lazer, os indivíduos procurarem suas aventuras onde normalmente não exercem suas atividades. Então, nada mais normal que um variante do homo sapiens, o homo enfurnatus, mineiro de carvão que trabalha centenas de metros abaixo do solo dedique-se, nas horas vagas, a desafiar, agarrado como um improvável homem-aranha, penhascos verticais assustadores que se elevem a centenas de metros acima do solo. Ou, pelo fato de passar grande parte da vida sob o elemento terra, aprecie hobbies no elemento água como, mergulhar e navegar. Também, faz todo sentido do mundo, que outra variedade do sapiens o homo corporativus, o qual durante muitas horas diárias fica confinado numa sala, compenetrado, com vários de seus iguais, conquiste espaços abertos em regiões desérticas, com horizontes amplos, em contato apenas com o que a natureza oferece, sozinho com seus pensamentos e divagações; que prefira mergulho em águas profundas para sentir-se longe de todos e ligado a uma natureza totalmente contrária àquela na qual vive. JAIR, Floripa, 01/01/10.

6 comentários:

Graça Pereira disse...

Um ano de 2010 muito e muito Feliz!
Beijo
Graça

Adri disse...

E isso mesmo... A vida tem que ter uma aventura, e tambem um certo grau de perigo e dificuldade.... caso contrario, a sensacao de sempre estar seguro, e de conseguir o que quiser a qualquer hora do dia ou noite, nos atrofia os musculos, cerebro e emocoes...

VASCODAGAMA disse...

SEM DIFICULDADES NÃO SE SABE DAR O DEVIDO VALOR A VIDA....
2010 CHEIO DE AMOR

BEIJOS

Anônimo disse...

gracias por compartir.
un abrazo

Anônimo disse...

Caracas, me deu um frio bem la so de olhar a foto do Adriano. Pô meu este é galo. Abração
Fabio

Augusto Ouriques Lopes disse...

Pai,

Concordo com sua conclusão. Eu como animal corporativo, que quer passar bem longe de um PC no final de semana, sempre me pergunto se um salva-vidas ou um guarda-florestal de maneira inversa gasta suas horas de folga fazendo planilhas no excel...