Publiquei o texto, “O Monstro”, que descrevia o horror que foi a ditadura de Stálin, do qual reproduzo um trecho: "Todos temiam o ditador e este, como o macho dominante da matilha, tinha que mostrar a própria força – manter o terror no mais alto nível - sob o risco de ser triturado sem piedade pela máquina partidária infernal. O terror estalinista permeava todas as esferas da vida soviética, de modo que agora que os fatos são conhecidos, não se pode negar que estava na mesma categoria de infâmia que as práticas do Nazismo de Hitler.” O texto abaixo é ficcional, contudo, dentro da exata concepção de Poder na qual Stálin acreditava e, mais que isso, praticava: "Apesar de tudo, todos os inimigos – passados, presentes e futuros – devem ser eliminados, e serão eliminados. O maior país socialista do mundo só pode permanecer em pé, inabalavelmente firme, se tiver uma firmeza interna inabalável, esta é a garantia de sua firmeza também no exterior. O Estado tem de ser poderoso se quiser a paz, deve ser temido por todos, amigos e inimigos, internos e externos. Para transformar um país camponês num país industrial no tempo mais curto possível, são necessários esforços materiais e humanos incalculáveis. O povo deve assumi-los. Mas isso não se conseguirá apenas com entusiasmo. É preciso obrigar o povo a fazer sacrifícios. Para isso é necessário um poder forte que infunda pavor ao povo. O pavor deve ser mantido por quaisquer meios, a teoria da luta de classes permanente dá ao Governo (leia-se Partido) os fundamentos para isso. Se na execução dessas medidas morrerem alguns milhões de pessoas, a História perdoará o camarada Stálin. Se, porém, ele deixar o Estado indefeso, o condenará à morte, e a História nunca o perdoará. Um objetivo grande exige uma energia grande, e a grande energia de um povo atrasado só se consegue com uma grande brutalidade. Todos os grandes dirigentes devem ser brutais. As recomendações de Maquiavel: “O poder baseado no amor do povo pelo ditador é um poder fraco, pois depende do povo; o poder baseado no temor do povo diante do ditador é um poder forte, pois depende apenas do próprio ditador”. São observações, teóricas, esquemáticas, que, para serem aplicadas à realidade, devem sofrer adequação. Estável é o poder baseado no medo ao ditador e no amor a ele. O grande governante é aquele que através do medo foi capaz de incutir amor a si no coração do povo. Um amor no qual todas as brutalidades do seu governo, o povo e a História não atribuem a ele, e sim aos seus executores. Em política não há lugar para compaixão. Enquanto um Guia não atinge o poder unipessoal, deve saber convencer, criar nos seguidores a certeza que eles são os verdadeiros formuladores da conduta política, de que o Guia seria apenas o executor das idéias de seus seguidores. Para dominar as massas não bastam discursos brilhantes, é preciso um instrumento, e esse instrumento é o terror. Depois de firme no poder, o Guia deve subjugar os seguidores de primeira hora que podem fazer sombra a ele. É preciso exterminá-los. Entre eles haverá servidores fiéis do passado que se tornam ameaça prejudiciais à causa do Partido. É por isso que é preciso substituí-los. Substituir significa exterminar”. É extremamente difícil contestar essa lógica sanguinária estalinista-maquiavélica. JAIR, Floripa, 07/02/10.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
9 comentários:
Jair, um texto extremamente bem escrito, lógico na sua acepção, claro. Porém, não consegui alcançar a quê você se refere, transpondo-o para os dias de hoje. Fala de todo um Mundo ou do Brasil, em especial? Está somente a refletir o passado, talvez o presente de alguns países que vivem sob regimes de à Stálin, ou realmente antevê algo parecido ao Brasil? Voltarei para ler sua resposta, caso possa me responder.
Abração.
Cara Periquita,
Maquiavel escreveu "O Príncipe" em 1512 e, ainda hoje, ele é um livro atual, se aplica à nossa política quotidiana em todos os níveis, em todos os países. Meu texto tem a pretensão de mostrar a atualidade de Maquiavel na Rússia estalinista, contudo, o leitor pode fazer uma transposição para outra época e outro lugar, por exemplo, qualquer regime autoritário do século vinte. Sei que não fui claro, mas isso se deve ao estado de espírito que me moveu quando escrevia. Abraços e apareça sempre.
Sim, Maquiavel, sempre atual. Suas palavras, no texto, também. Só queria saber se havia alguma relação direta com algum recente "decreto" brasileiro. Bem, acho que não é pra tanto. Não se compara a Stálin nem de longe. Que não seja um abre-alas pra outros decretos de teores questionáveis.
A nossa política cotidiana, em todos os níveis, é uma afronta. A Sociedade brasileira também não fica muito atrás, devido à sua "cordeirice".
Adoro quando você põe aqui em palavras o que pensa!
Jair, me desculpe. Quem escreveu o comentário acima que consta como "anônimo" fui eu, Periquita. Não sei o que houve.
Parabéns pelo seu blog, muito bom.
Periquita
Estranhamente, parece que líderes que se impuseram pela força e pelo temor que inspiravam parecem mais marcantes e numerosos na história da humanidade do que os sábios, piedosos e tolerantes.
Será que existe alguma espécie de predisposição remanescente do ID dos seres humanos que os leva a admirar aqueles a quem teme?
Por que era tão difícil neutralizar pessoas como Adolf Hitler, J. Stalin e Mao-Tsé-Tung?
No caso de Hitler, além de ser temido, ele tinha também uma sorte incrível, pela forma como escapou de diversos atentados!
Já no caso de Stalin, existe uma versão de que ele teve sua morte "apressada" por um dos seus "fiéis" assessores!
Gostei do texto. Se entendi bem o poder utopicamente absoluto seria uma "síndrome de estocolmo" aplicada às massas.
Bela matéria, Jair.
Sanguinário e covarde, Stalin não leu Maquiavel, ou se leu, entendeu tudo errado. O PRÍNCIPE era, na Itália de Maquiavel, a personificação do Estado - simbolizava a Justiça, que deve ser temida para ser eficaz, e outros valores, como o respeito às leis e o amor à pátria. Mas Stalin transformou o temor em terror, o respeito em subserviência e jogou o amor no lixo, com o objetivo de exterminar seus adversários políticos. Isso contribuiu enormemente para a má fama de Maquiavel - cujo pecado foi ser pragmático na sua análise da política praticada em sua época.
Caro Jair,
Nos dias atuais não mais se pode ter dúvidas do terror que foi a ditadura de Stalin. Estou estudando a vida e a atividade política dele para um trabalho que pretendo publicar no início do segundo semestre deste ano. Trata-se de uma matéria extensa, que preciso compactá-la, para o fim a que me proponho. Mas, sem dúvida, trata-se de uma trabalho interessante, pois hoje já podemos saber um pouco mais do que se passava por trás da 'Cortina de Ferro'.
Parabéns pelo seu texto sobre Stálin.
Um abraço,
Pedro.
Lendo o seu texto aponto mais um dos monstros. A política se vale do poder unipessoal – ditadores e seguidores - quem começou?
Segundo Black, em junho de 1923, uma medida eugenista chamada : “O plano estabeleceria a presença americana eugenista no mundo inteiro, mesmo quando as linhagens inferiores fossem eliminadas dos Estados Unidos”. (p.309) Defendida desde 1912 pelo professor de Havard - Robert DeCourcy Ward , o principal estrategista de imigração do movimento eugenista que defendia a seleção de imigrantes antes de chegarem à costa americana. “Os eugenistas consideravam a imigração contínua como fonte interminável de degradação da qualidade biológica dos Estados Unidos.” (p.310) Empenharam-se em desenvolver uma rede de investigadores eugenistas no exterior, aspiravam ter um analista eugenista na capital de cada país. O sangue inferior tinha que ser eliminado mundialmente por grupos semelhantes em outros países, dando início a um movimento internacional. “Nos anos 20, a eugenia bem apoiada, financeiramente, de Laughlin, Davenport e de tantos outros americanos teóricos da raça se reproduziria, alimentaria e inspiraria indivíduos e organizações com a mesma opinião, em toda a Europa”.(p.340)
BLACK , Edwin. Guerra contra os fracos: a eugenia e a campanha dos Estados Unidos para criar uma raça dominante/ Edwin Black; tradução Tuca Magalhães. São Paulo: A Girafa Editora, 2003.
Postar um comentário