quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O NASCIMENTO DA CIÊNCIA

A jornada da ciência desde suas origens começou a 2500 anos, no local que se convencionou chamar de Ásia Menor. Não que outras civilizações não tenham existido antes, por milhares de anos as civilizações do Egito e da Mesopotâmia existiram e deixaram um legado de objetos e construções que perduram até hoje, apenas esses povos não se preocuparam em cogitar o que existiria além do horizonte conhecido. Quando os estudiosos decodificaram os escritos e artefatos desses povos verificaram que se tratava de listas de afazeres cotidianos, certificados de propriedades de terras e registro da vida de seus soberanos, nada que indicasse teorias científicas ou pensamento abstrato. Mesmo que admiremos a grandiosidade das pirâmides, nada sabemos sobre suas construções, a tecnologia empregada não foi preservada em escritas hieroglíficas, mas as guerras travadas e o dia-a-dia dos Faraós o foram. Já com os gregos a coisa era bem diferente. Comerciantes e navegadores, em função dos negócios eram permeáveis a ideias novas e viam o mundo de modo bastante original, concebiam um universo diferente da imagem aceita tradicionalmente. Os povos antigos não tinham capacidade de síntese mental para interpretar a natureza, então aceitavam o mundo que os cercava como o viam, até porque o ato de sobreviver lhes tomava tanto tempo que pouco lhes sobrava para cogitações abstratas. Para eles uma rocha era uma rocha, uma flor era uma flor e uma estrela era uma estrela, nada mais. A partir do século sexto antes de Cristo, diversos filósofos gregos formularam audazes especulações sobre o mundo natural. Tales supôs que a fonte original de todas as coisas fosse a água, substância da qual todos os elementos teriam surgido.


]
Enquanto isso, Pitágoras e seus discípulos, manipulando os números, inventaram os fundamentos da geometria. Pitágoras via a matemática como regendo a mecânica universal. O Sol, a Lua, os planetas e as estrelas moviam-se lá no alto em esferas transparentes em perfeita sincronia. Ele também achava que a Lua brilhava porque refletia a luz do Sol. A geometria tornou-se tão importante que Platão, quando fundou a primeira universidade, colocou na entrada: “Que entrem apenas geômetras”. Ainda que Platão nos tenha legado a esdruxularia chamada Atlântida, foi o filósofo que mais insistiu no método do pensamento, na forma correta de enfrentar o problema e encontrar a solução por dedução lógica. Outra ideia grega de profundas implicações para o nascimento da ciência foi o “Atomismo”. Proposta por Leucipo, foi desenvolvida por Demócrito. Supunha que ao reduzir-se um objeto, através de cortes sucessivos, a pó, chegava-se na substância do objeto: algo irredutível que ele chamou de átomo. Embora saibamos que o átomo não é indivisível, a ideia que tudo que existe é composto por átomos persiste até nossos dias como uma certeza tão absoluta quando pode ser dois mais dois igual a quatro. O Atomismo deu azo à especulação sobre haver vida fora da Terra. Anaxágoras achava que os demais corpos celestes eram feitos das mesmas matérias que existiam na Terra, então por que não acreditar que poderia se desenvolver vida extra terrena? Demócrito foi mais longe, teorizando que na Lua existiam montanhas e vales e que a Via láctea era um aglomerado de estrelas. Aristarco, presumindo que o brilho da Lua era reflexo do Sol, usou a sombra curva da Terra durante um eclipse lunar para medir o tamanho da Lua e da Terra. É de Aristarco também a primeira teoria heliocêntrica, isto é, que o Sol é orbitado pela Terra e não o contrário. Arquimedes chegou a usar o modelo heliocêntrico de Aristarco para calcular a quantidade de matéria do Universo numa obra chamada “O contador de areia”. Claro que essas ideias radicais nem sempre eram aceitas, o mais das vezes eram vistas como ameaça a ordem social e seus formuladores tratados como subversivos. Pitágoras e seus discípulos foram perseguidos no território grego por manter um “culto” em que a matemática era um código secreto. Anaxágoras foi banido por irreverência, ao afirmar que o Sol era tão grande como a Grécia. Hipácia, a geômetra, foi esquartejada, acusada de intrigas políticas. O pensamento grego estava muito à frente de sua tecnologia. Eles não tinham, infelizmente, ferramentas para testar suas teorias e hipóteses. Entretanto, seu instinto precoce de pensar o Universo na sua complexidade e formular conjeturas a respeito de sua forma atual, como também de seu passado, foi a mola mestra que impulsionou o pensamento humano na direção da boa ciência. No frigir dos ovos, tudo que se descobriu, formulou, inventou, teorizou ou se compôs em nome da ciência, veio da semente grega que nos ensinou a pensar. JAIR, Floripa, 06/01/10.

4 comentários:

Anônimo disse...

verdade, sem qualquer ofenza, mas a ciência substituir completamente a religião.
Obrigado por compartilhar essas informações.

Sônia Brandão disse...

Gosto de passar por aqui para colher as preciosas informações. Saio um pouquinho mais sábia.

Obrigada pela gentil visita.
Que 2010 seja para você um ano de muito amor, muita paz e alegria.

Denise disse...

Se civilizações deixaram objetos e construções provavelmente pensavam, inventavam. Algumas não se preocuparam em documentar ou estes registros foram perdidos ou destruidos. Alguns povos sobreviviam como sobrevivemos, alguns de nós refletimos outros apenas vivem. Aprecio a fórmula concreta do desenho do triângulo retângulo e da soma dos quadrados dos catetos resultando nos quadrados da hipotenusa. Desde que possa ser irreverente.

Unknown disse...

Jair, tens toda razão se não fossem os gregos creio que estariamos andando às cegas até hoje.
Gosto de passar por aqui e adquirir experiência.
Beijos.