Desde o século dezenove quando a ciência, conspirando com a realidade dos fatos, impôs suas verdades frente ao obscurantismo que impregnava a sociedade apegada a dogmas religiosos e superstições, que o mundo não é o mesmo. A partir do momento que a ciência tornou-se aceita, existe, à disposição daqueles que tiverem interesse, todo um universo de meios pelos quais é possível investigar os fenômenos e trazer à luz novas leis, teses, teoremas, hipóteses e conjeturas que venham enriquecer os conhecimentos que temos do mundo no qual vivemos. A ciência está longe de ser um instrumento perfeito de conhecimento. É apenas o melhor que dispomos. Neste aspecto, como em alguns outros, ela se parece com a democracia. A ciência, por si mesma, não pode defender linhas de ação humana, isto é, não é parcial, não se presta para justificar o uso que se faz de suas descobertas, por exemplo. Assim, se ela descobre os princípios que tornam possível a confecção de uma bomba nuclear, não é a ela que se deve imputar o emprego dessa mesma bomba. Esse uso é político, por assim dizer. Entretanto, é bom que se esclareça, a ciência pode iluminar os possíveis efeitos das linhas alternativas de ação que o homem tome. A ciência nos convida a dar crédito a fatos, mesmo quando eles não se ajustam às nossas concepções. Aconselha-nos a considerar hipóteses alternativas em nossas mentes, para ver qual se adapta melhor à realidade. Presta-se como ferramenta do cético, do inconformado, do curioso e não daqueles habituados a certezas inquestionáveis. Na verdade, a ferramenta ciências, nos impõe um equilíbrio delicado entre uma abertura sem obstáculos a ideias novas, por mais heréticas que pareçam, e o exame criterioso de tudo, de acordo com o conhecimento já estabelecido. Uma das razões para o sucesso da ciência é que ela tem um mecanismo de correção de erros embutido em seu próprio âmago. Ela se questiona o tempo todo, não há verdade absoluta a não ser na matemática pura. Todas as leis estabelecidas por ela estão sujeitas à contestação sempre que surjam fatos novos que a justifiquem. Ao contrário dos dogmas religiosos, cujos enunciados não permitem questionamentos, dúvidas e contestações, a ciência é muito simples e aberta a novas ideias e modos de interpretar os fenômenos os quais explica ou equaciona. Toda vez que um artigo científico apresenta dados originais, eles vêm acompanhados por uma margem de erro – um lembrete que nenhum conhecimento é completo ou perfeito. Se as margens de erro são pequenas, a acuidade das assertivas é elevada; se são grandes, a incerteza é enorme. Contudo, são justamente as margens de erros que incrementam a credibilidade da ciência, ela é tão sólida nos seus fundamentos, tão imparcial, que se dá ao luxo de expor, sempre que houver, um flanco vulnerável onde é possível opor-se a ela nos seus próprios termos.
Os seres humanos podem ansiar pela certeza absoluta; podem aspirar alcançá-la; podem fingir, como o fazem os partidários de certas religiões, que a atingiram. Mas a história da ciência – de longe o mais bem sucedido conhecimento acessível aos humanos – ensina que o máximo que podemos esperar é um aperfeiçoamento de nosso entendimento, um aprendizado por meio de tentativa e erros, uma abordagem menos desviante da anterior, mas com a condição que a certeza absoluta sempre está um pouco aquém da fímbria do horizonte. Virtualmente alcançável, portanto. Me perdoem os místicos, profetas, teólogos, supersticiosos, ufólogos, poetas e sonhadores de toda espécie, mas, se algum dia houver respostas para as perguntas que afligem a humanidade; se a verdade última for alcançada, esta será através da ciência, da maravilhosa ciência, não há escapatória. JAIR, Floripa, 02/01/10.
5 comentários:
É isso aí, Jair. A ciência, como todas as atividades humanas, também tem seus vícios e defeitos, mas de uma forma ou de outra, é a responsável por todas as mudanças que tem ocorrido na humanidade, através dos tempos. As vezes até de forma indireta. Quando tentamos enfrentar um desafio, mesmo que para alguns pareça sem sentido, temos que nos capacitar para conseguir nosso objetivo. E nesse processo, acabamos por ganhar benefícios que não pareciam implícitos no próprio desafio.
Veja o caso da exploração espacial: para que, diziam alguns, chegar à Lua? Para que colocar objetos em órbita? Hoje, usufruimos de muitas vantagens tecnológicas que surgiram simplesmente no processo de colocar cargas em órbita e colocar pessoas na Lua!
O transistor e os circuitos integrados são apenas exemplos de coisas que foram criadas para economizar espaço e peso nos lançamentos espaciais e acabaram como base de inúmeros aparelhos que hoje fazem parte do nosso dia-a-dia e nem queremos pensar em tocar a nossa vida sem eles!
Como eu poderia estar aqui, comentando no seu blog, se não existissem os chips???
Um abraço, meu amigo!
A honra sempre se funde com o prazer quando pensamos em você, fazer parte do seu círculo de amizades é gratificante.
O agrado do seu saber e escrita,sentido através das palavras e da sua postura como homem , emocionante.
Saúde,realizações são os nossos desejos,feliz todos os anos.
Seus blog's ótimos,todos.
Klinger
Da magia antiga nasceu a ciência moderna. Os Einsteins de agora são os herdeiros dos magos da antiguidade. Mas há também outros herdeiros, que dilapidaram o legado ancestral - são os dogmatistas de pseudo-ciêcias (e não estou falando só de dogmas religiosos).
Parabéns, Jair. Estou desencavando um texto que escrevi há muito tempo, sobre a transformação de magia em ciência, e vou aproveitar algumas idéias suas... com ou sem permissão. Um abraço.
Um belo texto para refletir, pena que a humanidade é composta de 0,0001%(ou menos..rsrs) de cientistas; o restante da população usa seu potencial para simplesmemte viver o cotidiano, sem grandes pretensões, aguardando o dia que encontraram o seu "DEUS".
Um abraço!
JALMO
Jair gostei muito do que você escreveu. A sua maneira de ver o mundo, a paixão pela leitura, pesquisas, é o máximo.Seu blog é muito legal.
Você fez eu voltar a mais de 50 anos no passado, quando o tio Ananias comprava revistas da época para vocês lerem, acho que ele teve participação especial na vida dos filhos insentivando-os a leitura.
Beijos
Syd
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