
Vivemos a era dos paradoxos. Ao tempo que somos, simultaneamente, protagonistas, alvos, objetos, vítimas e agentes das mais extensas, intensas, constantes, abundantes, concentradas e regulares campanhas do “Seja saudável”, “Viva mais feliz”, “Libere suas energias” etc, estamos imersos no mais insalubre dos mundos. Todos, absolutamente todos os meios de comunicação, todos os dias, nos empurram olhos e ouvidos adentro mensagens subliminares, e a maioria nem isso, para que adotemos uma vida mais “natural” como meio de vivermos melhor e mais felizes. Será isso possível? Grande maioria dos ensinamentos de como viver melhor, parte do princípio que as doenças e os males de quaisquer espécies que nos acometem têm por causa o desequilíbrio energético a que estamos sujeitos por conta da maneira “errada” de como vivemos. E que, ao eliminarmos as causas desse desequilíbrio ingressamos, automaticamente, na era da saúde. Nada de errado com esse raciocínio, se não fosse um sofisma! (lembrando que sofisma é um raciocínio que parte de premissas verdadeiras e chega a conclusões inaplicáveis, porque falsas). Sim, porquanto os mesmos gurus que nos dão a receita do bem viver relacionam quais são os “agentes” causadores dos males que nos espreitam a cada esquina, e como a eles nos expomos. A relação dos agentes é por demais conhecida, mas não custa nada lembrá-la: O ar que respiramos está totalmente saturado de substâncias cancerígenas, causadoras de males respiratórios e chuva ácida que polui o solo e as plantas, além de corroer as edificações; A água que usamos para beber, lavar nossas vestes e objetos de uso pessoal, nos banhar e elaborar nossa comida contém cloro em excesso que afeta a defesa natural da pele contra agentes externos nos deixando expostos, como uma porta aberta, às mais variadas espécies de microorganismos causadores de doenças, além de, lentamente, intoxicar nosso organismo; A exposição demasiada ao sol causa câncer de pele; Protetores solares são altamente tóxicos; Sexo todo dia e/ou com parceiros(as) diferentes, além de levar ao declínio irreversível da libido, traz o risco de doenças sexualmente transmissíveis, como a AIDS; Falta de exercícios e indolência, afetam diretamente nosso metabolismo e, indiretamente, levam a obesidade que, por si só já é uma doença, mas que conduz a males outros, especialmente do coração; Excesso de exercícios sobrecarrega o pobre músculo cardíaco levando-o ao colapso; Os vegetais de nossa dieta alimentar estão saturados de agrotóxicos altamente danosos à saúde; Alimentos industrializados contém corantes, estabilizantes, aromatizantes, solubilizantes e outros “antes” perniciosos; Carne vermelha é proibida por ser de natureza contrária ao que nosso aparelho digestivo está apto a assimilar; Quaisquer espécies de gordura entopem as artérias que irrigam órgãos importantes, levando à arteriosclerose, e causam hipertrigliceridemia também; Açúcares, sejam em forma de sobremesas, balas, bombons ou adoçando refrigerantes, e até em simples cafezinhos, aumentam o risco de diabetes, são um veneno para o corpo; Carnes brancas, sejam de peixe ou de galinha, também não são recomendáveis, reduzem a expectativa de vida, estão saturadas de toxinas oriundas de alimentação industrial maléfica; Trabalho em excesso produz estresse que diminui nossas chances de resistir a ataques nefastos de vírus e bactérias; Trabalhar sempre no mesmo lugar e do mesmo jeito causa LER, Lesão por Esforço Repetitivo; Usar telefone celular expõe o usuário a ondas hertzianas malignas; Exposição aos raios catódicos da televisão ou do computador encerra enorme risco de produzir câncer; Comer muito faz mal, desnecessário dizer que não comer também; Alimentos fritos, cozidos ou defumados são peçonhentos para o sangue; Lembre-se que tanto lipídios, quanto glicídios e protídeos em exagero, matam; Vitaminas, sais minerais e água, consumir com moderação, sob o risco de intoxicar-se; Café e ovo, proibidíssimos; A preocupação com o futuro e o presente, a ansiedade diante das incertezas materiais e imediatas, a angústia frente às grandes questões filosóficas de quem somos, de onde viemos e para onde vamos, desgastam a psique; Além disso tudo, o consumo de drogas, proibidas ou não, destroem o homem tanto física e emocional como moral e psiquicamente. Consumir anfetaminas, barbitúricos, estupefacientes, narcóticos, álcool, remédios e medicamentos, complementos alimentares e similares tudo é péssimo para o equilíbrio dos humores corporais. Fumar, mesmo passivamente, causa câncer de cólon, pulmão e bexiga; Daí os gurus concluem que, se extinguirmos todos os elementos, alimentos, posturas, atitudes, bebidas, "modus operandi", áreas de atrito, pressões externas e internas, “venenos”, pressas, obsessões e maus pensamentos que causam estragos em nossas vidas estaremos “de bem com o mundo”, viveremos melhor e com saúde. Basta optarmos por uma vida mais simples, mais "light", algo assim como a de um desiludido aborígine australiano que já estivesse completamente só no "out back" daquele país, e que resolvesse, por razões lá dele, tornar-se vegetariano radical e isolar-se numa caverna, protegido da luz solar para sempre. Basta vivermos sem alimentos industriais, sem água clorada, sem carne de espécie alguma, sem fogo, sem remédios, sem exposição ao sol, sem roupas, sem outro objetivo de vida que não o de apenas sobreviver a cada dia, sem competição e sem sexo, que estaremos salvos! Basta apenas isso, cara pálida! O quê você está esperando? Elimine para sempre “apenas” estes pequenos detalhes, e você estará melhorando em cem por cento sua qualidade de vida! Pois é, se justamente o conjunto de coisas que compõe a vida moderna a está destruindo, conclui-se que esse conjunto de coisas faz mal à saúde, VIVER FAZ MAL À SAÚDE! JAIR, Floripa, 15/07/09.