Os aniversários, no nosso contexto social normalmente comemorados como dia festivo são, na realidade, apenas um marco, uma espécie de palanque fincado no chão que indica: “A partir daqui você está um ano mais velho”. E, claro, como todos os dias que permanecemos vivos estamos mais velhos, todos os dias fazemos aniversário. Lá está, todos os dias, o palanque fincado metaforicamente no chão de nossa vida: “A partir daqui você está um dia mais velho”, não há escapatória. A única vantagem que nos traz esse passar dos anos é o inevitável acréscimo de saber ao nosso cabedal, quanto mais vivemos mais aprendemos e mais nos tornamos reflexivos, mais nos tornamos capazes de cogitar sobre o tempo. O tempo sempre é inequívoco, absoluto e inexorável, apesar da condicionalidade dele a serviço da física onde quase tudo é relativo: movimento, massa e energia. Aliás, o tempo é mais que absoluto, ele é transcendental, ele a tudo ultrapassa, triunfa, supera, vence, transcende enfim. Quer queiramos ou não, o tic-tac do tempo supostamente nasceu com o universo no exato momento que o Big Bang tudo criou inclusive o próprio tempo, e, de lá para cá, continuamente, vem ditando o ritmo do nascimento, crescimento, formação, maturação, reprodução, sazonamento e morte das coisas, seja uma estrela, uma montanha, um protozoário, uma ave ou uma partícula subatômica. Não interessa se a coisa é uma galáxia que terá a existência contada em bilhões de anos, ou se é um microorganismo destinado a viver poucos minutos, o tic-tac inelutável está presente, invisível, mudo, imparcial. As coisas, sejam vivas como animais e plantas; ou, segundo nossas concepções, não vivas como uma rocha ou um gás, têm seu ciclo de atuação no universo marcados com um começo e um fim, o tempo não. Apesar de ter tido um início, o tempo É, simplesmente. Isto significa que ao morrermos, por exemplo, o tempo que nos viu nascer, acrescentou dias e anos ao nosso crescimento, presenciou nossas primeiras rugas e cabelos brancos, acompanhou nossa vida adulta e fenecimento, continuará a existir apesar de nós, mais ainda, a despeito de todos e não obstante a tudo. O homem como ser pensante tem tendência a entender, contar, manipular, controlar tudo a sua volta, e o faz com certo grau de sucesso com coisas físicas, visíveis e manipuláveis, mas com o tempo não. O homo sapiens filosofa, medita, reflete e culpa o tempo, mas não tem controle sobre ele; credita a ele todos os males e todas as curas, mas não o entende; sofre as conseqüências da sua eterna marcha, mas não o manipula. O impalpável e ubíquo tempo escapa a qualquer tipo de conceituação rigorosa e, se nos resta um consolo, nós apenas conseguimos nele colocar rótulos, uma espécie de marca que serve tão somente para criar a ilusão que nós temos alguma ascendência sobre ele: segundos, minutos, dias, anos, séculos, milênios, eras etc. Enquanto isso, o tempo caminha reto, decidido, para frente, sem retorno e sem parada para tomada de novo rumo, absolutamente tirânico e indiferente ao destino do homem e do resto do universo, transformando o presente em passado e o futuro em presente, CRIANDO A ETERNIDADE! JAIR, Floripa, 09/02/09.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
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7 comentários:
Parabens pelo aniversário e pelas aulas de muita cultura.Continuarei lendo.Lenilson.
Querido amigo Jair, em primeiro lugar,aceite os meus parabéns atrasado...sesenta e três anos, que maravilha, isso que eu tenho a lhe dizer...Adorei a postagem sobre o passar dos anos!! Glorinha
Jair, depois do email que voce me enviou hoje resolvi usar este espaço para emitir minha opinião sobre o ato de criar, assunto do qual falamos ao telefone no domingo. Seguinte: Cara, voce anda inspiradíssimo. Além de nos brindar com belos textos voce ainda nos tem dado aulas sobre os mais variados assuntos; Ovos, vidros, baleias, aranhas, tubarões etc. Voce está se superando. Depois de ter escrito sobre o teu aniversário, passadas apenas algumas horas voce vem e nos apresenta este belo texto sobre o tempo. É a inspiração meu amigo. Voce, assim como eu, sabe que por mais que tente jamais conseguirá explicar isso, portanto concentre-se apenas em criar e de vazão a este dom que só alguns privilegiados tem. É bom lembrar que a inspiração que vem à voce é a mesma que vem aos músicos para comporem ou aos poetas para fazerem seus sonetos. É possível que para algumas pessoas este seja um assunto de doido, mas o grande poeta e cantador Elomar, talvez por ser muito religioso, costuma dizer que os poetas são loucos, mas conversam com Deus.
Um abraço, Joel.
Caro Joel,
Penso que não sou louco e sei que não converso com Deus, daí, o que me move no sentido de criar, talvez se deva a outra coisa que não sei definir. O fato é que, de repente, surge uma ideia que se impõe, uma ideia pequena, insistente, pegajosa, inquietante e definida que QUER se tornar um texto. Daí não jeito, só me resta passá-la para "papel", ou seja, desenvolvê-la por escrito, pois se não o fizer, perco o sono. Como tenho problemas de Distúrbios do Sono, diagnosticados e em tratamento, sou compulsado a escrever e, o que é pior, o mais das vezes não mando no texto, quem manda é a IDEIA.
Amigo, esta sua fantástica e as vezes assustadora reflexão sobre o tempo me fez pensar numa ideia.
Será que, em alguma dimensão distorcida na imensidão deste universo infinito (ou fora dele, se for possível) existirá um ponto zero, de onde se poderá contemplar todo o curso do tempo, como quem vê uma corrida de automóveis de uma torre, de onde pode ver toda a pista?
Nesta singularidade, além do alcance dos nossos princípios matemáticos e físicos, poderíamos ver o início do que não teve começo e o fim do interminável, e tudo ao mesmo tempo...Também veríamos cada momento congelado eternamente ao lado do momento anterior e do seguinte...Essa cerveja Amsterdam Navigator, com 8,4 °GL de álcool, faz essas coisas parecerem possíveis!
Mas, afinal tudo não é possível mesmo?
Abração !
Ola Jair. Bom, ja te disse outra vez que sou fa da sua escrita. Adoro o jeito como coloca as suas palavra e a riqueza de seu vocabulario. Nao eh de se estranhar de onde meu marido tenha puxado tantas boas qualidades assim. Adorei aquela parte que voce fala que se ja houvesse viagem ao tempo, cade os nosss visitantes do futuro, nao eh? Entao, fiquei pensando: Sera que nossos avos esconderam da gente que receberam visitas futuristicas? rs... Um beijao da sua nora, Camila.
Jair,
Adorei seu blog, suas reflexões e a forma com as faz! Valeu adica da leitura do ettxo. Muuuito bacana!
Gracias,
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