quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O VIDRO


O vidro nosso de cada dia está tão entranhado nos lares, nos grandes edifícios, na indústria, na decoração e no modus vivendi de nossa civilização, que quase não mais o notamos, mesmo com olhos guarnecidos por ele. Comemos, dormimos, bebemos, trabalhamos, viajamos e fazemos tudo o mais em contato com esse fantástico componente da vida moderna e nem ao menos paramos para pensar de onde ele vem, como é fabricado. O ingrediente principal da massa para fabricar vidro é areia de sílica, - nome popular do dióxido de silício - misturada com sais alcalinos, tais como cal, cinza de madeira e soda. O curioso é que os depósitos de sílica são encontrados universalmente e são provenientes de várias eras geológicas. A maioria dos depósitos de sílica que são minerados para obtenção das "areias de sílica" consiste de quartzo livre, quartzitos, e depósitos sedimentares como os arenitos. Sem esquecer que o quartzo é a rocha mais comum do planeta, sendo razoável inferir que também do universo. Pois é, quando alguém olha para uma janela ou um pedaço de vidro extremamente limpo e afirma: "Até parece um cristal!", não pode imaginar o quanto está longe da verdade. Pelo menos em termos de física. Observada em sua intimidade através de microscópio, a maioria dos materiais sólidos como as rochas, por exemplo, pode ser descrita em uma de duas estruturas: cristais ou vidros. Os cristais se caracterizam por apresentar os átomos formando moléculas bem organizadas, cada átomo em sua posição, guardando distância exata de outro átomo como se fosse um batalhão de soldados em boa formação. O diamante é o mais perfeito exemplo de cristal, sua rígida estrutura octogonal o torna a pedra mais dura do planeta. Já os vidros, ou estruturas amorfas, apresentam uma verdadeira bagunça com suas partículas demonstrando o significado da palavra caos. É justamente essa falta de organização que torna os materiais com estruturas vítreas parecidas com líquido, ou seja, tecnicamente o vidro é um líquido, por estranho que possa parecer. Descobertas arqueológicas de janelas guarnecidas com vidros das antigas cidades romanas, Herculano e Pompéia, demonstraram na prática o que a teoria afirma: As lâminas de vidro encontravam-se mais espessas na base, ou seja, o vidro havia escorrido como líquido ao longo dos séculos, e não adianta argumentar que o calor das cinzas do Vesúvio derreteu os vidros, porque estes encontravam-se encaixados em molduras de madeira perfeitamente conservadas, sem quaisquer traços ou marcas de queimaduras, nem chamuscadas estavam. Os vidros convencionais têm estruturas desordenadas devido à forma com que são produzidos: seus ingredientes são misturados, fundidos, e a seguir resfriados e deixados para endurecer. Na medida em que o vidro se resfria, a vibração das moléculas vai diminuindo até que elas fiquem fixas. O problema é que o vidro não se resfria igualmente e as moléculas mais internas, impossibilitadas de se movimentarem, tendem a ficar mais desordenadas. Mas agora cientistas da Universidade de Wisconsin-Madison, descobriram uma nova forma de se fabricar vidros que acaba um pouco com a bagunça de suas partículas e os torna mais estáveis e resistentes. Os novos vidros são produzidos em seqüências de várias camadas, em um processo chamado de deposição de vapor. O vidro é aquecido até se evaporar, sendo condensado em uma superfície fria logo acima. Como as camadas individuais são muito finas, - alguns mícrons apenas - cada conjunto de moléculas consegue se organizar melhor antes de se solidificar. Os vidros produzidos com esta técnica não chegam a ser cristais, mas, segundo os pesquisadores, levariam 10.000 anos para serem feitos pelo processo tradicional, porque precisariam resfriar muito lentamente. O novo processo demora cerca de uma hora. Mas, a novidade não vai chegar aos nossos lares num futuro previsível, o método é muito caro para ser utilizado na fabricação de vidros para janelas, ou qualquer uso doméstico. Outro processo de fabricação chama-se de flutuação. Nele, a matéria-prima quase liquefeita é derramada sobre um leito de estanho derretido, sobre o qual o vidro flutua e se espalha, buscando seu nível natural, assumindo a forma de uma lâmina lisa e contínua. Enquanto desliza controlada e vagarosamente ao longo do percurso de centenas de metros, a massa vai se esfriando naturalmente. Alimentada, na seqüência, para o forno de recozimento, sofre um tratamento térmico padrão - o recozimento. A superfície é inspecionada para controle de qualidade, por computadores e, finalmente, cortada em chapas. A espessura final do vidro é definida pela variação da velocidade com que a lâmina se move no trajeto. O processo "float" produz um vidro sem ondulações de superfície, tornando-o um produto de alta qualidade. Esse fabuloso material isolante térmico e acústico, cuja transparência permite: luminosidade natural em ambientes; construção de aparelhos óticos desde lentes de contato até grandes telescópios como o Hubble; aparelhos e utensílios os mais variados, tem uma história que excede a própria história do homo sapiens, pois é sabido que erupções vulcânicas, eventualmente, também produzem vidro. Além disso, o vidro pode ser temperado, colorido, moldado, soprado, jateado, lapidado, laminado, tornado a prova de balas e arranjado de diversas formas para se tornar objeto de utilidade ou decorativo. Mas este é tema que, juntamente com a história do vidro, deverá ser abordado em outros textos. JAIR, Floripa, 04/02/09.

2 comentários:

Anônimo disse...

Agora, toda vez que eu estiver com amigos bebendo uma cervejinha amiga num buteco vou lembrar donde vem o vidro das garrafas e dos copos. Obrigado pelo texto informativo. Abel

Anônimo disse...

O copo de agua ficou bem mais "saboroso" agora sabendo disso....