terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A Cicuta



Sócrates, o ex jogador, amava a medicina, tinha grande amor pelo futebol e pelo fato de ter jogado no Corinthians e ter sido capitão da Seleção brasileira. Sócrates, diferente de seu famoso xará heleno, não foi obrigado a tomar veneno, tomou-o de livre e espontânea vontade. Também, diferente do antecessor, não tomou tudo de uma vez, o foi ingerindo aos pouquinhos durante muito tempo, o que teria acabado com seu fígado e, por fim, pondo em risco sua vida. A todos aqueles que lhe diziam que estava num caminho sem volta, costumava lembrar que todos estamos num caminho sem volta, é só uma questão de tempo, tempo aliás, que não nos é dado o direito de saber a duração. Ele era meio filósofo. Copo na mão, argumentos na boca, alguns dizem que Sócrates bebeu a vida. Sua cicuta tinha gosto do melhor uísque, mas era tão fatal quanto àquela que vitimou o ateniense. Pobre doutor, foi-se justamente no dia em que seu Corinthians do coração sagrou-se campeão. Costumam dizer que ele não tinha a humildade de reconsiderar a sua própria fraqueza frente à bebida, quase que se achava incólume aos males de uma cicuta moderna engarrafada em recipientes chamativos e com certidão de nascimento escocesa.
Por que isto aconteceu? Seu jogo inovador para o Corinthians, atraía a multidão de jovens torcedores. Suas qualidades de líder e sua inteligência, também colaboraram para o aumento de sua popularidade. Na época, comandou uma tal de “Democracia Corintiana”, a qual permitia que os jogadores tivessem uma vida desregrada, desde que esses desvios não influenciassem na qualidade de seu jogo, isto é, jogando bem pode soltar a franga que não tem problema. Temendo algum tipo de mudança no time, os cartolas viam em Sócrates um exemplo público e um condutor de jovens em potencial. Então ele viu-se livre para permitir-se beber e fumar sem provocar alarde na multidão corintiana que pagava seu salário de muitos dígitos. Argumentos médicos e de todos aqueles que desejavam que ele se mantivesse abstêmio, não o convenceram que sua saúde corria perigo. Alguns acusaram-no de beber o futebol que jogara, mas isso não se comprovou, quando ele aposentou-se foi por vontade própria e não por imposição de um futebol medíocre. Aposentado, exerceu o ofício da medicina e não se tem notícia que tenha deixado a desejar como médico. Consta que foi tão bom doutor como foi jogador. Apenas a “cicuta”, pode ter abreviado sua vida como já havia feito com o ilustre filósofo grego. Paz Magrão, assista daí as alegrias do seu Timão. JAIR, 05/12/11.

12 comentários:

Evanir disse...

Estava com saudades de ler sua postagem querido amigo.
O Socrates foi de tudo um pouco um herói e ao mesmo tempo um fraco.
Como médico que foi nunca ouvi dizer que procurou ajuda na medicina para curar sua doença de alcoolismo.
sem duvidas foi uma grande perda embora não sou do Timão mais se trata de um ser humano e um excelente jogar que deu muitas alegrias .
Amigo querido.
Um abraço saudoso.
Evanir

Tais Luso de Carvalho disse...

Jair:
Realmente deu pena; foi excelente jogador, mas o vício acaba com tudo, torna o ser humano escravo de suas amarras e o joga na amargura, neste caso a bebida.
Foi querido por todos por ter sido homem íntegro, camarada, amigo de seus amigos e, permitiu, a muitos, sonhar...
Linda foi a homenagem dos Corintianos, justamente no dia em que morreu. E bonita sua postagem!

Abraços
Tais

R. R. Barcellos disse...

O filósofo do futebol foi vencido pelos sofismas modernos. Que fique em paz.
Abraços.

Leonel disse...

Fica assim mais uma vez demonstrado o poder que o alcoolismo tem, seduzindo tanto cabeças ocas quanto pessoas cultas e inteligentes. Pessoas tão diferentes quanto o casal duque e duquesa de Windsor, e o desligado Garrincha foram presas deste mal.
Agora, foi a vez do Dr. Sócrates, que, como bem lembrastes, tomou sua "cicuta" por vontade própria...
Abraços!

Andre Martin disse...

Jair,

Muito bela homenagem à ilustre e moderna celebridade, recentemente falecida em dia que seria só de festa.

Os paralelos entre os dois Sócrates servem de guia condutor do seu excelente e bem escrito texto.

Mas receio que muitos dos que conheceram o famoso jogador ignoram daquele filósofo antigo quem lhe inspirou o nome... E tenho até dúvidas que seu texto lhes inspire a curiosidade de ir pesquisar e saber mais a respeito, mesmo com toda a facilidade que a internet nos proporciona atualmente. Bem, neste caso é melhor que continuem ignorando o que cicuta seja, senão podem querer provar, já que o ídolo-exemplo podia e abusava...

(a propósito, a palavra de verificação que me apareceu aqui ao acaso, para confirmar este comentário foi "progins", o que me leva a pensar: "progins" >> "PRO GINS" >> "a favor de mais bebidas GIM"... e toma-lhe cicuta! rsrs)

Professor AlexandrE disse...

O Sócrates (jogador) foi mais uma vítima de 'suicidio inconsciente'... sem levar em conideração a lei da ação e reação pôs um ponto final em sua existência terrena... Já o grande filósofo grego foi vítima de 'suicídio compulsório', pois as autoridades atenienses levaram em consideraçao a lei a ação e reação e perceberam que se ele vivesse por mais tempo o status quo seria abalado!
Gostei muito do texto de hoje...
Parabéns!

Abraços!

Luci disse...

Dizem alguns, que o nome da pessoa tem um peso.Cá com meus botões ,será coincidência? será que a cabala, a numerologia, esclarecem este peso "cármico"?Pelo sim, pelo não, o nome atraiu a bebida fatal!!!Luci.

Paulo disse...

Volto sempre a este seu «espaço». Aqui aprende-se!!!

Abraço
Paulo

J. C. M. Souza disse...

Analogias a parte, o Próprio Sócrates, jogador e doutor, escolheu computar o preço da sua nepente.

Morelli disse...

Sócrates não seguiu o conselho de Sócrates: gnoti seauton (gnoti seauton) = Conhece-te a ti mesmo.

Attico CHASSOT disse...

Muito estimado Jair,
bem posta a homenagem a Sócrates Brasileiro. Teus leitores foram privados de um detalhe que indevidamente sonegas: o episódio em que ele, quando era jogador do Corinthians, indo de Ponta Grossa a Curitiba e parou em Palmeira e viu um grupo jogando futebol no ‘Palmeirinha’. Pediu para jogar junto. Quando no décimo minuto de jogo fez o quarto golo, tu que estavas arbitrando o jogo perguntas a identidade. Ao reconhecer quem era, suspendes a partida e organizas uma festa para o dr. Magrão.
Peço que um dia dês mais detalhes a teu leitores.
Com admiração

attico chassot

Daniela disse...

Excelente texto, bela homenagem e comparação!! Adorei, ainda mais por eu ser 'maloqueira' e ter um apreço enorme pelo Sócrates do meu Timão!! Lamentavelmente ele perdeu o jogo da vida, de goleada(de goles)mesmo!!