Início da década de quarenta, Brasil vivendo sob a ditadura de Getúlio Vargas que não escondia sua preferência pelos modelos doutrinários ditatoriais de Hitler e Mussolini na Alemanha e Itália. A guerra na Europa se fazia entre os nacionalismos exacerbados de nazistas e fascistas contra os aliados que representavam as democracias. Getúlio fazia ouvidos moucos para vozes que o exortavam a se aliar às democracias contra as ditaduras; nas águas territoriais brasileiras, navios mercantes eram atacados e afundados por submarinos alemães e italianos e centenas de vidas civis eram perdidas numa guerra que não era nossa. A extrema direita brasileira, representada pelos “camisas verdes” (integralistas) capitaneados por Plínio Salgado, aproveitava o clima de indignação oriundo das unidades mercantes torpedeadas nas nossas costas, para divulgar propaganda enganosa no sentido que eram os americanos que estavam afundando nossos navios para nos obrigar a entrar na guerra ao lado deles. A insinuação não passava de bobagem maldosa para obrigar o Brasil a entrar na guerra ao lado dos alemães e italianos, mas existiam pessoas que acreditavam.
O presidente do EUA era Roosevelt, conhecido por FDR, o qual, diante do espraiamento da guerra para o norte da África, necessitava de bases para suas forças, mais próximas dos campos de batalhas. Diante disso, FDR insistiu junto a Vargas para que este cedesse bases aéreas em solo brasileiro, principalmente no norte e nordeste, para que suas forças pudessem transpor com mais facilidade o oceano Atlântico, rumo à África transportando tropas, armas e suprimentos. Pressão dos aliados de um lado e da opinião pública de outro, fizeram Vargas ceder. Numa jogada política esperta, da qual Getúlio era mestre, ele “trocou” as bases brasileiras e a entrada do país no conflito, por uma usina siderúrgica de última geração. A Companhia Siderúrgica Nacional, CSN, foi cedida por Roosevelt e instalada em Volta Redonda onde se encontra funcionando até hoje, embora privatizada.
Tendo aceitado entrar na guerra junto aos aliados, o Brasil preparou tropas a partir de 1943 para enviar ao palco de batalhas contra os alemães na Itália, o que se deu em junho de 1944. Os pracinhas, como eram chamados os soldados expedicionários, saíram-se muito bem nas tomadas dos montes Cassino e Castelo na região dos Apeninos. Vibrantes, destemidos e arrojados os soldados brasileiros, equipados pelos americanos com materiais e vestimentas modernos, enfrentaram o frio europeu e os alemães com a mesma bravura. O cessar fogo na Europa se deu em maio de 1945. Nessa guerra de menos de oito meses, a FEB perdeu 443 homens, entre soldados e oficiais, e mandou para os hospitais da retaguarda perto de 3.000 feridos. Por outro lado, fez 20.573 prisioneiros alemães, inclusive dois generais.
Finda a guerra, resolveu-se construir um cemitério na região da Toscana, para reunir num único local, com quadras apropriadas e devidamente demarcadas, os restos dos mortos nos combates do teatro de operações de guerra italiano. Ao final do conflito, em maio de 1945, havia 443 sepultados nesse local. O “Cemitério Militar Brasileiro”, pela proximidade da cidade ficou conhecido como cemitério de Pistóia. Em outubro de 1952 foi criada uma comissão de repatriamento dos mortos brasileiros sepultados no Cemitério de Pistóia, o que acabaria acontecendo apenas no ano de 1960. Hoje os restos mortais dos militares jazem sob o Monumentos dos Pracinhas, no aterro do Flamengo, Rio.
Só que repatriamento dos restos mortais dos mortos no campo de batalha foi meio tumultuado, tornou-se objeto de uma disputa quase infantil entre a FAB e Marinha Brasileira. A Armada queria trasladar as urnas funerárias de navio, e a FAB estava convencida que o traslado em aviões seria melhor. Talvez pelo fato de a Marinha não ter participado de batalhas na Europa e seus mortos serem oriundos dos ataques de submarinos aqui mesmo no Brasil, ficou estabelecido que as urnas, em vez de virem para o Brasil em navios de guerra, seriam transportadas por três aviões C-54 da FAB. Por azar da FAB e certa discreta alegria mórbida da Marinha, nesse traslado quase ocorreu uma tragédia de graves consequências num evento pouco divulgado, menos ainda lembrado. O percurso aéreo Itália – Rio de Janeiro previa, entre outras, uma parada técnica em Lisboa. Nas manobras de aproximação do Aeroporto de Lisboa, um dos aviões sofreu um acidente no pouso, bateu, quebrou a asa e foi tomado por um incêndio. Alguns tripulantes e passageiros tiveram ferimentos leves, mas todos ficaram profundamente traumatizados com o acidente e com os possíveis danos à preciosa carga que levava o avião. As urnas não sofreram grandes danos, mas tiveram que ser reparadas para prosseguirem viagem em outra aeronave.
O episódio ficou conhecido como a segunda morte dos pracinhas, mas, pelo fato de ter ocorrido em Portugal, deu azo para que os eternos gozadores cariocas veiculassem a seguinte piada politicamente incorreta: “Um pequeno avião da FAB sofreu um acidente em Lisboa e as autoridades portuguesas informam que entre mortos e feridos já resgataram mais de quatrocentos corpos”. A heróica passagem dos militares brasileiros pelos campos de batalhas da sangrenta segunda guerra acabou sendo objeto de descontraída alusão a anedótica pouca inteligência de nossos irmãos lusos. JAIR, Floripa, 11/11/11.
O presidente do EUA era Roosevelt, conhecido por FDR, o qual, diante do espraiamento da guerra para o norte da África, necessitava de bases para suas forças, mais próximas dos campos de batalhas. Diante disso, FDR insistiu junto a Vargas para que este cedesse bases aéreas em solo brasileiro, principalmente no norte e nordeste, para que suas forças pudessem transpor com mais facilidade o oceano Atlântico, rumo à África transportando tropas, armas e suprimentos. Pressão dos aliados de um lado e da opinião pública de outro, fizeram Vargas ceder. Numa jogada política esperta, da qual Getúlio era mestre, ele “trocou” as bases brasileiras e a entrada do país no conflito, por uma usina siderúrgica de última geração. A Companhia Siderúrgica Nacional, CSN, foi cedida por Roosevelt e instalada em Volta Redonda onde se encontra funcionando até hoje, embora privatizada.
Tendo aceitado entrar na guerra junto aos aliados, o Brasil preparou tropas a partir de 1943 para enviar ao palco de batalhas contra os alemães na Itália, o que se deu em junho de 1944. Os pracinhas, como eram chamados os soldados expedicionários, saíram-se muito bem nas tomadas dos montes Cassino e Castelo na região dos Apeninos. Vibrantes, destemidos e arrojados os soldados brasileiros, equipados pelos americanos com materiais e vestimentas modernos, enfrentaram o frio europeu e os alemães com a mesma bravura. O cessar fogo na Europa se deu em maio de 1945. Nessa guerra de menos de oito meses, a FEB perdeu 443 homens, entre soldados e oficiais, e mandou para os hospitais da retaguarda perto de 3.000 feridos. Por outro lado, fez 20.573 prisioneiros alemães, inclusive dois generais.
Finda a guerra, resolveu-se construir um cemitério na região da Toscana, para reunir num único local, com quadras apropriadas e devidamente demarcadas, os restos dos mortos nos combates do teatro de operações de guerra italiano. Ao final do conflito, em maio de 1945, havia 443 sepultados nesse local. O “Cemitério Militar Brasileiro”, pela proximidade da cidade ficou conhecido como cemitério de Pistóia. Em outubro de 1952 foi criada uma comissão de repatriamento dos mortos brasileiros sepultados no Cemitério de Pistóia, o que acabaria acontecendo apenas no ano de 1960. Hoje os restos mortais dos militares jazem sob o Monumentos dos Pracinhas, no aterro do Flamengo, Rio.
Só que repatriamento dos restos mortais dos mortos no campo de batalha foi meio tumultuado, tornou-se objeto de uma disputa quase infantil entre a FAB e Marinha Brasileira. A Armada queria trasladar as urnas funerárias de navio, e a FAB estava convencida que o traslado em aviões seria melhor. Talvez pelo fato de a Marinha não ter participado de batalhas na Europa e seus mortos serem oriundos dos ataques de submarinos aqui mesmo no Brasil, ficou estabelecido que as urnas, em vez de virem para o Brasil em navios de guerra, seriam transportadas por três aviões C-54 da FAB. Por azar da FAB e certa discreta alegria mórbida da Marinha, nesse traslado quase ocorreu uma tragédia de graves consequências num evento pouco divulgado, menos ainda lembrado. O percurso aéreo Itália – Rio de Janeiro previa, entre outras, uma parada técnica em Lisboa. Nas manobras de aproximação do Aeroporto de Lisboa, um dos aviões sofreu um acidente no pouso, bateu, quebrou a asa e foi tomado por um incêndio. Alguns tripulantes e passageiros tiveram ferimentos leves, mas todos ficaram profundamente traumatizados com o acidente e com os possíveis danos à preciosa carga que levava o avião. As urnas não sofreram grandes danos, mas tiveram que ser reparadas para prosseguirem viagem em outra aeronave.
O episódio ficou conhecido como a segunda morte dos pracinhas, mas, pelo fato de ter ocorrido em Portugal, deu azo para que os eternos gozadores cariocas veiculassem a seguinte piada politicamente incorreta: “Um pequeno avião da FAB sofreu um acidente em Lisboa e as autoridades portuguesas informam que entre mortos e feridos já resgataram mais de quatrocentos corpos”. A heróica passagem dos militares brasileiros pelos campos de batalhas da sangrenta segunda guerra acabou sendo objeto de descontraída alusão a anedótica pouca inteligência de nossos irmãos lusos. JAIR, Floripa, 11/11/11.
8 comentários:
Explicado os boatos sobre os ataques no Rio de Janeiro. Gostaria que meu pai estivesse vivo para ouvir a verdadeira história. Obrigado Jair. Abs
Olá Jair... Fiquei imensamente feliz em ter encontrado mais uma pessoa para meu exército de defensores da leitura, da educação e o melhor, é de Palmeira... Parabéns pelo seu blog! Por sinal adorei a história sobre os nossos pracinhas. Que aventura hein! Já sou sua fiel seguidora... Um grande abraço!
Karine
Ótimo post, Jair!
Como você sabe, eu já postei a relação completa dos navios brasileiros afundados, juntamente com a identificação do submarino que o torpedeou e do respectivo comandante. Tinha um tio meu que realmente acreditava naquela falsa história de navios terem sido afundados pelos próprios aliados!
Um dos interesses americanos era também a cessão das bases costeiras para os seus aviões-patrulha atacarem os submarinos do eixo, que afundavam navios que levavam suprimentos para a Inglaterra.
Interessante também lembrar que o símbolo da FEB era uma cobra fumando, alusão à um dito popular daquela época, em relação à provável participção de tropas brasileiras na II Guerra: "É mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra!"
A cobra fumou!
Abraços, Jair!
Ótimo Texto Nobre Colega!
Cheio de dados e detalhes muito interessantes... Fazendo um pequeno trocadilho: "Sentou a PÚA na História"!
Parabéns pela postagem...
Abraços!
Por mais que a gente saiba - ou ache que saiba - sempre leva mais bagagem ao sair de teu blog. Parabéns.
É complicado buscar o entendimento da história na idade adulta,porque os fatos já aconteceram e uma massa de abobados atônitos engolindo mentiras no decorrer dos acontecimentos ! fico pasma e apalermada porque, no rito de passagem,vidas se foram e morreram por quem?para que?entre serem HERÓIS MORTOS,com certeza conscientemente teriam preferido continuar vivos.lUCI.
Estimado Jair, o Historiador,
dois detalhes pessoais nesta tua postagem. 1) uma das minhas mais remotas notícias radiofônica que recordo (sou nascido em novembro de 1939) é “a do retorno dos pracinhas (vivos) e a afirmação ‘já se vê a sombra do pavilhão nacional em águas brasileiras’”. 2) não recordava da bi-morte dos pracinhas em Lisboa.
Obrigado pela aula de história.
attico chassot
Por aquilo que aprendi hoje neste post muito obrigada.
Um abraço
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