sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Redenção de um Astro





Na foto acima, este que vos escreve em primeiro plano e, ao fundo, o SA-16 (Albatroz) 6535 com as cores do SAR, em 1979. Quando da criação do Serviço de Busca e Salvamento em 1957 este esquadrão foi dotado de quinze Aeronaves SA-16, numeradas de 6527 a 6541. Durantes mais de vinte anos essas heróicas aeronaves prestaram serviço a FAB, até que foram desativadas em 1980 e deram lugar aos bandeirantes adaptados ao serviço, cuja incorporação ao esquadrão se deu menos pela adequação de tais aeronaves a buscas do que por motivo nacionalista: o estímulo ao produto nacional foi o que obrigou a FAB adquirir bandeirantes para todo tipo de emprego, mesmo em prejuízo da qualidade dos serviços prestados.

Dos quinze SA 16 originais, apenas onze chegaram à reforma militar ainda que compulsória, quatro deles, infelizmente, sofreram acidentes graves com perda total das aeronaves e um número de sete mortos. Seis mortos no acidente em Florianópolis em 1978 e uma morte em 1960 em Canoas. Dos acidentes, dois foram durante a decolagem (sem mortos) e dois no procedimento de pouso. Também estive envolvido num acidente de médias proporções sobre a pista da Base Aérea de Canoas, o avião estolou e sofreu danos de médio porte, ninguém saiu ferido e a aeronave decolou lépida e fagueira depois de dois dias de reparos. Já na pista de Florianópolis em 1977, um dos aviões pousou sem trem depois de uma aproximação para pouso curto. Os danos não foram grandes e, após uma semana de reparos no Parque de Marte, lá estava a aeronave novinha em folha sem apresentar qualquer cicatriz.

Pois bem, depois que os Albatroz se aposentaram do serviço militar, dez ficaram disponíveis para quem quisesse adquiri-los, estacionados no Parque de Marte e no aeroclube de São Paulo, e um foi colocado no museu dos Afonsos, o 6529, o qual durante alguns anos tive a honra de ser o mecânico responsável. Sabe-se que um americano comprou três aeronaves para fazer vôos turísticos na Flórida, e os demais ficaram espalhados pelo mundo. Não é que dia destes encontrei o Albatroz 6535 na Base Aérea de Florianópolis, com roupa nova, orgulhoso e tinindo de bonito? Pois é, a foto abaixo não me deixa mentir.



Não bastasse a surpresa de sabê-lo vivo e cheio de saúde, ainda mais surpreso fiquei quando descobri o 6535 contracenando com ninguém menos que o canastrão oliudiano da porrada, Silvester Stalone, no filme ainda não lançado, “Os mercenários”, em parte rodado no Brasil.







Na foto vemos o galã 6535 maneiroso e em roupa de gala enquanto decola das águas calmas de Mangaratiba, RJ. Fico muito feliz em ver um avião que foi tão útil e que tantos salvamentos heróicos fez enquanto serviu a Força Aérea, e que ainda tem fôlego para encarar um filme de ação na Meca do cinema. É a volta por cima em grande estilo depois de trinta anos de escanteio, depois que autoridades determinaram seu ostracismo por mera implicância com sua suposta obsolescência. Quando os SA-16 foram aposentados, a única alegação que se ouvia é que eles estavam muito velhos e eram onerosos demais por causa da manutenção. Helôô! Como se manutenção de qualquer avião fosse barata! Vale lembrar que o Albatroz era o único hidroavião da FAB, - os Catalinas depois de dezenas de anos de bons serviços já haviam se retirado – num país cuja região norte é coberta por imensa floresta cortada por centenas de rios, em cujas margens existem inúmeras cidadezinhas desassistidas de estradas, potencialmente isoladas. E, além disso, também o único, além do Hércules, que decola ATO (Assisted Take Off), ou seja, decolagem curta, geralmente da água em lugar restrito, auxiliada por foguetes que eram colocados nas laterais perto da cauda. Lembro que participei de três decolagens dessas, uma como treinamento na baia sul de Florianópolis, outra real na lagoa de Manacapuru perto de Manaus, e a mais emocionante em alto mar a 150 milhas de Belém.



Este não é um texto de saudosismo, pelo contrário, é uma maneira de homenagear um Astro em ascensão, agora registrado para sempre pelas câmaras oliudianas. Parabéns velho e legendário Albatroz, aeronave que tem alma! Parabéns pela volta triunfal! Nós que conhecemos teu valor, te saudamos! E todos aqueles que te declararam velho e alquebrado devem estar se roendo de ciúmes pela sua brilhante carreira que se inicia. Abraços, JAIR, Floripa, 07/08/10.

15 comentários:

Pedro disse...

Grande albatroz!
Mesmo sendo um avião particularmente feio, ele têm seu charme. Esses motores radiais devem ser lindos de se ouvirem com manete a pleno,e esse ATO a 150 milhas de Belém merece um post próprio!
Abraços.

R. R. Barcellos disse...

- Tenho para mim que a relação de um piloto com sua máquina é do tipo passional; nós, mecânicos, temos com as aeronaves um sentimento mais de pai para filho (ou filha). Eu costumava pensar nos C-130 Hércules como "meus bebezões", e o orgulho que você demonstra nesta matéria trai o sentimento de um pai que vê o retorno triunfal de um filho pródigo. E nesse ponto, somos compadres. Parabéns pela bela matéria.

Leonel disse...

Beleza, Jair!
Finalmente você abriu aquele velho baú das lembranças aviatórias!
Você, que está na pista desde que avião se chamava aeroplano, tem muita coisa para contar!
Muito bom relembrar o velho e valente Grumman SA-16 Albatroz, que já é astro de cinema há muito tempo: é só lembrar "Sacrifício Sem Glória" (Flight from Ashiya), com Yul Brinner.
Parabéns pela matéria.

Leonel disse...

Esqueci de dizer que também achei muito legal você reencontrar essa "garça" ainda voando, de roupa nova, linda e faceira, pelos céus do Brasil!

JAIRCLOPES disse...

Caros colegas "aeronáuticos", sempre intuí que um dia colocaria em letras algumas experiências de meu tempo de Busca e Salvamento. Ainda não foi desta vez, isto foi apenas uma pincelada por ter visto o SA-16 redivivo e saudável. Mas fico satisfeito de tê-lo feito, assim como exorto vocês a abrirem seus bolorentos baús também. Abraços, JAIR.

Daniela disse...

Difícil acreditar que a FAB se desfez de uma estória tão bonita e heróica como a do Albatroz!! Mas pelo menos ele está tendo o triunfo merecido...

Anônimo disse...

Verei o filme soh pelo aviao.

Ass.
Daqui de perto de oliude.

Pantarotte disse...

Ola Jair.
Parabéns pelo blog e obrigado por falar de um velho companheiro de muitas lutas, viagens e serões.
Apenas uma ressalva: O 6527 trata-se do ultimo Catalina, depois dele começa o Albatroz com o numero 6528

Unknown disse...

Parabens Jair,pelo BLOG e vida literaria, guardo ainda uma fotografia onde estamos juntos na manutenção de um sapão SH-1D, no angar de floripa.
Abraços.

Abraços.
Paulo Gogone
paulo@gogone.com.br

Anônimo disse...

Hi everyone
very interesting the article about the SA-16 Albatross in the FAB.
I'm the proud owner of the 6531, if anyone remembers any history about this particular albatross or want to share any pictures I'll be glad to hear from you.
Carlos Gil
fennec28@yahoo.com

rogerio moraes de araujo disse...

amigo fiquei emocionado com que vi sou filho do Teodomiro ferreira que era do Esquadrão de Busca e Salvamento ok vc lembra dele ,, mecânico hidráulico do Albratros ,,, me responda por favor um abraço. Rogério moraes ,,,,,

Anônimo disse...

rogermoraes16@hotmail.com,, 08588019283 fortaleza 085 34916825 res.

JAIRCLOPES disse...

Caro Rogério,
Sim, tive a honra de servir com Teodomiro no famoso SAR, tanto na Base Aérea de Cumbica como aqui em Floripa. Era um grande sujeito, amigo de todos e muito alegre. Ele ainda vive?Tenho boa memória dele, JAIR.

ALFREDO disse...

XERIFÃO!
Positivo JAIR.
Muito saudável falar sobre Aviação. É A MINHA VIDA!
Continuo apaixonado pela vida militar, por ter participado um pouco da Aviação na Amazônia.
Aplausos Amigo por escrever, expressando sobre um pouco da tua vida dedicada aos PELICANOS, ao Albatroz, que não tinha nada de feio como comentaram.
FEIO, E COMO É FEIO, É O CATALINA

Anônimo disse...

Tive a honra de fazer manutenção do SA 16 no Parque de Aeronatica SP, no periodo de 1967 a 1971. Sidney Hein ex Sgt.