Nestes tempos em que muitas pessoas se voltam para uma vida mais simples, mais natural, ecologicamente correta, menos agressiva ao meio ambiente, não há como não lembrar de uma comunidade que faz isso, com grande êxito, há séculos, os Amish. Mesmo comunidades de “bichos grilo”, de ex-hippies, veganos e outros naturebas podem sequer comparar-se de longe com esses radicais alternativos.
A maior comunidade Amish vive em terras altamente produtivas no condado de Lancaster na Pensilvânia desde 1720, mas existem outras comunidades em 23 estados americanos e uma no Canadá.
Donde surgiram essas pessoas que vivem na era pré industrial, pré eletricidade e pré automóvel? Pois é, quando Lutero rompeu com a igreja católica e fundou uma nova ordem religiosa que se convencionou chamar “protestantes”, o movimento que se seguiu cindiu-se em várias frentes umas menos outras mais radicais. Em 1536, um jovem padre católico da Holanda chamado Menno Simons se juntou ao movimento anabatista que professava o “rebatismo” de pessoas que haviam sido batizadas antes do uso da razão, e, em seguida fundou uma igreja ainda mais exigente, os Menonitas. Dessa dissidência nasceu a mais radical igreja cristã, os Amish. Estes grupos anabatistas foram duramente perseguidos em toda a Europa. Milhares foram mortos como hereges tanto por católicos como por protestantes. Para evitar esta perseguição muitos fugiram para as montanhas da Suíça e do sul da Alemanha. Ali começou a tradição Amish da agricultura e da exploração dos seus serviços de culto nos lares ao invés de igrejas. Quando Wiliam Penn, fundador do estado que passou a chamar-se Pensilvânia, convidou-os para se estabelecerem lá, eles não pensaram duas vezes, mudaram-se de mala e cuia para os USA, onde fundaram a colônia que existe até hoje.
Os Amish são muito devotos, eles acreditam na interpretação e aplicação literal das escrituras. Eles acreditam que o mundanismo, ou seja, tudo que cheire a modernidade, pode impedi-los de estar perto de Deus, e pode introduzir influências nocivas nas suas comunidades e ao seu modo de vida. São agricultores notáveis, no entanto, não têm eletricidade em suas casas, não usam telefone, rádio ou televisão, automóveis, implementos agrícolas modernos ou qualquer objeto tecnológico que, remotamente, lembre “mundanismo”, seja lá o que eles entendam que é isso. Informática então, nem pensar.
Eles preferem viver da agricultura justamente porque esta está ligada ao mais fundamental, à terra. Eles sentem que seu estilo de vida e de suas famílias pode ser melhor mantido em uma vila rural usando apenas mulas nos seus arados e colheitadeiras do século dezoito. Em comparação com a nossa sociedade de ritmo rápido, a vida simples dos Amish, centrada na família tem um fascínio inspirador. Apesar de viverem no país mais tecnologicamente desenvolvido do Planeta, onde ocorreram as maiores mudanças em todos os setores, eles ainda vivem e trabalham tal qual seus antepassados. Suas famílias e suas fazendas são suas prioridades, perdendo apenas para Deus.
Sua separação do resto da sociedade contribui efetivamente para reforçar a sua comunidade. Socializar constitui uma parte importante da vida Amish. Os Amish têm um forte senso de espírito de comunidade, e muitas vezes vêm em auxílio daqueles que precisam. Vizinhos dão livremente seu tempo e suas habilidades para ajudar um ao outro. Os Amish são geralmente pessoas reservadas e, muitas vezes prestar atenção e curiosidade sobre seu estilo de vida perturba-lhes, eles não gostam. Eles acreditam que a tomada de fotografias em que alguém é reconhecível é proibido pelo veto bíblico contra fazer qualquer tipo de "imagem de escultura". Também são pessoas pacíficas, não usam armas e abominam a violência. O atentado de outubro de 2006, quando o atirador, identificado como Charles Carl Robert, de 32 anos matou três crianças de uma escola Amish ilustra bem esse fato: Os Amish simplesmente perdoaram o assassino.
Vestem-se com roupas despretensiosas, o que lhes valeu o nome de "pessoas simples". Muitos de nós temos curiosidade em saber como essas pessoas podem sobreviver em seus caminhos supostamente retrógrados. Aí é que as pessoas se assombram: Eles não apenas sobrevivem, eles estão prosperando! E muito. Mesmo durante a crise mundial que se abateu sobre os USA e o resto do mundo recentemente, os Amish continuaram vendendo muito bem seus produtos naturais e prosperando. A comunidade Amish conta com muitos milionários, ainda que continuem vivendo do básico, sem ostentação.
Com a atual “onda” ocidental em restaurar na nossa sociedade "valores da família”, muito pode ser aprendido com o estudo do modo de vida Amish. Sua devoção à família e comunidade e sua forte ética de trabalho são bons exemplos para a nossa sociedade em geral, mesmo abstendo-se do lado religioso radical, seus valores estão acima da média de qualquer sociedade ocidental. JAIR, Floripa, 05/07/10.
3 comentários:
Fascinante, algo me diz que não necessitamos adotar o "modus vivendi" amish mas, com certeza, eles têm algo a ensinar para nossa sociedade tecnológica e estressada. Parabéns pelo belo texto.
- É uma filosofia de vida que merece maior atenção dos que não se deixam seduzir pelo canto das sereias da "modernidade". Os Amish são a prova viva da força que têm as tradições familiares e comunitárias. Eles se dariam bem até como colonos em Marte...
- E o meu amigo Jair, como sempre, descola mais um assunto interessante...
Eu li sobre os amish pela primeira vez em um exemplar antigo da National Geographic Magazine. Acho uma pena que eles não sejam capazes de discernir entre as coisas boas e más da tecnologia e a reneguem de forma total.
Mas, de qualquer forma, se eles prosperam assim mesmo, já estão provando alguma coisa!
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