Como um deus generoso, transborda na natureza todos os entes que criou do nada, sem preocupar-se em saber, em sentir, em ter, indiferente. Ancho, dadivoso, solene e vasto, compreende cada grão de areia do deserto e cada estrela do universo. Traz no bojo, a sabedoria do eterno e vaga insensível sem apegar-se ao material, ignorando até a simples existência das coisas; transfigura-se no zero absoluto dos seres para quem nele pensa ou tem a veleidade de tentar compreendê-lo. Nada sobra quando ele se vai, mesmo porque, nada existiria sem ele e nada faria sentido na sua ausência, se esta fosse possível. Da vida, que a ele deve sua existência, nada exige e nem se dá ao exercício de encorajá-la ou exaltá-la como se importância tivesse além de existir, apenas. Dos seres que criou não tem a menor comiseração ou ressente-se se estes o desconjuram e a ele atribuem suas desgraças e mazelas. Desloca-se reto, obtuso, obstinado, sempre para frente, em velocidade constante rumo ao absoluto, onde só ele reinará pela eternidade. Ele é a cornucópia do universo, ele é o TEMPO. JAIR, Floripa, 23/08/09.
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6 comentários:
Complexo e misterioso. Bjo
“O tempo não existe em si, afirma Norbert Elias — não é nem um dado objetivo, como sustentava Newton, nem uma estrutura a priori do espírito, como queria Kant. O tempo é antes de tudo um símbolo social, resultado de um longo processo de aprendizagem […]”
(ELIAS, Norbert. Sobre o Tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998)
Me permito tascar minha colher de pau nesse angú (a)temporal.
Pelo que até hoje li sobre o “tempo”, notadamente nos escritos do filósofo Norbert Elias, eu fico com a conceituação social por ele levantada. Assim, o tempo não seria uma abstração metafísica nem um “ente” que sempre existiu e que seria “a cola” de tudo que existe no universo. O tempo seria mais uma criação (aquisição cultural) sócio-conceitual do “bixo” homem, pois que só aos poucos foi se firmando como gerenciador quase absoluto do dia-a-dia das nossas vidas. Ele foi, sim, apropriado pela física que dele se serve para “quantificar” praticamente tudo, mas não “é um dado objetivo”, pois enquanto temos a sensação de que ele — “tempo —, passa”, o que fica evidente é que “essa sensação diz respeito à nossa própria vida, às transformações da natureza ou da sociedade.”
Grande abraço,
Ruy
Ruy,
Depois de muito, mas muito mesmo, cogitar sobre o TEMPO, meu tema favorito para pensar, cheguei a seguinte conclusão que, aliás, não é original nem é nova, muita gente gabaritada já disse isso: "O tempo é a quarta dimensão da matéria". Imagine um objeto qualquer com as três dimensões clássicas, ALTURA, LARGURA e PROFUNDIDADE mas sem duração, ou seja, sem uma existência que tenha início e fim. É impossível a existência de matéria sem DURAÇÃO (tempo), daí eu dedicar algum tempo pensando sobre o assunto. Abraços, JAIR.
Boa tarde. Tu sabes que fazia algum tempo que não ouvia falar em cornucópia.
Bão, Jair, sob essa ótica, vc tem razão, não há como negar que alguma coisa deve “regular” a duração de qualquer evento, para que tal evento exista. Contudo, essa elucubração pende mais para o terreno filosófico-metafísico, e o tempo que nos afeta, que nos afeta como seres sociais é, digamos, “diferente” desse “tempo” que vc aborda, é aquele que o N. Elias apontou como social e culturalmente construído, ou seja, é um tempo que nos oprime, que escraviza, que controla…
Abraço,
Ruy.
Melhor definição que li em anos!
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