sábado, 1 de maio de 2010

BESOUROS, ORQUÍDEAS E EVOLUÇÃO


O Besouro e a orquídea Ophyr


Taí um tema interessante, sou evolucionista convicto, juramentado e militante e nutro paixão por orquídeas as quais chamo de “As mais belas flores do Planeta”, conforme texto que publiquei, além disso já produzi texto sobre coleópteros.

Pois é, talvez a mais curiosa dependência do cheiro para encontrar uma companheira e perpetuar a espécie seja encontrada num besouro sul-africano que costuma se enterrar no solo e ali permanecer durante o inverno. Na primavera, com o degelo, os besouros emergem, mas os machos o fazem algumas semanas antes da fêmeas. Nessa mesma região da África do Sul, evoluiu uma espécie de orquídea (Ophyr) que exala um aroma idêntico ao feromônio da fêmea do besouro. Estudos provam que a evolução da orquídea e da fêmea do besouro produziu basicamente a mesma molécula. A evolução dos besouros machos, por sua vez, investiu no olfato em prejuízo da visão, eles são extremamente míopes. E a orquídea, muma espécie de malandragem evolutiva, tem um labelo em forma de inseto, parece uma fêmea receptiva ao coito, engana totalmente o macho cegueta. Os besouros ficam “se achando”, passam várias semanas “copulando” com as flores como se estas fossem “besouras” cheias de amor para dar; e, em consequência, polinizando as flores ardilosas. De repente, para espanto dos besourões donjuans, surgem do solo as fêmeas autênticas, estas sim cheias de amor para dar. É de imaginar que os exauridos machos se vejam feridos nos seus egos reprodutores, mas nem por isso deixam de transar com as fêmeas.

Apesar de tudo, as orquídeas foram polinizadas, de acordo com o que a natureza lhes programou, pelos besouros amorosos (quase escrevi cheios de tesão mas, como este é um blog familiar, abstive-me), os quais, agora envergonhados, se empenham ainda mais em fertilizar suas parceiras e garantir a próxima geração de míopes machos libidinosos e perfumadas fêmeas. Assim, tanto as flores como os insetos saíram no lucro.

Observe-se que não é interessante para as orquídeas serem demasiadamente atraentes; se os besouros deixarem de se reproduzir, as orquídeas não terão quem as polinize. Provavelmente, também não é bom que inexistam orquídeas falaciosas, pois estas estimulam a libido dos besouros de modo a torná-los mais ansiosos para agradar suas companheiras.

Por outro lado, uma atração sexual puramente olfativa, sem variação de intensidade ou “nuances” que definam um aroma melhor que outro, é uma limitação evolutiva pelo fato de toda fêmea produzir o mesmo aroma, não há possibilidade de diferenciação entre os parceiros, ou seja, o macho é atraído igualmente por qualquer fêmea, não pela mais saudável ou mais apta. Não há como ele se “apaixonar” por uma mais que outra como acontece quando é o macho que atrai a fêmea, com exibições de força ou de saúde.

Ainda que seja curioso e algo sofisticado, o método de enganação desenvolvido pela orquídea Ophyr é muito comum na natureza, outros animais e plantas o usam sem qualquer pudor em várias regiões do Planeta. Fingimentos, mimetismos e simulações estão na ordem do dia de inúmeros seres vivos que desejam deixar descendentes, não existe ética quando se trata de evolução. É, a natureza tem seus truques que até o mais crédulo dos homens nem desconfia. JAIR, Floripa, 26/04/10.

4 comentários:

Carlos Ricardo Soares disse...

Que é que o seu relato tem a ver com evolução?
A minha formação nestas áreas é de simples amador e curioso. O meu contributo para esclarecer qualquer problema será modesto e irrelevante. Mas, dentro das limitações do que sei, não fujo à responsabilidade de pensar e de tirar conclusões. Ultimamente, tenho andado a ler R.G. Collingwood, Ciência e Filosofia, e vou tendo algumas intuições. Uma delas é que a Teoria da Evolução não seja compatível com as modernas teorias sobre a matéria. Outra é que a observação e a demonstração pela experiência deixariam de ser possíveis porque não haverá nenhuma substância natural e as chamadas leis da natureza, afinal, não o sejam . Outra ainda, que a Teoria da Evolução possa vir a ser relevante justamente na explicação da Criação, se tiver de concluir-se que o Determinismo não existe para Deus e que Deus não está sujeito a alternativas nem a escolhas.

R. R. Barcellos disse...

Eu já disse ao famoso descobridor do Polychroma Rodrigensis que a entomologia é fascinante. Está aí mais uma prova. Juntando com a beleza das orquídeas e temperando com sexo (que sempre dá ibope), resulta uma matéria super-interessante, como esta. Parabéns.

Leonel disse...

É interessante como as formas de vida supostamente "vegetativas" agem com uma espécie de inteligência que se estende por toda uma espécie.
A natureza é realmente surpreendente e maravilhosa.

Anônimo disse...

Não é Ophyr... É Ophrys.