quinta-feira, 13 de maio de 2010

O CRIACIONISMO TEM PÉS DE BARRO




Os criacionistas, em sua grande maioria, são cristãos fundamentalistas cuja premissa principal é a interpretação literal da Bíblia e a crença na sua infalibilidade. Decorre daí que, a bobajada criacionista, frente às robustas e avassaladoras provas que o evolucionismo apresenta, acabou cindindo-se em várias frentes, algumas menos intransigentes que outras, mas todas dogmáticas, ou seja, é assim, porque assim é, não há necessidade de explicar os fenômenos. Lembrando que dogma é: “Ponto fundamental e incontestável de uma doutrina religiosa, apresentado como certo e indiscutível, cuja verdade se espera que as pessoas aceitem sem questionar”. Os criacionistas mais radicais, aqueles que acreditam na verdade literal da bíblia como George Bush, por exemplo, ainda são maioria, mas há outras “escolas”, por assim dizer.

Entre as dissidências, existe aquela, cujo membro mais ilustre foi João Paulo II, a qual admite que a bíblia explica os fenômenos com parábolas e fábulas, ou seja, o livro de Gênesis das escrituras apenas adaptou a forma da criação do universo para melhor entendimento das massas. Mas a ciência explica as leis (criadas por Deus) que regem o universo, o Planeta e a vida os quais foram criados conforme as teorias vigentes, apenas existe um anterior Ser supremo – o qual não explica sua origem - que tudo comandou e tudo supervisiona nos seus mínimos detalhes. Neste caso, o “Big Bang” seria Deus, é só lembrar do “Faça-se a Luz” do Gênesis.

o Intelligent Design (Projeto Inteligente) é a aceitação de que certas características do universo e dos seres vivos são melhores explicadas por uma causa inteligente, (por um Deus que projetou certas partes dos seres vivos) e não por um processo não-direcionado como a seleção natural. Essa “seita” criacionista cunhou uma expressão tão bombástica quanto vazia: complexidade irredutível, a qual exprime a “descoberta” de certos organismos ou sistemas que, por sua complicação mecânica ou funcional, não poderiam ter evoluído por adição ou modificação de partes, pois não funcionariam, só o “pacote” pronto teria condições de operar corretamente. Para ilustrar a “complexidade irredutível” eles costumam mencionar a coagulação sanguínea e o olho dos mamíferos. Dizem ser impossível o olho ter evoluído, pois não há como existir um-quarto-de-olho, meio-olho, e assim por diante.

Acontece que a ciência já provou que o olho dos mamíferos e de outros seres evoluiu não apenas uma vez, mas dezesseis vezes independentes, em épocas e condições diferentes. Evoluiu de células sensíveis à luz até sua complexidade atual, sempre enxergando um pouco mais. Evolutivamente falando, aquele indivíduo que enxergasse um pouco mais que outro, teria mais chance de passar seus genes adiante, daí a seleção natural se encarregaria de contemplar a evolução dos que viam sempre melhor. Simples, para quem quer ver.

O fio de Ariadne que une essas ideologias criacionistas é sempre um Construtor, Uma entidade Suprema, um Deus onipotente que tudo provê; não há espaço para as leis da ciência, tão conhecidas e que funcionam tão bem em todos os níveis.

John Burdon Sanderson Haldane, um dos pilares do darwinismo moderno, conta que após uma conferência sobre evolução, foi interpelado por uma senhora descrente do evolucionismo, e deu-se o seguinte diálogo:

Senhora: Professor Haldane, mesmo levando em conta os bilhões de anos que o senhor diz estarem disponíveis para a evolução, não posso acreditar que seja possível passar de uma única célula a um complexo corpo humano, com suas trilhões de células organizadas em ossos, músculos, nervos, sistemas, órgãos como o coração que funciona sem parar por décadas, quilômetros de vasos sanguíneos e um cérebro capaz de pensar, falar e sentir.

Haldane: Mas, minha senhora, a senhora mesma fez isso. E só levou nove meses.

Por essas e outras é que o criacionismo não se sustenta nos próprios pés, até por que tem pés de barro. JAIR, San Diego, 13/05/10.

5 comentários:

Leonel disse...

Meu Amigo, eu já disse uma vez e repito: para mim, acreditar no Gênese ou no Big Bang é uma questão de fé.
E, em questões de fé, eu não tomo partido, pois não me considero um homem de fé.
Para mim, coisas como a origem do universo ou da vida estão muito além das meras especulações dos insignificantes seres que habitam esse desprezível grão de poeira cósmica.
O que conhecemos como “universo” é aquilo que os nossos sentidos podem perceber, ou trocando em miúdos, o que está ao alcance dos nossos telescópios.
Além deste alcance, só nos resta pressupor, num acesso de presunção, que só existe o nada absoluto, ou que o cosmo continua, numa sucessão de galáxias, buracos negros, quasares, pulsares e universos (quem pode imaginar o que mais?) até ao infinito.
A primeira hipótese deve agradar àqueles que gostam da idéia de que somos o centro do universo, pois nesse caso, para que colocar alguma coisa além do alcance dos nossos olhos? Afinal, o universo só existe para que possamos ter noites estreladas...
Meu autor predileto neste assunto, o já falecido astrônomo britânico Fred Hoyle abriu as cortinas cerradas da ciência para algumas alternativas, em oposição às já consagradas pelos meios acadêmicos (e por isto, foi “excomungado” pela ciência “oficial”, que também se mostrou dogmática.)
Uma delas é a possibilidade de que o que chamamos de “universo” seja apenas parte de uma “bolha”, um vacúolo que determina o limite onde seriam válidas as leis físicas que conhecemos. Em outras palavras, podemos estar habitando uma área de singularidade, em meio a uma imensidão onde a matéria e a energia se comportam de outra forma, as radiações se propagam de maneira diferente e as interações são regidas por outros princípios.
Isto significa que estamos aqui a discutir algo fora do nosso alcance.
Respeito todas as opiniões, inclusive a dos que tem fé nas suas teorias, mas vejo o debate sobre as origens do “universo” e da vida com a mesma seriedade com que vejo a questão do sexo dos anjos.
Apenas um exercício de esgotamento mental...

R. R. Barcellos disse...

Jair,
- Se Deus pudesse ser colocado sob as lentes de um microscópio, não seria Deus.
- Se a Ciência aceitasse passivamente o discurso dos Criacionistas, não seria Ciência.
- O divórcio entre Religião e Ciência foi selado quando duas esferas de pesos diferentes chegaram juntas ao solo, a poucos metros da Torre de Pisa. Ali, uma se rendeu à fé e outra se entregou ao empirismo - o método experimental.
- Eu fico em cima do muro. Daqui tenho uma boa visão dos dois lados - mas também levo tiro de ambos.
- Se sobreviver, reportarei o resultado de minhas observações.
- Abraços.

Carlos Ricardo Soares disse...

Qualquer teoria só serve para confundir se for mal interpretada. As mentes cientificamente escrupulosas têm noção dos limites do conhecimento e não se deixam arrebatar por triunfos irracionais. O conhecimento científico em si mesmo nem é bom nem é mau, nem é alegre, nem triste. Mas constatamos que é usado, nem sempre honestamente, com estranho e doentio entusiasmo, sobretudo por quem não o domina. Não há clubismo só no futebol.
Estranho sempre que se pretenda aludir às teorias evolucionistas como se elas fossem alguma teoria sobre o Big Bang, ou sobre o Genesis, ou sobre Deus. Como estranho que haja quem fale em criacionismo como teoria incompatível com evolucionismo.
Mas o mais estranho de tudo é vermos como se utiliza o slogan evolucionismo para o identificar com negação de Deus. Parece que o interesse não está na teoria da evolução ou na ciência (que não se ocupa de Deus, mas da natureza).

Joel disse...

Jair. No polêmico livro "Deus, Um Delírio" de Richard Dawkins, o autor investe contra o fundamento básico de toda e qualquer religião. Dawkins argumenta que a existência de Deus (ou Alá) é cientificamente improvável e que crer Nele não é só inutil e supérfluo, mas tbm prejudicial. É só ligar a TV nos noticiários diários para constatar os ataques terroristas com motivações religiosas. De acordo com autor, ninguém precisa de Deus para ter pricípios morais, fazer o bem, ou apreciar a natureza.
Já Christopher Hitchens, autor de "Deus Não é Grande" seguindo as tradições dos polemistas britanicos, não abre mão da fina ironia e pergunta: Se Jesus podia curar um cego, pq não a cegueira?

Jair disse...

Joel,
Fico contente que você tenha lido ambos os livros, e mais contente ainda porque sacou a essência de ambos. Parabéns.