quinta-feira, 1 de abril de 2010

A SAGA DA FIDELIDADE




Publiquei um texto “A fidelidade” do qual extraí este trecho: Sobre as ‘grandes palavras’ do vernáculo como: amor, ódio, esperança, virtude, honestidade, patriotismo etc, sempre podemos encontrar exemplos edificantes na história da humanidade, mas, para fidelidade nada, ninguém, nenhuma coisa, nenhum bicho, nenhum homem encarna tão perfeitamente e com tanta justiça o significado dela como o Cão”.

É sobre essa virtude canina elevada ao mais alto grau que trata este texto, baseado em notícias de jornais do Oregon da época. Em agosto de 1923, o collie Bobbie perdeu-se de seus donos enquanto estes viajavam por Indiana, EUA. O cão e a família Smith viviam no Oregon, estado situado a distância de 3700 quilômetros. Em fevereiro de 1924, ou seja, quase cinco meses depois, Bobbie pulou na cama onde seu dono dormia e lambeu-lhe alegremente o rosto. Ele estava esquelético, com as patas tão machucadas que era possível ver os ossos através das almofadas, mas sobrevivera. A Sociedade Humanitária do Oregon acabou rastreando, através de testemunhas, a rota percorrida pelo bicho, e descobriu que ele havia viajado quase cinco mil quilômetros para chegar em casa. O cachorro havia cruzado as Montanhas Rochosas, atravessado o rio Missouri e até mesmo dividido um cozido com legumes com um bando de mendigos, na sua saga. Deduziu-se que Bobbie caçava e comia coelhos, - hábito que ele adquiriu quando vivia com seus donos - e conseguiu evitar a morte certa por ter fugido da carrocinha em pelo menos duas cidades. O mais espantoso, é que no decorrer de sua jornada, não seguiu exatamente a rota que seus donos haviam feito, mas, ao invés disso, atravessou territórios que nunca vira antes, e dos quais não possuía conhecimento algum. Acabou sendo homenageado com uma coleira de ouro simbólica pela sua façanha, e nunca mais se separou de sua família.

Histórias como esta existem às centenas, quase sempre não comprovadas mas, de qualquer forma, interessantes e com certo mistério a ser resolvido. Como os animais conseguem orientar-se nesses deslocamentos? Há quem acredite que animais, mais que humanos até, possuem uma percepção extra-sensorial. Os mais céticos, como eu, admitem que os animais, sejam domésticos ou não, têm uma capacidade de orientação geral, uma espécie tosca de GPS orgânico que se guia pelo sol ou pelas linhas magnéticas da Terra, do tipo: “desloquei-me para direita donde me encontrava, logo, para voltar, tenho que andar para a esquerda”. Feito isso, o bicho vai, grosso modo, no sentido que deve e, por tentativa e erro, acaba chegando em região conhecida, que, geralmente é onde os cheiros lhes são familiares, daí é só “fazer sintonia fina” e achar o local onde mora. E o que o move, o que determina sua vontade de chegar é a fidelidade que dedica a seu dono.

Para ilustrar, uma experiência própria: Quando eu tinha uns doze anos, lá na minha Palmeira natal, recebi a incumbência de abandonar um gato de minha mãe que supostamente estava comendo pintinhos de uma vizinha. Essa história de comer pintinhos não estava bem contada porque o gato gostava mesmo de camundongos, e degustava também lagartixas e até cobras de pequeno porte que encontrava pelas redondezas. Não obstante, lá fui eu, com uma caixa de papelão na garupa da bicicleta onde havia colocado o assustado bichano. Pedalei até onde estava sendo construída uma estrada nos arredores da cidade e, considerando que estava “longe” de casa, soltei o animalzinho. Ele escafedeu-se, ganhou umas moitas de guanxuma ali perto e sumiu, não mais o vi. De volta para casa, pedalando calmamente, fui informar que havia cumprido a missão. Ao chegar, para espanto de todos, lá estava o gato alegre e cheio de saúde lambendo-se todo, sem aparentar qualquer trauma ou desconforto. Pela esperteza, o bicho deixou de ser punido novamente e, para felicidade de todos, não mais almoçou os pintinhos. Provavelmente o meu “longe” era apenas o quintal da casa do felino, daí ele ter voltado com tanta facilidade. Neste caso, a fidelidade do animal seria apenas ao lugar no qual encontrava abrigo e alimento e não a seus donos. JAIR, Floripa, 28/03/10.

6 comentários:

Julimar Murat disse...

Usando o amor e a humildade, no clima do serviço incessante, encontraremos, cada dia, mil recursos de recomeçar a nossa jornada, com bases no Infinito Bem.

Uma feliz Páscoa
Muita luz sempre

Julimar

R. R. Barcellos disse...

"Semper Fidelis". O moto dos Marines foi roubado do nosso melhor amigo - aquele que nos adota, mesmo quando nós nos achamos seus "donos"...
Boa Páscoa, Jair. Um abraço.

Saulo disse...

Outros textos excelentes: 2xCães(pastores e errantes via gps) Nunismática (monarca e dólar de guerra) e primeira contribuição direta sobre política atual brasileira...choro do governador do Rio com carbono 14.
Porém como estes animais/cachorros chegam aos lugares desconhecidos e longa distância???? Pois não estão voltando ao seu habitat/lar??? Seria a fidelidade aliada a sorte provinda de uma probabilidade estatística??? Pois este número é relativamente pequeno mesmo (seja por cento ou por mil ou por milhão). Mas que é inexplicável pela atual lógica isto é.
Valeu
Feliz Páscoa e Ótimo Feriadão!!!!
Saulo

Sydney disse...

Oi Jair
Gostei de seu artigo sobre fidelidade dos animais. Eu tenho uma gata que já foi deportada 3 vezes e que retornou. A distancia era de 5 a 6 km. Acontece que ela vem até a Vila mas não fica com o antigo dono. Quica escolheu minha casa para viver e está aqui há quase 2 anos.
Boa Páscoa para vocês
Beijos
Sydney

Leonel disse...

Eu não sei porque este preconceito contra os gatos. Dizem sempre que o cachorrro é fiel aos donos, enquanto o gato procura apenas o lugar onde tem abrigo e comida.
Lá pelo final dos anos 50, em Porto Alegre, um gato muito caçador de ratos que era de minha irmã cometeu o crime de "roubar' uma bisnaga de patê, abandonada em uma mesa após o café da tarde, sendo por isto condenado ao exílio.
Assim o pobre felino, sem nada entender, foi colocado em um saco e levado por um tio meu que dirigia um caminhão pelas estradas gaúchas, a serviço do governo estadual. O bichinho foi libertado em uma estrada nos srredores de uma cidade vizinha. Mas, cinco dias depois, reapareceu, faminto e sujo. seus miados foram ouvidos de longe por sua dona, que o acolheu nos braços. Em vista da sua façanha, foi perdoado e ficou conosco mais alguns anos até ser mais uma vez vítima da maldade humana, ao ser envenenado por uma bola de carne colocada para matar cães de rua, hábito comum em Barra do Ribeiro, onde foramos morar.
Apesar dos temperamentos bem diferente, cães e gatos são animais muito amigos e inocentes, incapazes de maldade, ao contrário dos seres humanos.

JAIRCLOPES disse...

Leonel, acredito que depois da "cachorrada" que nós donos fizemos com o gato ele não tinha porquê continuar fiel a nós, daí eu dizer que ele retornou por fidelidade ao local em que vivia. Abraços, JAIR.