sábado, 12 de dezembro de 2009

O UNIVERSO À MINHA PORTA

As cidades brasileiras costumam ser caóticas, não obedecem uma lógica que facilite a vida do citadino, não são planejadas de modo a tornar a vida do homo urbanus fluida, racional. Há todo um emaranhado de bairros, ruas, logradouros, avenidas, viadutos, quadras, parques, praças, distritos e centros disso ou daquilo, distribuídos sem qualquer ordem perceptível. Bairros residenciais e centros ou ruas comerciais de produtos e serviços se misturam e intercalam numa incoerência de fazer inveja ao mais caótico mercado persa. Alguns aglomerados urbanos modernos como Brasília, por exemplo, tentam suprir essa falta de ordem constituindo áreas residenciais dotadas de acesso fácil aos serviços que a vida diária necessita. Mas tais cidades são exceção, a maioria continua uma bagunça generalizada. Contudo, essa falta organização pode ter um lado bom também, pode trazer facilitação para quem reside num centro mal enjambrado desses. Resido num bairro de Floripa que, como todo sítio urbano mais antigo, foi crescendo tendo um “comércio” como núcleo, donde foram irradiando ruas, vielas, avenidas e servidões com seus moradores em casas, apartamentos e pequenas chácaras. Ainda mais por se tratar de bairro situado no continente e “separado” do corpo principal da cidade que fica na ilha, o Estreito foi obrigado a se tornar auto-suficiente. Com o natural crescimento populacional e a consequente diversificação de demanda, a tendência foi a substituição de casas térreas e chácaras com seus extensos terrenos, por edifícios de apartamentos, ao mesmo tempo em que o comércio robustecia em variedade e quantidade. Foi assim que surgiu o edifício onde resido, o qual foi erigido no local onde antes era uma pequena chácara, propriedade de família tradicional no bairro. Quis a falta de planejamento urbano que o prédio surgisse no que se convencionou chamar “coração” do bairro. Assim, me vejo tão próximo aos serviços necessários à vida diária, que nem sequer necessito usar carro para locomoção, este permanece na garagem por dias, o mais das vezes, saindo de lá só quando o objeto a ser transportado é grande ou pesado demais.

Sem necessitar atravessar a rua tenho acesso a tantos serviços e bens que até fica difícil enumerá-los. Vejamos, estão disponíveis no quarteirão que resido as seguintes facilidades: Duas oficinas de carros,
uma igreja, um hotel, loja de celulares, chaveiro, peixaria, oficina de eletrodomésticos, salão de beleza, um banco, academia de ginástica, consultório de dentista, um pequeno restaurante, venda de máquinas de café, serviço de confecção de vídeos, estofaria e loja de acessórios marítimos. Vejam bem, nem sequer atravessei a rua e já posso cuidar da saúde bucal, das finanças, da alma, do corpo e de algumas necessidades domésticas e da mecânica do carro. Se me dignar a atravessar apenas uma única rua daí o universo se multiplica de modo extraordinário:
Farmácias, relojoarias, laboratório de análises clínicas, duas barbearias, outros restaurantes, outros bancos, empréstimo de dinheiro, loja de roupas, três bares e café, dois pontos de jogo do bicho, loja de móveis, um sebo, outra venda de celulares, atacado de utilidades domésticas, loja de bijuterias e outra estofaria. Além de uma grande loja de decoração e uma de roupas usadas, padaria, venda de artigos de umbanda, conserto de calçados, floricultura, um grande academia de ginástica, imobiliária e alguns outros serviços não computados. E atravessei apenas UMA rua, mas, se resolver andar cinco minutos a pé, praticamente todas as necessidades básicas estão ao alcance das mãos:


Três supermercados, pet shop, vários salões de beleza, mercado de frutas e legumes, várias lojas de calçados e muitas de móveis, algumas mais de roupas, dez bancos, ferragens, presentes, lanchonetes, bancas de revistas, vários pontos de bicho, materiais de construção, loja de próteses humanas, livraria e papelaria. Para finalizar, loja que vende tecido em metro, três farmácias, doces e chocolates, embalagens, quatro concessionárias de automóveis, treze restaurantes, uma churrascaria, correio, escola estadual, escola de informática, escola de dança, mais três igrejas, quatro clínicas médicas e muitos outros serviços, como advogados, contadores, cartório, pequeno shopping com sessenta lojas e até fórum de justiça. É um universo à minha porta, variado e nada desprezível. Quem aqui vive foi beneficiado com a desorganização reinante em nossas urbes, de modo que reside numa concentração anormal de meios, surgidos a partir de um núcleo inicial despretensioso, imagino. Costumo dizer, brincando, que a única coisa que aqui não está presente é um boliche, mas, para desmentir essa afirmação, descobri que a cinco minutos de carro existe uma casa de boliche sim. Daí, parece que o universo está completo, nada falta que se faça notar. JAIR, Floripa, 03/12/09.

3 comentários:

Leonel disse...

É, Jair eu o invejo, pois apesar de morar em um bairro residencial tão tranquilo que nem parece estar no Rio de Janeiro, fora do alcance de tiro e de visão de qualquer favela, existe apenas um mercadinho a uns 800 m da minha casa e nenhum outro comércio que eu possa alcançar sem pegar o carro!

Amélia Ribeiro disse...

Olá Jair!

Em primeiro lugar tenho que pedir perdão pela minha ausencia, mas é um AMOR imenso que me retém..., nada mais que o amor que dedico ao meu sogro que está prestes a despedir-se de mim...!

Espero, de coração, que entenda!

Que neste Natal, nem que seja por um momento, as pessoas acreditem que vale a pena transformar cada lágrima num sorriso, a amargura em alegria e cada coração numa casa aberta para receber a todos, especialmente os mais frágeis.
Então sim, vale a pena viver um Ano Novo!

Feliz Natal junto dos que mais amas, com muita Saúde, e uma vida cheia de pequenos momentos…!

Um beijo!

ALMA INQUIETA

Augusto Ouriques Lopes disse...

A loja de materiais de umbanda parece uma loja interessantíssima, e digo sem sarcasmno algum pois aqui nos EUA disso não encontro.