segunda-feira, 13 de junho de 2011

O futuro do homem



Há cerca de três milhões de anos numa savana cortada por rios semi perenes, no nordeste da África, onde hoje se situa o Quênia, Etiópia e Somália, um primata humanóide bípede pegou um seixo de basalto, e com alguns golpes habilidosos com outra pedra, transformou-o num implemento afiado capaz de cortar com certa facilidade madeira, couro e carne de animais mortos. O que fora apenas uma entre milhões de pedras indefiníveis umas das outras, era agora uma ferramenta capaz de transformar objetos e “coisas” em favor do ser inteligente que a criou. Estava inaugurada a tecnologia. Abandonado pelo seu criador, esse objeto de pedra ainda existe, junto com milhares de outros, no Museu Nacional do Quênia em Nairobi. É um elo inquestionável entre nossos ancestrais Homo habilis e nós, Homo sapiens. É instigante imaginar que as mãos que podem segurar hoje essa peça e a mente que pode admirá-la, partilhem da mesma herança genética das mãos que a confeccionaram e da mente que a concebeu.
A busca pela origem do homem excita paleontólogos e arqueologistas, mas afeta a todos nós, profissionais ou não, porque parece existir uma curiosidade atávica que nos impele a conhecer quem somos e de onde viemos. Sem essa curiosidade, certamente as ciências da paleontologia, arqueologia e antropologia não teriam razão para existir. A pergunta pertinente que inquieta a mente do homem moderno é saber como um ser pensante, sensível e cultural como nós, emergiu de um tronco primitivo, humanóide, quase macaco. Quais foram os ambientes e as circunstâncias que impulsionaram esse antigo antropóide na direção do homem alto, inteligente, articulado e pretensioso, que através da tecnologia e criatividade veio ocupar todos os cantos habitáveis do Planeta? Não é uma pergunta inconseqüente, uma indagação vazia de conteúdo, porque a chave para o futuro da humanidade reside no entendimento real do animal que somos. Porque, apesar de nossa pretensão, somos apenas isso: animais.
É razoável supor que desde que os primeiros lampejos de autoconsciência piscaram nas mentes dos nossos ancestrais distantes, o homem tem refletido sobre sua relação com o mundo que o cerca; com o Planeta no qual vive; e até sua relação com o Universo. Assim, podemos inferir que os primeiros Homo, há um milhão de anos atrás, tenham tido consciência de si mesmos como parte integrante da natureza, como pertencentes a algo maior que não só suas tribos e clãs; o fato de serem caçadores coletores que sobreviveriam somente se respeitassem o mundo no qual estavam inseridos. Mesmo assim, eles já poderiam ter iniciado a antiqüíssima prática da lei de Gérson que procura levar vantagem em detrimento dos demais seres vegetais e animais que lhes estavam ao alcance. Com o passar do tempo surgiu o homem moderno – Homo sapiens – criatura que, sendo observada por um extraterrestre deve parecer extremamente perversa, destruidora. À diferença dos outros animais, guerreamos entre nós mesmos. Apesar de inteligentes e com discernimento elevado, exploramos os recursos não renováveis do Planeta e nos comportamos como se essa destruição sistemática possa se estender para sempre sem consequências funestas. Ó inocência eivada de egocentrismo! Praticamente em qualquer sentido que se queira, são os humanos que baralham e dão as cartas nesse jogo com a natureza, contudo, parecemos cegos para os desmandos e atrocidades que cometemos no simples ato de sobreviver. Será isso necessário? Um observador alienígena perceberia nosso domínio sobre a natureza, mas poderia perguntar: Serão insanos?
Se não somos loucos – e, naturalmente, achamos que não somos – porque então essa corrida amoque para a autodestruição? Talvez a raça humana seja apenas um terrível erro evolutivo, uma espécie de beco sem saída que não terá futuro; uma espécie que não deu certo e desaparecerá em pouco tempo da face deste planetinha azul. Há provas incontestáveis que na história da Terra já houve quatro ou cinco ocasiões em que os seres vivos foram exterminados na sua quase totalidade, forças desconhecidas por nós atuaram de forma que em poucos milhares de anos, a flora e fauna sofreram revezes brutais e quase desapareceram. Nenhuma dessas extinções aconteceu depois que o homem surgiu no Planeta, a última foi há 65 milhões de anos e acabou com os dinossauros que haviam dominado a Terra por mais de 150 milhões de anos. Os bichos não tinham jogo de cintura, não conseguiram se adaptar às condições modificadas por um asteróide que se chocou com a região onde hoje se encontra o golfo do México.
Na sequência, não se pode descartar a possibilidade de outra extinção em algum ponto do futuro, mas como se dará ela? Não sabemos e talvez jamais venhamos a saber, mas como a estultice não uma das nossas mais sólidas vocações, temos a obrigação de perceber que estamos contribuindo tenazmente para a próxima aniquilação. Aquela que destruirá o que chamamos de civilização e fará os poucos sobreviventes voltarem ao paleolítico onde, provavelmente, terão que adquirir novamente a habilidade de fazer artefatos de pedra como aqueles dos nossos ancestrais.
Então, considerando a inteligência e o discernimento humanos, torna-se obrigatória a conscientização de nossos atos e a aceitação das consequências, ou seja, cabe a nós, e apenas a nós mesmos, aceitar que somos os responsáveis pelo futuro da humanidade e tornar ele possível através de nossas atitudes. O resto é fogo fátuo. JAIR, Floripa, 21/04/11.

4 comentários:

Adri disse...

O fato que guerreamos, nao nos faz diferente de outros animais, pois brigas territoriais sao comportamentos naturais da maiorias das especies.. Bem, acho que uma das virtudes do ser humano seria a 'fome' para sobreviver… A humanidade ainda nao chegou ao ponto do "beco sem saida"… pois nos ainda estamos evoluindo e tudo mais, mas estamos perto do momento que teremos que nos adaptar a sustentabilidade da natureza para a nossa propria sobrevivencia… Mesmo sabendo que estamos destruindo nosso proprio ambiente, e que o rumo atual que estamos seguindo nao nos paressam promisorios… esta "ERA" acredito que seja uma fase importante para nosso futuro e indispensavel para a nossa propria sobrevievencia e sustentabilidade da nossa natureza … Mas claro que varias especies da natureza atual nao vao sobreviver e com certeza perderemos uma grande parte de nossa propria populacao… Mas a evolucao funciona assim mesmo…

R. R. Barcellos disse...

- Acho que nesse processo de autodestruição há um ponto crítico - o famoso "point of no return" - que, uma vez ultrapassado, torna inevitável o desastre total. Além dele, não haverá freios suficientes para parar o trem antes do despenhadeiro. Alguém sabe onde fica esse ponto?
- Abraços, amigo.

Leonel disse...

Jair, os ETs que porventura observarem o homem, como tu propusestes, sem dúvida deverão se surprender com a contradição desta espécie, que diferenciando-se dos outros animais justamente por ser dotado de consciência de si mesmo, age com total inconsequência, sem se preocupar absolutamente com as consequências das suas ações.
Mas, com relação à evolução humana, hoje sei com certeza absoluta que ela ocorreu devido a intervenção de um monólito negro que foi inserido no seu meio ambiente por uma civilização avançada que por aqui passou, quando os homens eram apenas mais uma espécie entre tantos primatas.
E que esta civilização terá seu ciclo vencido em 16 de outubro de 2155, quando a Terra sofrerá o impacto de um asteróide que atingirá o Golfo do México.
E na próxima era geológica, determinada pelo impacto, haverá outra "civilização", composta por colônias de baratas sapiens!
Sinto pela humanidade, mas tudo que tem começo, tem fim!
Abraços, Amigo!

JAIRCLOPES disse...

Leonel,
Obrigado pelo adendo. Eu já suspeitava desse asteroide, só não sabia a data da colisão, agora sei.