sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Sobre oceanos


Somente o fato de que uma superfície tão grande de nosso Planeta esteja recoberta de água torna possível a existência de vida. Contudo, na opinião da maioria dos biologistas, os oceanos são a parte da biosfera mais imediatamente ameaçada.

Foi nos oceanos, cerca de 4 bilhões de anos atrás, depois de seculares chuvas iniciais, onde a vida iniciou, protegida pelas águas da mortal radiação solar que, naquele tempo, não tinha que atravessar o obstáculo da atmosfera protetora hoje existente. Foi nos oceanos que surgiram as plantas e os animais que acabaram colonizando as terras secas que formavam os continentes. São os oceanos que hoje suprem o vapor d’água que, depois de formarem nuvens, acabam caindo como chuva, possibilitando as colheitas que dão suporte à vida do Homo sapiens. As águas dos oceanos constituem o sistema de filtragem de nosso Planeta, onde todos os detritos, tanto os produzidos pela civilização como os arrastados pelas enchentes e rios, são dissolvidos, decompostos e transformados em substâncias mantenedoras da vida. As imensas massas de água são o escoadouro universal global, um vasto tanque séptico que devolve limpa a água à biosfera, graças à evaporação e à precipitação. São os maiores fornecedores de oxigênio liberado pelo fitoplancto, liberado para benefício de todas as criaturas terrestres, aéreas e aquáticas que respiram por meio de pulmões e brânquias. Ainda que Jaques Cousteau tenha alertado que dentro de quarenta anos não mais existirão pescados comerciais nos oceanos. Sem as qualidades especiais da água para reter calor, grande parte da superfície da Terra seria inabitável. Os oceanos são os refrigeradores das regiões tropicais, os transportadores das correntes quentes para as regiões frias e os moderadores indiscutíveis da temperatura por todo o globo.

Os oceanos são indispensáveis para a humanidade, mais até, para a civilização, aliás, para fazer justiça, o planeta deveria se chamar Oceano. Para o bem ou para o mal, foram os primeiros a disponibilizar “estradas” que permitiram as correntes mundiais de comércio marítimo, que desde as primeiras navegações a partir do século quinze têm conduzido o homem a um sistema de comércio e de interações culturais impossíveis de serem sequer concebidos anteriormente. E ainda produzem para a crescente população do globo uma fonte de proteínas indispensáveis. Contudo, por incúria ou por cegueira mesmo, os homens não dispensam o cuidado necessário á conservação dessa magnífica fonte de vida.

De fato, o Homo ainda se encontra sobre a influência nefasta do conceito medieval de um oceano infinito. A humanidade de forma geral acredita que, uma vez que um rio poluído se descarrega no mar aberto, ou, se conduzirmos os sistemas de esgotos suficientemente longe da terra, todas as descargas industriais e domésticas desaparecerão de alguma forma na imensidão azul que se estende além do horizonte, como se as tivéssemos removido do próprio Planeta. Ao concebermos essa estultice assombrosa, parecemos esquecer, que o mundo é redondo e sem beiradas. Pelo que sabemos, os únicos detritos que o homem já eliminou do Planeta, foram os restos das naves que ficaram na lua, em marte e as naves Pionner que se foram para fora do sistema solar. Até os satélites e estações espaciais que orbitam por aí um dia retornarão à nossa biosfera. Cada grama até agora descarregado e ou canalizado para o mar, desde o amanhecer dos tempos até a idade moderna da industrialização geral, acumulou-se, de um jeito ou doutro, dentro desse mesmo mar encerrado na Terra, essa parte mais baixa da biosfera, e a única entidade que não pode descarregar suas frustrações e humores em alguma outra. De pé na praia, contemplando o horizonte onde o azul do mar se confunde com o azul do céu é inconcebível que não compreendamos completamente as mensagens dos incontáveis navegantes que cruzam o oceano de um continente a outro, ou dos astronautas que vêem o Planeta lá de cima, testemunhando que o oceano não tem caráter infinito que o poeta lhe atribui em seus sonhos, e que o homem civilizado julga em suas ações deletérias.

E são precisamente as águas costeiras e dos estuários as que estão se tornando cada vez menos úteis para os seres humanos. O derramamento de petróleo no Golfo do México este ano pela British Petroleum é um exemplo desse perigo que correm nossas águas costeiras. Apesar do assombro que o homem possa sentir ante a majestade e magnificência das paisagens marinhas, continua tratando o oceano como uma cloaca gigante. Na maioria dos países existem grandes concentrações de população junto ao mar. Uma grande parte do esgoto doméstico é simplesmente jogado “in natura” no mar. O emissário submarino da zona sul do Rio de Janeiro é um perverso exemplo dessa negligência. Conforme os ventos predominantes e as correntes marinhas, os dejetos dos habitantes daqueles populosos bairros vêm disputar espaço com os banhistas nas areias famosas e infestadas de turistas.

Fica aqui mais um grito de alerta no deserto: A estratégia mais aceitável para o nosso querido Planeta Azul deve levar em consideração o fato de que o recurso natural mais ameaçado pela poluição, mais exposto à degradação, mais propenso a sofrer um dano irreversível, não é esta ou aquela espécie; não é esta ou aquela planta ou bioma, ou habitat, nem mesmo a atmosfera ou os oceanos. É o próprio homem. JAIR, Floripa, 17/12/10.

4 comentários:

R. R. Barcellos disse...

- Brilhante, Jair. Há momentos em que você suplanta sua própria genialidade, e esse é um deles. Arrisco dizer que sua sensibilidade foi aguçada pelas suas lembranças de praias límpidas e águas transparentes do passado... como aconteceu comigo ao ler seu texto - que poderia estar dentro de uma garrafa, à mercê das ondas, como um verdadeiro S.O.S. de um planeta náufrago que é...
- Sinto saudades das praias de Icaraí, S. Francisco, Charitas, Jurujuba, Boa Viagem... elas ainda estão nos mesmos lugares, mas estão doentes... dá pena - e dá raiva!
- Abraços e parabéns!

Leonel disse...

Mais um alerta, para se somar aos diversos que você vem divulgando.
Os oceanos não só contém vida como também são vivos, e as correntes marítimas tem influências fundamentais no clima e nas espécies que habitam as águas.
As vias aquáticas são o sangue de Gaia, que limpa e renova os sustentáculos da vida, incluindo a desses porquinhos irresponsáveis chamados homens!
Excelente "trambonada", Jair!

Anônimo disse...

Via de regra quanto mais pura, mais balanceada, enfim mais natural a água do mar, mais coloridos os corais são. Então uma das provas de que os oceanos estão bastante poluidos em geral é o branqueamento dos corais ao redor do mundo. Triste.
Gus

Mariza disse...

Passando para desejar um Lindo e Alegre Natal,

Há de ser o Natal um grande momento de paz. Há de ser o Ano Novo um tempo de amor. Que a paz, o amor e a harmonia permaneçam em seus corações

beijos
Mariza