sábado, 6 de fevereiro de 2010

UM BICHO MUITO ESTRANHO


Em outras ocasiões já publiquei aqui argumentos que mostram como o bicho homem é fisicamente frágil e meio tolo, e que, sua predominância no Planeta se deve apenas ao sacrifício do ambiente e de todos os outros seres para sua exclusiva vantagem. As estratégias de sobrevivência do Homo sapiens funcionam no curto prazo, mas são no mínimo danosas, para não dizer fatais, a prazo mais longo. Já, bactérias, por exemplo, têm estratégias extremamente bem sucedidas e, supõem-se, pouco perversas ao ambiente, pois elas aqui estão há pelo menos três bilhões de anos e não há indícios que estejam em vias de extinção. Não se pode dizer o mesmo do frágil primata sem pelos. Calcula-se que o peso total da biomassa das bactérias é superior a de todos os seres vivos do Planeta e, naturalmente, isso se deve a “inteligência” de sobrevivência desses organismos tão desprezados.
É de minha autoria a frase: “
No homem, maior que a ignorância só a presunção”. Comparei, inclusive, o homem a um vírus cuja única maneira de sobreviver é dentro de uma célula viva, e que, no entanto, mata a célula em que vive. O homem mata o Planeta que é o meio necessário para perpetuar sua espécie, e também costuma “criar” monstros ficcionais, tipo “Allien, o oitavo passageiro”, que são indestrutíveis, são animais definitivos.
Agora vou mostrar um desses bichos extremos não ficcionais, um animal muito pequeno que é um sobrevivente na acepção da palavra.
Trata-se do tardígrado. Identificado pelo cientista alemão J. A. E. Goeze, em 1773, é até hoje considerado o organismo multicelular mais estranho jamais encontrado. Geralmente chamado de “urso-d’água”, bichinho o qual não é maior que um ponto no final do parágrafo, - provando que o menor nem sempre é o menos complexo - tem cinco segmentos corporais, quatro pares de pernas com garras e uma única gônada, lembrando: gônadas é o nome que se dá as glândulas produtoras de gametas: ovário nas mulheres e testículos nos homens, produtores de óvulos e espermatozóides.
Como se vê pela foto, o animal não é nem de longe um campeão de beleza. Também tem um cérebro multilobado, sistema digestivo e nervoso e sexos separados. Foram descobertas centenas de espécies distintas de tardígrados, mas devem existir centenas de outras a serem, ainda, descobertas. Eles já foram encontrados fossilizados em âmbar de 100 milhões de anos, portanto podem ser considerados uma das formas de vida mais antigas e bem sucedidas da Terra. Talvez só mãe possa amar esse artrópode de aspecto meio sinistro e intimidador, mas ele merece todo nosso respeito e admiração por causa de sua inigualável capacidade de adaptação.

Os tardígrados sobrevivem em todas as zonas climáticas, do ártico às florestas de -185 a 150°C e pressões desde o vácuo até mil atmosferas. Estas variações são maiores que as mais radicais temperaturas da Terra, desde o dia mais frio de inverno na Antártida até o mais quente dos dias no Vale da Morte; maiores que variações de pressão da montanha mais alta até a parte mais profunda do leito do oceano. E mais, os tardígrados são capazes de suportar mil vezes a dose de radiação que mataria um ser humano.

Em condições extremas, os tardígrados são conhecidos por entrarem em estado de vida suspensa seca, por congelamento, chamada criptobiose. O bichinho forma um exterior ceroso e duro chamado tonel, que o torna impermeável aos elementos. Ele sobrevive dessa maneira por décadas depois se reanima. Os tonéis são tão leves que, com o animal dentro, podem ser transportados pelo vento por longas distâncias, permitindo que o tardígrado colonize praticamente todo o globo terrestre.
Na acepção da palavra, os tardígrados não são considerados extremófilos – animais que só se desenvolvem em condições extremas e não sobrevivem em ambientes ditos normais – porque não se desenvolvem de modo natural em condições impossíveis: eles simplesmente são capazes de sobreviver nesses ambientes por algum tempo. O tardígrado é um bicho otimista, está sempre esperando por algo melhor. Os cientistas estão estudando o mecanismo da criptobiose porque ele pode levar a estratégias para postergarmos a nossa morte. Também, a vida suspensa deve ser pensada a sério se queremos, um dia, viajar para mundos distantes. JAIR, Floripa, 04/02/10.

4 comentários:

► JOTA ENE ◄ disse...

ººº
Estranhissimo...

R. R. Barcellos disse...

Eta, bicho feio! Parece um astronauta dentro de um casulo para missões extra-veiculares. Não admira que resista ao vácuo, ao frio etc. Ele tem um predaor natural?

Leonel disse...

Amigo, a estratégia de sobrevivência de alguns desses minúsculos seres também às vezes nos causa alergias e outras doenças.
Já a nossa tem as suas consequências numa escala volumétrica bem maior.
Mas, que diabo de bichinho bem feio!

Chá das Cinco disse...

Sempre que venho aqui levo histórias para contar.
Passarei adiante o que eu aprendi hoje.
Bjs de Gê