Uma das mais aceitas definições de vida estabelece que viver é sentir o mundo a sua volta, é interagir com as coisas, pessoas, animais, fenômenos e eventos quem compõe o universo no qual estamos inseridos. Essas definições sempre envolvem a conexão do indivíduo com o ambiente através dos sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato, nada mais. E, claro, visto que é exatamente essa interação que nos permite agir sobre e sentir a ação do ambiente sobre nós, não há qualquer dúvida: quem sente vive e, obviamente, quem vive está sentindo. Uma pedra, por exemplo, de acordo com esse conceito, não vive, não interage com o ambiente, não atua sobre ele e não consta que um odor, uma luz ou um som façam-na reagir. Pelo menos não neste Planeta, e não num espaço temporal humanamente perceptível. Uma pedra apenas ocupa um lugar no tempo e no espaço. É normal no “nosso” ambiente, concebermos possível o mundo somente se todos os sentidos estiverem envolvidos nas percepções, ao faltar um ou mais sentidos ao indivíduo é comum sentirmos pena e o classificarmos de deficiente auditivo ou visual, por exemplo. O que deve ser constrangedor para quem sofre a discriminação e que, além disso, tem que compartilhar seu mundo “limitado” com mundo “amplo” das pessoas que o cercam. No meu entender, dispor de menos sentidos para perceber o mundo não diminui o contato, não limita o alcance ou a intensidade da percepção, muda apenas o modo de fazê-lo. Façamos um exercício de fantasia, imaginemos um mundo sem sons, sem luz, sem formas, sem variações de temperatura e sem gosto. Como é apenas produto de nossa imaginação, podemos concebê-lo dessa forma e acrescentar que os odores mais variados ainda existiriam. O vento traria do mar, das matas e dos desertos os aromas mais diversos, misturados com cheiro de gasolina, terra molhada, grama recém aparada, flores murchas, pão fresquinho, borracha aquecida, casca de árvore, ferro fundido, tinta velha, vapor de cozinha, lixo industrial, oxidação e mil outros cheiros eloquentes e expressivos. Ainda assim haveria vida, ainda assim seria um mundo de elevado interesse, mesmo porque, suprimidos os outros estímulos sensoriais, os perfumes e eflúvios se tornariam mais eminentes e importantes. Equivale dizer que a ausência de estímulos aos outros sentidos concentraria nossa atenção no olfato de forma a torná-lo extremamente exacerbado, e, desse modo, assumir o valor de todos os sentidos somados. Arrisco-me a dizer que a vida continuaria tão rica, notável e diversificada como antes e ainda digna de ser desfrutada tão intensamente e de forma tão prazerosa como se todos os sentidos estivessem envolvidos no processo. Enxergaríamos e ouviríamos tudo a nossa volta com o olfato agudo, nada deixando de usufruir da vida. O olfato nos criaria um quadro mental tridimensional de tal sorte vivo e diverso que seríamos seres vivendo uma existência perfeitamente normal. JAIR, Floripa, 25/10/09.
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Um comentário:
Jair!
Muito interessante suas reflexões sobre a plenitude da vida...Convivi de certa forma ocasionalmente com os deficientes auditivos, principalmente em campeonatos esportivos, e a galera mais sorridente e a felicidade estampada no semblante destes ,comparando-os com os demais.No meu pensamento supunha,que privar-se da poluição sonora do meio ambiente, traz paz interior, seria uma interessante pesquisa...Seus escritos trazem extrapolações...abraços. Luci Joelma
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