terça-feira, 13 de outubro de 2009

OS CAMINHOS DO CONHECIMENTO


Eventualmente tenho escrito sobre o hábito da leitura, o qual me acompanha desde quando aprendi a ler aos sete anos. Desde os sete anos adentrei, com Monteiro Lobato inicialmente, o mundo mágico das letras que me conduziu da imensidão do cosmos ao âmago do átomo; passando pelas mentes criativas dos maiores pensadores, filósofos, escritores e poetas; vi o universo, num átimo, ser criado do nada; presenciei, a quatro bilhões de anos, a vida surgir na Terra; sofri quando os magníficos dinossauros extinguiram-se depois que o Planeta foi atingido por um asteróide; acompanhei a evolução de primatas que, após milhares de anos, acabaram gerando o homo sapiens; sobrevoei florestas úmidas, desertos inóspitos, terras perdidas, pântanos insalubres, mares revoltos e geleiras implacáveis; mergulhei no oceano profundo cheio de seres esquivos e misteriosos; convivi com civilizações na África, na Europa, na Ásia e na América; assisti a construção de pirâmides no Egito e a destruição de Herculano e Pompéia na Itália; cidades, como Roma e Cartago foram erigidas na minha presença; religiões foram criadas na Galiléa, no oriente e no ocidente quando lá estive; descobri continentes e ilhas distantes e conheci povos e animais estranhos; tomei conhecimento da História e convivi com homens e mulheres importantes, cujas ideias influíram no rumo dos acontecimentos humanos; me inteirei das mazelas e dificuldades da vida de pessoas comuns em todo o Planeta; conversei com Platão, Aristóteles, Demócrito, Schopenhauer, Kant e Sartre; temi guerras, massacres, pestes e catástrofes que dizimaram milhões; acompanhei conquistas da ciência e exultei com descobertas da medicina; aprendi a refletir, me emocionei, fantasiei e cogitei imagens vivas de coisas que nunca vi e de lugares que nunca estive; concebi utopias, sonhei sonhos impossíveis, construí castelos inverossímeis, imaginei mundos irreais; viajei rumo ao futuro voltei ao passado e me deleitei com o presente; abri minha mente para ideias novas e conceitos originais; vivi com intensidade e desfrutei quase tudo, bem mais do que minha idade cronológica permite. Assim, das primeiras leituras para cá, muita, mas muita água mesmo, passou sob a ponte e centenas de milhares de páginas sob meus olhos. Não tenho dúvidas que essa atividade prazerosa trouxe-me, além dos momentos agradáveis em que os autores e eu percorremos mundos paralelos cheios de vida e descobrimentos, a “mais valia” do conhecimento geral nas horas oportunas. Sempre que a vida acadêmica ou profissional exigiu aquele “algo mais” numa prova, num teste, num concurso ou numa avaliação, meus conhecimentos leiturais vieram em meu socorro. Milhares de horas de leitura, além de deleitosas, impregnam meu dia-a-dia com conteúdo aproveitável sob todos os aspectos, seja para ilustrar conversa informal, seja para embasar argumento decisivo de uma tese importante. Só tenho a agradecer a meu pai, quase analfabeto que, por ser adepto da leitura, incutiu nos filhos esse saudável hábito. Todos os cinco filhos de seu Ananias leem porque gostam e aproveitam os resultados da leitura em suas vidas profissionais, familiares e acadêmicas.
Desde muito tempo tenho o hábito de marcar os livros que compro com assinatura e data, porque a marca assinala que aquele livro foi lido por mim. Como costumo doar os livros que leio, não os tenho em casa em quantidade, somente algumas dezenas que, quando estão ocupando muito espaço nas prateleiras, tomam rumo de outros leitores, de algum sebo ou biblioteca. Pois é, aqui perto donde moro existe um sebo bem fornido onde adquiro alguns livros por mês, porque intercalo minhas leituras com livros novos e usados. Hoje atravessei a rua e fui ao sebo onde comprei vários livros, entre eles “Os silêncios do Dr Murke” de Henrich Böll. No exato instante em que olhei o título tive a impressão que o livro era um velho conhecido, contudo, como a orelha indicava uma estória interessante comprei-o. Já em casa, ao abri-lo, lá estava a marca: meu nome seguido da data: 02/07/69. Nada de muito peculiar ou maior interesse se fosse apenas isso, uma data e meu nome, mas, para conferir certo mistério ao fato, no ano de 1969 me encontrava na cidade de Guaratinguetá no estado de São Paulo. Cheguei a Floripa em 72, e, como era solteiro e minha bagagem se resumia ao que cabia em meu carro, um karmanguia, não carregava livros comigo, sem contar que depois mudei da cidade em 79 só retornando em 2000. É possível inferir que, por uma estranha razão, e por caminhos desconhecidos o livro percorreu quase mil quilômetros desde Guaratinguetá até Floripa e veio parar na esquina da rua onde moro a apenas trinta metros de distância, possivelmente tendo passado por muitas mãos de leitores interessados. Fico feliz em saber que após quarenta anos o livro continua em bom estado e pronto a ser adquirido por outro leitor; pronto para proporcionar horas agradáveis a quem comprá-lo. Como este livro, os caminhos que o conhecimento percorre podem ser indistintos, desconhecidos, misteriosos mas, sejam quais forem, trazem luz, ciência e prazer a quem os acompanha. O caminho mais curto entre o homem e o conhecimento é o livro. JAIR, Floripa, 13/10/09.

4 comentários:

Anônimo disse...

Fariseu, adorei este texto, eu particularmente sou um "Day dreamer",como eu ja falei anteriormente, pode-se tirar tudo de um homem, ate sua vida, mas não os seus sonhos. um beijo no teu coração.
Fabio

J. Muraro disse...

Narrativa forte, entusiasta, de quem realmente gosta de leitura. E, caso curioso do livro que veio encontrar o ex dono depois de quarenta anos. Belo texto!

Joel disse...

Jair, bastante interessante o teu texto e curioso também pelo fato de ter encontrado num sebo, um livro que ja foi seu.
Eu ja havia sugerido a voce que escrevesse algo sobre literatura, lembra? Voce escreveu, tá aí, mas não era bem da maneira como te falei, por isso volto ao assunto: Por que não escreve alguma coisa sobre um determinado livro ou autor brasileiro dando sua opinião pessoal sobre o mesmo e dando oportunidade a que seus leitores façam comentários objetivando uma espécie de debate saudável? Sugestão: Qual a principal obra da literatura brasileira? "Os Sertões" de Euclides da Cunha ou "Grande Sertão: Veredas" de Guimarães Rosa? Num debate dessa ordem pode ser que alguém ache que "Casa Grande e Senzala" de Gilberto Freyre seja mais importante que os dois. Fatalmente aparecerá algum gaúcho puxando a brasa para "O Tempo e o Vento" de Érico Veríssimo e assim por diante. Pense no assunto.
Abraços, Joel.

Luci disse...

Sua vizinha!
É prazeroso ler os seus textos.Este,particularmente,nos tranporta a reflexões sobre os mistérios da vida, será obra do acaso?Que energia forte é esta, que atraiu o dono ao seu objeto de busca?É incrível. Tive a satisfação de ouvir este fato pessoalmente.Abraços.Luci.
22/10/2009 22,55