Um oba-oba geral selou a consagração do Brasil como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Chorou lágrimas televisas copiosas, o presidente, não lhe ficando atrás Pelé e a plêiade de áulicos que, a custa do dinheiro público, lotou hotéis em Copenhagen onde se realizou o último confronto das cidades, Chicago, Tóquio, Madri e Rio de Janeiro, candidatas a sediarem aquele encontro esportivo mundial. O quê, realmente, quer dizer o fato de a cidade do Rio ter sido escolhida? Podemos nos considerar inseridos entre aqueles países que, por sua tradição em esportes olímpicos, capacidade organizacional comprovada em eventos mundiais ou desenvolvimento econômico e social notáveis, podem se dar ao luxo de gastar milhões para um evento desse porte, sem consequências danosas para seus contribuintes? Bem, uma coisa ficou comprovada: temos capacidade de convencer os outros que somos os melhores, os mais bem preparados para abrigar os jogos. Por outro lado, a reação das pessoas de ponta a ponta do País, provou que somos emocionais, sabemos comemorar e estamos felizes com a conquista. Mas isso é o bastante? Esse entusiasmo e essa energia demonstrados são suficientes para garantir um acontecimento organizado, seguro e que, no fim das contas, traga algum lucro para o País? Infelizmente, caros leitores, a tradição de eventos custeados pelo dinheiro público nesta nação, demonstra o contrário. Estima-se que serão gastos 30 bilhões de reais, na consecução de infra-estrutura, segurança e instalações necessárias. (É bom lembrar que as cidades derrotadas gastariam uma média de 10 bilhões cada uma). Neste Brasil varonil de obras superfaturadas e inacabadas, onde o dinheiro público some pelo ralo e aparece em palacetes, iates e carros importados dos donos de empreiteiras, é de se duvidar deste valor, deverão ser gastos algo em torno de 100 bilhões tranquilamente. Baseando-se no orçamento dos jogos do PAN, também no Rio, onde eram estimados gastos de 300 milhões, mas foram gastos mais de 4 bilhões de reais, a quantia de 100 bilhões é um cálculo bem conservador até. Com saúde pública, educação e segurança necessitando de investimentos para tornar o país menos “terceiro mundo” um pouco só, os mais realistas podem pensar que jogos olímpicos não são prioridade. E o pior, das instalações construídas para o PAN quase nada foi aproveitado. Foram construídas várias obras, hoje verdadeiros “elefantes brancos", locais abandonados, dinheiro do contribuinte tragado pelo sumidouro político de homens públicos e empresários desonestos. Além desse lado econômico duvidoso, ainda temos o lado esportivo da coisa. Neste país que nunca valorizou o atleta; onde o atleta que conquistou medalhas o fez por esforço e com recursos próprios; que não acumulou conquistas notáveis em olimpíadas; o qual não tem uma política voltada para a educação física e prática esportiva nas escolas, é de se duvidar que daqui para 2016 esse quadro mude tanto, que se reverta para o bem de nossa juventude atlética. A politicalha e os dirigentes esportivos se disseram “de alma lavada” pela conquista, o povão fez carnaval e se auto decretou de feriado sine die, mas, parece, ninguém parou para pensar que só faltam sete anos para se fazer absolutamente TUDO. Sete anos são menos que dois mandatos consecutivos de presidente. Faltam apenas sete anos para as obras necessárias; para convencer os marginais que, pelo menos durantes os jogos, deem uma folga, tirem férias e deixem os visitantes em paz; para, minimamente, disciplinar o trânsito caótico do Rio de Janeiro; para preparar, com apoio financeiro, psicológico, técnico, físico, tempo e instalações adequadas, os atletas que tentarão ganhar medalhas. Poucas medalhas que sejam para que o país sede não dê vexame. Alegria e entusiasmo desopilam o fígado e contribuem para a saúde mental, mas não concorrem para organizar um empreendimento sério destinado a acolher atletas, jornalistas e visitantes de todo o mundo. Sorrisos, abraços, dança e música transformam o país num sitio amigável e acolhedor, mas não concretizam projetos, não constroem estradas nem desentopem ruas e avenidas apinhadas e intransitáveis. Resumo da ópera, sem muito empenho, sem compromisso com a seriedade que o momento exige, sem a grana necessária, as olimpíadas de 2016 correm o risco de serem conhecidas como OLIM-PIADAS brasileiras. Quem viver verá. JAIR, Floripa, 05/10/09.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
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5 comentários:
Podemos sonhar e imaginar o Brasil se destacar como sede dos jogos olimpicos por motivos bons, nao tenho duvida alguma que o Brasil ficara marcado nos coracoes da maioria, por ser um paiz alegre e com emocao... mas quando chegar na parte de organizacao, bem.. o Brasil sempre sera o Brasil....
É isso mesmo, sou carioca e não vejo como essas Olim-piadas vão trazer algum benefício para minha cidade. As autoridades têm que olhar para a violência, o caos no trânsito, a saúde pública e o ensino público, o resto é figuração..... HIPÓCRITAS!!!!
Caro 1S Barbosa, bem vindo ao clube, levei muita cacetada por não acreditar nesta tiurma la do DF, mas....os romanos ja sabiam que pão e circo, é tudo o que o povo prescisa. Quando vejo o misere do nordeste ( que bravo povo) ou as filas nos postos de saude, como pode um dirigente achar 'chic" emprestar dinheiro ao FMI, e fazer esta como tu bem chamastes Olim - piadas. Ou como dizemos ai no solo gaudério...Me tapei de nojo.
Um Baita abraço
Fabio
Caro Jair: Eu praticamente esgotei meus comentários sobre este assunto no site do jornal O GLOBO.
Claro que fui odiado pelos deslumbrados globais!
Na minha opinião, eventos como este, apesar de bonitos e de caráter mundial, só trazem benefícios para os políticos e seus amigos empreiteiros, e para a rede GLOBO de TV!
Daí o oba-oba patrocinado por aquela rede.
Fiquei sensibilizado pelas lágrimas do nosso presidente, mas acho que ele faria melhor se chorasse pelas depredações que os seus protegidos do MST fizeram numa produtiva plantação de laranjas, causando tantos prejuízos!
Onde ficam os direitos de quem anda direito?
Tenho dito!
Olá, Jair. Concordo plenamente com você. Os administradores desse país, antes de pensarem em qualquer evento dessa natureza, deveriam investir mais em segurança social,saúde,educação e trabalho.Abraço amigo.
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