Cantadas em versos e eternizadas como origem do samba, as favelas têm sido estigmatizadas como reduto de bandidos e desordeiros e tratadas como caso de polícia o mais das vezes. Ainda que em muitos casos seja verdade que as comunidades mais pobres abriguem, entre sua população de boa índole, elementos perniciosos, não se pode generalizar, e não se justifica criminalizá-las a priori. Quem mora nessas comunidades não o faz porque é marginal, e sim por não ter outra opção. Nesta arrancada para sediar os Jogos Olímpicos de 2016, torçamos para que o poder público da cidade do Rio não venha com propostas mirabolantes no sentido de piorar as condições dos favelados que já não as melhores. O que se precisa pensar é um modo criativo e humanitário de tratá-los.
As favelas fazem parte da paisagem urbana das grandes e médias cidades brasileiras. Longe de serem apenas um problema de falta de planejamento urbanístico, denunciam a gravíssima desigualdade social de nossas comunidades com forte ênfase nos desníveis tanto maiores quanto maior for a urbe em questão. Maiores cidades, maiores favelas e mais diferença entre ricos e miseráveis. Apelidadas de “morro” em oposição a “asfalto”, porquanto a maioria está localizada em elevações, barrancos e áreas de forte aclive, locais menos comerciáveis, são uma chaga aberta que expõem o câncer que corrói as entranhas do nosso sistema econômico que exclui muitos em favor de poucos. É bastante comum essas comunidades pobres dividirem espaço com condomínios, casas e edifícios de luxo, acentuando bastante a desigualdade econômica e social da qual são fruto.
Essas comunidades pobres e sem quaisquer infra estruturas são mais evidentes na cidade do Rio de Janeiro e surgiram por volta de 1900, quando do retorno das tropas federais que haviam combatido na chamada Guerra de Canudos. O reduto de Canudos fora construído à margem esquerda do riacho vaza-barris, ao pé de alguns morros, entre eles o Morro da Favela, que recebeu este nome devido à vegetação predominante no local, que era a Favela (jatropha phyllacontha), uma planta típica da caatinga, extremamente resistente à seca. Aos combatentes, que retornaram ao Rio de Janeiro, lhes fora prometido pagamentos de soldos referentes à campanha e mais prêmios alusivos à vitória, nada foi cumprido. Os soldados, agora desmobilizados, deixaram de receber o que lhes era devido e, para esperar alguma providência das autoridades do Ministério da Guerra, instalaram-se provisoriamente em alguns morros da cidade, onde outros desabrigados, predominantemente negros alcançados pela Lei Áurea de 1888, já se encontravam. Depois dessa segunda ocupação, os morros recém-habitados passaram a ser conhecidos como favelas, em referência ao Morro da Favela lá de Canudos.
Desde 1875 existia no Rio de Janeiro o primeiro plano urbanístico para embelezar e melhorar as condições de saneamento da cidade, incluindo a vacinação obrigatória contra a febre amarela. Com o fim do período colonial, a cidade pretendia se modernizar e ingressar na economia internacional, atraindo investimentos externos. A partir dos anos 20, com o processo de industrialização do país, o Rio de Janeiro, então capital da república, passa a sofrer grandes transformações em seu espaço urbano, entre elas a malograda desfavelização, sem qualquer concessão à integração social dos moradores das favelas. É desta década o segundo plano da cidade, o Plano Agache, que também buscava embelezar a cidade e criava diversas regras para as edificações e para a ocupação ordenada dos espaços, separando áreas para moradia, comércio ou indústrias, mas, como tudo o mais no Patropi, o Plano Agache ficou só no papel. E as favelas continuaram sendo um depósito de mão de obra barata para os moradores do “asfalto”.
Em 1948 foi realizado o primeiro Censo nas favelas cariocas e neste contexto a Prefeitura do Rio de Janeiro, afirma, de modo assombroso para nossa cultura do século vinte e um, num documento oficial, mesmo anterior às estatísticas, que: “Os pretos e pardos prevaleciam nas favelas por serem hereditariamente atrasados, desprovidos de ambição e mal ajustados às exigências sociais modernas”. Esta afirmação encontrada no livro Um Século de Favela, exemplifica como o preconceito em torno das favelas e seus moradores se fixou tristemente na sociedade brasileira. Pois é, desde que as favelas surgiram até o presente século, ninguém, nem o poder público nem as instituições civis tiveram iniciativa ou vontade política de tentar resolver o problema de moradia nas grandes cidades. É um problema que se eterniza e sugere que, se não for tratado com responsabilidade e seriedade, agravará a qualidade de vida das urbes a ponto de tornar a habitabilidade desses centros inviável. Só para lembrar: na Austrália não existe desemprego, lá não existem favelas também. JAIR, Floripa, 19/10/09.
Essas comunidades pobres e sem quaisquer infra estruturas são mais evidentes na cidade do Rio de Janeiro e surgiram por volta de 1900, quando do retorno das tropas federais que haviam combatido na chamada Guerra de Canudos. O reduto de Canudos fora construído à margem esquerda do riacho vaza-barris, ao pé de alguns morros, entre eles o Morro da Favela, que recebeu este nome devido à vegetação predominante no local, que era a Favela (jatropha phyllacontha), uma planta típica da caatinga, extremamente resistente à seca. Aos combatentes, que retornaram ao Rio de Janeiro, lhes fora prometido pagamentos de soldos referentes à campanha e mais prêmios alusivos à vitória, nada foi cumprido. Os soldados, agora desmobilizados, deixaram de receber o que lhes era devido e, para esperar alguma providência das autoridades do Ministério da Guerra, instalaram-se provisoriamente em alguns morros da cidade, onde outros desabrigados, predominantemente negros alcançados pela Lei Áurea de 1888, já se encontravam. Depois dessa segunda ocupação, os morros recém-habitados passaram a ser conhecidos como favelas, em referência ao Morro da Favela lá de Canudos.
Desde 1875 existia no Rio de Janeiro o primeiro plano urbanístico para embelezar e melhorar as condições de saneamento da cidade, incluindo a vacinação obrigatória contra a febre amarela. Com o fim do período colonial, a cidade pretendia se modernizar e ingressar na economia internacional, atraindo investimentos externos. A partir dos anos 20, com o processo de industrialização do país, o Rio de Janeiro, então capital da república, passa a sofrer grandes transformações em seu espaço urbano, entre elas a malograda desfavelização, sem qualquer concessão à integração social dos moradores das favelas. É desta década o segundo plano da cidade, o Plano Agache, que também buscava embelezar a cidade e criava diversas regras para as edificações e para a ocupação ordenada dos espaços, separando áreas para moradia, comércio ou indústrias, mas, como tudo o mais no Patropi, o Plano Agache ficou só no papel. E as favelas continuaram sendo um depósito de mão de obra barata para os moradores do “asfalto”.
Em 1948 foi realizado o primeiro Censo nas favelas cariocas e neste contexto a Prefeitura do Rio de Janeiro, afirma, de modo assombroso para nossa cultura do século vinte e um, num documento oficial, mesmo anterior às estatísticas, que: “Os pretos e pardos prevaleciam nas favelas por serem hereditariamente atrasados, desprovidos de ambição e mal ajustados às exigências sociais modernas”. Esta afirmação encontrada no livro Um Século de Favela, exemplifica como o preconceito em torno das favelas e seus moradores se fixou tristemente na sociedade brasileira. Pois é, desde que as favelas surgiram até o presente século, ninguém, nem o poder público nem as instituições civis tiveram iniciativa ou vontade política de tentar resolver o problema de moradia nas grandes cidades. É um problema que se eterniza e sugere que, se não for tratado com responsabilidade e seriedade, agravará a qualidade de vida das urbes a ponto de tornar a habitabilidade desses centros inviável. Só para lembrar: na Austrália não existe desemprego, lá não existem favelas também. JAIR, Floripa, 19/10/09.
2 comentários:
Favela como definido pela agência UN-HABITAT, é uma área degradada de uma determinada cidade caracterizada por moradias precárias, falta de infraestrutura e sem regularização fundiária. De acordo com dados da UN cerca de um bilhão de pessoas vivem em favelas no mundo.
As favelas do Brasil são consideradas por muitos como uma conseqüência da má distribuição de renda e do déficit habitacional no país. Porém, segundo pesquisa da professora Alba Zaluar, financiada pelo CNPq e pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, e publicada no jornal O Globo de 21 de agosto de 2007, na página 16, coluna do Ancelmo Gois, apenas 15% dos moradores das favelas cariocas gostariam de deixar o morro. A pesquisa também revela que 97% das casas das favelas cariocas têm TV, 94% geladeira, 59% DVD, 55% celular, 48% máquina de lavar e 12% têm computador.
Anos de favela, e ainda não fizeram nada de realmente significante. Muitos anos, certamente deu tempo de muitas pessoas terem ideias muito boas. O problema são interesses politios, creio eu. Dinheiro não é o problema, as "Olimpíadas" provam isso. E falta de ideias não é desculpa... aposto que existem ótimos projetos. Politicagens, esse é o problema. Esse quase sempre é o problema.
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