
O nome científico do bicho é orcinus orca, mede de sete a oito metros e meio de comprimento e pesa de cinco a oito toneladas. Esses soberbos mamíferos marinhos são conhecidos popularmente por Baleias assassinas, nome duplamente incorreto, injusto e que carrega forte carga de preconceito. Para começar não são baleias. São membros maiores da família dos golfinhos, ou delphinidae, e, apesar do tamanho, são mais aparentadas ao golfinho nariz de garrafa do que de qualquer das baleias maiores. O termo assassinas deve-se, quase certamente, ao seu hábito alimentar que, ao contrário das baleias verdadeiras, comedoras de Krill e de peixes miúdos como sardinhas e arenques, as orcas alimentam-se de peixes de quaisquer portes, tartarugas, polvos e animais de sangue quente como lontras, golfinhos, toninhas, focas, leões marinhos, morsas, pinguins e até grandes baleias. Não há registro que seres humanos tenham sido, alguma vez, molestados, atacados, mordidos ou comidos por esses mamíferos. São animais extremamente inteligentes e, surpreendentemente, vivem mais de sessenta anos em praticamente em todos os oceanos e mares do planeta, podendo ser encontrados na Antártida, no Ártico, em águas tropicais dos oceanos Atlântico, Pacífico, Índico e até no Mediterrâneo. Segundo Lance Barret-Lennard, biólogo da Universidade da Colúmbia Britânica que fez um extenso estudo do DNA das orcas, existem duas, senão espécies, pelo menos variedades desses cetáceos. Grupos chamados residentes jamais se afastam de seus sítios de nascimento, reprodução e alimentação, vivem nos fiordes do Alaska, nas águas geladas da Patagônia, nas Aleutas ou nas costas da Nova Zelândia, por exemplo. Já as orcas transientes, verdadeira nômades dos oceanos, se deslocam ao longo de milhares de quilômetros, aparecendo às vezes, na Antártida num período e no Mar de Bering em outro. Essas variedades, além de possuírem hábitos de vida totalmente diferentes, também têm aparências distintas, as residentes têm barbatana dorsal menor e com contorno suave, arredondado, enquanto nas nômades é grande e pontuda, a barbatana dorsal. Entretanto, ambas as variedades apresentam manchas brancas num fundo preto que não se repetem, são com impressões digitais, uma orca é sempre diferente da outra. Observações mais acuradas demonstram que essas variedades ou espécies diferentes não se intercruzam e, quando se encontram por acaso, se ignoram, é como umas não existissem para as outras. São animais de culturas diferentes que nada sabem dizer uns aos outros. Sua organização social aparenta ser matriarcal, isto é, vivem em grupos familiares compostos de uma fêmea alfa acompanhada de parentes em primeiro e segundo graus, como filhos e filhas, sobrinhos e sobrinhas, irmãos e irmãs. Há indícios que machos jovens e sexualmente ativos de um grupo, eventualmente costumam dar uma “escapadinha”, isto é, se deslocam para outros grupos onde se acasalam com fêmeas de constituição genética não aparentada, depois retornam ao seio de seu grupo onde continuam vivendo com a mãe, são uma espécie de filhinhos da mamãe por toda vida. Quanto à comunicação, embora exista uma espécie de “linguagem comum” de estalidos, guinchos, rosnados e roncos, tão severos são os laços de família que cada grupo desenvolveu seu dialeto próprio – variações específicas na linguagem, suficientemente distintas para permitir aos pesquisadores à escuta identificar uma família sem jamais pôr os olhos nos animais. Acredita-se que a diferença de dialetos serve para impedir cruzamentos consangüíneos, sendo que o macho procura fêmeas de sotaques diferentes do seu para acasalar. Ainda que esta magnífica habitante dos mares tenha organização social reconhecível e estável; inteligência acima de muitas espécies de mamíferos terrestres; linguagem ampla, elaborada e complexa; laços familiares que se traduzem em proteção à prole; docilidade á convivência com os primatas humanos, como provam os parques aquáticos com suas orcas amestradas e o filme “Free Willy”,e, mais importante, nenhuma agressividade ou ameaça para a vidas dos seres humanos, o homem a qualifica de assassina. É uma injustiça clamorosa, mesmo porque, quem prejudica o animal é o homem, e não o contrário. Então, o que leva o bicho-homem a rotular de assassinos esses belos animais que navegam a mais de cem milhões anos pelo mares e, se não forem dizimados, ainda o farão por outros tantos milhões? Simples! Inveja, mesquinha e rasteira inveja! o ser humano, como espécie, sente, através do inconsciente coletivo, inveja atávica de um mamífero tão bem sucedido! Para se fazer justiça há que se reconhecer e nominar as orcas pelo que elas são: mamíferos marinhos carnívoros que vivem com o que a natureza lhes proveu, seu instinto de caça e sua capacidade de organização para capturar o alimento. Na verdade, se quisermos, rigorosamente, nominar um assassino, este é o homem, esse onívoro imbecil e predador que não se contenta em matar apenas para se alimentar, mata por esporte, por auto-afirmação ou por maldade. Este sim, um verdadeiro baleio assassino. JAIR, Floripa, 29/01/09.