sábado, 10 de março de 2012

Sandices lunares



Apesar de o homem ter chegado à lua seis vezes, quase nada sabe sobre ela, na verdade esse satélite é tão pouco conhecido como o fundo dos oceanos, por exemplo.
A terra é planeta pequeno, mas seu satélite de considerável tamanho lhe confere uma situação diferente dos demais planetas do sistema solar e até de planetas outros descobertos em estrelas distantes. Enquanto todos os demais planetas são enormes em relação a seus satélites, ou nem sequer os possuem, a terra e a lua são de tamanhos tão próximos que podem ser vistos como um planeta duplo. Em que pese um deles ser totalmente diferente do outro. Se pudéssemos observar a terra e a lua de um lugar distante como de marte, por exemplo, veríamos algo fascinante: um planeta pequeno acompanhado de outro maior, ambos coreografando uma dança um pouco estranha onde ora um deles está na frente, ora está atrás.
Não só para poetas e namorados, mas também para astrólogos a lua é um dos objetos mais atraentes do firmamento. O homem a tem estudado há séculos com telescópios, pousou na sua superfície e trouxe amostras solo e, mais recentemente, mede seus movimentos e distâncias através de espelhos lá deixados pelos astronautas, os quais refletem um feixe de laser lançado por observatórios dos EUA. Os primeiros homens que lá deixaram seus rastros viram-se num ambiente estranho e extremamente hostil. Um céu sempre negro. Lembremos que o azul do céu terrestre é uma consequência da atmosfera, mas a lua não tem esse luxo. A terra é sempre visível da lua e apresenta fases exatamente como esse satélite apresenta-se para nós. Mas a terra tem um diâmetro aparente quatro vezes maior, mas devido seu albedo ser muito maior que o da lua, reflete oitenta vezes mais, coisa de louco. Dá para ler jornal na noite selenita iluminada pela luz terral.
Não há clima, tal como o conhecemos na terra, na lua. Os diversos climas da terra dependem das mudanças de temperatura, dos movimentos dos oceanos e da atmosfera. A superfície da lua é seca e sem ar, mas as temperaturas na superfície têm variações brutais, para não dizer mortais. As áreas iluminadas pelo sol atingem temperaturas de mais de cem graus, e a longa noite lunar pode sofrer temperaturas de até – 185ºC. É por isso que as roupas dos astronautas são tão complexas. Seus macacões, além de serem uma couraça flexível que impede descompressão explosiva em caso de ser atingido por micrometeoritos, têm um isolamento térmico muitíssimo eficiente para suportar as tremendas variações de temperatura. Um macacão de astronauta não custa menos que dez milhões de dólares!
Assim como a noite lunar, as sombras são muito bem definidas e até perigosas. A menos que outra superfície iluminada reflita sobre elas, são completamente negras e os objetos abrigados nela tornam-se invisíveis. Se o astronauta mergulhar na sombra poderá tropeçar ou cair num buraco; se enfiar a mão na sombra sua mão desaparecerá completamente. Qualquer coisa deixada na sombra poderá congelar-se, pois as sombras são quase tão frias como a noite selenita.
O pouso das naves lunares se fez em áreas de nível baixo e relativamente plano, os responsáveis pelos lançamentos não podiam arriscar vidas e equipamentos caríssimos em pousos temerários. O terreno pouco acidentado mostrou uma paisagem extremamente monótona. O horizonte ficava muito próximo, então se tornou impossível ver as montanhas lunares. Devido ao seu tamanho, a curvatura da superfície da lua é tão acentuada que para um homem de estatura média o horizonte não vai além de três ou quatro quilômetros. Pela primeira vez os homens “sentiram” a redondês de um astro.
Sem atmosfera reconhecível para protegê-la, a lua fica exposta à violência alienígena. A radiação solar incide sobre ela com força impetuosa. Além disso, o satélite também é castigado pelo chamado “vento solar”, partículas carregadas eletricamente que nos dão as magníficas auroras boreais e austrais. Também micrometeoritos e partículas de poeira cósmica, conhecida como star dust atingem a lua sem piedade. Todos esses atacantes agridem a lua há bilhões de anos, ao passo que o planetinha azul é tão protegido por sua atmosfera e campo magnético que até poucos anos atrás não se suspeitava que esses fenômenos existissem.
Como ninguém pode perder todas, a lua é imune a outra espécie de fenômeno, a erosão. Sua superfície sem água e sem ar não está sujeita ao desgaste pelos movimentos das águas e pelo vento. Na terra vento, gelo e água elevaram as montanhas e escavaram os vales, além de, continuamente, mudarem a paisagem em todos os lugares. Pelo que se sabe a lua também não possui movimentos sísmicos, movimentos que enrugam a superfície do nosso planeta.
Em virtude dessa perenidade de suas paisagens, a lua possui gigantescas, e crateras de dimensões diversas, até do tamanho de um pires, que pontilham sua superfície por bilhões de anos. Os primeiros estudiosos da selenografia acreditavam que as crateras tinham origem vulcânica, mas essa suspeita se provou infundada, as marcas foram deixadas por colisões de objetos celestes. Desde pedrinhas minúsculas até meteoritos e cometas portentosos, todos deixaram sua marca na face da lua, e as marcas foram se acumulando por falta de erosão. “Cara de lua” tornou-se um apodo pejorativo para quem tem marcas no rosto deixadas pela acne.
Contudo, desde muito tempo se pensou que a lua era um corpo morto, mas em 1958 o astrônomo russo Kozyrev, xeretando a lua, tirava fotos da cratera Alphonsus, local que astrônomos americanos haviam assinalado como possível fonte de gases. Então, a três de novembro, notou que o pico estava avermelhado, quando antes era de cor neutra, indistinguível do resto da paisagem. A origem de tal coloração anômala ainda é desconhecida, mas conjetura-se a existência de uma pequena erupção vulcânica que, se confirmada, autenticaria a hipótese daqueles que acreditam que nosso satélite não está totalmente morto. Que dizer então de novas conjeturas que admitem existência de vida microbiana nas entranhas de planetas do sistema solar e até da lua? Depois que se descobriu vida nas fontes vulcânicas oceânicas existe gente querendo enxergá-la em todos os lugares, inclusive nos menos plausíveis. Não adiro e não enxoto para longe tais hipóteses, fico em cima do muro. JAIR, Floripa, 07/03/12
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10 comentários:

Tais Luso de Carvalho disse...

Jair, esta foi uma bela aula! Não sabia de tantos detalhes que você mencionou; a lua sempre se mostrou misteriosa, linda, confidente... E amicíssima dos poetas que ficam fascinados diante de tantos mistérios.

É bela, mesmo, para inspirá-los. Só não sabia da tal 'cara de lua'! Também aprendi...
Outra bela postagem sua.
Abraços, amigo.
Tais Luso

R. R. Barcellos disse...

Arreda pra lá um pouquinho, que eu também quero ficar em cima do muro. Parabéns. Abraços.

Attico CHASSOT disse...

Jair, nesta aula de selenografia, não há como deixar de evocar a memorável noite de 16 de julho de 1969! Dentro de mais um pouco teremos por aqui um plenilunio que será fruído catalisado por teu texto.
Que tu o curtas aí na tua Floripa,
Attico Chassot

Luci Joelma disse...

Gostei do "professoral" e dos outros qualificativos;não dá para evitar o "ar" da professora aposentada.
Eis a questão: Lua bonita, se tu não fosse..,preparava uma escada,para ir no céu te beijar... E a outra:
Todos eles estão errados, a lua é dos namorados... Na verdade, confesso que muito pouco sei ,ou nada sei,
só sei que ela está lá,linda na cheia,refletida no mar!
Quanta coisa tenho aprendido,graças a um pesquisador generoso que partilha os conhecimentos.Grata.Luci.

Andre Martin disse...

JAIR,

Como sempre, seus textos são um compêndio de informações úteis e curiosas, que sempre fazem aumentar nossa cultura e demonstrar um pouco da sua!

Sempre entendi a Terra e Lua como um planeta binário, numa relação biunívoca em que um não pode existir sem o outro (pelo menos não a Vida na Terra como a conhecemos, sem a Lua).
E sempre vi este balé no espaço, em zigue-zague, apesar de todos os livros e animações ensinarem uma Lua girando em torno da Terra, que orbita em torno do Sol.

Com todas as verdade que você lista sobre nosso satélite-planeta-irmão natural, acho ainda mais difícil de ser convencido que o norte-americano tenha realmente andado sobre a lua e voltado em missões tão precárias e tão bem sucedidas, dificilmente agora, quanto mais naquela época. Acho que é muito mais da nossa vontade de querer que isto seja verdade que esta epopéia ainda sobrevive, do que de provas contundentes.

Volúzia disse...

Em qualquer caso fico com a Lua, lamento que astrônomos e astronautas se metam com ela, só poetas e namorados deveriam ter esse direito. A Lua não precisa ser visitada, só admirada.

Leonel disse...

Ditas tantas curiosidades e novidades sobre a Lua, restam algumas questões, para serem respondidas quando, (e se) estabelecermos uma base permanente por lá:
Os casais de astronautas poderão namorar ao "terrar"?
Nos domos onde cultivarem vegetais, vão planta-los na "Terra cheia"?
O Mar da Tranquilidade terá suas marés influenciadas pela Terra?
Falando sério, um ótimo post sobre o nosso satélite!
Abraços, Jair!

Reflexos Espelhando Espalhando Amig disse...

etchiBom dia!
Vim aqui também para ler você e convida-lo a passar nessa segunda la no Espelhando. ha uma boa matéria de um bom colunista por la.
Te espero.
Bjins entre sonhos e delírios
Poeta Catiaho reflexo d'Alma

Professor AlexandrE disse...

Muito interessante... a lua e as viagens até ela me fascinam...
Ótima postagem!

Abraços...

Unknown disse...

Jair, my friend

No have a problem!