domingo, 12 de fevereiro de 2012

Sandices geológicas

Tenho notado, quando escrevo textos ou falo sobre temas que beliscam a geologia, que boa parte de meus leitores e ouvintes ignora quase tudo sobre rochas e suas origens. Também estou longe de ser um expert em pedras e afins, porém, de certa forma, tenho curiosidade a respeito do assunto desde que, criança lá no Paraná, colecionava pedras as mais diversas até que minha mãe me deu um ultimato e expulsou minha coleção do quarto onde já não cabia quase mais nada. As pedras se foram, coloquei-as debaixo do assoalho, deixei de colecionar, mas continuei cada vez mais interessado. De modo que sempre que algum livro sobre o tema me cai sob os olhos, leio sem piscar. Em consequência, possuo alguma literatura sobre geologia e pedras preciosas também.
Praticamente todas as rochas encontráveis no Planeta podem ser classificadas em apenas três categorias, e essa classificação obedece à maneira como se formaram. Assim, rochas sedimentares são compostas por sedimentos carregados pela água ou pelo vento, acumulados em áreas mais baixas onde geralmente formam camadas que se solidificam. É comum encontrá-las em locais que já foram fundo de lagos e rios, agora extintos. Correspondem a oitenta por cento da área dos continentes e é nelas que se encontra a maior parte do material fóssil, em geral os animais ou vegetais que se fossilizaram estão impressos entre as camadas das sedimentares como entre páginas de um livro. Existem muitas rochas sedimentares, mas algumas são mais conhecidas como: arenito, calcário e dolomita. Um exemplo magnífico de rocha sedimentar são as formações de arenito em Vila Velha no Paraná, próximo a Ponta Grossa. Os monumentos geológicos encontrados em Vila Velha são constituídos por rochas de arenito, chamado Arenito Vila Velha, formado pela compactação e endurecimento de camadas sucessivas de areia há mais de 300 milhões de anos e pertence à unidade geológica denominada Grupo Itararé que vai desde o oeste do Rio Grande do Sul até Itararé em São Paulo. Mas as maiores formações de arenito do Planeta se situam na Austrália, O Uluru é um monólito de arenito, tem 338 metros de altura, três quilômetros de extensão e, segundo os geólogos, mais dois mil e quinhentos metros sob a terra, o que o torna o segundo monólito do planeta em tamanho, o primeiro chama-se Monte Augustus, e também se situa na Austrália.
Já, rochas metamórficas são aquelas formadas por transformações físicas ou químicas sofridas por outras rochas, quando submetidas ao calor e à pressão do interior da Terra, num processo denominado metamorfismo. As rochas metamórficas são o produto da transformação de qualquer tipo de rocha levada a um ambiente onde as condições físicas (pressão e temperatura) são muito distintas daquelas onde a rocha se formou. São exemplos de rochas metamórficas: mármore, pedra sabão, e xisto. O xisto betuminoso explorado pela Petrobrás em São Mateus do Sul no Paraná é um bom exemplo do potencial econômico existente nessa rocha. Há estudos afirmando que o xisto betuminoso não explorado existente no Planeta, pode representar fontes de combustíveis fósseis muito maiores que todas as reservas conhecidas de petróleo. Enquanto o mármore, desde a antiguidade foi aproveitado para confecção de construções e estátuas, sua beleza, dureza e propriedades mecânicas, recomendam sua utilização como estruturas e adornos duráveis e altamente decorativos. Os gregos e romanos antigos construíram a maioria de seus monumentos de mármore. O mármore de Carrara - comuna italiana da região da Toscana - é famoso desde a Roma Antiga, quando foi utilizado para construir o Panteão. Muitas esculturas do renascimento, como por exemplo, David de Michelangelo também foram esculpidas com esse mármore que é de uma beleza ímpar. Aliás, sabemos muito sobre as culturas antigas como a egípcia, por exemplo, porque elas foram erigidas em mármore, se o fossem em madeira provavelmente estaríamos a ver navios. No Brasil, o mármore é abundante no Espírito Santo e representa a maior fonte de exportação de pedras ornamentais do país. Curioso é que num mesmo afloramento de mármore são encontradas as mais variadas cores, granulações e desenhos, de forma que o mineiro cortador da pedra pode deparar-se com uma surpresa ao dinamitar a jazida.


O último grupo constitui as rochas ígneas, rochas magmáticas ou rochas eruptivas. A formação das rochas ígneas vem do resultado da consolidação devida ao resfriamento do magma derretido ou parcialmente derretido. Não é surpresa, portanto, que as ígneas sejam rochas associadas às erupções vulcânicas, sejam estas recentes ou se percam na poeira dos éons. O magma pode ser obtido a partir do derretimento parcial de rochas pré-existentes no manto ou na crosta terrestre, ou seja, as rochas ígneas são forjadas pelo calor interno do Planeta, a partir de outras rochas. As rochas ígneas mais conhecidas são: granito, basalto e obsidiana. Neste país talvez não exista exemplo mais emblemático, cujo potencial turístico reflete em todos os cantos do Planeta, do que o Pão-de-açúcar. O Pão-de-Açúcar no Rio de Janeiro é um exemplo típico de monólito de rocha ígnea, neste caso, um bloco único de granito rosa. Também a maioria das ruas calçadas com pedra no Brasil, o é com granito - como acontece aqui em Floripa onde granito é abundante. Outra coisa, considerando que o granito é composto de apenas três substâncias, feldspato, quartzo e mica, não deixa de ser surpreendente que existam tantas cores e granulações dessa rocha. Já o basalto, pela sua dureza, era usado pelos silvícolas para confecção de instrumentos cortantes, e hoje escultores fazem dele uma das matérias primas de suas criações, por sua beleza depois de polido.
Sem sequer nos darmos conta, estamos cercados por pedras de todos os tipos no nosso dia-a-dia, desde o batente da porta de entrada do apartamento até as pias, passando pelos pisos do lobby do edifício, as mais variadas rochas decorativas nos servem e continuam ali por dezenas, talvez centenas de anos depois que nós não estivermos mais por aqui. Assim, esse texto é uma pincelada sobre rochas que me achei obrigado a fazer, frente à curiosidade de alguns dos meus leitores. JAIR, Floripa, 08/01/12.

9 comentários:

J. Muraro disse...

Gosto de geologia e especialmente de comparar as várias rochas que aparecem nos cortes de estradas, são magníficas. Teu texto está muito didático, parabéns.

Luci disse...

Numa excursão da UEPG, com professores e estudantes do curso de Geografia, visitamos a Vila Velha e proximidades, os alunos coletavam amostras e os professores explicavam as composições destas.O tempo passou e eis-me aqui recordando as lições e reavivando o cérebro, A tua missão é linda Jair! A ativação dos cérebros dos aposentados é muito importante. Grata. Luci

R. R. Barcellos disse...

...e quem não gostar de rochas, que atire a primeira pedra!
Abraços.
PS: abaixo da janelinha onde digito isto, a "verificação de palavras" me conclama a catamilhografar "procha". Fazer o que?

Professor AlexandrE disse...

Muito interessante... Uma verdadeira aula de Geologia!
Parabéns pela postagem!

Abraços...

Tais Luso de Carvalho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tais Luso de Carvalho disse...

Jair:

Tenho paixão por pedras e nada poderia ser mais didático do que esta sua postagem. Tenho um recipiente de cerâmica, grande e redondo em minha sala, que coloco vários tipos de pedras lindas e coloridas que vou comprando. Sempre tive curiosidade pelo assunto, e agora conheci um pouco mais com esta sua ótima postagem. Valeu muito.

Abraços, amigo. Li o post abaixo, das 'Sandices cósmicas', ótimo! Parabéns.

Tais Luso

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jair,
quando fiz graduação em Química, tive uma disciplina de mineralogia.
Esta blogada valeu muito e me faz gostar mais de ‘minhas pedras’ trazidas de diferentes locais e que me fascinam.
Obrigado pela ‘sólida, sedimentar e ígnea’ aula.
attico chassot

Bruno disse...

Ola amigo, deixo o recado que eu como jovem Geologo e leitor semanal do seu blog aprecio e muito suas marteladas curiosas no campo das pedras. Apesar de algumas vezes querer me envaidecer chamando atencão de um equivoco tecnico ou outro, ainda prefiro considerar a importancia da forma de enxergar por um prisma nao tão formal assim. Um grande abraço de alguem dedicado às pedras vulcânicas (ígneas), que aliás ocupam mais da metade de SC. Ficaria contente de ler pinceladas a respeito.

Leonel disse...

Uma das coisas mais fascinantes, que às vezes nos passam desapercebidas, as pedras são identificadas e desvendadas nesta bela postagem!
Infelizmente, o Barcellos já me roubou a piada!
Abraços, amigo!