segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sobre sentidos



O antropocentrismo que rege a conduta, os julgamentos e as opiniões do Homo sapiens em relação ao mundo que o cerca, sem qualquer surpresa, o coloca no alto do pódio e os demais seres a seus pés. Assim, considerando apenas os três reinos elementares, e começando pela base, os reinos da natureza seriam, em ordem de importância, organização e complexidade: mineral, vegetal e animal. Ainda mais, dentro do reino animal existiriam “classes” inferiores por sua simplicidade organizacional, e outras em níveis mais elevados. Bactérias, amebas e vírus estariam na base do mundo dos vivos, os vertebrados compreenderiam os níveis mais elevados, sendo que dentre estes, os mamíferos estariam no segmento superior e o homem ocuparia o lugar mais alto. O homem seria o ápice da criação, criado à imagem e semelhança do Criador.
Dentro da lógica antropocêntrica, ao homem são atribuídos os mais nobres sentimentos e os mais perfeitos sentidos os quais o tornam o único ser antenado com o mundo do qual faz parte, único ser capaz de reagir aos estímulos ambientais. Ninguém ou coisa alguma pode rivalizar com suas percepções, até o sentimento de dor física é negado aos demais animais, muitos cientistas não admitem que cães, ratos e outros bichos inocentes usados em experiências terríveis em laboratórios sofrem com as vivisseções e mutilações a que são submetidos.
Negar sentimentos a outros animais é algo sem sentido, ainda que nem todo mundo que concorda com isso - mas sim a grande maioria dos homens - não tem dúvidas que plantas não possuem qualquer sensibilidade: não sentem dor, não reagem a sons e ao câmbio de ambientes. Uma das poucas exceções, o livro “A vida secreta das plantas” de Peter Tompkins e Christopher Bird, tenta provar o contrário. Trata-se de um relato minucioso das relações físicas, emocionais e espirituais entre as plantas e os diversos ambientes. Os autores demonstram como as plantas, supostamente, são seres sensíveis. Segundo eles, estas memorizam experiências de prazer e dor, sentem afeto e medo e são capazes de comunicar-se com os homens. Parece que essas colocações são um salto muito ousado de “cientistas” que querem somente aparecer sob as luzes do estrelato, mas experimentos com plantas deixam margem a reflexões interessantes.
O botânico americano Cleve Backster, teve uma experiência inusitada com um vegetal, que pode servir para ilustrar o que os autores do livro afirmam. Cleve estava tentado usar um polígrafo – o conhecido detector de mentiras – para determinar o tempo de insuflamento na seiva de um rododentro depois de regá-lo. Colocou os eletrodos do aparelho numa das folhas da planta e o pôs em funcionamento. No momento que se preparava para regá-lo, feriu a mão num beirada do regador. Interrompeu o que estava fazendo e resolveu fazer um curativo no ferimento antes de prosseguir com o teste.
Por acaso, olhou para o visor do polígrafo e se surpreendeu com o que viu. A agulha do aparelho parecia ter detectado um abalo sísmico, movia-se febrilmente sobre o papel de marcação. Assim, sem que tivesse havido qualquer contato entre a mão ferida e a planta, esta estava “sentindo” que algo estava errado. O ferimento havia sido detectado pela planta e o polígrafo estava registrando o “sentimento” dela.
Naturalmente esse evento que está longe de ser o único, gerou uma enorme especulação por parte daqueles que acreditam na sensibilidade fitológica. Para eles, o evento comprovou que o reino vegetal pode demonstrar emotividade. A priori, quem poderia supor a existência de tal fenômeno? Seriam então verdadeiras as estórias que uma azaléia cresceria melhor e mais saudável num ambiente harmonioso do que em um onde há discórdia e brigas? As plantas ficam “alegres” com música suave e demonstram-se melancólicas com ritmos agressivos? E os conselhos de horticultores para que suas plantas cresçam bem: “façam com que elas ouçam música clássica”, não seriam brincadeira? Essas suposições parecem colocar em dúvida o fundamento das classificações do mundo natural. Alguns “cientistas” tentaram dar explicações diante dos resultados de experiência semelhantes à de Cleve. Eis uma delas: os sentidos dos seres humanos não seriam senão um aperfeiçoamento em graus variáveis de um sentido universal onipresente no mundo dos vivos, existindo, ainda que de modo embrionário e genérico, também nas plantas.
Independente do enfoque que se dê ao evento, este é certamente muito interessante. Graças ao polígrafo foi possível registrar as reações dos vegetais em diversas situações bem definidas e, mesmo que o mecanismo desse fenômeno permaneça obscuro, despertou grande interesse em prosseguir os estudos para se chegar a alguma explicação. Por exemplo, a folha de uma planta é perfeitamente insensível a uma imersão em água, mas manifesta uma reação inexplicável quando se aproxima dela a chama de um isqueiro. E essa reação parece indicar que planta se sente ameaçada pela chama.
Num avanço no sentido de desvendar o mistério, a Universidade McGill, de Montreal, Canadá, passou a fazer experimentos psíquicos para intervir no desenvolvimento dos vegetais, seja pela imposição de uma sugestão de crescimento acelerado ou muito lento. Plantas de cevada assim tratadas, apresentam desenvolvimento diferente dos exemplares de controle, sugerindo, dessa forma, que há alguma reação ao tratamento. A prática empregada lembra a hipnose.
Diante dessas demonstrações sugerindo a existência de coisas que ainda não entendemos por trás do comportamento dos vegetais, mesmo porque plantas não possuem sistemas nervosos e muito menos cérebros, é o caso de deixar o ceticismo de lado e se aprofundar nas pesquisas para comprovar ou refutar em definitivo a suposta sensitividade botânica. JAIR, Floripa, 24/08/11.

12 comentários:

Professor AlexandrE disse...

Como defensor da teoria dos sentidos nos demais seres além dos mamíferos, adorei o texto nobre colega... Ele mexeu com meus sentidos! Parabéns!

Vida Longa e Próspera!

Anônimo disse...

Bem interessante a parte que fala das plantas. Eu sabia que eram seres vivos, e que devem ser tratadas com amor. Porém, que elas memorizam dor era nova. Muito interessante o post. Parabéns! Eu vi que elas preferem escutar musicas clássicas do que rock [as plantas e os bebes]. Beijos, Duda.

R. R. Barcellos disse...

E como fica Darwin nessa confusão? Isso deve afetar a teoria da evolução, não?
Abraços.

Andre Martin disse...

Houve um tempo que até os índios eram destituídos "oficialmente" de sentimentos, tidos como sub-classe humana (ou nem humana), comparados a cães, para que pudessem ser subjugados, escravizados e mortos sem remorsos.

No quadro, 5 sentidos... Faltaram dois:
o "sexto sentido" e o "sem sentido"! rs

Leonel disse...

Só mesmo quem nunca interagiu com um animal poderia afirmar a besteira de que animais não tem sentimentos!
E os sentimentos dos animais são bem mais inocentes e sinceros do que os dos falsos seres humanos!
Não tem sentimentos é quem maltrata os animais!
Sobre as plantas, estas constatações parecem interessantes, mas precisam ser mais estudadas, com a mente aberta para as possibilidades que se apresentarem.
Excelente enfoque, merece alguma(s) sequência(s).
Abraços, Jair!

Volúzia disse...

Gosto desse assunto, já li o livro "A vida secreta das plantas" e acho que a ciência tem negligenciado o estudo desse fenômeno, se é que pode chamar assim. Teus textos, como promete o nome do blogue, sempre fazem pensar, parabéns, Volúzia.

Luci disse...

Este texto tocou-me...Já estava sensibilizada pelo corte das árvores recentemente pelo inquilino,imagino o sentimento delas... Em nome de um pretenso progresso para exibir placas,comerciais...vão derrubando,queimando, devastando...Pobre natureza!!!Luci

J. Muraro disse...

Fico pensando com meus botões, quantos mistérios há na natureza que nossa velha e boa ciência nem imagina. Parabéns pelo interessante texto.

Robledo Gonzalez disse...

Olá Jair, já deves me conhecer virtualmente nos coment's no blog da Duda, estranha Sedução.
tenho acompanhado seu blog e visto matérias interessantíssimas. Sem dúvida é um blog inteligente.
Sobre esta matéria, tenho um projeto com plantas medicinais em Jaboticabal,interior de SP., onde tenho feito um trabalho holístico e comparativo com culturas similares e tratos culturais tradicionais, onde se visa somente o lado comercial.
Eu costumo falar com as plantas, elas escutam músicas (se escutam eu não sei), trato com amor, carinho e como a qualquer ser vivo, com muito respeito. O resultado foi surpreendente se comparado com as do trato tradicional. As minhas estão crescendo vigorosas, viçosas, e em análises em laboratórios da UNESP da cidade, uma das mais conceituadas mundialmente falando, em agricultura, comprovaram a evolução maior e mais favorável às minhas culturas, biologicamente.
A qualidade do óleo essencial que estou produzindo está acima da qualidade dos internacionais. Mas ainda é um projeto piloto mas pretendo ampliá-lo mantendo a mesma qualidade.
Ótimo post e parabéns pelo blog

Robledo Gonzalez disse...

Desculpe pelos erros, pois estou enviando meu comentário pelo celular pois estou em viagem.
Particularmente acredito que as plantas tenham os sentidos assim como nós. Claro, elas não tem ouvidos, nervos, boca, nariz como possuímos. Mas a física pode explicar da seguinte fora.
Somos matéria impulsionadas por estímulos elétricos. Quando falamos, sentimos cheiros, dores, etc... nosso corpo tanto envia como recebe este impulso elétrico e o organismo o processa quimicamente para que tenhamos as sensações pertinentes a cada caso.
Sobre as plantas, acredito que quando tocamos músicas, falamos, demonstramos respeito através de nossos atos, pensamos em ralação à elas, estamos também enviando sinais elétricos para o corpo físico delas, que devem processar estes estímulos quimicamente e metabolizá-los.

grande abraço

Camila Paulinelli disse...

Olá,
O universo com sua complexidade deixa a figura do cientista cético um tanto ínfima no meu ponto de vista. Tanta coisa a ser explorada, a ser descoberta, que seria uma imbecilidade do ser humano achar que o universo eh soh o que ele acha que descobriu absolutamente. Como acredito em trocas de energias positivas entre seres, penso que estamos em constante troca com o mundo, logo, evidente, com as plantinhas.

Beijos da nora,

Attico CHASSOT disse...

Muito estimado Jair,
o livro ‘A Vida Secreta das Plantas’, (TOMPKINS, Peter & BIRD, Christopher) muito provavelmente foi dos livros de Ciência que li, há mais de 30 anos que mais mexeu nas minhas concepções de Ciência.
Muito obrigado por traze-lo aqui com tanta maestria,
Com admiração
attico chassot