Mao Tse-tung era filho de camponeses e acabou se tornando o líder máximo da China, onde exerceu o mando absoluto por quase trinta anos, graças a sua persistência em perseguir o poder a qualquer preço e se dedicar a sua causa sem qualquer clemência ou piedade àqueles que se interpunham à sua causa. Filho de camponeses, não hesitou jamais em sacrificar a vida de seus coetâneos para atingir suas metas pessoais.
Como já escrevi em outro texto, Mao alcançou o topo do poder subindo por uma pilha de cadáveres de cidadãos chineses. Durante os anos que “lutou” contra o general nacionalista Chiang Kai-shek pelo domínio do solo Chinês, Mao formou um exército de camponeses iletrados, mal alimentados, mal vestidos e mal armados e os usou como bucha de canhão em batalhas que tinham objetivo de apenas servirem de propaganda para a “causa” comunista. Na verdade, Mao só se converteu ao comunismo por mero interesse pessoal, sua meta era o domínio do país e, tendo isso em vista, tentou suas primeiras investidas nesse sentido dizendo-se nacionalista, mas voltou-se para o comunismo por dois motivos: por que não via “espaço” para se tornar o líder máximo, visto que este posto já era ocupado por Kai-shek; e porque, tornando-se comunista poderia contar com ajuda militar da Rússia em benefício de sua ambição desmedida de poder.
Depois que efetivamente açambarcou o poder em 1949, Mao não mais viu qualquer obstáculo na sua fúria de manter-se no topo e, para isso, engendrou planos. Seu primeiro projeto foi fomentar guerra entre as Coreias de forma que envolvesse os EUA. Mandou três milhões de soldados à região e pressionou os russos para obter armamentos e tecnologia. Conseguiu a custa de mais de um milhão de mortos.
Depois, imaginando que conseguiria alcançar as potências ocidentais em desenvolvimento industrial, bolou um plano que chamou “Grande Salto adiante”. Enquanto dizia à nação, de forma vaga, que o objetivo do Salto era fazer a China “alcançar todos os países capitalistas num tempo bastante curto, e se tornar um dos países mais ricos e poderosos do mundo”, por trás dos panos, para seus acólitos, confessava que pretendia dominar o Pacífico, num primeiro passo para dominar o mundo. Só que, para isso, precisava de aço, do qual a China era carente.
Para importar o aço produzido na Rússia a única moeda que a China dispunha era alimento. Assim, Mao passou a calcular quanto alimento devia exportar para pagar suas importações. O cálculo não era baseado na produção, de forma que para os camponeses literalmente nada sobrava. Estabeleceu-se no país uma epidemia de fome que, estima-se matou 37 milhões de inanição. Relatos levados a Mao, por seus chefes de aldeias, informavam que as pessoas estavam se alimentando de folhas de árvores, e ele dizia que era bom, não havia porque camponeses não fazerem sacrifícios em nome da nação.
Esse aperto nacional possibilitou que Mao exportasse 4,74 milhões de toneladas em grãos, no valor de 935 milhões de dólares em 1959. O maldito Ogro costumava dizer a Krushov que “a China tem alimentos demais” e que “precisamos encontrar escoadouro para os cereais nas indústrias, por exemplo, para produzir álcool etílico para combustíveis”. Não era verdade, ele apenas projetava tais onirismos para exigir maior produção para satisfazer suas ambições pessoais.
Os camponeses tinham agora de trabalhar com muito afinco e durante mais horas do que antes. Como queria aumentar a produção sem gastar nada, Mao agarrou-se a métodos que aumentavam a mão de obra, não de investimentos. Por isso, ordenou enormes esforços para construir sistemas de irrigação: diques, represas e canais. Nos quatro anos seguintes de1958, mais de 100 milhões de camponeses fora coagidos a trabalhar nesses projetos sem quaisquer apoios do sistema. Eles eram obrigados a trazer sua própria comida, ás vezes de dezenas de quilômetros do lugar onde trabalhavam, sem roupas, muitos trabalhavam nus até no inverno. Milhares morreram de fadiga, frio e fome.
Os trabalhadores acabaram removendo uma quantidade de terra equivalente a 950 canais de Suez, usando apenas martelos, pás, enxadas e as próprias mãos, e carregando a terra em portas e camas de suas casas. Mao havia dito a seus próximos que esperava a morte de 30 mil pessoas, mas que entendia que esse era um preço barato pelo “Salto” que se pretendia. Seu cálculo acabou sendo ultraconservador, morreram mais de 400 mil trabalhadores.
Um dia Mao teve a “brilhante idéia” de que uma boa maneira de manter os alimentos seguros era se livrar dos pardais, pois eles comiam grãos. Então designou esses passarinhos como uma das “quatro pragas” ao lado das moscas, mosquitos e ratos, e que todos deveria ser eliminados. Como tudo no regime maoísta entrava até nas minúcias, ele mandou mobilizar a população para sacudir paus e vassouras e fazer uma algazarra gigante a fim de impedir que os pássaros pousassem e, dessa forma, morressem de fadiga. Não é preciso dizer que, eliminados os pássaros, aumentou as pragas das quais estes se alimentavam e as lavouras foram atacadas de forma a reduzir ainda mais a produção causando fome e mortes. Foi necessário a importação de 200 mil pardais da URSS para repor a fauna dizimada, essa caríssima operação teve um caráter ultra secreto porque Mao não podia errar. A um alto preço em vidas e dinheiro haviam, mais uma vez, seguido os palpites infelizes do Grande Timoneiro que, como um deus, era infalível. Mao colocou a conta do fiasco em seus acólitos palacianos como costumava fazer sempre.
O “Salto’ de quatro anos foi um desperdício monumental de recursos naturais, esforços e vidas humanas, único em sua escala na história da humanidade. O pior de tudo é que a maioria dos projetos foi abandonada depois dos insucessos, transformando-se grande parte em elefantes brancos, e algumas das “melhores” represas estouraram com as chuvas torrenciais dos anos sessenta, matando milhares daqueles que tinham sobrevivido às suas construções.
Ano fim da vida, apesar de profundamente infeliz por ter fracassado na realização de sua ambição mundial, Mao não mostrava nenhum sentimento em relação às gigantescas perdas humanas e materiais que essa busca destrutiva havia custado ao seu povo. Bem mais de 70 milhões de pessoas haviam perecido – em tempos de paz – em conseqüência de seu desgoverno, mas ele sentia pena somente de si mesmo. Costumava chorar quando lembrava sua glória passada, pois a autopiedade era o único sentimento desse monstro inominável. Sem Mao, a China hoje poderia ser menos desenvolvida, mas seus cidadãos teriam coisas boas para contar a seus filhos e seriam mais felizes, com certeza. JAIR. Floripa, 29/08/11.
Como já escrevi em outro texto, Mao alcançou o topo do poder subindo por uma pilha de cadáveres de cidadãos chineses. Durante os anos que “lutou” contra o general nacionalista Chiang Kai-shek pelo domínio do solo Chinês, Mao formou um exército de camponeses iletrados, mal alimentados, mal vestidos e mal armados e os usou como bucha de canhão em batalhas que tinham objetivo de apenas servirem de propaganda para a “causa” comunista. Na verdade, Mao só se converteu ao comunismo por mero interesse pessoal, sua meta era o domínio do país e, tendo isso em vista, tentou suas primeiras investidas nesse sentido dizendo-se nacionalista, mas voltou-se para o comunismo por dois motivos: por que não via “espaço” para se tornar o líder máximo, visto que este posto já era ocupado por Kai-shek; e porque, tornando-se comunista poderia contar com ajuda militar da Rússia em benefício de sua ambição desmedida de poder.
Depois que efetivamente açambarcou o poder em 1949, Mao não mais viu qualquer obstáculo na sua fúria de manter-se no topo e, para isso, engendrou planos. Seu primeiro projeto foi fomentar guerra entre as Coreias de forma que envolvesse os EUA. Mandou três milhões de soldados à região e pressionou os russos para obter armamentos e tecnologia. Conseguiu a custa de mais de um milhão de mortos.
Depois, imaginando que conseguiria alcançar as potências ocidentais em desenvolvimento industrial, bolou um plano que chamou “Grande Salto adiante”. Enquanto dizia à nação, de forma vaga, que o objetivo do Salto era fazer a China “alcançar todos os países capitalistas num tempo bastante curto, e se tornar um dos países mais ricos e poderosos do mundo”, por trás dos panos, para seus acólitos, confessava que pretendia dominar o Pacífico, num primeiro passo para dominar o mundo. Só que, para isso, precisava de aço, do qual a China era carente.
Para importar o aço produzido na Rússia a única moeda que a China dispunha era alimento. Assim, Mao passou a calcular quanto alimento devia exportar para pagar suas importações. O cálculo não era baseado na produção, de forma que para os camponeses literalmente nada sobrava. Estabeleceu-se no país uma epidemia de fome que, estima-se matou 37 milhões de inanição. Relatos levados a Mao, por seus chefes de aldeias, informavam que as pessoas estavam se alimentando de folhas de árvores, e ele dizia que era bom, não havia porque camponeses não fazerem sacrifícios em nome da nação.
Esse aperto nacional possibilitou que Mao exportasse 4,74 milhões de toneladas em grãos, no valor de 935 milhões de dólares em 1959. O maldito Ogro costumava dizer a Krushov que “a China tem alimentos demais” e que “precisamos encontrar escoadouro para os cereais nas indústrias, por exemplo, para produzir álcool etílico para combustíveis”. Não era verdade, ele apenas projetava tais onirismos para exigir maior produção para satisfazer suas ambições pessoais.
Os camponeses tinham agora de trabalhar com muito afinco e durante mais horas do que antes. Como queria aumentar a produção sem gastar nada, Mao agarrou-se a métodos que aumentavam a mão de obra, não de investimentos. Por isso, ordenou enormes esforços para construir sistemas de irrigação: diques, represas e canais. Nos quatro anos seguintes de1958, mais de 100 milhões de camponeses fora coagidos a trabalhar nesses projetos sem quaisquer apoios do sistema. Eles eram obrigados a trazer sua própria comida, ás vezes de dezenas de quilômetros do lugar onde trabalhavam, sem roupas, muitos trabalhavam nus até no inverno. Milhares morreram de fadiga, frio e fome.
Os trabalhadores acabaram removendo uma quantidade de terra equivalente a 950 canais de Suez, usando apenas martelos, pás, enxadas e as próprias mãos, e carregando a terra em portas e camas de suas casas. Mao havia dito a seus próximos que esperava a morte de 30 mil pessoas, mas que entendia que esse era um preço barato pelo “Salto” que se pretendia. Seu cálculo acabou sendo ultraconservador, morreram mais de 400 mil trabalhadores.
Um dia Mao teve a “brilhante idéia” de que uma boa maneira de manter os alimentos seguros era se livrar dos pardais, pois eles comiam grãos. Então designou esses passarinhos como uma das “quatro pragas” ao lado das moscas, mosquitos e ratos, e que todos deveria ser eliminados. Como tudo no regime maoísta entrava até nas minúcias, ele mandou mobilizar a população para sacudir paus e vassouras e fazer uma algazarra gigante a fim de impedir que os pássaros pousassem e, dessa forma, morressem de fadiga. Não é preciso dizer que, eliminados os pássaros, aumentou as pragas das quais estes se alimentavam e as lavouras foram atacadas de forma a reduzir ainda mais a produção causando fome e mortes. Foi necessário a importação de 200 mil pardais da URSS para repor a fauna dizimada, essa caríssima operação teve um caráter ultra secreto porque Mao não podia errar. A um alto preço em vidas e dinheiro haviam, mais uma vez, seguido os palpites infelizes do Grande Timoneiro que, como um deus, era infalível. Mao colocou a conta do fiasco em seus acólitos palacianos como costumava fazer sempre.
O “Salto’ de quatro anos foi um desperdício monumental de recursos naturais, esforços e vidas humanas, único em sua escala na história da humanidade. O pior de tudo é que a maioria dos projetos foi abandonada depois dos insucessos, transformando-se grande parte em elefantes brancos, e algumas das “melhores” represas estouraram com as chuvas torrenciais dos anos sessenta, matando milhares daqueles que tinham sobrevivido às suas construções.
Ano fim da vida, apesar de profundamente infeliz por ter fracassado na realização de sua ambição mundial, Mao não mostrava nenhum sentimento em relação às gigantescas perdas humanas e materiais que essa busca destrutiva havia custado ao seu povo. Bem mais de 70 milhões de pessoas haviam perecido – em tempos de paz – em conseqüência de seu desgoverno, mas ele sentia pena somente de si mesmo. Costumava chorar quando lembrava sua glória passada, pois a autopiedade era o único sentimento desse monstro inominável. Sem Mao, a China hoje poderia ser menos desenvolvida, mas seus cidadãos teriam coisas boas para contar a seus filhos e seriam mais felizes, com certeza. JAIR. Floripa, 29/08/11.
4 comentários:
Gostaria de dizer que Mao, assim como Hitler, Stálin, Idi Amin Dada e outros ditadores, foi uma excrecência da história que devemos esperar nunca mais se repita. A humanidade não merece gente dessa espécie. Abraços, J. Muraro.
Ótimo texto, um complemento preciso e até 'necessário' do primeiro... Cabe aqui o trocadilho 'Mau' Tsé Tung, ao contrário do que muitos insistem em afirmar, não foi um revolucionário, bem pelo contrário foi um 'Mao' governante além de uma má pessoa!
Parabéns Nobre Colega!
Vida Longa e Próspera!
Passei por aqui por que me interesso por história contemporânea e fiquei abismado com a qualidade dos seus textos. Essa desnudação da tirania e desumanidade de Mao Tse-tung é necessária porque tem gente que acredita que ele foi bonzinho e conduziu com sabedoria o povo da China. Mao era um monstro que tem que ser desmascarado para que as gerações futuras não mais permitam tais barbaridades. Parabéns pelo posicionamento crítico de seus escritos, é assim que a bloguesfera deveria se comportar, e não só ficar publicando amenidades, para não dizer bobagens, que é o que mais se vê por aqui. Carlos Atanagildo
Jair, nesta breve dissertação, colocastes muito bem os pontos essenciais sobre esta abominação chamada Mao (mau).
Porém, foge à maioria das pessoas a compreensão da função ecológica do líder chinês.
Como você demonstrou, Mao tinha uma especial insensibilidade quanto ao sacrifício de vidas humanas.
Existem estatísticas controversas, mas seguramente as vítimas do extermínio maoista se contam em milhões!
Assim, eliminando tão grande número de pessoas, ele evitou que a China estivesse hoje ainda mais superpopulada! E aí o lado positivo de Mao! Controle populacional!
Ao contrário de Stalin, discretamente renegado na Rússia, o atual regime chinês ainda cultua Mao como o grande líder!
Apesar das mudanças para sobreviver economicamente, as ideias do carniceiro ainda permanecem nas entrelinhas da China atual!
Gracias por mais este resgate histórico!
Abraços!
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