As informações sobre a constituição do Corpo de Voluntários da Pátria foram baseadas num verbete da Wikipédia.
Voluntários da Pátria é o nome dado aos corpos de “soldados” criados pelo imperador no início da Guerra do Paraguai, em 7 de janeiro de 1865, com escopo de constituir uma massa de manobra que formaria uma tropa em armas nacional, já que o efetivo de militares servindo ao Exército do país era reduzido, sendo sua concentração maior na capital do império, local muito distante da área em conflito com os paraguaios.
Inicialmente formado para tirar proveito do entusiasmo patriótico que tinha tomado conta do país no início da guerra, reunindo os voluntários que se alistavam espontaneamente. Em 30 de abril de 1866 já existiam 49 destes batalhões, formados, principalmente, por militares vindos das corporações policiais das províncias, mas também por um significativo contingente oriundo da população civil, “soldados” cidadãos, na verdade. Com o passar do tempo e a diminuição do entusiasmo popular em virtude das notícias sobre baixas e, principalmente pelas condições terríveis dos acampamentos mal constituídos, as doenças e a falta de alimentos e agasalhos no desgastante inverno do sul do país, o governo imperial passou a exigir dos presidentes das províncias cotas de voluntários, que deveriam recrutar.
Ainda em 1865 os voluntários da pátria passaram a contar com recrutamento forçado, instituído por chefes políticos locais e a oficiais da Guarda Nacional, que obrigavam o alistamento de seus opositores. Cada província foi solicitada prover, no mínimo, 1% da sua população.
Segundo Chiavenato, autor de Genocídio Americano, o Exército também usava a força para conseguir soldados, o que tornou perigoso o ato de embriagar-se na rua. Quem estivesse cambaleando em alguma esquina poderia levar uma repentina paulada na cabeça, e acordar com uma espingarda na mão, a caminho da guerra. De qualquer forma, havia várias formas de se escapar da convocação: os aquinhoados faziam doações de recursos, equipamentos, escravos e empregados para lutarem em seu lugar; os de menos posses alistavam seus parentes, filhos, sobrinhos ou agregados; aos despossuídos só restava a fuga para o mato.
O uso de escravos para lutar em nome de seus proprietários virou prática corrente. Além disso, sociedades patrióticas, conventos e o governo passaram a comprar escravos para lutarem na guerra. O império prometendo alforria para os que se apresentassem para a guerra, fazendo vista grossa para os escravos fugidos. D. Pedro II deu o exemplo, libertando todos os escravos das fazendas nacionais para incorporá-los à luta. O imperador também outorgou uma lei que militares e voluntários mortos, deixariam uma pensão vitalícia às suas mulheres e às filhas na falta daquelas, essa lei ainda vige e beneficia esposas e filhas de militares no presente, mesmo na ausência de qualquer conflito. Em algumas províncias como a do Paraná, por exemplo, o governo prometia aos voluntários uma gleba de terra ao retornarem da guerra, assim, muitos despossuídos se fizeram alistar seduzidos pelo canto da sereia.
No total, estiveram em guerra 57 Corpos de Voluntários da Pátria. As perdas brasileiras sofridas por mortes, ferimentos, doenças e invalidez alcançaram a 40% desse efetivo. No total 37928 voluntários da pátria participaram do conflito.
Meu tio bisavô, Manoel Demétrio, em 1865 era um rapagão que vivia num vilarejo a margem direita do rio Iguaçu. Cheio de patriotismo, viajou a Curitiba para apresentar-se como voluntário tão logo a guerra iniciou. Uma vez alistado, foi submetido à instrução militar num dos batalhões formados somente com civis do estado. Depois de aprenderem o manejo das manlinchers e os rudimentos das manobras, deslocamentos e marchas necessárias ao desempenho nas artes bélicas, os recrutas foram embarcados nos trens que se dirigiam ao sul. Os voluntários não eram soldados na acepção do termo, sua formação lhes permitia desempenhar as funções militares sem dificuldade na guerra, contudo, a ação não lhes facultava uma “carreira”, não tinham expectativas de permanecer no Exército, não lhes era possível serem promovidos além da graduação de sargento cadete, ainda assim, apenas por bravura.
Na página 64 do livro “Guerra do Paraguai”, (1940) de Davi Carneiro, ficou registrado o evento no qual Manoel Demétrio, na conhecida passagem do riacho Itororó em 6 de dezembro de 1868, seguiu Caxias, do qual era cabo de ordens, quando o Duque, num gesto grandiloqüente teria dito: “Sigam-me os que forem brasileiros”. A que notar que essa passagem era especialmente difícil dado que os paraguaios encontravam-se do outro lado da ponte prontos a rechaçar qualquer tentativa de invasão de seu espaço, e já haviam repelido cinco ataques anteriores. Quando Caxias foi atacado na cabeça a golpe de sabre por um paraguaio, Manoel “aparou” a agressão com a mão o que veio lhe valer uma mão defeituosa para o resto da vida, e uma promoção a sargento cadete.
Terminado o conflito, Demétrio, considerado herói de guerra, foi agraciado com uma medalha e uma gleba de terra no município de Palmeira, onde edificou uma boa casa que era ao mesmo tempo um armazém bem suprido o qual lhe dava meios de sobreviver com algum conforto. A velha casa ainda se encontra lá abandonada.
Manoel Demétrio, embora tendo a sorte de sair vivo da guerra com apenas um defeito permanente na mão, nunca teve o justo reconhecimento de sua atuação naquele episódio que poderia ter causado a morte de Caxias e um desfecho diferente daquele consagrado nos livros onde se enaltece o episódio, “Sigam-me os que forem brasileiros”. Demétrio foi aquele que o seguiu e pagou um preço por isso, mas seu gesto pode ter imortalizado a frase do Duque e lhe salvado a vida, o quê, em outras palavras poderia significar um desfecho diferente da história que conhecemos. Manoel Demétrio é o herói que faltava para a formosa Palmeira, é o filho da terra que imortalizou um episódio crucial da guerra sanguinolenta que ceifou milhares de vidas dos Voluntários da Pátria. Que esta seja a homenagem que ele merece e aguardava ser prestada. JAIR, Floripa, 23/08/11.
Voluntários da Pátria é o nome dado aos corpos de “soldados” criados pelo imperador no início da Guerra do Paraguai, em 7 de janeiro de 1865, com escopo de constituir uma massa de manobra que formaria uma tropa em armas nacional, já que o efetivo de militares servindo ao Exército do país era reduzido, sendo sua concentração maior na capital do império, local muito distante da área em conflito com os paraguaios.
Inicialmente formado para tirar proveito do entusiasmo patriótico que tinha tomado conta do país no início da guerra, reunindo os voluntários que se alistavam espontaneamente. Em 30 de abril de 1866 já existiam 49 destes batalhões, formados, principalmente, por militares vindos das corporações policiais das províncias, mas também por um significativo contingente oriundo da população civil, “soldados” cidadãos, na verdade. Com o passar do tempo e a diminuição do entusiasmo popular em virtude das notícias sobre baixas e, principalmente pelas condições terríveis dos acampamentos mal constituídos, as doenças e a falta de alimentos e agasalhos no desgastante inverno do sul do país, o governo imperial passou a exigir dos presidentes das províncias cotas de voluntários, que deveriam recrutar.
Ainda em 1865 os voluntários da pátria passaram a contar com recrutamento forçado, instituído por chefes políticos locais e a oficiais da Guarda Nacional, que obrigavam o alistamento de seus opositores. Cada província foi solicitada prover, no mínimo, 1% da sua população.
Segundo Chiavenato, autor de Genocídio Americano, o Exército também usava a força para conseguir soldados, o que tornou perigoso o ato de embriagar-se na rua. Quem estivesse cambaleando em alguma esquina poderia levar uma repentina paulada na cabeça, e acordar com uma espingarda na mão, a caminho da guerra. De qualquer forma, havia várias formas de se escapar da convocação: os aquinhoados faziam doações de recursos, equipamentos, escravos e empregados para lutarem em seu lugar; os de menos posses alistavam seus parentes, filhos, sobrinhos ou agregados; aos despossuídos só restava a fuga para o mato.
O uso de escravos para lutar em nome de seus proprietários virou prática corrente. Além disso, sociedades patrióticas, conventos e o governo passaram a comprar escravos para lutarem na guerra. O império prometendo alforria para os que se apresentassem para a guerra, fazendo vista grossa para os escravos fugidos. D. Pedro II deu o exemplo, libertando todos os escravos das fazendas nacionais para incorporá-los à luta. O imperador também outorgou uma lei que militares e voluntários mortos, deixariam uma pensão vitalícia às suas mulheres e às filhas na falta daquelas, essa lei ainda vige e beneficia esposas e filhas de militares no presente, mesmo na ausência de qualquer conflito. Em algumas províncias como a do Paraná, por exemplo, o governo prometia aos voluntários uma gleba de terra ao retornarem da guerra, assim, muitos despossuídos se fizeram alistar seduzidos pelo canto da sereia.
No total, estiveram em guerra 57 Corpos de Voluntários da Pátria. As perdas brasileiras sofridas por mortes, ferimentos, doenças e invalidez alcançaram a 40% desse efetivo. No total 37928 voluntários da pátria participaram do conflito.
Meu tio bisavô, Manoel Demétrio, em 1865 era um rapagão que vivia num vilarejo a margem direita do rio Iguaçu. Cheio de patriotismo, viajou a Curitiba para apresentar-se como voluntário tão logo a guerra iniciou. Uma vez alistado, foi submetido à instrução militar num dos batalhões formados somente com civis do estado. Depois de aprenderem o manejo das manlinchers e os rudimentos das manobras, deslocamentos e marchas necessárias ao desempenho nas artes bélicas, os recrutas foram embarcados nos trens que se dirigiam ao sul. Os voluntários não eram soldados na acepção do termo, sua formação lhes permitia desempenhar as funções militares sem dificuldade na guerra, contudo, a ação não lhes facultava uma “carreira”, não tinham expectativas de permanecer no Exército, não lhes era possível serem promovidos além da graduação de sargento cadete, ainda assim, apenas por bravura.
Na página 64 do livro “Guerra do Paraguai”, (1940) de Davi Carneiro, ficou registrado o evento no qual Manoel Demétrio, na conhecida passagem do riacho Itororó em 6 de dezembro de 1868, seguiu Caxias, do qual era cabo de ordens, quando o Duque, num gesto grandiloqüente teria dito: “Sigam-me os que forem brasileiros”. A que notar que essa passagem era especialmente difícil dado que os paraguaios encontravam-se do outro lado da ponte prontos a rechaçar qualquer tentativa de invasão de seu espaço, e já haviam repelido cinco ataques anteriores. Quando Caxias foi atacado na cabeça a golpe de sabre por um paraguaio, Manoel “aparou” a agressão com a mão o que veio lhe valer uma mão defeituosa para o resto da vida, e uma promoção a sargento cadete.
Terminado o conflito, Demétrio, considerado herói de guerra, foi agraciado com uma medalha e uma gleba de terra no município de Palmeira, onde edificou uma boa casa que era ao mesmo tempo um armazém bem suprido o qual lhe dava meios de sobreviver com algum conforto. A velha casa ainda se encontra lá abandonada.
Manoel Demétrio, embora tendo a sorte de sair vivo da guerra com apenas um defeito permanente na mão, nunca teve o justo reconhecimento de sua atuação naquele episódio que poderia ter causado a morte de Caxias e um desfecho diferente daquele consagrado nos livros onde se enaltece o episódio, “Sigam-me os que forem brasileiros”. Demétrio foi aquele que o seguiu e pagou um preço por isso, mas seu gesto pode ter imortalizado a frase do Duque e lhe salvado a vida, o quê, em outras palavras poderia significar um desfecho diferente da história que conhecemos. Manoel Demétrio é o herói que faltava para a formosa Palmeira, é o filho da terra que imortalizou um episódio crucial da guerra sanguinolenta que ceifou milhares de vidas dos Voluntários da Pátria. Que esta seja a homenagem que ele merece e aguardava ser prestada. JAIR, Floripa, 23/08/11.
11 comentários:
A história do Brasil está cheia de recortes e remendos, muito do que se conta oficialmente não condiz, na integra, com os fatos.
Desejo que todos os "Manoels Demétrios" sejam conhecidos e lembrados. Abs
Interessante saber mais sobre a história do Brasil... Bem chamativo o texto. Parabéns Jair! :)
Beijos e uma boa semana!
Precisamos de textos assim na internet.
parabéns
Um abraço.
Beth
Considero a Guerra do Paraguai (ou contra o Paraguai, dependendo do ponto de vista...) um dos acontecimentos mais interessantes da História do Brasil. Além disso, sua narrativa clara e objetiva torna o assunto muito mais interessante...
Parabéns pelo texto!
Vida Longa e Próspera!
Existem heróis desconhecidos entremeando toda a nossa história nacional, sabemos ser muito díficil encontrar populares ou subalternos como agentes dos acontecimentos registrados na história positivista do Brasil. O Brasil de fato foi anulado da história, embora de alguns anos para cá, muitos arquivos públicos ou particulares vem sendo revirados com o intuíto de resgatar e colocar na história, com os devidos méritos, o homem comum, a mulher, o índio, o negro, o cigano, e muitas outras identidades no verdadeiro papel de agente ativo das transformações que desencadearam no Brasil de agora.
O resgate da verdade histórica passa pela bateia de garimpeiros como você. Parabéns por mais uma pepita encontrada.
Meu caro Jair,
nesta aula de uma etapa indigna e dolorosamente marcial da História Pátria, trazes a nós a figura de Manuel Demétrio fazendo-o presente entre teus muitos leitores.
Com admiração
attico chassot
No dia da Pátria , uma reflexão sobre os fatos verídicos que permeiam a história e revelam os seus verdadeiros heróis...Luci
Oi Jair
Li seu artigo sobre o Manoel Demétrio, como sempre muito interessante. A casa que pertenceu a ele ficava na entrada que dá acesso ao Pinheiral, infelizmente há algum tempo atrás desmoronou. Algumas tentativas foram feitas para conseguir verbas para restaurá-la mas o poder público, municipal sobretudo, não deu importância. Tenho muitas fotos dela, inclusive desmoronando. Se você tiver interesse posso enviá-las.
Abraço!
Olá Jair.
Sou professora de história na UTF de Ponta Grossa e procurando na net alguma coisa sobre o Manuel Demétrio na Guerra do Paeaguai, encontrei seu blog. Vc diz que ele é seu tio bisavô, ele era tio avô do meu pai, então é meu tio bisavô também. O nome dele era Francisco Dornelles Lopes, ele nasceu na Madaçaia em Palmeira era filho de Elisa Dornelles Lopes e José Ignácio LOpes. Meu avô está enterrado no cemitério de Palmeira. Gostei do teu blog.
Um abraço
Márcia Lopes Saab
Olá, boa tarde Jair e a todos os leitores do blog!
Meu nome é "MANOEL J. DEMETRIO FILHO".
Sou de Tubarão, sul de Santa Catarina, região de Laguna e terra de Anita Garibaldi.
Me sinto honrado em fazer parte da família "DEMETRIO". Minhas referências partem dos meus maiores e mais próximos exemplos que foram, meu pai (Manoel J. Demetrio), meu avô (José Tomaz Demetrio), meu bisavô (Manoel Tomaz Demetrio)...etc...
Sou ainda jovem e apaixonado por história. Me sinto honrado e me emociono ao folhear os livros de história onde o nome DEMETRIO foi o real personagem atuante.
Ao longo de tantos anos esse nome se fez presente, marcando e referenciando bravamente e, com extremo patriotismo ajudou defender nossa terra e nosso povo.
Fazer parte desse "nome" permite que contemos orgulhosamente aos nossos descendentes que fizemos parte ativamente da história da nossa nação.
A família "DEMETRIO" atuou determinantemente nos conflitos da nossa região.(Na guerra do contestado, guerra dos farrapos...)
Um de seus mais célebres e bravos guerreiros imperialistas foi "MANOEL TOMAZ DEMETRIO".
Na história de nossa região, podemos observar a presença de suas atuações registradas em livros ou na composição da história das cidades que orgulhosamente citam sua memória.
(Acessar história do município de Armazém Santa Catarina). Ele quem doou as terras (gratificações pelas conquista em batalha) onde posteriormente surgiriam as cidades de Armazém, Gravatal, Termas do Gravatal, estendendo-se até Tubarão que na época pertenciam a Laguna.
Espero que de alguma forma tenha contribuído.
Se quiserem entrar em contato, será uma honra!
Grande abraço!
Cordialmente,
Manoel Demetrio Filho.
dmetriosfilho@hotmail.com
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