quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Henrietta Lacks




Henrietta Lacks foi uma americana negra, nascida em Roanoke em 1920, que viveu até 1951, na cidade de Baltimore, Maryland. Ela hoje é a matéria mais disseminada e abundante em todos os laboratórios de pesquisas biológicas, cursos de biologia e medicina e indústrias de medicamentos do Planeta. Sua história pessoal e o resultado de sua morte por câncer estão relatados no livro “A vida imortal de Henrietta Lacks” (2011) escrito por Rebecca Skloot.
O livro conta sua trajetória e sua morte por um câncer altamente agressivo que a vitimou aos 31 anos, e a reprodução de suas células em laboratório que deu nascimento a uma fantástica indústria que gera milhões de dólares em todo o mundo até hoje.
Henrietta, descendente de escravos, vivia no sul dos EUA, região onde a discriminação racial era particularmente cruel. Casou-se muito jovem e aos 30 anos já tinha cinco filhos, quando sentiu fortes dores no abdômen e se viu obrigada a procurar ajuda no hospital Johns Hopkins de Baltimore. Lá constatou-se que ela estava acometida de um tumor cervical altamente agressivo que conduziu a uma metástase que acabou levando-a a morte depois de um cirurgia e de tratamento por rádio sem qualquer efeito. Durante a cirurgia foram-lhe retiradas células de vários órgãos as quais foram enviadas ao biologista e pesquisador George Otto Gey que tentava cultivar células humanas para experimentos sem muito sucesso. Para surpresa do biólogo as células de Henrietta se reproduziam facilmente numa cultura de soro bovino de forma a dobrarem de número num período de 24 horas. Enquanto experimentos anteriores e seguintes com células humanas e dos mais diversos animais tinham uma vida média de cinquenta gerações, as células de Henrietta reproduziam-se continuamente sem perder as características, eram virtualmente imortais.
Acrescente-se que a retirada de seu material biológico foi feito sem consentimento dela ou de sua família, naquele tempo entendia-se que “para o bem da medicina” eram válidos quaisquer procedimentos que hoje seriam considerados antiéticos, imorais ou até mesmo biopirataria. Uma vez constatado a feliz particularidade que representava a reprodução fácil e sem quebra de qualidade das células de Henrietta, as células, a partir da primeira sílaba de seu nome e sobrenome, foram batizadas de HeLa (pronuncia-se rilá), e começaram a ser distribuídas a outros laboratórios de pesquisas de doenças de outras partes dos EUA e para outros países.
Constatado o potencial comercial desse fenômeno, surgiu uma indústria de cultivo e venda de Kits com material pronto para experiências que rende milhões de dólares. As células HeLa são usadas virtualmente em todos os cursos de medicina e da área de ciências biológicas de todo o mundo, sem que os descendente de Henrietta usufruam um cent sequer dos milhões de dólares envolvidos nos negócios. Há que se observar que as células HeLa, embora tecnicamente cancerosas, se comportam como células normais em presença dos vários agentes químicos, físicos e biológicos e meios que são usados nas experiências laboratoriais. As células foram cruciais para desenvolvimento de vacinas, entre as quais as vacinas para poliomielite (Salk e Sabin), pesquisas de milhares de doenças entre elas a AIDS, foram usadas em experiências no espaço e em exposições a radiações nucleares, tendo contribuído desta forma para o avanço na cura e tratamento de doenças acima de qualquer outro material disponível em todo o mundo. Milhares de teses apresentadas todos os anos apresentam resultados conseguidos através de pesquisas efetuadas em células HeLa. Estima-se que foram produzidas tantas células que poderiam lotar um vagão de carga dos grandes, algo em torno de cem toneladas, e o número continua aumentando.
Acostumados com o termo HeLa, e íntimos das infindáveis experiências que procederam nos cursos de ciência biológicas com as células provenientes do corpo de Henrietta Lacks, médicos, laboratoristas, biólogos e outros cientistas, em geral não tem a menor idéia da origem do material e não se dão conta que uma negra pobre e discriminada do sul dos Estados Unidos é a pessoa que, involuntariamente, cedeu sua imortalidade para o bem da humanidade. Não existem estátuas, monumentos ou placas com o nome de Henrietta, as ciências biológicas estão devendo a ela essa homenagem. JAIR, Floripa, 11/08/11.

12 comentários:

Unknown disse...

Isso geraria uma grande discução no meio acadêmico. Eu particularmente, esquecendo as leis da época, acho que seria um dever moral dos que enriqueceram por meio desta célula, reconpensar os descendentes.

Professor AlexandrE disse...

Otimo Post... Aprendi muito com ele... Realmente podemos comprovar as palavras do grande Bertold Brech, de que 'a história só se lembra dos grandes reis e generais', o povo, (soldados, operários, trabalhadores...) que fazem a história realmente acontecer, acaba sendo esquecido. Confesso que ja ouvi falar em células HeLa, mas nem imaginava que eram provenientes de Henrietta Lacks...
Parabéns!

Vida Longa e Próspera!

Attico CHASSOT disse...

Estimado Jair,
mesmo que tenha uma razoável alfabetização científica devo confessar que não sabia uma linha acerca de Henrietta Lacks e menos ainda de HeLa.
Surpreendente.
Quero buscar pelo livro “A vida imortal de Henrietta Lacks” que vi na Wikipédia foi lançado no Brasil pela Cia. das Letras. No YoTube http://www.youtube.com/watch?v=pn6J66XciX8 há um filmete de Portugal (um tanto ingênuo) sobre o livro, tido como o melhor livro de Ciências (e também de não ficção) no Estados Unidos em 2010.
Obrigado por mostrares novos Caminhos,


attico chassot

Leonel disse...

Jair, surpreendente para mim, pois nunca havia ouvido nenhuma menção a esta moça que se tornou praticamente imortal, apesar de desconhecida.
Acho ainda mais surpreendente é ter sido preservado pelo menos o seu nome e sua ligação com este material biológico!
Levando-se em conta a situação social nos EUA daquela época, bem que poderiam ter-lhe negado até esta pequena homenagem...
Mais um resgate histórico do homem do SAR (Search And Rescue)!
Abraços, amigo!

J. Muraro disse...

Muito bom. Fica claro que aos anônimos, as batatas, aos outros os lauréis da história. Ainda bem que tem gente que resgata essas histórias e denuncia as injustiças. Gostei do texto.

Um brasileiro disse...

ola. tudo blz? estive por aqui dando uma olhada. muito interessante. gostei. apareça por la. abrçaos.

Tais Luso de Carvalho disse...

Nada sabia disso, dessa descoberta fantástica.
O ser humano consegue sobreviver com uma parte de si mesmo, sofisticada, e outra parte ainda mergulhada no lamaçal. Esta história poderia ter sido conhecida. Mas, a medicina tendo feito enorme progresso, não conseguiu, contudo, acompanhar o ritmo evolutivo dos males do mundo, ou seja, o homem e suas maracutaias.
História fantástica que deveria estar à luz do conhecimento da grande maioria dos mortais.

Abraços.

Voluzia disse...

Negra, pobre e mulher três maldições que no sul dos EUA fariam dela uma desconhecida para sempre. Quis o destino que suas células a tornassem imortal e agora sua história está sendo conhecida graças ao livro e ao teu blogue. Parabéns.

Elvira Carvalho disse...

Que grande lição aprendi hoje aqui.
Quanto às leis da época permitirem essa utilização sem qualquer compensação para os seus descendentes, é coisa que se remediaria se alguém estivesse verdadeiramente interessado nisso. Acontece que era uma fatia a menos nos lucros de quem as comercializa.
Um abraço e bom fim de semana

Daniela disse...

Uau!!! Eu iria morrer sem saber de tudo isso!!! Aprendi muito com este texto! Mudou muita coisa do que eu imaginava!! Realmente é muito triste não haver reconhecimento ou homenagem a essa grande revolucionadora da medicina!!

Luci disse...

Meu cérebro está circundado por pensamentos sobre humildade,razão do existir,fundamentos éticos,ignorância,eternidade...
Estamos sempre aprendendo e engatinhando na Verdade Absoluta...
Parece que a passagem por este planeta, dos grandes colaboradores
para a qualidade de vida ,é muito breve...Bravo Henrietta!!! Luci.

Elizângela Sena disse...

ESTOU LENDO O LIVRO. A VIDA IMORTAL DE HENRIETTA LACKS(Comp. DAS LETRAS).ESTOU VERDADEIRAMENTE IMPRESSIONADA: É A OPORTUNIDADE PERFEITA PARA ABRIR DISCUSSÃO SOBRE BIOÉTICA,ASSUNTO QUE MUITAS VEZES VEM SENDO EMPURRADO PARA DEBAIXO DO TAPETE.
ELIZÂNGELA SENA