domingo, 10 de julho de 2011

A pedra

Esfera idêntica à que encontrei em Palmeira.



Quando eu tinha por volta de doze ou treze anos, meu primo Joel e eu, fazendo jus a nossa descendência Kaingangue, gostávamos de sentir-nos exploradores intrépidos e, para isso, costumávamos trilhar pelas matas periféricas de nossa cidade natal, Palmeira. Muitas matas ombrófilas, que para nossos propósitos eram perfeitas, circundavam a pequena cidade de modo que era fácil se embrenhar por elas a guisa de autênticos Jim das Selvas nas matas de Bornéu. Na direção da localidade de Quero-quero, dentro de uma mata particularmente fechada onde ninguém costumava frequentar, existia uma depressão na forma de vale onde encontramos uma estranha pedra. Ficamos emocionadíssimos, pois tratava-se de uma pedra na forma perfeita de uma esfera. Uma bola de um metro e meio de diâmetro, aparentando ser antiga e estar naquele lugar há muito tempo. Estava assentada num nicho de rochas areníticas, semi enterrada por galhos, folhas, terra e pedras carregadas por enxurradas que desciam o declive com as chuvas, de resto, a própria bola maciça parecia ter rolado encosta abaixo. Cavamos com as mãos ao lado dela e descobrimos sua redondês perfeita. Também era bastante lisa, mas, ao toque, parecia ser coisa feita pela mão do homem ou por meio não natural. Devia pesar muitas toneladas e percebia-se que não era dali, tratava-se, - depois vim a saber através de pesquisa, - de uma pedra de basalto, sendo que na região não existia basalto. Palmeira é conhecida pelas aflorações de arenito que é uma rocha metamórfica, sendo que basalto é uma rocha ígnea. As tão mundialmente afamadas formações rochosas de Vila Velha, próximas a Palmeira, são aflorações de arenito rosa, o mais comum do Planeta.
Pois bem, excitados corremos para informar nossos pais e tios sobre nossa descoberta, mas recebemos um balde de água fria, não houve interesse por parte deles em conhecer a enigmática esfera, eles tinham coisa mais importante para fazer do que se preocupar com pedras redondas. Assim, continuamos de vez em quando indo lá visitá-la e, em nossa imaginação, tentando entender como foi confeccionada e como foi parar naquele sítio. Mas isso não durou muito, estava em plena construção a estrada que ligaria o porto de Paranaguá a Assunção no Paraguai. Essa rodovia faz parte do acordo do Brasil e aquele país para permitir ao Paraguai um acesso ao mar e, num plano mais amplo, construir a hidrelétrica Itaipu binacional. Alguns meses mais e vieram as máquinas e caminhões e aterraram o vale onde a pedra se encontrava e esta foi soterrada para sempre. A história poderia terminar aqui simplesmente, mas não.
Em 1997 trabalhei alguns meses na Bolívia, voei no Loyd Aereo Boliviano quando essa empresa fora comprada por Wagner Canhedo. As tripulações brasileiras eram baseadas em Cochabamba e ficavam hospedadas num hotel cheio de estrelas naquela cidade. O hotel Herradura, de certo luxo, possuía em suas paredes, como elementos de decoração, quadros a óleo sobre tela pintados por um artista local de nome Patiño. Esse pintor era descendente do mundialmente conhecido Antenor Patiño, rei do estanho, o qual, a seu tempo, fora o homem mais rico do Planeta e, segundo a lenda, deu azo a criação do personagem Tio Patinhas de Walt Disney, mas isso é outra história.
Pois é, entre as tantas e tão originais telas, havia uma que me chamava atenção em particular: tratava-se de uma paisagem bucólica tipicamente cochabambense. Uma vista de pequena aldeia com minúsculas plantações de subsistência e, em segundo plano, meio deslocada do motivo central da tela, uma esfera de pedra. O quadro me fascinava e procurei o autor que eu sabia encontrar na feira de artesanato domingueira da cidade. Fui à feira conversar com Patiño que era um carinha bem simpático e falante. Conversamos bastante sobre arte em geral e quadros em particular, até que lhe perguntei de onde tirou a idéia de registrar a bola de pedra na tela. Ele me contou que a paisagem era de Tiquipaya uma pequena localidade a quinze quilômetros de Cochabamba, e que lá existiam vária pedras como aquela. Minha curiosidade aumentou e tratei de arranjar um mapa meio rústico da região, no qual pedi ao Patiño que assinalasse o local das pedras.
Munido do mapa e uma garrafa d’água ganhei a trilha no domingo seguinte. Sempre altiplano acima – lembrando que Cochabamba fica a oito mil pés de altitude – encontrei algumas lhamas e muitos campesinos aimarás que se deslocavam nos seus coloridos trajes dominicais. Em pouco mais de duas horas cheguei ao local assinalado por Patiño. Era uma aldeia com quatro ou cinco casas de pau-a-pique e, trinta metros à direita do caminho, a indefectível esfera! Fiquei emocionado, a pedra era exatamente igual àquela que encontrei em Palmeira a qual estava gravada indelével em minha mente! Apalpei, esfreguei, alisei, apertei, cheirei e constatei que a esfera era do mesmo material, aparentava o mesmo tamanho e mesma feitura da pedra de minha infância. E mais, em Tiquipaya, como em Palmeira, não existia basalto natural, as rochas da região eram vulcânicas de outro tipo. A 200 metros do primeiro globo existia outro um pouco maior, só que semi enterrado. O mistério da esfera de pedra continuava, só que agora acrescido de mais dois belos espécimes. E a história poderia acabar aqui mais uma vez.
Dia destes, assistindo ao History Channel um programa sobre mistérios que intrigam a história, me inteirei de que na Costa Rica existem pelo menos 300 esferas de pedra. Elas têm de poucos centímetros até dois metros de diâmetro e são confeccionadas de basalto, calcário e arenito, todas aparentam ser esculpidas por homens ou por meios não naturais. São encontráveis na selva e em praias. Também as há em algumas praias do Peru.
O enigma fica cada vez mais denso e, se eu quisesse dar asas à imaginação como Erich Von Daniken, diria que são confeccionadas por deuses vindos de galáxia distante que aqui vieram plantar seus genes nos nativos e deixaram uma marca de sua passagem. Mas, como assisti “Men in Black”, prefiro acreditar que crianças de 57 metros oriundas de outro planeta usaram a América do Sul para jogar bolinhas de gude e, numa tecada muito potente, espalharam algumas bolinhas que ficaram perdidas por aí. De qualquer forma, o enigma continua. JAIR, Floripa, 23/06/11.

5 comentários:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jair, quando vi a foto e depois na leitura de texto fiz a mesma ilação que tu: ’Eram os deuses astronautas” escrito em 1968 pelo suíço Erich von Däniken, que nos envolveu densamente com possibilidade de antigas civilizações terrestres serem resultados de alienígenas que para cá teriam se deslocado.
¿Por que o assunto entrou em esquecimento?
Um bom domingo e obrigado por contares da pedra de tua Palmeira

attico chassot

Leonel disse...

Amigo, eu "vi" pela primeira vez essas pedras (as encontradas na Costa Rica)exatamente no livro ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS?!
Erik von Daniken cometeu o erro de querer partir de uma hipótese e querer ligar todos os indícios encontrados à esta linha de pensamento!
Mas, os enigmas arqueológicos citados no livro são na maioria válidos e permanecem até hoje!
Haja visto que você mesmo se defrontou com um deles e adicionou mais um ítem à questão:como essas esferas foram parar em lugares tão diferentes e distantes como a Costa Rica e o Paraná?
Quem as fez e para quê?
Desta, vez, resgatastes um belo enigma!
Excelente post!
Abraços, Jair!

R. R. Barcellos disse...

Concordo com o Leonel. Herr Däniken conseguiu desperdiçar perguntas válidas com respostas sensacionalistas - por amor à notoriedade. Diferentemente de você, Jair, que apresenta fatos irrefutáveis e deixa ao leitor a instigante tarefa de buscar suas próprias explicações. As minhas? Não as tenho... só me pergunto onde estão as máquinas que os deuses usaram. Abração.

Adri disse...

ADOREI a leitura!!

Joel disse...

Jair. Erich von Däniken defende a teoria de que em tempos pré-históricos e primordiais, a terra recebeu várias visitas de seres desconhecidos procedentes do cosmo e criaram a inteligência humana mediante mutação artificial e dirigida. Ainda segundo Däniken, as visitas destes seres ficaram registradas e em algumas partes depositaram indícios de sua presença entre nós. A pedra que vimos em Palmeira é uma delas, o que prova que receber visitas de alienígenas não é privilégio somente de Varginha. (rsrs)
Grande abraço,
Joel.