sábado, 4 de junho de 2011

Involução



Uma das forças evolutivas observada por Darwin, e que foi comprovada por cientistas posteriormente, é a seleção sexual. Significa que, geralmente a fêmea, escolhe seu parceiro por características físicas que lhe informam sobre a boa saúde do futuro pai de seus rebentos. A seleção sexual é um "caso especial" da seleção natural. Essa força seletiva faz muitos organismos irem a extremos para obter sexo: os pavões mantêm caudas elaboradas, e caras sob o ponto de vista energético, além de ineficientes como camuflagem e extremamente difíceis de conduzir durante uma fuga de predadores. Mas, deve valer a pena, pois os bichos estão por aí há milhões de anos e devem continuar assim se os bípedes pensantes não acharem um jeito de exterminá-los. Outro caso extremo do tremendo impulso dessa força, observa-se na aranha de bunda vermelha, pois o macho dessa espécie, literalmente, se lança dentro das mandíbulas da fêmea voraz, só para ter a chance de acasalar-se com sucesso e perpetuar sua mensagem genética. Segundo Richard Dawkins, o gene egoísta que ele traz dentro de si lhe compulsa a agir assim, portanto, essa não é uma ação “voluntária”, qualquer que seja a definição de voluntária que usemos.
Pois é, durante 3,6 bilhões de anos, desde que surgiu vida no Planeta, os seres vivos foram aperfeiçoando as leis da evolução e conseguiram, literalmente, povoar a Terra da mais recôndita profundeza dos mares até alguns quilômetros acima da superfície. Passando por todos os climas, ambientes e temperaturas os seres vivos tornaram esse mundo colonizado pelos milhões de espécies existentes. Dentro desse espectro de vida que apresenta desde seres unicelulares até a baleia azul, desde a gigantesca sequóia até o inseto que a poliniza, encontra-se um primata bípede pensante que sobressaiu-se dos demais porque criou uma coisa chamada civilização.
Civilização é um termo controverso que, por vezes, tem sido usado de várias formas relacionadas. Primeiramente, o termo tem sido usado para se referir a culturas que são complexas em termos de tecnologia, ciência, e divisão do trabalho. Tais civilizações são geralmente urbanizadas. Em contextos clássicos povos civilizados foram assim chamados em contraste aos povos "bárbaros", ao passo que em contextos modernos povos civilizados foram contrastados com povos "primitivos". Mas, o que realmente define a existência de uma civilização é complexidade de inter-relações pessoais. Ao aglomerar-se o homem passou a evoluir com regras próprias e a evolução natural continuou influenciando certos comportamentos. Assim, na guerra sexual civilizada, continuamos valorizando a cauda do pavão (aparência física), mas adicionamos outra atratividade puramente cultural (conta bancária) e, aí embolou o meio campo.
Na verdade, nossa cultura criou “valores” que determinam o comportamento reprodutivo dos Homo sapiens. Para serem escolhidos pelas mulheres os homens têm que ser fortes, bonitos e ter conta bancária relevante. Os atributos físicos que elas veem nos seus companheiros está claramente de acordo com a seleção sexual observada por Darwin, já, a grana, é um pouco mais sutil sua relação com essa força que forma casais que darão origem a uma prole saudável: Quando a fêmea humana escolhe o sujeito endinheirado, implicitamente está deduzindo que ele é bem sucedido por que tem atributos intelectuais que o tornam melhor que os outros, ou seja, é um bom provedor. Nada diferente do impulso que determina a escolha do espécime mais bonito como melhor dotado para ser pai de sua prole.
Bem, os homens mais másculos, mais ricos, mais bonitos e mais fortes são escolhidos. E quem os escolhe? Aí está uma questão que a civilização só fez embaralhar o que a natureza levou milhões de anos para ordenar. As mulheres “bonitas”, sexis, “top de mídia”, que supostamente são as mais desejadas e serão as primeiras a escolher, não são as mais fortes, grandes ou atléticas. Estão mais para esqueléticas, anoréxicas que comem meia folha de alface por refeição e pesam 47 quilos. É só visitarmos as páginas de revistas femininas para vermos que essa é uma verdade irrefragável. Vi um programa de tevê em que havia uma disputa para eleger o “strongest man” do mundo, realizado na África do Sul em 2010. No final do páreo encontravam-se montanhas de músculos oriundos da Lituânia, Polônia, Estônia, Ucrânia e outras nações da ex URSS. Dava para notar que esses espécimes eram fruto da seleção sexual que uniu duros mujiques durantes séculos, em condições climáticas e de asperezas onde só os literalmente fortes sobreviveram. Esses atletas só tiveram o trabalho de aperfeiçoar a musculatura que a natureza lhes deu. Sintomaticamente as “marias academia”, como mariposas etéreas, esvoaçavam em torno desses brutamontes. A rede da involução estava lançada.
Então ficamos assim: homens bem sucedidos, belos e atléticos casando-se com mulheres débeis e quase transparentes, tipo Paris Hilton. A seleção sexual funcionou para melhor? Parece que não, agora não há como prever que a raça humana vai continuar predominando porque é a mais apta, os descendentes desses casais díspares têm pouca chance de serem os mais aptos, pois, além da genética agora desfavorável, adotam uma vida “civilizada”. Se houver um desequilíbrio na biosfera causado por eventos naturais como queda de um asteróide (que meu amigo Leonel sabe que virá) ou terremotos seguidos de tsunamis que destruam a civilização, o homem agora involuído, que antes fora o “mais apto” estará em desvantagem, suas chances de sobreviver a algo catastrófico são bem pequenas, agora que força e resistência são mais importantes que um cérebro apto a ganhar dinheiro na bolsa.
Então será o fim? Não necessariamente. Os Homo “não civilizados” da selva amazônica, dos confins dos Alaska, do deserto do Kalahari, das estepes russas, do out back australiano, felizmente, não sofreram influência de nossas escolhas e permaneceram cruzando-se da maneira que a natureza determinou ser a melhor para a sobrevivência da espécie. Depois da catástrofe a terra será repovoada por Homo resistentes e adaptados ao novo Planeta. A involução só atrapalhará nós, comedores de hambúrgueres e tomadores de coca cola. JAIR, San Diego, 01/06/11.
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5 comentários:

Leonel disse...

Alô, Jair!
Genial a forma como chamastes a atenção para este fenômeno adaptativo que parece distorcer os propósitos iniciais da evolução!
Realmente, as seleções para o acasalamento e procriação são claramente evolutivas, pois dependem do que significa ser "o melhor" em cada ambiente.
No contexto da nossa civilização, onde já superamos a fase do caçador-provedor, o "macho-alfa" é o indivíduo bem sucedido financeiramente!
E isto funciona até em microcosmos: veja quem tem mais amantes, geralmente bem jovens, nas "comunidades carentes": o operário marmitão ou o jovem chefão do tráfico?
Nem precisa responder, né?
Outra excelente postagem!
Continua em forma!
Abraços!

R. R. Barcellos disse...

- Já expus a minha opinião a respeito no post "Sexo", embora não tão aprofundada como a sua. Mas talvez não precisemos esperar o asteróide do Leonel - certo mas em data incerta - em relação ao bicho-homem: nós mesmos nos encarregaremos do estrago.
- Abraços.

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jair,
uma vez mais um texto de densa reflexão. Talvez a despretensiosa charge que trazes na abertura mereça maior consideração: o quanto aspectos tecnológicos ‘transformam’ a rota da evolução natural. Trazes isto quando assinalas as modificações de padrões de beleza. Nossa geração viu as disputas capitalistas determinar modificações nos padrões de beleza. Recordo em minha infância havia um concurso de robustez infantil patrocinado pela a indústria de alimentos infantil. Hoje a indústria selvagem da moda criam as über models. Também as igrejas interferem nesta rota, a começar pela construção social da monogamia e terminando pelas restrições à contracepção.
Dawkins poderia escrever os genes violados.
Obrigado por estas reflexões no dia mundial do meio ambiente aditadas por teus doutos comentaristas.
Com admiração
attico chassot

Adri disse...

Talvez a tal da "Involucao" do ser humano seria uma estrategia da evolucao da natureza… sendo que o homen continua matando a mesma a cada dia… Talvez a natureza teria o ser vivo a evoluir a tal ponto que a tehnologia do homens pudessem distrbuir a semente da vida para outros planetas ao mesmo tempo, a sociedade humana e o modo em que vivemos hoje em dia, nos fariam frageis a quiasqueir fenomenos terrestres.. O dia que mandassemos sementes de vida para o universo.. este sim seria nosso passo para a evolucao...

Camila Paulinelli disse...

Olá, minha opinião sobre o que ocorre nos dias de hoje baseado no conteúdo do seu texto é a de que a grande massa das mulheres com o perfil descrito está à procura de uma situação financeira cômoda. A aparência fica em segundo plano. Se nos primórdios o "tipo" descrito se interessava por homens naturalmente fortes, hoje este poder se transferiu para a conta bancária. Vale ressaltar que estou falando da característica da mulher descrita no texto. Beijos da nora,