domingo, 22 de maio de 2011

Sobre Vegas


Quem já esteve em Nova Iorque sabe por que ela é conhecida como “Umbigo do Mundo”, é que por lá passam todas as tendências culturais, desde moda, até teatro e cinema, passando por livros, restaurantes e grandes espetáculos. Lá se encontra a amálgama de todas as etnias e todas as cores dos povos de todos os países do Planeta, com suas idiossincrasias e costumes. Há quem diga que se um morador da cidade quiser comer todos os dias em um restaurante diferente pode viver sessenta anos sem jamais repetir um sequer. Há quem diga que se pode viver em Nova Iorque sem saber uma única palavra de inglês, e, ainda assim, não ter qualquer dificuldade no dia-a-dia. A Grande Maçã é a cosmópolis por excelência, todas as esquinas do mundo lá se encontram.

Diferentemente de Nova Iorque, Las Vegas não quer ser referência cultural ou étnica nem mesmo dos cidadãos do país, não quer ser um pólo de atração das tendências mundiais, quer somente oferecer lazer sem preconceitos e sem restrições a qualquer cidadão que esteja disposto a gastar algum dinheiro. Fazendo uma analogia, se Nova Iorque com relação à cultura representa uma biblioteca, Las Vegas com relação ao dinheiro representa um banco. Ninguém sai de Nova Iorque com menos cultura, ninguém sai de Las Vegas com mais dinheiro.

Para o crítico pode parecer que Vegas, como os iniciados a chamam, é apenas um lugar de vício e desregramentos, uma espécie de Sodoma onde as pessoas transgridem seus valores, se perdem em libertinagens e gastam fortunas em jogos viciantes. Para registrar minha impressão pessoal sobre a cidade repito aqui um trecho do que escrevi sobre este povo do norte: “Os cidadãos dos EUA acreditam que são ricos porque são um povo decente que trabalha duro (o mais das vezes isso é verdade)...”. Assim, um povo, o mais das vezes decente e que trabalha muito, se vê com direito a ter um lugar de lazer onde o “normal” é ser diferente, onde ele possa “soltar os bichos” sem culpa. Esse lugar é Vegas. É a única cidade daqui onde a prostituição é legalizada com direito a outdoor e caminhões de propaganda circulando pelas ruas com fotos e chamadas em letras grandes; é a única cidade na qual se pode beber em público nas praças e ruas.

Para obter o clima, tanto metafórico quanto real, dessa cidade construída em pleno deserto, os arquitetos não economizaram em imaginação, criatividade e custos. “The strip”, que é o núcleo onde se encontram os cassinos-hotéis, ou hotéis-cassinos, é pródigo em reproduzir com eficiência e convicção, monumentos, ambientes e cenas de outras partes do mundo. Tudo climatizado. Aqui a gente pode almoçar na torre Eiffel idêntica à de Paris, só que com metade da altura; atravessar sob Arco do Triunfo em escala um por um; é possível passear de gôndola dentro do hotel Venetian, com direito a gondoleiro veneziano autêntico que canta La Traviata e apreciar o teto da capela sistina em todo seu esplendor, nos mínimos detalhes, assim como lançar moedas numa Fontana di Trevi em todo seu esplendor; aqui há uma abundância de cascatas, tão convincentes quanto as vistas nos filmes, aliás,a sensação constante é que estamos dentro de uma cenografia de Hollywood de um bom filme sem qualquer demérito; dá para visitar o coliseu e o senado romanos; há como passar embaixo do arco do Triunfo, atravessar a ponte do Brooklin ou andar pelas ruas do “east end” em Nova Iorque. Num espaço fechado como um shopping,chamado Miracle Mile é possível andar (pela extensão de uma milha naturalmente) e fazer compras em lojas modernas e caras num “bairro” de uma cidade do oriente médio, com arquitetura mourisca medieval, sob um céu azul perfeito com poucas nuvens, ou num trecho em que nuvens carregadas debulham uma chuva intensa com raios e trovões de hora em hora. A réplica beira a perfeição, tem-se a nítida impressão que se está numa rua de verdade e que os trovões e relâmpagos são, não só verdadeiros como perigosos, pessoas desavisadas se abrigam com certa rapidez, mesmo porque a chuva molha de verdade. Parece que a “bolha” que encerra o mundo do personagem de Jim Carrey, no filme “O Show de Truman” é uma reprodução bem próxima do que vemos em Vegas.

Ainda em “The strip” há um imenso lago com milhões de litros de águas límpidas que proporciona ao público, a cada hora cheia, um espetáculo de “dança da águas” onde surgem, no ritmo de música geralmente clássica, chafarizes colossais em intrincadas coreografias que fascinam o imenso público que se reúne nas margens para apreciá-lo. Vi em um programa de tevê, Discovery Channel eu acho, a engenharia complexa que foi necessária para montar a formidável parafernália que coordena os programas de computador feitos a partir da música, com os mecanismos intrincados que fazem jorrar água, através de bombas poderosas e reservatórios de ar comprimido de alta pressão, a altura de até 60 metros. Curiosamente, todo esse caríssimo espetáculo é proporcionado pela iniciativa privada, nada de poder público se metendo em eventos comerciais onde empresários que faturam milhões se veem obrigados a oferecer àquele público que os mantém, algo de grandioso e fascinante. Gostei imensamente da dança das águas, se não foi o maior espetáculo que já assisti, chegou bem perto disso.

A finalidade de estarmos em Vegas, minha mulher, nossos dois filhos, sendo que um veio da Austrália para aqui diretamente, e eu, foi comemorar os sessenta anos dela. Para isso, nos hospedamos no MGM (Metro Goldwyn Mayer) Hotel Casino o qual, de acordo com sua propaganda, é o segundo maior do mundo, com seis mil quartos. Além disso, possui quatro cassinos, dezessete restaurantes, cinco piscinas e mais um “rio” onde se pode boiar levado pelas águas correntes num circuito fechado de oitocentos metros. Existem dezenas de lojas de luxo todas com suas portas voltadas para os cassinos ou nas proximidades deles, parece que a idéia é “pegar” o ganhador eventual que, provavelmente, não deixará de comprar um rolex ou uma jóia cara para sua mulher se tiver alguns milhares de dólares a mais no bolso. Relembrando, ninguém sai daqui com mais dinheiro que entrou.

Como eu disse, tudo é rigorosamente climatizado, não há como dar conforto a seus hóspedes no meio do deserto com altas temperaturas – às vezes muito baixas também – e graus de umidade baixíssimos, – ontem estava a menos de seis por cento – de modo que gastam-se milhões de dólares para manter temperatura e umidade do ar agradáveis em todos os ambientes. À noite o espetáculo fica por conta das luzes, não é a toa que fotos noturnas do Planeta mostrem que Vegas é o ponto de luz mais destacado, até mais que Nova Iorque ou Los Angeles. Além disso, existe um adágio muito conveniente que reza: “O que acontece em Vegas, permanece em Vegas”, de modo que o liberou geral daqueles WASP (White Anglo-Saxon Protestant) hipócritas e ultra conservadores que soltaram a franga por aqui não será comentado jamais depois que o avião decola.

Outro trecho do texto “Sobre os EUA” que escrevi: “Os americanos do norte são os melhores comerciantes do Planeta, até porque sua economia é baseada no consumismo desenfreado”, Vegas, nada mais é que o mais perfeito exemplo de cidade que se comporta dentro do espírito mercantilista desse povo cujo lema de vida é: compre! Tudo aqui está à venda, inclusive, casamento. Sim, como nos filmes, aqui é possível casar-se em questão de minutos, sem sair do hotel, para isso existe uma instalação adequada, uma espécie de capela, e um Celebrant, pessoa autorizada a celebrar casamentos, tão válidos como qualquer outro. Existem dezenas de capelas e o serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias do ano, assim, é comum, tanto cidadãos virem aqui para casar de forma rápida e indolor, quando pessoas se conhecerem na mesa de Black Jack e resolverem se casar, por período curto as vezes, em alguns casos até acabar a ressaca. Britney Spears é o caso mais famoso, casou-se aqui no MGM e divorciou-se uma semana depois.

De qualquer forma, vale à pena vir a Vegas, eles a construíram e a mantém para a diversão do mundo, e estão conseguindo graças à competência com que encaram o trabalho cansativo que é proporcionar lazer! JAIR, Vegas, 20/05/11.

9 comentários:

R. R. Barcellos disse...

- Tudo muito bonito, mas se resolverem arriscar alguns nos "Casinos", lembrem-se do México e de suas zebras, e deixem a jogatina por conta da cara-metade...
- Abraços a toda a família!

Leonel disse...

Beleza, Jair!
Acho que é um sonho para se viver acordado, como você disse, um "show de Truman"!
Aproveitem e curtam!
Abraços!

Attico Chassot disse...

Muito estimado Jaïr,

obrigado pelo teu comentário desde Las Vegas.

Tua blogada de hoje está supimpa,

Com admiração

Augusto Lopes disse...

Na minha primeira visita a Las Vegas senti uma espécie de indignação com estas cópias que Vegas faz de pontos turísticos. Na segunda visita que foi por conta de o casamento de um grande amigo, me foi mostrada o prazer que se pode tirar da sençação de se estar em um filme com direito a cenário onde nós todos somos atores. Hoje depois de inúmeras visitas gosto bastante de brincar de Las Vegas!

Adriano disse...

Adri disse...

Gostei do texto!! A descrição traz sensação que estamos lá mesmo!!

J. Muraro disse...

Joia, Jair, gostei dessa tua aventura a Vegas tão bem explanada. Pretendo gastar uns pilas aí um dia desses. Abraços.

Camila Paulinelli disse...

Olá,
Cada passeio em Vegas é uma nova emoção. Após várias visitas a esta cidade ainda resta um gostinho de quero mais. Além do prazer de jogar um pouco nos inúmeros casinos, o que mais me encanta até hoje são os suntuosos hotéis. Tudo funciona de modo que nossa mente fica limpa apenas para saborear este mundo paralelo. Vale lembrar que saborear com moderação é importante pois a confusão de realidade e sonho é intensa.
Beijos da nora,

Anônimo disse...

Olá,
nossa, admiro e ao mesmo tempo me assusto com Las Vegas! (o que mostram no seriado CSI, que acompanho). Não gosto do consumismo dos americanos, mas, quem sabe um dia eu venha a conhecer esta cidade ímpar.
Obrigada pelas informações, o seu texto me possibilitou mais admiração por esta obra americana!
Maria Lucia.

Anônimo disse...

Oi Costa Matos, que bom saber que andas pelas terras do tio San. fique bastante triste em termos nos desencontrado quando estivestes aqui em Poa.Beijão na patroa pels 6.0, bejão nas cria e pra ti um abraço bem xinxado.
Fabio
PS. I love Vegas