Depois que passei para a reserva da FAB, me concedi um período no qual entrei para uma escola de dança de salão, onde aprendi as técnicas dos passos e requebros necessários para homenagear Terpsícore que, segundo a mitologia grega é: deusa da dança, seu símbolo é uma lira ou címbalos. Inventou a dança, usa uma coroa de louros e está sempre carregando um instrumento musical em suas mãos. Não só isso, há muito suspeitava que existisse uma habilidade jacente em meu id que gostaria de se expressar em forma de arte, qualquer forma de arte, mas provavelmente arte plástica. Por isso, desobrigado de minhas lidas profissionais que haviam me ocupado por trinta anos, me vi com tempo livre para frequentar, primeiramente um curso de desenho básico, depois um de modelo vivo (nu), por último, aulas de pintura em tela. Confesso que me encontrei com as “artes” no curso de pintura. A capa de meu segundo livro “O Tuaregue” é uma foto de quadro que produzi em óleo sobre tela em 1995, o qual tem o mesmo nome do livro.
Bem, então o que é arte? Talvez o conceito mais procurado do Planeta – nunca definido em definitivo - que existe e que não satisfaz os múltiplos olhares que os artistas usam sobre as obras por eles produzidas. Vejamos um dos conceitos mais aceitos pela maioria que se debruça sobre o assunto: “A arte é a expressão do belo”. Muito bem, o que é belo então? Se “Quem ama o feio bonito lhe parece”, o belo é o que é: subjetivo. Não há, portanto, convergência de opiniões quando se trata de arte, entretanto, como cada um pode ter sua própria definição, para consumo interno, costumo dizer que arte é aquele obra ou criação com o qual você pode conviver todos os dias sem se cansar dela. Adquirir uma obra de artes plásticas é como um casamento, você terá que conviver com a outra parte nas horas boas e ruins, não há como apagar ou acender um casamento, um quadro ou uma estátua. Para ilustrar o que digo dou um exemplo. Fui a uma exposição de arte que incluía “instalações”. Uma dessas “instalações” apresentava fotos hiper realistas peças de carne de porco meio apodrecidas e cheias de moscas jogadas na sarjeta. Pergunto: Será que alguém levaria para casa tal montagem e a colocaria na sua sala de visitas onde a veria todos os dias de sua vida? Tenho minhas dúvidas. Sob minha definição aquilo não era arte, não te induzia a um “casamento” para toda a vida. Tenho duas marinhas, óleo sobre tela, do grande pintor paulista Carvalho de Castro, as quais não me canso de apreciar, a cada dia me parecem melhores e mais me encantam, então, de acordo com o que defini, são obras de arte.
E o artista então? Quem é o artista? Todos somos artistas? Meu professor de pintura costumava dizer que todos temos o dom artístico, o que diferencia uns dos outros é apenas a intensidade com que essa faculdade nos contempla. Uns têm maior dom que outros. No Brasil o conceito é elástico, costuma-se rotular de artistas todos que aparecem na telinha, por exemplo. Quando Morgan Freeman esteve por aqui lançando um programa de conservação da natureza, foi abordado por uma repórter que o chamou de artista. Ele observou: “Artistas são aqueles que criam as obras, nós atores apenas interpretamos sua arte”. Parece que Morgan Freeman tem os pés no chão, não vale para ele o título de artista quando apenas mostra a arte dos outros através de seu talento cênico. Pra mim faz todo o sentido do mundo, se você não está criando algo, você não é artista.
Bem, o mundo das artes plásticas o qual frequentei por alguns anos, me doutrinou a olhar, me fez enxergar ao invés de apenas ver, valeu para tornar-me mais afinado com a alma daqueles que criam. Aprendi uma coisa fundamental: O verdadeiro artista cria para si, qualquer coisa que produza está relacionada com suas angustias e carências internas, não se faz arte “para os outros”. O ato de criar satisfaz o ego daquele que cria. Particularmente, sinto mais satisfação no ato de criar e, se o resultado for bom, transforma-se em merecido bônus. Mas, para não ficar apenas na produção, costuma-se definir as etapas a que um verdadeiro artista pode passar. Primeira: Aceitação, o artista faz sua própria exposição; Segunda: Valorização, o artista vende seu primeiro trabalho; Terceira: Consagração, o artista tem suas obras falsificadas; Quarta: Imortalidade, suas obras, objetos de cobiça, passam a ser roubadas.
Para encerrar criei uma frase que define meu sentimento a respeito do fascinante universo da criação: “O pior dos mundos: Às vezes, a angústia e ansiedade típicas dos artistas e escritores me assomam, contudo, o talento destes não as acompanha”. JAIR, Floripa, 12/01/11.
6 comentários:
- Qualquer obra de arte pressupõe uma dose de angústia em sua criação, e eu ouso dizer que o próprio Criador sentiu essa angústia criativa. E já que vc nos dá liberdade para definir arte, eis a minha definição:
- "Arte é o que podemos conceber quando nos abstraímos da realidade material para focalizar a irrealidade que permeia nossos sentidos". Abraços, artista!
Jair, você gosta mesmo de temas difíceis.
A arte pode ter diversas definições, e cada uma delas pode sempre deixar escapar alguma coisa.
Alguns artistas ás vezes exageram na abrangência do conceito em suas criações, esgotando a paciência da sua eventual platéia.
Às vezes, teimam em apresentar como "arte" coisas extremamente desagradáveis, com o intuito de escandalizar, e mostrar-se inovadores!
E quando são repudiados, dizem que sua obra "não foi compreendida"!
É que era mesmo uma porcaria!
Abraços!
Na minha m odesta opinião, quem escreve bem como você é artista. Artista com todas as letras maiúsculas: ARTISTA.
__________________________________
Gostei da sua exposição!
Para mim, arte é tudo aquilo que a emoção constrói... É claro que a técnica é necessária, mas quando a emoção não está presente, a obra nunca se destacará será apenas mais uma entre tantas... Isso se reflete em todas as áreas, seja na pintura, escultura, dança, literatura etc...etc..
Beijos de luz e o meu carinho!
_____________________________
Oieeeee!!!
Passando pra ver sua linda criação e dizer que li sua postagem sobre ARTES, encantei-me por que vi que artistas somos todos nós, por que criamos nossa família, construimos nosso futuro, lutamos por um ideal e assim vamos errando ou acertando pela vida como atores dos nossos próprios atos.
Parabéns pelo blog senhor escritor.
Olá,
Para mim, arte é usar os elementos que já nos estão disponíveis para criar uma forma nova. Você o fez e o faz muito bem usando as palavras para criar novas obras, como seus textos, livros e usando as cores para suas lindas pinturas. Parabéns. Beijos da nora,
Postar um comentário