terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A bomba do fim do mundo


Para entendermos como funciona o mais poderoso artefato que o homem já construiu, temos que adentrar ao núcleo do átomo e ver como funciona a conversão de matéria em energia. Primeiro vamos àquele modelo simplista de átomo que Niels Bohr concebeu: Com elétrons com carga negativa orbitando um núcleo composto de prótons com carga positiva e nêutrons naturalmente neutros, tudo em equilíbrio relativo. Porém, como se mantém unido o núcleo, somente com prótons negativos e nêutrons? Os prótons, sem força oponente, deveriam estar se repelindo mutuamente de forma a separar-se. Mas não o fazem, de forma que os físicos chegaram à conclusão que existe uma ligação poderosa que os une, ligação que eles chamam de “força nuclear forte”. Quando certos núcleos são divididos, a energia que liberam representa a mais poderosa produção de energia que se conhece.

Podemos fazer uma analogia: O núcleo seria como uma porta provida de uma mola muito forte. Teríamos que fazer um grande esforço para abrir a porta. Contudo, no momento que a soltássemos ela se fecharia com grande ímpeto, provavelmente com uma violenta pancada. Essa porrada é a energia correspondente aos prótons e nêutrons que foram separados e reúnem-se em outro núcleo. Essa energia é a base da fissão (Bomba atômica) e da fusão (Estrelas e Bomba de hidrogênio).

Como já escrevi antes, o processo de fissão foi usado para se construir as bombas que destruíram duas cidades japonesas durante a guerra, e a maioria das bombas que compõe os arsenais nucleares de vários países deste Planeta. No processo, um número suficiente de nêutrons bombardeia certa quantidade de plutônio ou urânio explodindo os núcleos dos átomos, liberando pressão e calor em quantidades inimagináveis. Isso é assim nas chamadas bombas atômicas. Agora vejamos a partir daí. Cerca de dez anos depois da primeira bomba de fissão, consoante com a teoria desenvolvida por Leo Szilard, o qual havia proposto a reação em cadeia, a pressão e o calor gerado por uma bomba atômica foram usados para detonar o que seria a bomba do fim do mundo. O processo de fusão ocorre no interior das estrelas, onde, devido à imensa força gravitacional, os núcleos de dois átomos de hidrogênio se fundem formando um átomo de hélio.

No nosso dia-a-dia estamos habituados a pensar e admitir três estados da matéria: sólido, líquido e gasoso. Contudo existe um quarto estado ao qual os físicos deram o nome de “plasma”. Com ele se designa um estado da matéria quando submetida a temperaturas muito superiores a 2500° C, e é possível que hidrogênio em estado de plasma seja a matéria mais abundante do Universo. Sabemos através de rádios telescópios e pelo incrível Hubble que nosso Universo se compõe de bilhões de galáxias e que cada uma contém bilhões de estrelas que, neste momento, estão convertendo zilhões de toneladas hidrogênio em hélio e liberando a energia resultante dessa fissão. Recebemos aqui na Terra algo em torno 1/2.000.000.000 da energia que o sol produz e, desse montante, aproveitamos menos de um por cento. Contudo, essa ínfima quantidade de luz e calor dá condições para que haja vida no Planeta com toda essa abundância que conhecemos.

A nossa humilde estrela, o Sol, transforma a cada segundo, mediante o processo de fusão, 657 milhões de toneladas de hidrogênio em 653 milhões de toneladas de hélio. As quatro milhões de toneladas restante não se perdem, são lançadas como energia radiante no espaço. É assim que a famosa equação de Einstein: E=mc², cuja explicação é que a energia de um objeto é igual à massa multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz, funciona diariamente para nossa sobrevivência.

Apesar desses números literalmente astronômicos, aqui na terra já se consegue reproduzir esse processo estelar. A bomba termonuclear de fusão – a chamada bomba de hidrogênio – explodiu pela primeira vez em 1952, utilizando como detonador uma bomba nuclear de urânio 235 para produzir um lampejo de calor tão intenso a ponto de fundir o hidrogênio, transformando-o em hélio e, portanto, capaz de liberar exatamente o tipo de energia gerada no interior do Sol e de todos os bilhões de estrelas do Universo. E, claro, produzindo também todo o tipo de outros riscos à vida do Planeta que algo tão terrível assim traz em seu bojo. A verdade é que a bomba do fim do mundo não foi assim chamada por Leo Szilard por mero acaso, pois ao contrário do Sol, cujos raios são diretamente responsáveis pela vida na Terra, a bomba “H” não tem outra função a não ser aniquilar a vida e tudo que dá suporte a ela. Podemos deduzir, a partir da fusão nuclear, uma dialética da física, se é que tal expressão possa existir: A energia que tornou possível nossa existência é a mesma que poderá nos destruir algum dia. JAIR, Floripa, 19/12/10.

5 comentários:

R. R. Barcellos disse...

- Jair, poucas pessoas sabem que bombas como a que destruiu Hiroxima são usadas hoje como simples espoletas para as armas de fusão. Sempre que penso nisso, vem-me à boca um gosto de sangue.
- Pretendo postar, após esse período de festes (que ninguém é de ferro), algo na mesma linha.
- Enquanto isso, parabéns. Um abraço.

Leonel disse...

Jair, não sei se me confundi, mas há um trecho em que está escrito:"...o Sol, transforma a cada segundo, mediante o processo de fissão, 657 milhões de toneladas de hidrogênio em 653 milhões de toneladas de hélio."
Mas, se o hélio é mais pesado que o hidrogênio (2->8), não seria fusão, ao invés de fissão?
Sorry, se errei, teu texto está ótimo, e é um dos mais simples que eu já vi para explicar com clareza uma coisa tão complexa.
Só tive dúvida neste trecho.
Abraços!

JAIRCLOPES disse...

Leonel,
Você tem razão, eu dei uma cochilada e deixei o cachimbo cair. No interior das estrelas, como nosso Sol, o processo é FUSÃO e não FISSÃO. Já corrigi e agradeço a observação.

Leonel disse...

Na época em que surgiu a bomba de hidrogênio, eu achei que fosse exagero dizer que a bomba atômica servia apenas de "espoleta" para detonar a nova arma!
Mas era verdade!
Abraços! Aguardo novos textos tão interessantes como este!

22 de dezembro de 2010 08:21

Anônimo disse...

Sempre falaram que quando a primeira bomba atômica explodisse, "a próxima guerra ia ser com tacape",..porque segundo Einstein nada mais cresceria debaixo do sol por mais ou menos um milhão de anos, e isto tendo como ajudante anonimo alguma ameba dormida e trazida a tona por vulcões. Bom,..falando sério,..cê tem certeza que o homem não está blefando como simples vendedor de panela, se até hoje os japas morrem de câncer, aquilo não foi uma bomba suja, mistura de dinamite e polvilho césio de Goiânia?