É um paradoxo que o Homo sapiens tenha, desde os tempos primitivos, lançado seus detritos e dejetos, justamente, nos cursos d’água, dos quais provém grande parte de sua água potável e, em decorrência, donde pode provir sua saúde ou doença. Contudo, sob condições naturais, os rios e riachos têm poderes consideráveis de se auto limpar. O fluxo de água arrasta os detritos de sais, solo, madeiras, cinzas e pedras para os oceanos e lagos. As bactérias usam o oxigênio dissolvido na água para decompor os detritos orgânicos e, por sua vez, são consumidas pelas plantas e outros organismos que se transformarão em comida dos peixes. As plantas e animais que se valem dessa cadeia alimentar devolvem à biosfera oxigênio e carbono, mantendo o equilíbrio ecológico desse sistema. O inconveniente desse despejo orgânico nas águas é que bactérias se introduzam na água que se vai beber e infectem com doença intestinal o consumidor. Aliás, diarréias e outras infecções intestinais são as maiores causadoras de morte nos países menos desenvolvidos, matam mais que câncer, desastres naturais e acidentes de trânsito somados. O Haiti pós terremoto é uma prova viva dessa terrível e inescapável verdade.
Se a poluição, digamos, “doméstica” acompanha o homem desde suas primeiras sociedades tribais sem consequências muito danosas, o verdadeiro problema surge com a nova ordem urbano-industrial. Em primeiro lugar, a urbe industrial reúne milhares e milhares de pessoas em concentrações absurdas e potencialmente incontroláveis, sanitariamente falando. Os sistemas “naturais” de eliminação de esgotos através de rios se tornam saturados e, como acontece nas grandes cidades brasileiras depois de chuvas intensas, muitas vezes retornam e contaminam ruas, residências, a própria água de beber e os alimentos. Quem já viu o pequeno agricultor dos cinturões verdes das grandes cidades regando os legumes que vamos comer no dia seguinte, já entendeu o risco que corremos. Além disso, os processos industriais aumentam enormemente a gama de materiais que as bactérias não podem eliminar – os não biodegradáveis – e muitos deles são extremamente venenosos, como cianetos ou metais como chumbo e mercúrio. O acúmulo de detritos industriais pode - e normalmente o faz – alcançar o subsolo e o lençol freático, e contaminar a água potável.
Vale lembrar que os detritos orgânicos lançados pelas usinas de açúcar e fábricas de papel podem sobrecarregar os suprimentos disponíveis de oxigênio dissolvido nos rios. As bactérias consomem todo o oxigênio à medida que decompõe essa imensa massa de detritos. Às vezes não sobra absolutamente nada e, como toda vida aquática requer oxigênio, o rio “morre” e fede como o Tietê não nos deixa esquecer. Quanto mais lento for o rio, maior será a possibilidade de ele morrer logo. No Japão, todos os rios nas proximidades de Fuji estão mortos pelas indústrias de papel concentradas naquele sítio.
Mesmo quando sobra algum oxigênio depois que as bactérias executaram sua parte, existe um perigo adicional. A decomposição reduz os detritos a moléculas simples dos elementos básicos – potássio, fósforo, nitrogênio e outros nutrientes. Ora, nutrientes e água formam a interessante matéria conhecida como fertilizante. Grandes colônias de bactérias e algas se desenvolvem a partir desses compostos gerando “florações” que liberam gases fétidos. Ó Tietê, por que me lembro de você? (Perdão leitores, não resisti a este besteirol).
Bem, então chegamos à questão que deve pautar as decisões daqueles que acreditam na sobrevivência do homem, a despeito do... homem. A quantidade de água existente na Terra neste momento é virtualmente a mesma de quando há dois milhões de anos os homídeos formaram seus primeiros clãs, se reuniram nas primeiras sociedades. O Planeta não perde nem “fabrica” água adicional, tampouco esta vem do espaço, estamos usufruindo – muito mal - da mesma água há milhões de anos e, nesse tempo, multiplicamos por bilhões o número de usuários e desenvolvemos zilhões maneiras de poluí-la. Então o que queremos? Nosso projeto é esgotar toda a capacidade da água de se regenerar naturalmente? Estamos, burralmente, nos suicidando de sede e envenenados num futuro imaginável? Respostas. Se não tomarmos ciência que maltratar a água e julgá-la recurso inesgotável é burrice, estaremos escorregando amoque direto para a auto extinção como lemingues correndo para as falésias traiçoeiras e mortais. Ou o Homo coloca a conservação da água no pedestal mais alto de suas prioridades imediatas, ou seremos as últimas gerações que este acolhedor Planeta azul viu nascer e verá morrer. Me permitam fazer um desabafo ainda que provisório: O bicho Homem é um energúmeno que não merece viver no Planeta no qual nasceu. JAIR, Floripa, 30/11/0.
6 comentários:
Meu velho amigo Jair, sempre descrente do mérito do homo sapiens para ser a espécie dominante do planeta!
O pior é que os fatos parecem cada vez mais mostrar que você tem razão! Os procedimentos autodestrutivos do ser humano são criticados desde os tempos do mestre Jonathan Swift.
Infelizmente, alertas sobre o mau uso das águas estão caindo na mesma vala comum onde caiam os avisos sobre as mudanças climáticas causadas pelo mau uso da atmosfera, até os efeitos começarem a se mostrar, bem antes do que se esperava!
Estou apoiando esta sua verdadeira campanha de esclarecimento!
Abraços!
- Esquenta a cabeça não, Jair... quando o último H. Sapiens tiver morrido de infecção intestinal, as bactérias herdarão a Terra e se encarregarão de limpar a água...
Tenho que concordar com você, o homem está matando a natureza e causando sua própria extinção.
Concordo com Barcelos!
Olá,
Muito importante lembrar que mesmo uma água que pareça limpa pode causar uma doença intestinal se a pessoa bebê-la sem antes tomar as devidas precauções (fever, etc...). Falo isso, pois mesmo sendo um assunto tido como velho, ainda vejo gente bebendo a água diretamente e ficando doente.
Bom, no meu modo de pensar o homem não é tão inteligente assim como se prega. Se fosse, usaria a beleza da natureza de uma forma NATURAL para uma vida coletiva saudável.
Beijos da nora,
como diria a grande massa ignorante.. " eu não gosto de água, bebo refrigerante"
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