domingo, 24 de outubro de 2010

Sobre a vida



A maravilhosa ciência substituiu a ignorância e a superstição e, ao longo dos séculos, através de métodos e movida pela curiosidade, conseguiu encontrar respostas para a maioria das perguntas que inquietavam o Homo sapiens na sua marcha rumo à civilização. Quase tudo, a seu tempo, foi, aos poucos, sendo equacionado, medido, pesado, calculado, observado, descoberto, inventado, descrito, formulado e adicionado ao modus vivendi do homem nas suas lidas diárias neste planetinha azul. Assim, a biologia, a astronomia, a física, a química, a medicina, a metalurgia e tantas outras matérias se incorporaram à sociedade de tal forma que o homo moderno nem se dá conta do quantum de tecnologia que o cerca.

A história e o progresso tudo devem à ciência e a suas respostas, contudo, no meio das indagações humanas existe uma área na qual a ciência continua exatamente como há milhares de anos, quando o homem adquiriu consciência de si próprio e percebeu que havia a seu redor coisas animadas e inanimadas, ou seja, percebeu a existência da vida. Decorrente da percepção da vida, a pergunta, não apenas retórica ou filosófica que ele se fazia era: O que é vida? Pois é, de lá para cá, mesmo depois de a ciência ter percorrido o caminho que levou os primeiros humanos à Lua; de ter descoberto e domesticado a energia atômica; de ter conquistado os ambientes mais inóspitos do Planeta; de ter desenvolvido a eletrônica de modo espantoso; e de ter prolongado a vida dos humanos a níveis impensáveis há um século, a resposta para o que é vida biológica continua não existindo tal como quando foi formulada.

Afinal, qual a diferença fundamental entre um ser vivo e um inanimado? A resposta com toda certeza não é encontrável a partir de simples observação das coisas que nos cercam, o que vemos é apenas constatação que existem seres de uma e de outra natureza, não como e porque eles são o que são. A diferença não reside seguramente nos átomos que os constituem. Não existe qualquer diferença entre os átomos de carbono de nossos corpos e os da ponta do lápis com o qual escrevemos, ou os do diamante que vemos na joalheria; ou entre o ferro que contemos e o da panela na qual cozinhamos; ou entre o oxigênio de nosso corpo e o da água que nos banhamos, e assim por diante, em qualquer relação com o material de seres vivos e não vivos. Os blocos constituintes básicos de todos os agregados materiais, tanto vivos como não, pensantes ou não, são exatamente os mesmos: átomos. Então não é por aí, não existem átomos vivos e átomos inanimados. O que será então que provoca a diferença? A resposta parece ser as combinações entre os átomos, moléculas de arranjos extremamente mais complexos entre uns e outros. Só que essa suposição não se sustenta: Um pássaro vivo e um morto têm as mesmas combinações atômicas e moleculares e, no entanto, não são a mesma coisa, a um deles falta vida.

A superstição primitiva que apaziguou a angústia humana quando não havia respostas, criou a suposição que havia uma força invisível, presente, perturbadora e inexplicável a qual passou a ser chamada de Shiva, Deus, Tupã, Rá, Zeus, Adonai, Alá ou de “nove bilhões de nomes diferentes” (Arthur C. Clarke), que criara a vida para a qual não havia explicação científica. Assim, na medida em que as chaves da ciência iam abrindo as portas do conhecimento que ilumina, as trevas da origem da vida continuaram refratárias a quaisquer fontes de luzes. E as religiões somente consolam o coração, jamais satisfazem a mente, desdenham de fatos e provas que não coincidam com seus dogmas. E a ciência, apesar do empenho, ao invés de respostas, encontrou apenas um muro instransponível cuja solidez aumentou a crise existencial do homem. É legítimo supor que se a humanidade estiver habitando o Planeta daqui a milhares de anos, ainda estará buscando, buscar a resposta vai se tornar a última fronteira para a ciência, se essa fronteira será ultrapassada não cabe especular, o futuro pertence ao tempo e este dispõe de todo o tempo concebível e até inimaginável. JAIR, Floripa, 24/10/10.

10 comentários:

Leonel disse...

Texto bom para fundir a cuca!
Você colocou muito bem que a constituição da matéria em si não é diferente no ser vivo ou morto.
Mas, podemos dizer que o que o torna vivo é o "sopro divino" insuflado pelo criador, que pode ser chamado de "anima" e agrega em si outras propriedades como a consciência que, de acordo com seu grau, determina se o ser é racional ou irracional.
Ou pelo menos poderia ser assim. Eu posso acreditar nesta alternativa, até que alguém me apresente outra melhor.
Abraços!

Luci Joelma disse...

Puxa vizinho!Pegou pesado nesta reflexão.Pode ser tão simples o enigma como a fé...Crer no que sentimos...talvez seja um caminho mais efetivo que uma resposta racional...filosófica.Você já observou a representação do cerebelo? sabe qual é a representação nele contida?

R. R. Barcellos disse...

- "A vida se caracteriza por produzir e manter um desequilíbrio entrópico a seu favor, no ambiente do qual faz parte. Basicamente, qualquer ser vivo é um predador de energia".
- Palavras minhas, em "Homo Mirabilis", livro 2. Isso não é uma definição rígida: é um enfoque flexível do que seja esse fenômeno transcendental. Se entendermos por "ambiente" todo o Sistema Solar, cada planeta será um ser vivo, alimentando-se da energia do Sol - paradoxalmente o único ser "não vivo" do sistema. Por outro lado, se nos ativermos a aspectos limitados de nossa biosfera, esse enfoque se aproxima muito do que se entende comumente como "vida".
- Matéria excelente, e que dá pano pra muita manga, Jair. Parabéns.

J. Carlos disse...

Você já escreveu sobre a morte e me convenceu, agora vem com esse belo texto sobre a vida e não consigo nem comentar, apenas cumprimento pela excelente reflexão. Gostaria de encontrar mais vida inteligente na web assim. Abraços, J. Carlos

Vieira Rocha disse...

Valeu Jair!

O assunto e interessante, acredito que a ultrapassagem dessa parede requer a renuncia a alguns dogmas que a ciencia tambem tem, a ampliacao dos limites do nosso raciocinio que ainda navega em limites do tipo inicio e fim, espaco, tempo, etc, etc... A simples matematica e outros atuais principios consagrados pela fisica nao serao suficientes e terao que ser revistos e novos surgirao...
Parabens a voce pelo dia dos que tem nas veias e na alma o voo!
Abracos.
VRO.

Cláudia disse...

Esse texto conseguiu me deixar mais confusa a respeito da vida,mas mesmo assim é a melhor das explicações que já vi.
Parabéns!

J. Muraro disse...

A vida sempre surpreende, assim como surpreendem teus textos. Gostei e parabéns.

Daniela disse...

Nossa, sem palavras e sem comentários!! Tô com a cachola embaralhada!!! Hehehehe... vou refletir sobre isso!! Intrigante!! Mas será que não seria a vida tudo aquilo que se desenvolve? O que nasce, cresce, reproduz (nem sempre) e morre?? Uma planta se desenvolve, mas uma panela é criada! Ah enfim... acho que piorei a reflexão!! Hehehehe

Matulevicius disse...

Grande amigo Jair, fico por vezes estarrecido com seus argumentos , deixando no leitor um não sei o quê, nem sempre conclusivos, passeia de um assunto a outro discorrendo, concordando e discordando sobre o tema apresentado. Não seria o Animado e o Inanimado, assim como é Em Cima é tambem em Baixo, não seríamos o Macrocosmo em tamanho infinitamente menor...? apenas diferenciando do Animado ao Inanimado a Alma ou Espírito, aquilo que o faz Viver e o torna Uno.

Um Grande abraço, Matu.

Camila Paulinelli disse...

Com a evolução da ciência nosso tempo de vida ficou mais longo. Sou muito curiosa a respeito do assunto “vida”. Seja a vida que nosso corpo tem (um emaranhado de diferentes partículas que nos dá a característica humana que temos). Como acredito que a natureza não perde nada, apenas transforma, o que viramos quando acaba o nosso tempo como humanos? Nosso corpo se deteriora; e a energia? Li varios assuntos sobre vida, até mesmo procurei vida após vida, pois fico me indagando se uma vez que somos seres animados e a natureza transforma a matéria, depois que nosso corpo se decompõe, para onde vai a energia que não vemos, mas que temos? Já que somos feitos da mesma matéria (seres animados e inanimados), ao morrermos nossa matéria se agregaria a outras matérias para formar outra forma de vida? Esta nova matéria poderia ser qualquer coisa? Fugindo de religião, que nao entro neste mérito, apenas respeito todas as opiniões, achei muito interessante umas pesquisas de alguns médicos em pacientes CEGOS que tiveram morte diagnosticada e depois tiveram suas funções vitais de volta ao normal.Quando retornaram à vida, descreveram cores, a forma que os médicos estavam tentando ressucitá-los, etc... Ou seja, o corpo não tinha mais este componente que eu leigamente chamo de energia, mas para algum lugar ela tem que ter ido. Será que nesta chamada “energia”( por mim) carregaria alguma consciência (capacidade de raciocínio, emoção, etc...) uma vez que a consciência também é matéria?Será que existe outro tempo depois do nosso tempo com consciência? Se sim, nosso corpo viveria de uma forma agora, depois se transformaria em outra coisa, e assim por diante.
Beijos da nora,