Nunca na história da humanidade a divulgação de imagens foi tão intensa, contundente e espetacular como no século vinte e no atual. É provável que o homem primitivo tenha dependido do olfato e da audição mais do que de outros sentidos para sobreviver num Planeta hostil cheio de emboscadas mortais e sem luz artificial. Mas nós, ao contrário, vivemos a era da visão, até porque nunca houve tanta produção de imagens e tanta facilidade para divulgá-las. Somos agentes, vítimas e beneficiários dessa profusão de comunicação visual. Nossa geração tornou-se pictórica.
Jornais e revistas no início do século passado mostraram a um público desacostumado, as primeiras fotos impactantes da guerra mundial. Na segunda grande guerra surgiram as espetaculares tomadas fotográficas e de cinema quase em tempo real. Quando do desembarque dos aliados na Normandia, fotógrafos e cinegrafistas faziam parte das primeiras levas a pisarem na areia das praias francesas. Já antes, fotos dos fronts e de cidades arrasadas por bombardeios haviam se tornado comuns nos jornais. O ataque japonês a Pearl Harbor produziu cenas fantásticas que foram veiculadas em todo o Planeta, imagens tão fortes e marcantes como seriam as de Hiroxima e Nagazaqui arrasadas pelas bombas atômicas.
Com o término da guerra e início dos arreganhos entre as duas potências nucleares, nossos meios de comunicação ficavam cada vez mais saturados de fotos de bombas “A” e “H” explodindo no atol de Biquíni, estepes russas e ilhas da Oceania. A URSS e os USA se compraziam em veicular na mídia seus potenciais nucleares e, nós simples mortais, nos borrávamos todos e nos encolhíamos debaixo da cama, transpirando e pedindo um pouco de juízo às autoridades daqueles países. Com a chegada da televisão aos lares já era possível assistir quase ao vivo lançamentos de foguetes no Cabo Canaveral e até Neil Armstrong deixando impressões de suas botas na poeira de nosso satélite, bem como a face da Terra já podia ser vista a partir da Lua. A guerra do Vietnam foi o primeiro conflito armado praticamente acontecido sob os olhares das câmeras, o medo e o horror de soldados e civis era captado pelos profissionais da imprensa no exato instante que aconteciam. O desfecho dessa desastrada intervenção americana se deve, em parte, às cenas passadas nas televisões. Mais de 50 mil soldados dos EUA foram mortos e as mães americanas não se conformavam em ver seus filhos sendo despedaçados por minas vietnamitas, numa guerra sem objetivos claros e justificáveis.
Vieram as fases de vôos shuttles americanos e pudemos ver a nave Challenger explodindo depois do lançamento e sua irmã Columbia desintegrando-se ao entrar na atmosfera após ter perdido parte da proteção antitérmica logo após a decolagem. Nossas retinas são como telas de cinema por onde a paisagem aparente está sempre mudando e trazendo acontecimentos inauditos e cruciais que, em maior ou menor grau, costumam marcar uma época ou causar viradas tecnológicas ou históricas na marcha da civilização.
Em 1962, o sociólogo canadense Marshall McLuhan (1911-1980), numa sacada futurística, antecipou que os meios eletrônicos levariam a humanidade a uma identidade coletiva com base tribal: “A aldeia global”. Até então, a cultura visual dominante teria sido fragmentária, ninguém no planeta poderia abarcar com um olhar apenas, o que acontecia além fronteiras, ou mesmo na cidade vizinha. Com o advento de tecnologia eletrônica, o Planeta tornou-se pequeno, passou a ser o jardim de nossa casa, o que acontece “ali” no Afeganistão tomamos conhecimento de imediato, vemos as cenas cruas, sem editoração, no instante que elas ocorrem. Nas ciências, os microscópios eletrônicos colheram detalhes mínimos de insetos e microorganismos como vírus e bactérias e até adentraram o íntimo das células, enquanto o telescópio Hubble não só olha os confins do Universo, como nos fornece imagens de colossais embates entre estrelas e até entre galáxias, numa mostra inimaginável alguns anos atrás.
Paralelo ao imediatismo da comunicação por meio de satélites geoestacionários e tecnologia de celulares e câmeras digitais de baixo custo e grande eficácia, a civilização pós guerra fria, aliviada do temor de hecatombe nuclear, se viu frente a novas ameaças. Os radicalismos de estados e grupos religiosos juraram de morte o povo e o governo americanos, bem como seus aliados da banda ocidental do Planeta. O resultado dessa conjugação político-tecno-religiosa foram as imagens mais espetaculares e chocantes de todos os tempos: A destruição das torres gêmeas do WTC em Nova Iorque. A plasticidade das aeronaves chocando-se com os prédios e os desabamentos na sequência chocaram, não só pelo inusitado, mas, mais pela “beleza” do quadro. Nossos olhos já tinham se arregalado de espanto e surpresa frente às cenas de explosões de bombas e naves espaciais; ficamos extáticos vendo vulcões, terremotos e furacões ocorridos em várias partes do mundo. Porém, nada, absolutamente nada, se compara à dinâmica da destruição das torres. Trata-se de imagens sequer igualadas, muito menos superadas pelas mais imaginosas e custosas cenas de filmes catástrofes de Hollywood, e, de longe, superam até as inauditas e terríveis cenas filmadas e fotografadas do tsunami que assolou parte da Ásia em 26 de dezembro de 2004. JAIR, Floripa, 04/09/10.
3 comentários:
- "Uma imagem vale mais que mil palavras", é um ditado que deve ser visto com reservas. Há palavras que valem mais que mil imagens; isso depende das imagens e das palavras.
- No sua matéria, Jair, o ditado se justifica plenamente. É uma seleção pictográfica impactante que resume magistralmente a História de oito décadas. Parabéns.
Magnífico seu texto, e ainda mais as fotos escolhidas, que retratam fatos impactantes em épocas diversas.
Mas tem uma que eu evito rever, é a daquele infame massacre de 11 de setembro, parte do qual infelizmente eu assisti ao vivo pela CNN.
Abraços!
Seu blog mostra o que a gente nao procura , mas é bom saber ,é cultura , sempre que posso venho me culturar de graça rsrsrs! Um abraço de uma seguidora.Valdja
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