terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Banda




É o seguinte, o filme para ser bom não precisa trazer grandes nomes no elenco, ser assinado por um diretor icônico desses que faturam milhões a cada produção, ser rodado em ambientes ou paisagens que, pela beleza ou grandiosidade, enriqueçam a história, ou ter sido produzido num grande estúdio de Hollywood. Quem assistir “A Banda” (2007) vai entender exatamente o que digo. O filme, de orçamento baixo, é produção e direção de israelenses, atores árabes e judeus, filmado numa região desértica de Israel sem qualquer atrativo especial.

Uma banda egípcia com pomposo nome de Orquestra Cerimonial de Alexandria, desembarca no aeroporto de Telaviv para se dirigir a uma cidade do interior onde tocará na inauguração do Centro Cultural Árabe. Por algum mal entendido, o ônibus que devia estar esperando-os no aeroporto não está lá, e aí os músicos cometem um engano com o nome da cidade. São egípcios e não fluentes em hebreu, acabam tomando um ônibus que vai parar no meio do nada numa cidadezinha minúscula com nome parecido com aquela que eles queriam ir.

Ao desembarcarem o espectador percebe que na Banda, cujo efetivo é de oito músicos incluindo o maestro, existe certa tensão e a disciplina é mantida por Tewfiq, (Sasson Gabai) coronel da polícia de Alexandria e maestro. Os músicos paramentados com suas fardas azuis, encontram primeiro um pequeno bar onde são acolhidos com certa surpresa pela proprietária Dina (Ronit Elkabetz) que, despachada, trata o maestro como general na falta de saber como chamá-lo. Já que o ônibus que levará os músicos para a cidade certa só sairá no dia seguinte, Dina, com pena deles, convida-os para alojarem-se na sua casa, no bar e na casa de um amigo.

O coronel é extremamente formal devido sua formação castrense, Dina é liberada e está feliz em ter alguém para conversar. Aí o diretor (Eran Korilin) consegue manter um equilíbrio sutil entre a comédia de riso fácil e o drama de vidas com passado que as incomodam, entre o inusitado de árabes hóspedes de cidadãos judeus e a curiosidade de uns a respeito de outros. Dina acaba saindo passear com Tewfiq e vão a uma lanchonete onde também chega seu amante com a família. Falaz, Dina se abre com Tewfiq e faz perguntas um pouco embaraçosas sobre sua vida. Os demais integrantes da banda também se vêem envolvidos em pequenos dramas nos quais revelam suas expectativas e frustrações. O clima do filme mostra uma relação entre árabes e judeus que nada tem a ver com o conflito de seus países, literalmente sãos pessoas comuns colocadas em uma situação que não exige delas posicionamento político algum, apenas a solidão os incomoda.

A única distração dos moradores da cidade é um rinque de patinação onde uns dos músicos vai com um morador local. Lá a música e os atores nos brindam com as melhores cenas do filme. Na verdade, baseado numa estória leve, sem conseqüências maiores, o filme revela a possibilidade de comunicação entre pessoas de idiomas e culturas diferentes que, afinal, são apenas isso, pessoas comuns gregárias, sem nenhum grande obstáculo que as impeça de interagir e conviver pacificamente, vale a pena assisti-lo. JAIR, Floripa, 21/09/10.

3 comentários:

R. R. Barcellos disse...

- Pequenos dramas e comédias, vividos em situações inusitadas, são como diamante bruto para a sétima arte. O lapidário competente tira dele jóias de alto valor.
- Tendo chance, não deixarei de assistir. Bela resenha, Jair.

Leonel disse...

Jair, ainda não vi o filme, mas já gostei da sinopse.
Cá pra nós: quando não tem uma porcaria duma ideologia política ou político-religiosa para enfiar minhoca na cabeça das pessoas, parece que tudo é possível, inclusive cooperação e harmonia. Até porque todos são feitos seguindo a mesma fórmula...
Valeu, amigo!

Anônimo disse...

Comprei esse filme [A BANDA; direção: Eran Kolirin] ontem e de madrugada o asssiti emocionado pela contenção dos gestos e palavras (oralidade). Como estamos acostumados a filmes falantes e gestuais parece sempre no filme que algo está no ar - desejos, sonhos, projetos profissionais, amores, sexo e sexo (mesmo fazendo há algo da incompletude). Vi muito sexo sem ser feito ou sendo feito com profundidade do amor - inesquecível. A cena onde o músico ensina ao outro tímido a namorar e amar é a melhor... Lindo. Hiran Pinel, UFES, Vitória, ES.