Desde quase quarenta anos atrás me dedico à numismática. O Houaiss registra: NUMISMÁTICA - Ciência que tem por objeto de estudo as moedas e as medalhas. Entendendo-se moeda no sentido lato = dinheiro, abrangendo moedas metálicas e notas de papel ou de qualquer outro material que os tempos modernos determinem. É um mundo extremamente fascinante e envolvente, e quem a ele se dedica adentra a história, a geografia, a economia e a organização política dos países. A história do dinheiro é própria história da civilização; os limites geográficos dos países determinam o tipo do dinheiro adotado; a economia e a moeda são irmãs siamesas; e a política muda a cara das notas e moedas na medida em que os governantes e os regimes mudam.
Minha coleção, hoje bem avultada, refere-se somente a notas de valor nominal UM, de todos os tempos e todos os países. Claro que é um projeto não apenas de uma vida, e sim de gerações. Quando eu me for, se meu filhos ou netos quiserem continuar a colecionar terão um campo enorme à frente. E que bons ventos os conduzam.
Bem, hoje não vou falar sobre minha coleção ou sobre coleções, quero apenas apresentar algumas notas brasileiras que, por saírem das configurações normais, pelo valor facial ou pela impressão são curiosas, ou quase isso. Abaixo algumas notas de meu acervo que selecionei e vou dizer alguma coisa sobre elas:
Nota de Cem mil réis de 1942 onde aparece pela primeira vez Alberto Santos Dumont. O curioso desta emissão é que no mesmo ano o padrão "milréis" foi substituído pelo padrão Cruzeiro, e a homenagem ao grande brasileiro tornou-se pífia. Além dessa homenagem ao pai da aviação esta nota foi fabricada, curiosamente, por Waterlow & Sons Limited, de Londres, concorrente inglesa da American Bank Note Co. de Nova Iorque. Apesar da qualidade do papel e da impressão, parece que a experiência não deu certo porque a American voltou a fabricar notas para nossa República novamente.
Penso em postar mais textos que registrem informações sobre notas de outros países. JAIR, Floripa, 03/02/10.
Nos tempos d'antanho (ô palavrinha danada de demodê, que, aliás, também é ultrapassada), mais precisamente durante o Império do Brasil com "S", o Real era a moeda corrente, "réis" era o plural de Real, e o dinheiro tinha tanto valor que o poder podia se dar ao luxo de mandar imprimir notas de quinhentos réis, em 1874 e 1880. Para termos idéia do que isso significa, é como se hoje existissem notas de cinquenta centavos. Estas são cédulas com a efígie do Imperador fabricadas pela American Bank Note Company, maior fabricante de dinheiro do mundo por muitos anos. No século dezenove e início do século vinte era comum a ABNC fabricar notas até para a China e Rússia.
A República, que ainda era "dos Estados Unidos do Brazil" (assim mesmo com "Z") em 1893 e 1901 também emitiu notas de quinhentos réis. Como não havia inflação, era viável emissão de notas de baixo valor.
Na década de vinte o Brasil resolveu fazer experiência com impressão de dinheiro, através da Casa da Moeda do Rio de Janeiro. As notas acima são representativas dessa malograda tentativa de nacionalizar a fabricação do meio circulante. Papel de péssima qualidade, quase papel de jornal, desenho simples e impressão sofrível, notas fáceis de serem falsificadas. Os falsários comemoraram o período favorável ao ofício, tanto dinheiro foi contrafeito nos recônditos da criminalidade que o poder constituído resolveu recolher-se a sua humildade e voltar a American Bank Note. Tenho uma nota falsa dessa época.
Em 1905 a empresa italiana Cartiere P. Miliani - Fabriere, fabricou notas de excelente qualidade para o Brasil. Desenho primoroso, impressão de primeira e resistente papel de arroz tornavam essas notas muitos pontos melhores que as da American Bank Note, mas, por alguma injunção desconhecida, nunca mais foram importadas. A efígie que aparece na marca d'água oval é do Barão do Rio Branco. Mais de um século depois, esta que aparece na foto está em estado de nova.
Getúlio havia empalmado o poder com a revolução de 1930, e os partidários gaúchos não resistindo a tentação, em 1931, emitiram "bonus" com a efigie do ditador que, na prática, representavam duas coisas: Era dinheiro regional que valia para todos os efeitos; e homenageava o homem forte do país. Foram confeccionadas pela Lithographia da Livraria Globo de Porto alegre e não perdiam em qualidade para o dinheiro circulante da época. A Livraria Globo era sediada na rua da Praia até este século.
Nota de Cem mil réis de 1942 onde aparece pela primeira vez Alberto Santos Dumont. O curioso desta emissão é que no mesmo ano o padrão "milréis" foi substituído pelo padrão Cruzeiro, e a homenagem ao grande brasileiro tornou-se pífia. Além dessa homenagem ao pai da aviação esta nota foi fabricada, curiosamente, por Waterlow & Sons Limited, de Londres, concorrente inglesa da American Bank Note Co. de Nova Iorque. Apesar da qualidade do papel e da impressão, parece que a experiência não deu certo porque a American voltou a fabricar notas para nossa República novamente.
Penso em postar mais textos que registrem informações sobre notas de outros países. JAIR, Floripa, 03/02/10.
9 comentários:
Pô, carinha! Não sabia que você navegava nesses mares. Gostei das informações e das notas. Falou!
Tenho uma coleção pequena de moedas que o meu pai tinha. Atualmente o meu filho anda meio entusiasmado.
Abraços.
Nunca me dediquei à numismática, mas sempre gostei desse mundo de notas e moedas tão diversificado e fascinante. Nada entendo do assunto mas gostei do texto.
Lembro que você pegava aquele livro de referência grosso (qual o nome mesmo?) e pesquisava preços por estado de conservação da nota, lia-se flor-de-estampa, soberba entre outros termos.
O "Livro" é o Pick, a bíblia dos numismatas. São dois volumes com mais de novecentas páginas cada, e contém todas as informações sobre notas de dinheiro de todos os países de todos os tempos.
Olá. Adoro a magia de colecionar. Tive também de notas antigas e de miniaturas. Esta última criou corpo e quando já possuía centenas de peças IMFELIZMENTE não pude trazê-las comigo por motivo de inúmeras mudanças. Espero que seus netos possam repassar para os netos deles esta coleção cada vez mais agregada de valor histórico e familiar. Beijo
O mais fascinante ao colecionar é mergulhar na história de cada nota.
abraço
Oi pai, gotei muito do texto... Eu e o Augusto nos relatamos bem a isso... pois a tua paixao e persistencia pela numismatica, fez parte de nossa infancia.... Passou a ser um ritual nosso para todos os domingos... Irmos para a Praca XV, bisbilhotar nas colecoes....
Adorei,
Um abracao enorme
Alô Jair, um espetáculo esta matéria ! Quando eu era criança, na minha casa, ainda se falava em "quinhentos réis" para se referir à cinquenta centavos. Dois cruzeiros era também chamado de "dois mil réis" ou "dois miréis" e assim com os outros valores, apesar de eu ler a palavra "cruzeiros" escrita nas notas. Eu descobri, enfiadas entre páginas de livros, diversas notas (novinhas) que eu mesmo guardei, da fase da hiperinflação. Fiz um levantamento no site do Banco Central e consegui situar a qual plano pertencia cada uma. Tenho vontade de fazer um quadro com verso e reverso e referência a cada plano monetário.
Quando eu o fizer, te mando uma foto.
Abraços!
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