terça-feira, 16 de março de 2010

MEDINDO A IDADE DAS COISAS


Muitas vezes as pessoas não confiam nas afirmações de arqueólogos, geólogos e paleontólogos sobre datas e idades de rochas, objetos e achados pré históricos, ou seja, antes da adoção da escrita pelos povos. Perguntam-se, se não há registros escritos como determinar a idade das coisas?
O fato é que a ciência desenvolveu uma série de métodos confiáveis para encontrar a idade daquilo que, pela sua antiguidade, não pode ser datada de outra maneira. A dendrocronologia (que vou abordar em outro texto) é um dos métodos, contudo, depende da existência de madeira onde se quer datar, porque usa os anéis de crescimento das árvores como “relógio”. Além disso, se presta apenas para períodos bem curtos de tempo, o máximo que se consegue é um recuo de cerca de 11500 anos. Já, para a contagem de idades mais antigas, a ciência costuma usar o que ela chama de “relógios radioativos”, os quais contam o tempo por decaimento atômico.
Vejamos o que é isso. Mas, para tal, vamos recapitular os conhecimentos elementares sobre átomos que aprendemos no colegial. O modelo simples de átomo que Niels Bhor desenvolveu serve para nosso propósito. Esse modelo, já ultrapassado, tem a forma de um sistema solar em miniatura. Toda matéria é composta de átomos, que são as menores partículas dos elementos e são constituídos de elétrons, prótons e nêutrons. Os elétrons giram em torno de um núcleo composto de nêutrons e prótons. Por convenção os elétrons têm carga negativa, prótons positiva e nêutrons não tem carga, como o nome diz são neutros, sem carga. Na verdade, nêutrons são parecidos com prótons, têm o mesmo tamanho e mesma massa, só não têm carga.
Cada elemento da tabela periódica tem um número fixo de prótons e sua quantidade é o número atômico do elemento e não varia. Assim, o número atômico do carbono, por exemplo, é seis porque ele tem seis prótons no núcleo. Já o número de massa é a soma dos prótons e nêutrons que formam o núcleo, e esse número varia por que a quantidade de nêutrons pode variar. Portanto, se o carbono tiver apenas 6 nêutrons no núcleo terá o peso atômico 12 e será estável, permanecerá assim virtualmente para sempre. Contudo um átomo de carbono que tenha 8 nêutrons terá peso atômico 14, será chamado isótopo e será instável, ou seja, tenderá a emitir uma partícula beta e se tornar nitrogênio 14 estável, portanto. À emissão dessa partícula se dá o nome de “decaimento atômico”, o qual é usado para contagem de tempo.
Como usar o decaimento atômico para contar o tempo? A ciência parte de três conhecimentos: 1º) O número de isótopos 14 do carbono é fixo na atmosfera, ou seja, para cada trilhão de carbonos 12, temos um átomo de carbono 14. Essa constância se deve ao bombardeio de raios cósmicos que, na atmosfera superior, transforma o nitrogênio lá existente em carbono 14, de forma que, mesmo ele decaindo naturalmente, há um suprimento constante na atmosfera e o isótopo se mantém na mesma proporção; 2º) Cada elemento radioativo tem um tempo de decaimento chamado meia vida, que é o tempo no qual metade dos isótopos daquele elemento decai para sua forma estável. A meia vida do carbono 14 é de 5730 anos, assim, depois desse tempo, uma amostra qualquer de carbono terá a metade dos isótopos de carbono 14 originais. Depois de mais 5730 anos essa mesma amostra terá um quarto e assim por diante; 3º) Todos os seres vivos do Planeta, enquanto vivem, terão a mesma proporção de carbono 14 em seus corpos. Funciona assim, as plantas absorvem o gás carbônico da atmosfera, expelem o oxigênio e armazenam no seu sistema o carbono, que estará com a mesma composição que a do ar, ou seja, um carbono 14 por um trilhão de carbono 12. Os animais ao se alimentarem de plantas absorvem o carbono e retém essa mesma proporção. Os carnívoros ao se alimentarem desses animais também reterão carbono do mesmo jeito.

Ao morrerem, animais ou plantas, deixam de ingerir carbono e aquele que se encontrava no corpo falecido vai decaindo na velocidade de metade a cada 5730 anos. Ao encontrarem restos orgânicos como fogueiras, madeiras que constituíram moradias, ossos, restos de comida, fósseis com alguma matéria orgânica ainda, os cientistas medem a quantidade de carbono 14 e deduzem a idade do achado pelo decaimento.
Como fazem essa contagem? A técnica de contagem de isótopos é denominada, espectrometria de massa e usa quantidades minúsculas de material das amostras para determinar a porcentagem dos isótopos, e o erro na medição é de 1%.
Graças a essa técnica foi possível determinar a idade do famoso Sudário de Turim. Na década de 90 o Vaticano autorizou a retirada de pequenas porções do Sudário que foram submetidos à datação por carbonos 14 em três laboratórios independentes e altamente conceituados. Resultado, o Sudário foi confeccionado em linho colhido por volta do ano 1260 de nossa era.
Para se datar rochas e fósseis muito antigos usa-se o decaimento atômico de outros elementos que não o carbono. Com elementos como o Rubídio que tem meia vida 49 bilhões e do Urânio com 4 bilhões e 500 milhões de meia vida é possível datar até a idade da Terra. O que foi feito e se chegou ao número aproximado de 4,6 bilhões de anos. JAIR, Floripa, 16/03/10.

6 comentários:

R. R. Barcellos disse...

Não querendo ser chato, mas...
O decaimento do C14 consiste na emissão espontânea de duas partículas beta, e o resultado final é um átomo estável de nitrogênio (N14). Mas esse é um detalhe que não tira o brilho da matéria. Aguardo com grande curiosidade seu próximo texto sobre dendrocronologia, estatigrafia e outras máquinas do tempo. Abraços.

R. R. Barcellos disse...

Onde se lê "estatigrafia" no primeiro comentário, leia-se "estratigrafia", por favor. Parece que os discípulos de Homero estão em sono profundo hoje, pois tive que excluir um segundo comentário devido a outro erro crasso...

R. R. Barcellos disse...

A bruxa tá solta... é só uma partícula beta.

JAIRCLOPES disse...

Tem toda razão quanto ao decaimento do C14, dei uma cochilada federal! Vou acertar o texto.

Voluzia disse...

Jair, gosto de teus textos porque eles são didáticos, sempre aprendo alguma coisa.

Leonel disse...

Apenas um comentário: no caso do sudário de Turim, foi levantada a hipótese de que a data apurada pode ser incorreta, pelo fato de haver pólen mais recente depositado sobre o tecido, o que aumentaria a quantidade de átomos de carbono 14 remanescente, levando a um cálculo de idade menor do que o real.
É claro que os que acreditam na autenticidade da peça como sendo o sudário de Cristo defendem essa hipótese.