sábado, 13 de fevereiro de 2010

O SUPER-HOMEM VEM AÍ

Está nascendo um super ser humano. Mas, ao contrário do super-homem de Nietzsche, este novo ser não é uno, não é uma unidade viva isolada, trata-se de um organismo coletivo mais complexo e mais forte que seus componentes. Também, ao contrário do que Arthur C. Clark escreveu em “2001, uma odisséia no espaço”, onde mostra astronautas travando uma luta mortal contra o computador - a versão moderna do confronto entre criador e criatura, que já inspirara clássicos como Frankenstein, - o super-homem que se avizinha é mais uma interação homem-máquina que qualquer outra coisa.
Este conjunto animado e consciente não é composto apenas de pessoas, mas de combinações que interagem, ligam, comunicam e somam homens e sistemas de transportes de energia, de comunicação, de informações e de interesses globais. A super-humanidade está longe de ser apenas um monte de gente e seus recursos. Sistemas de túneis, estradas, condutos de água, fios elétricos, chips, próteses, tubulações de gás e de ar condicionado, fios telefônicos e de fibra ótica, raios laser, aviões, satélites, trens bala, internet, computadores, GPS, e outros elementos de ligação vão encerrando os seres humanos numa teia de extrema complexidade e agregada de valores cada vez mais altos. Essa soma de coisas, cada vez mais, aumenta a sinergia do conjunto homem-máquina, tornando o homem-ser-isolado dependente, beneficiário e peça capital do todo.
Acreditemos ou não que as convergências da super-humanidade tendem a se tornar conscientes além de nós, da nossa consciência individual, não será surpresa se esse novo organismo vier a mostrar comportamento inesperado, diverso do comportamento do homem comum. É lícito presumir que o comportamento do todo seja diferente do comportamento das partes, assim como um conjunto complexo age diferente de cada uma de suas peças. Se até seres microscópicos se unem e comportam-se como organismos sensíveis agindo de forma diferente de seus componentes isolados, mais razão terá a super-humanidade de adquirir conduta própria.
Negar a existência dessa tendência do homem somar-se a seus recursos cada vez mais sofisticados e poderosos e tornar-se um novo ser, um super-homem, é como dizer que uma pessoa é a mera soma de suas células e órgãos. Entre os seres vivos mais bem sucedidos do planeta – isto é, os mais abundantes – estão aqueles que se associam para formar comunidades mais fortes que a soma
de todos, como as bactérias, por exemplo. Uma bactéria é nada, duas bactérias são dois nadas, mas bilhões de bactérias matam um elefante.
Nenhum ser humano sozinho é capaz de falar com outro, em tempo real, a milhares de quilômetros de distância. Nenhum ser humano sozinho poderia chegar à Lua. Essas são aptidões resultantes da super-humanidade.
Nossas habilidades globais e mais espetaculares fazem lembrar a dos insetos sociais como as formigas, com a diferença que nosso formigueiro é a biosfera inteira.


Embora pareça que a associação do Homo sapiens com os instrumentos e meios (leia-se tecnologia) seja coisa recente, não é. As culturas da humanidade vão da idade da pedra à idade do ferro passando pela idade do bronze, e há quem diga que estamos na idade do silício, assim, somos uma humanidade “de ponta” na acepção da palavra.
Desde o momento que o homem usou a lança e se associou a outros para matar o animal mais forte e mais rápido que ele, estava criando os alicerces da proto super-humanidade, estava projetando o super-homem do futuro. Se o homem vier a residir no espaço e viajar para além do sistema solar, será obra da super-humanidade.
As máquinas não são ameaças à existência humana, são sua extensão natural e necessária. Com certeza, para que haja condições do homem colonizar o espaço, será necessária uma integração cada vez maior entre o homem e a máquina através de softwares sofisticados, como neurônios de um cérebro planetal ligados por bilhões de sinapses.
A despeito do tom apocalíptico dos ambientalistas (confesso, incluo-me entre eles às vezes), nossa espécie caminha para uma integração cada vez maior com o meio ambiente. Entendendo-se que o meio ambiente vai sendo modificado e adaptado às necessidades e aspirações humanas, de tal modo que, dentro de milênios não mais parecerá com o que é hoje ou o que foi no passado.
Se algum cataclismo global não encerrar a carreira do Homo sapiens prematuramente, dentro de alguns milênios, uma nova variedade primata, o Homo machina sapiens será o mamífero predominante no Planeta Azul. JAIR, Floripa, 07/02/10.

5 comentários:

R. R. Barcellos disse...

Sim... contanto que as células que formam esse super-homem parem com a mania de praticar a fagocitose mútua, como vem acontecendo às vezes. E não só no sentido biológico...

J. Muraro disse...

Uma visão do futuro tecnológico da humanidade bem ao gosto da ficção científica de Isaac Azimov. Bela "profecia".

Voluzia disse...

Fico imaginando se nossas futuras gerações poderão pensar em nós como nós pensamos nos homens da caverna...

Leonel disse...

Jair, muito interessante esta associação homem-máquina. Uma vez, eu li um conto de A.C. Clarke, "Encontro Com Medusa", em que a personagem central era um homem que, após um terrível acidente,foi "restaurado" com peças mecânicas e eletrônicas. Com isto, acaba se tornando capaz de executar missões espaciais em ambientes onde os homens "comuns" não poderiam se aventurar.
Mas, uma coisa que me dá calafrios é a dependência cada vez maior da nossa civilização em relação à informática, e consequentemente, ao fornecimento de energia!
No meu pesadelo, alguma espécie de fenômeno eletromagnético incapacita nossas centrais de energia e pior ainda, nossos meios de comunicação e de acesso ao mundo cibernético, e num piscar de olhos, voltamos à idade da pedra!
Ainda bem que eu acordo na minha cama!

JAIRCLOPES disse...

Leonel,
"alguma espécie de fenômeno eletromagnético [que] incapacita nossas centrais de energia e pior ainda, nossos meios de comunicação e de acesso ao mundo cibernético" está para o super-homem por mim proposto, assim como o vírus Ebola, por exemplo, está para nossos organismos frágeis atuais.
É uma possibilidade aterrorizante, não tenhamos dúvida.